O símbolo da foice e do martelo está presente desde os primórdios da revolução bolchevique de 1917. Foi inicialmente utilizado pelo Exército Vermelho e no brasão da República Socialista Soviética Federada da Rússia (RSFSR). Em 1923 foi incorporada à bandeira da União soviética (a federação russa era apenas uma de suas repúblicas). Antes disso, as bandeiras das repúblicas soviéticas geralmente eram apenas vermelhas, com o nome da respectiva república escrito em dourado no canto superior esquerdo, como estabelecido pelo artigo 90 da Constituição Soviética de 1918. Com o tempo tornou-se um símbolo do comunismo em si, sendo utilizado mesmo por partidos opostos às diretrizes de Moscow.
Uma das mais belas representações da Foice e do Martelo é o monumento “O Operário e a camponesa kolkhoziana" - Kolkhozes eram as fazendas de propriedade coletiva, embora não estatais - estas eram os Sovkhozes. O estado havia empreendido uma campanha feroz contra os proprietários de terras, chamados pejorativamente de "kulaks" (Russo: кула́к, kulak, "punho", literalmente punho-fechado; Ucraniano: курку́ль, kurkul) - não confundir com Gulag - talvez por isso a figura feminina não tenha sido chamada apenas de "camponesa" - era preciso evidenciar sua origem de classe. Trata-se de uma obra-prima moldada em estilo “Art Deco” na era do chamado “realismo socialista”, uma época em que todas as artes destinavam-se a servir à propaganda do estado totalitário. Para além desta função, no entanto, ainda é possível enxergar, ao se observá-la, a pureza da idéia que está em sua origem. Uma idéia poderosa, que se espalhou por todos os continentes e abalou o mundo, seduzindo as classes menos favorecidas com a promessa de uma espécie de paraíso na terra – ou, pelo menos, da ascensão de uma sociedade mais justa e igualitária.
O monumento foi esculpido por Vera Ignatyevna Mukhina, a princípio, com o objetivo de ornamentar a entrada do Pavilhão Soviético na Exibição Internacional de Artes, Ofícios e Ciências de Paris, em 1937. Lá, localizados frente a frente, separados pelo “Trocadéro”, uma passagem para pedestres localizada na margem norte do Rio Sena, os pavilhões da República Socialista e da Alemanha nazista concorriam em monumentalidade e força bruta, antecipando o conflito que dentro em breve viria a envolver os dois países.
Seu transporte de Moscou à capital da França foi feito através de uma desmontagem em 65 peças, o mesmo acontecendo em sentido contrário depois de terminada a Exposição. Foi então instalado de forma definitiva no grandioso Complexo de Exposições das realizações da economia popular, hoje chamado Parque de Exposições de Toda a Rússia. Em 2003, por determinação da Câmara de Moscou, a escultura passou por um longo processo de restauração que durou cerca de 6 anos, sendo novamente assentada num novo pedestal de 60 metros de altura – o anterior tinha apenas 10.
“O Operário e a Camponesa” ficou também conhecido e ainda é lembrado em todo o mundo por ter sido o símbolo da “Mosfilm”, o maior estúdio de cinema soviético, onde foram rodadas obras-primas como “Quando voam as cegonhas”, “Balada do Soldado” e “Andrei Rublev”. Já sua autora, Vera Mukhina, ganhadora de 5 prêmios “Stalin” e intitulada oficialmente “Artista do povo”, caiu no esquecimento junto com o movimento artístico/propagandístico que ajudou a moldar.
por Adelvan Kenobi
Reza uma lenda popular que Vera Mukhina foi também autora de
outra obra, decerto menos monumental, mas inquestionavelmente mais popular: o
copo multifacetado - conhecido no Brasil como "copo americano". Ecos da Guerra Fria ...
