terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Aborto não é questão de opinião.

Enquanto o feto depende do corpo da mãe para se desenvolver, ele é parte integrante do corpo dela. Então acho que cabe só a ela decidir o que fazer com essa parte – chame-se essa parte embrião, feto ou Ludwig van Beethoven.

Essa é a minha posição filosófica sobre o aborto. Se você acredita que não, que a vida começa no momento em que espermatozoide e óvulo encerram suas existências independentes e se tornam uma coisa só, eu respeito. Mas a nossa discordância é irrelevante fora do mundo das ideias, porque no mundo real a legalização do aborto não é uma discussão filosófica. É uma questão de saúde pública.

Uma em cada cinco brasileiras que estão hoje nos últimos anos da vida reprodutiva (35 a 39 anos) já passaram por pelo menos um aborto voluntário, segundo um estudo famoso da Universidade de Brasília. Ou seja: pelos padrões vigentes neste momento, você, mulher, tem 20% de chance de chegar aos 40 já tendo induzido voluntariamente um aborto.

Diante disso, tecer leis e punições contra interrupção de gravidez me parece tão produtivo quanto legislar contra o consumo de oxigênio. Pior: no mundo real, as leis anti-aborto só tornam o procedimento mais caro para quem pode pagar e mais arriscado para quem não pode. E quem não pode acaba apelando para gambiarras suicidas, extremamente arriscadas. Como a maioria não pode pagar, temos que as nossas leis anti-aborto são, elas sim, uma afronta contra a vida. Uma afronta contra a vida das mulheres pobres.

Alexandre Versignassi

Superinteressante

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