Começo dos anos 1990. O mundo dos fanzines ia seguindo a sua vida habitual. Cada um no seu quadrado, fazendo seu protesto aqui, divulgando sua banda acolá, espalhando suas histórias em quadrinhos mais adiante… Enfim, fazendo o underground acontecer.
Tudo ia muito calmo até que Rafael Jr. e Adolfo Sá resolveram dar o seu recado por intermédio de um fanzine. Então, nascia em abril de 1995 o Cabrunco. Poderia passar batido se fosse um zine assim como os demais contemporâneos, mas essa publicação tinha alguns diferenciais. Primeiro, por deixar de lado o habitual recorta e cola manual e partiram já, naquela época, com uma editoração mais moderna, diagramado em computador e com um visual mais clean. Bacana, né? Para a “polícia do underground” isso era uma traição inadimissível em épocas em que o computador começava a ser um item dentro das casas.
E por ser polêmico. Os editores não tinham papas nas línguas para questionar a qualidade de uma banda ou de outra publicação, assim como alimentavam e conduziam discussões de assuntos velados por uma maioria. Não tardou para também serem enquadrados nesse quesito pelos “undergroundmente corretos”.
Para ambos os casos, tocaram o foda-se e continuaram produzindo, mantendo a mesma linha editorial que se manteve (e evoluiu) nas oito edições que formam a saga desse filho bastardo de Aracaju. Por essas e por outras, tornou-se um dos zines mais significativos, respeitados e influentes do fanzinato nacional. Mesmo lançado há quase duas décadas, esse fanzine se mostra muito à frente de seu tempo até mesmo se levarmos em consideração os tempos atuais. Durante as gravações para o documentário “Fanzineiros do Século Passado”, uma das perguntas que fiz para os entrevistados foi: “qual é o zine que você gostaria de ter feito?” Posso garantir que 70% citou este zine. E eu sempre o cito quando sou questionado.
“Isso é papo de vovô, que fica falando que na sua época era melhor”, diriam os jovens que estão se enveredando no universos dos fanzines agora. Não é. E para provar isso, em uma missão em parceria com os próprios editores do Cabrunco e o Zinescópio, consegui garimpar e escanear todas as edições do zine e disponibilizar para a posteridade!
Esse é o meu presente para o primeiro aniversário do Zinescópio e a maioridade que o Cabrunco completaria se estivesse em atividade. Pensando bem …
Na verdade, é um presente para o fanzinato nacional!
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por Marcio Sno