É sempre a mesma coisa. Primeiro todo mundo põe um filtro arco-íris no
avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar.
Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a
criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as
ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou
trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.
Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa
bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é
contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca
gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher
está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai.
Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa
pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.
Cintia Suzuki
resumiu bem: “Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem
gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não
passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (…).
Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que
você não vai ajudar ninguém”.
Todo vegetariano diz que a parte
difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar
a reação dos carnívoros: “De onde você tira a proteína? Você tem pena
de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a
rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar
quinoa e estão morrendo de fome?”.
O estranho é que,
independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não
concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto
de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo
junto.
O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa
lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho
separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o
vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é
fácil, vizinho.
Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre
muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada
—melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma
coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.
NOTA DO BLOG: É por essas e outras que desisti de manter perfil em rede social. Um dia ainda vou entender porque as pessoas ficam tão insuportáveis quando estão num ambiente virtual "social". Enquanto não chego a uma conclusão, prefiro não ter Whatsapp (è assim que escreve?), nem twitter, nem instagram. Aos poucos vou desistindo de atualizar este blog também - parece que (quase) ninguém mais lê mesmo. Muita coisa, né? "Quem lê tanta noticia"???!!! Hobsbawn descreveu o século XX como "A Era dos extremos". Acho que estamos vivendo, agora, a era da distração ...
Em todo caso, tenho duas páginas no Facebook, uma pessoal e outra do programa de rock. É diferente de perfil, bem mais tranquilo, e serve pra quem quiser entrar em contato comigo(Adelvan).
www.facebook.com/programaderock
Texto por Gregório Duvivier
Folha, 13/7/2015
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