“Copos com várias faces sempre existiram. Mas este, este em
concreto e em específico, saiu do punho empenhado da “Artista do Povo”. Há quem
diga que, no desenho das linhas retilíneas do copo de vidro, Vera Mukhina foi
influenciada pelo pintor construtivista Kazimir Malevich. Graças ao sopro
inspirador de Malevich, o copo tinha a dimensão perfeita. Límpido e puro, casto
e sereno, sem arrebiques burgueses. Sendo de uma elegância e de uma
simplicidade extremas, o copo de Mukhina tinha também as proporções exatas para
servir à função a que se destinava: embriagar o povo a goles de vodca,
fazendo-o esquecer que, como destino de férias, o arquipélago Gulag conseguia
ser relativamente pior do que Benidorm e a Quarteira. A tese da influência de
Malevich na criação do copo não é descabida, visto que Mukhina, nos anos vinte,
namorara o cubismo, chegando mesmo a praticá-lo em público. Mas, na década de
trinta, como bela artista que era, virou-se para o que estava a dar na altura,
o realismo socialista. Na criação de O Operário e a Camponesa inspirou-se em
diversas obras clássicas e neoclássicas (desde a Vitória de Samotrácia ao Arco
do Triunfo), com resultados fatídicos: um casalito de assalariados com 24
metros de altura e 75 toneladas de peso.
Aqui, no copo, ao invés da estátua do Operário, não
existe nada de megalómano. Nada de devaneios. O copo tinha uma função: durar.
Durar como o regime que, a partir de 1943, inicia a produção em massa deste
objeto, que deveria servir para brindes viris ao “Pai dos Povos”, mas cujas
dimensões teriam de permitir também a sua limpeza nas máquinas de lavagem
industrial que, na URSS, começaram a ser fabricadas nos anos trinta. Em
comparação com a estátua, o copo era um tudo nada mais pequeno. Mas vencia na
estatística. De fato, nunca um objeto foi produzido em tão grande escala. Vera
Mukhina era mulher de grandes feitos e de grandes números. A estátua colossal
fora a primeira a ser construída em placas soldadas. O copo multifacetado foi
produzido à cadência de 5 a 6 milhões por ano. Grosso e forte, servia para
todas as bebidas: o chá escaldante ou a água cristalina, que ora aqueciam ora
refrescavam o corpo, mas sobretudo o álcool potente, que entorpecia o espírito.
Entre a nostalgia soviética e o novo patriotismo
01 de Abril de 2004, Le Monde Diplomatique
por Jean-Marie Chauvier
Quem nunca viu, mesmo que no cinema, o monumento
assinado por Vera Moukhina representando o operário e a camponesa kolkhoz
lançando-se em direção ao futuro radiante empunhando a foice e o martelo(1)?
Instalado na entrada do parque de exposições em Moscou, ele acaba de ser
desmontado. Talvez, não para ser posto de lado, mas para ser reformado.
Bandeiras vermelhas tremulam novamente no 9 de maio, nas celebrações oficiais
da vitória sobre a Alemanha nazista, como nos desfiles comunistas do 1º de maio
e 7 de novembro(2). O hino da URSS ressoa novamente(3). Adolescentes exibem malhas
com a inscrição "Minha pátria, a URSS". Grupos de rock reciclam os
"sucessos" soviéticos. A faixa de FM, em Moscou, repercute
especialmente canções em língua russa. Cafés da moda e publicidades comerciais
também estão cobertos de símbolos soviéticos, testemunhando assim uma
"nostalgia" pós-moderna.
No entanto, esforços não foram poupados para
erradicar o comunismo. Desde 1991, os russos estão submersos em arquivos,
artigos, livros e programas de televisão que denunciam os "crimes
bolcheviques": terror vermelho sob Lênin e Trotski, "Grande
terror" sob Stalin, fome de 1932-1933, gulag, deportação de povos
"punidos" ou "suspeitos" de colaboração com a Alemanha
nazista, repressões sob Brejnev. A "batalha da memória" conjugada com
a promoção dos "valores mercantis democratas" foi levada a termo, com
entusiasmo, por grandes mídias, jornalistas, historiadores, respaldada por uma
vasta rede ocidental e, sobretudo, americana, de instituições, universidades e
fundações - Ford, Soros, Hoover, Heritage, Carnegie, USIS, USAID, sem falar dos
filantropos oligarcas da Rússia(9).
