O terrorismo político entrou na política brasileira na década de 60 pelas mãos da direita. Antes mesmo da deposição de João Goulart, e sem nenhuma relação direta com as conspirações para derrubá-lo, militantes da extrema direita e oficiais do exército atacaram a tiros o congresso da UNE que se realizava em julho de 1962 no hotel Quitandinha, em Petrópolis. Dois automóveis dispararam contra estudantes que estavam nos jardins, ferindo dois deles. A operação foi creditada ao Movimento Anti-Comunista, o MAC, e dela participou um major do Exército. Desde 1963 existia em São Paulo um Comando de Caça aos Comunistas, o CCC, formado por jovens ligados a políticos conservadores e a militares que a essa altura tangenciavam conspirações. Davam-se muito mais a tumultos, estorvando ou impedindo conferências de políticos governistas, do que a atentados. O MAC, apesar da notoriedade adquirida pelo ataque de Quitandinha, era mais conhecido pelas suas pichações garrafais nos muros de edifícios da Zona Sul do Rio de Janeiro do que por reais enfrentamentos.
Na radicalização anterior a abril de 1964 as coisas mudaram. Como dissera o industrial Jorge Bhering de Mattos, diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro: "Armai-vos uns aos outros porque nós já estamos armados". Só no Rio de Janeiro acharam-se cinco depósitos de armas. (...)
Até março de 1964 conceberam-se pelo menos três atentados contra João Goulart. O primeiro veio à cabeça do tenente-coronel Roberto Hipólito da Costa, comandante da Base Aérea de Fortaleza, em 1963. Tratava-se de abater o Viscount presidencial quando ele fosse ao nordeste. Outro foi descoberto e desativado pelo general Antonio Carlos Muricy no dia 11 de março. Um major havia reunido gasolina e oficiais para incendiar o palanque do comício da Central, no dia 13, com o presidente de República e a cúpula do governo em cima. Muricy, o conspirador que duas semanas depois comandaria as tropas mineiras rebeladas, dissuadiu o major. O terceiro ocorreria durante o comício de Jango em Belo Horizonte, marcado para o dia 16 de abril. Nesse dia o alvo já estava em Montevidéu. (...)
"A Direita se arma"
em "A Ditadura Envergonhada"
por Elio Gaspari
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