Texto feito a pedido dos produtores do show acustico que Wander fez aqui em Aracaju em 2006.
Por Adelvan Kenobi
Poucos artistas podem ser definidos com uma lenda viva do rock no Brasil como Wander Wildner. Até um astro do rock ele pode ser considerado, já que uma musica cantada por ele (surfista calhorda, dos replicantes) tomou de assalto as freqüências moduladas de todo o Brasil nos anos 80 e o tornou referencia do estilo por aqui. Mas um astro, para usar um termo do sul, “chinelão”, boa praça, alternativo, “do bem”. Do rock mesmo, na melhor concepção da palavra.Wander passou um tempo no limbo depois de sua saída dos Replicantes. Parece até que foi de propósito, como que para confirmar a sentença carimbada no titulo do primeiro disco da banda, “O futuro é um vórtex”. Mas eis que um dia, ao trabalhar como operário na iluminação de um espetáculo de teatro, ele se lembrou que seu lugar não precisava ser necessariamente nos bastidores. Voltou pra Porto Alegre e lá começou uma frutífera carreira solo que já dura quatro discos e duas coletâneas, sempre numa temática intimista e etílico/romântica, garajeira e estradeira, atormentada e apaixonada. Temática esta ironicamente batizada em seu inicio de carreira como “punk/brega”. Carreira que começa com “Baladas Sangrentas”, seminal disco de estréia que, a exemplo do primeiro álbum do Cachorro grande, também do Rio Grande do sul, já pode ser considerado um clássico do rock nacional, e desemboca no recente “Paraquedas do coração”. No caminho, atribulado, como toda carreira de artista independente e autentico no Brasil, gravou com a Trama antes da Trama ser A trama e lançou uma coletânea nas bancas de todo o pais encartada na revista outracoisa. Viajou e continua viajando pelo Brasil, fez show no chão, de surpresa, no meio do publico, e também no palco do Abril pro rock e de vários outros festivais por aí afora, trabalhou com alguns dos mais influentes produtores do rock brasileiro, como Tom Capone e Carlos Eduardo Miranda, é freqüentemente ovacionado pela critica especializada e invariavelmente cultuado por pelo menos duas gerações de roqueiros tupiniquins, mas nunca abandonou seu espírito anárquico, livre e underground. Profundamente livre, simples, “desencanado”. Se você estiver numa van com ele a caminho do show e o pneu furar, é possível que ele se ofereça para trocá-lo. Se de passagem para o banheiro no muquifo onde o show ocorre você tiver que pedir licença a ele, o “astro” da noite, ele a dará sem pestanejar. E se o dono do bar onde ele acabou de tocar for gente fina e o tratar bem, é provável que ele o ajude a limpar o recinto e guardar as mesas e cadeiras no final da noite. Esse é Wander Wildner. Um cara do caralho.
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