Esse revisionismo caricatural - que ignora os
contextos reais, os períodos, os regimes, as sociedades e as culturas muito
diversas da história soviética - é contestado por vários historiadores, mas não
são eles que dão o tom. Muito mais amplamente difundidos são os best-sellers de
Viktor Suvorov(12). O mais recente, lançado no final de 2002, começa com a
seguinte afirmação: "Todos os dirigentes soviéticos, sem exceção, foram
crápulas e não valem nada".
Apesar dessa avalanche, a Rússia ainda escapa do
"pensamento único" sobre a URSS. Há ali experiências vividas em
demasia, heranças culturais, memórias dilaceradas para permitir esse tipo de
uniformidade. Os relatos de vida podem, numa mesma inspiração, trazer ecos
caóticos de tempos extremados em que as fronteiras entre a fé cristalina, as
alegrias positivas, a descida incompreendida e súbita aos infernos de um terror
cego, eram móveis, imprevisíveis.
Esse foi, realmente, o caminho de milhões de
habitantes do mundo rural. Entre os camponeses, que viveram a guerra civil e
permaneceram na aldeia depois da "grande ruptura" da coletivização,
outros relatos de vida foram coletados a tempo(18), no início dos anos 1990,
quando a palavra foi liberta antes de ser "reformatada" pela ideologia
anticomunista dominante.
Um dos problemas da memória "reconstruída"
nesse novo contexto é a arregimentação de vítimas e mártires a serviço de uma
ideologia "antitotalitária" formulada a posteriori. Pois, entre eles
havia muitos comunistas e opositores da esquerda trotskista(19) - pessoas que,
voltando ao campo, não deixaram de crer e de servir ao "socialismo"
ao qual, hoje, se pretende que elas reneguem. Quem fala, e com qual direito, em
nome dos mortos?
Mas a maior parte dos ex-soviéticos ainda vivos não
conheceu os tempos piores. Evocam os quarenta anos vividos depois da guerra e
da morte de Stalin. Um artista se lembra da atmosfera doa nos 1960: "Eu
idealizo, talvez, mas havia na época um entusiasmo otimista no país. Não falo
de política, mas do clima moral das pessoas que me cercavam. O impulso dado
pelos Beatles revelou a aspiração ao amor, que teve seu auge com o movimento
hippie. Era um tempo luminoso que me ensinou a viver olhando o futuro com
otimismo". Choque e conivência com referências imprevisíveis: uma em
compasso com os ideais oficiais ("o futuro com otimismo"), a outra
com uma cultura não-conformista (os Beatles).
A confiança nas perspectivas de um país em pleno
arranque, onde ninguém tinha medo do dia seguinte, coexistia com o apoliticismo
e as tentações de uma cultura alternativa. Outros, contestadores do regime de
Brejnev, sentem falta do tempo em que se refazia o mundo nas cozinhas. "O
futuro ainda não tinha acontecido" - e ele seria, sabemos, bem
decepcionante. Quantos dentre eles, depois de 1991, retiraram-se da cena,
doentes, deprimidos ou mortos de tristeza ao ver o que produziu a mudança tão
esperada?
"Os novos chefes não dão crédito aos
chestidisiatniki, as pessoas dos anos 1960", conta Vassili Jouravliov,
"porque esses são para eles uma reprovação viva". Pois foi sobre suas
costas que os oligarcas e outros homens de negócios alçaram-se ao poder(20)". Antigos jovens - que não eram nem militantes, nem contestadores, nem
intelectuais ou quadros do partido, mas simplesmente ávidos de viver plenamente
- haviam deixado o conforto urbano pelas "grandes construções" dos
anos 1950-1980, por romantismo ou atraídos pela recompensa. A construção da
"cidade de sábios" em Novossibirski, as grandes centrais sobre os
rios siberianos, os complexos industriais de Togliatti e em Kama, o segundo
transiberiano, o BAM, deixaram neles, quase sempre, lembranças de uma juventude
intensa, apesar do sentimento comum hoje ser de imenso desperdício.
Outros voltaram marcados de uma aventura abominável:
a guerra do Afeganistão, da qual os mutilados, de mais ou menos 40 anos, falam
nas ruas e no metrô. E a geração jovem "retornada da Chechenia",
outra abominação, já toma o seu lugar. Porém, a maioria não participou de
engajamentos tão fortes. Viveu, simplesmente, imersa em um modo de vida, de
relações sociais, em uma cultura da qual separou-se com dor. Nascido em 1961, o
escritor ucraniano Andreï Kourkov fala, a seu modo, de algo que não era raro:
"Essa sociedade era fundada na amizade. Era possível bater na porta dos
vizinhos, se precisasse de dinheiro, eles o emprestariam. Depois da queda, toda
essa solidariedade ruiu (...) As pessoas que nasceram logo depois da queda, que
têm 20 anos, adaptam-se muito rápido. Para a minha geração, a solidão é a
doença da época. Perdi muitos amigos. Muitos suicidaram-se, outros emigraram(21)".
Todo um continente de conhecimentos falta aos
ocidentais para que eles compreendam o que é essa "perda" tão
sentida: o universo de uma cultura, a densidade de uma vida social que não
podem ser enquadrados com nenhuma ideologia. Onde classificar, nas suas
gavetinhas, tanto a vanguarda quanto a cultura popular de massa que marcou
gerações, as comédias musicais de Alexandrov e o jazz de Utesov, o humor de Ilf
e Petrov, as aventuras do soldado Vassili Tiorkine, os personagens "aos
pares" do cinema de Vassili Choukchine, a arte amadora dos clubes de
fábricas e vasto movimento das canções de compositores, a
"contestação" de massa mais importante nos anos 1960-1980? Onde
situar a recente decisão dos bardos não-conformistas de todas as idades de
consagrarem como "canção do século" a balada "Grenada" de
Mikhaïl Svetlov, "poeta do Komsomol" dos anos 1920? Será possível
transmitir mensagens dessa Atlântida que realmente existiu?
"Os crimes do stalinismo não podem ser de forma
alguma justificados" - é o ponto de vista de 75,6 % entre 16-24 anos; de
73,5% de 25-35 anos; de 74% de 36-45 anos; de 66,8% dos 46-55 anos; de 53,1%
dos 56-65 anos. "As idéias marxistas eram justas": as respostas
positivas variam, dos mais jovens aos mais velhos, de 27,4% a 50,3%. "A
democracia ocidental, o individualismo e o liberalismo são valores que não
convêm aos russos": esta opinião e aprovada por 62,9% dos 56-65 anos, mas
apenas 24,4 % dos 16-24 anos. Entre as "razões de orgulho", cerca de
80 %, em todas as categorias de idade, citam a vitória de 1945. Quem tem mais
de 35 anos escolhe em segundo lugar a reconstrução do pós-guerra, os mais
jovens (16-35) citam "os grandes poetas russos, os escritores, os
compositores". Em média, 60% citam as explorações das viagens espaciais. A
afirmação segundo a qual "a URSS foi o primeiro Estado de toda a história
da Rússia a assegurar a justiça social para as pessoas simples" é
escolhida pela maioria das pessoas com mais de 35 anos, 42,3 % entre 25-35
anos, e apenas 31,3 % entre 16-24 anos.
Quanto ao futuro, uma ampla maioria pronuncia-se a
favor de uma gestão estatal dos grandes setores da economia, do ensino e da
saúde; só reconhecem o valor da gestão mista (com o setor privado) nos campos
da alimentação, da moradia e das mídias. Uma maioria (54%) "escolheu uma
sociedade de igualdade social" e definiu como o principal caráter da
democracia "a igualdade dos cidadãos diante da lei".
Evolutiva, a visão do passado é, portanto, filtrada
pela experiência de "reformas de mercado", cujo caráter desastroso é,
entretanto, amplamente reconhecido. A primeira inspiradora dessas reformas, a
socióloga Tatiana Zaslavskaïa(24), estima que os trabalhadores são "ainda
mais alienados da propriedade e privados de direitos do que na época soviética.
(...) A produção não está apenas reduzida, mas degradada do ponto de vista
estrutural e tecnológico. (...) Setores que asseguravam as necessidades sociais
na época soviética e aumentavam, ainda que modestamente, a qualidade de vida da
população, hoje se degradam cada vez mais. As conquistas democráticas da época
da perestroïka e da glasnost estão em perigo. (...) A polarização da sociedade
tomou um vulto colossal: de 20 a 30% da população vivem sérias privações,
habitam moradias em ruínas, têm fome, são doentes e morrem
prematuramente".
O economista liberal Grigori Iavlinski fala de "desmodernização" da Rússia, o ecologista Oleg Ianitskii de "sociedade de todos os riscos". "Vivíamos atrás da cortina de ferro", explica o historiador Viktor Danilov. "Ignorando as realidades exteriores, acreditávamos viver na miséria do nivelamento. Agora que a cortina de ferro caiu (...) sofremos a provação da verdadeira miséria. Sabemos, hoje, que na época soviética, não vivíamos na miséria, mas numa "suficiência" nivelada, ainda que baixa. O sistema de saúde e de ensino era acessível a todos apesar dos privilégios dos ?servidores do povo? As filas existiam para que cada um pudesse ter o necessário, o que não é mais acessível, hoje, para a maioria".
O economista liberal Grigori Iavlinski fala de "desmodernização" da Rússia, o ecologista Oleg Ianitskii de "sociedade de todos os riscos". "Vivíamos atrás da cortina de ferro", explica o historiador Viktor Danilov. "Ignorando as realidades exteriores, acreditávamos viver na miséria do nivelamento. Agora que a cortina de ferro caiu (...) sofremos a provação da verdadeira miséria. Sabemos, hoje, que na época soviética, não vivíamos na miséria, mas numa "suficiência" nivelada, ainda que baixa. O sistema de saúde e de ensino era acessível a todos apesar dos privilégios dos ?servidores do povo? As filas existiam para que cada um pudesse ter o necessário, o que não é mais acessível, hoje, para a maioria".
Segundo Danilov, para muitos, "sem dúvida
abriram-se as portas para o mundo externo, mas portas blindadas foram postas
entre as pessoas". Nunca a "atomização" atingira um tal grau.
Além dessas tristes constatações, não faltam, na Rússia, reflexões
interessantes sobre o passado, o futuro e as possibilidades de desenvolvimento.
Mas esse universo muito plural do pensamento russo é ignorado pelo Ocidente,
onde só se repercutem os pontos de vista liberais ocidentalistas.
O patriotismo refigurado nutre-se, no entanto, do
ressentimento da decadência, da miséria, da nova "imagem do inimigo"
- o "terrorista" árabe-muçulmano - criado em conjunto com o Ocidente
civilizado com o qual identifica-se. O clima não é mais de
"anti-imperialismo", mas de xenofobia "petit blanc(25)" em
relação a povos ainda mais desfavorecidos, o Sul ameaçador. É paradoxal: muitos
lamentam, ao mesmo tempo, a falta do espírito de amizade que reinava nas
comunidades multinacionais soviéticas de operários e estudantes e deploram a
criação de novas fronteiras, os entraves políticos e financeiros que afetam a
liberdade de viajar, as famílias e os amigos que se deslocaram. Aceita-se o
massacre dos chechenos ao sabor do filme cult dos anos 1930, Le Cirque, no qual
o ator judeu Salomon Mikhoels, assassinado por Stalin, canta uma canção de
ninar yiddish a uma criança negra arrancada das garras do racismo americano!
A nostalgia da URSS e sua reavaliação pela população
não se confundem com seus diferentes usos políticos. A realidade exclui um
"retorno ao sovietismo": a liquidação do sistema social soviético, as
privações, o papel do dinheiro e as pressões do mundo exterior
"globalizado" atingiram um ponto em que não há mais volta. E, se as
tradições de potência, burocráticas e policiais, foram reativadas por necessidades
internas do poder e do controle do petróleo, o mesmo se dá no contexto
internacional no qual o exemplo da militarização, da cultura securitária é
estadunidense, venerado pelos novos russos.
Entre as "reabilitações", o presidente
Putin não esqueceu Pedro, o Grande, o reformador liberal autoritário Piotr
Stoypine, sob Nicolau II, nem a muito atual Igreja Ortodoxa. O Kremlin tem como
emblema a águia imperial bicéfala coroada. O ídolo da nova burguesia é um veado
de ouro, verde como o dólar.
Quando ao casal de Vera Moukhina, empunhando ainda
as ferramentas do comunismo, a novidade da sua reforma não deve assustar os
liberais: quando eles estiverem novamente em pé, orgulhosos e petrificados no
seu entusiasmo pelo futuro do passado, o operário e a camponesa kolkosiana
deverão ser postos em um pedestal ainda maior, digno dos novos tempos. Diante
de um shopping center.
(Trad.: Teresa Van Acker)
2 - Aniversário da "Grande Revolução Socialista
de Outubro de 1917"
3 - Sobre a música de Boris Alexandrov, o hino que
substituiu a Internacional e foi abandonada pela URSS em 1991, foi
restabelecido pelo Duma em 8 de dezembro de 2000, com uma nova letra
"patriótica" composta por Serguei Mikhalkov, que já havia escrito a
do hino soviético.
4 - Andréi Koslesnikov, Izvestia, Moscou, 5 de junho
e 14 de agosto de 2001.
5 - 48% dos russos vêm no fracassado golpe militar
conservador e no golpe de Estado bem-sucedido de Boris Yetsin apenas um
"episódio da luta pelo poder", 31% classificam os fatos
como"acontecimentos trágicos", 10% somente uma "vitória da
democracia". Seu segundo aniversário, em 2001, não foi celebrado.
6 - Os antigos magnatas Vladimir Goussinski
(mídias), refugiado na Espanha, Boris Berezovski (automóvel, petróleo, mídias,
finanças do Kremlin), "refugiado político" na Grã Bretanha, Mikhail
Klodorkovski (petróleo Yukos), preso.
7 - O Comissariado do povo nos Negócios do Interior
(NKVD) era a polícia política no período de Stalin. Foi substituído, em 1954,
pelo Comitê de Segurança do Estado (KGB), e depois, perto do final da URSS,
pelo Serviço Federal da Segurança (FSB).
8 - Esta denominação é dada a grupo de homens das
forças armadas, das polícias e da informação.
9 - O partido liberal União das forças de direita e
a Fundação Soros promoveram uma edição do Livro Negro do Comunismo, do francês
Stéphane Courtois.
10 - Ler , URSS, une société em mouvement, L’Aube,
La-Tour-d’Aigues, 1988.
11 - Izvestia, 26 de março de 2002. Falava da
re-abilitação, na Ucrância, da divisão SS Galitchina
13 - Nezavíssimaïa Gazeta, Moscou, 9 de novembro de
1995
14 - Ler Karine
Clément, Les Ouvriers russes dans la tourmente du marché, Syllepse, Paris,
2000.
15 - Ler Pierre Lepape, " Le goulag selon
Chalamov ", Le Monde diplomatique, dezembro de 2003
16 - Les Années vingt, éditions Verdier (Paris), que
também publicam integralmente os Récits de la Kolyma (2003).
17 - Lioudmila
Boulavka, une Russe dans le siécle, La Dispute, Paris, 1998.. Les
Années vingt, éditions Verdier (Paris), que também publicam integralmente os
Récits de la Kolyma (2003).
18 - Golosa
Krest’ian, Selskaïa Rossia XX veka v krest íanskikh memuarakh, Aspekt Press,
Moscou, 1996.
19 - Ler Pierre
Broué Communistes contre Staline. Massacre d’une génération, Fayard, Paris,
2003.
20 - Litteraturnaüa Gazeta, Moscou, 6-12, março de
2002.
21 - Entrevista sobre seu livro Le Pingouin (Liana
Levi, Paris, 2000), in " Le matricule des anges", www
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