A noite
prometia: era apenas a segunda apresentação do Ratos de porão, lendária banda de Hard Core paulistana, há mais de 30 anos na ativa, em Aracaju. Terceira vinda deles aqui, se
contarmos a vez em que vieram mas não tocaram porque tomaram um calote do
“produtor”. Ficou apenas numa tarde de autógrafos no shopping Riomar e num acesso de furia coletiva do publico, que destruiu e saqueou a loja do pilantra. Que pouco tempo depois foi preso em flagrante por estupro, mas fugiu da cadeia e hoje é procurado até pela Interpol! Mas isso foi há muito tempo atrás. Coisa de 20 anos. Tocaram, finalmente, há cerca de 7 anos, na finada – e saudosa – ATPN, na Atalaia.
E, que eu saiba, foi tudo mais ou menos ok ...
Mais ou menos porque aquela noite marcou a saída de cena da Terrozone produções, que vinha trazendo grandes nomes do cenário nacional à cidade, sob a alegação de prejuízos na bilheteria. Não parecia o caso, agora: um bom público compareceu à Casa Rua da Cultura na noite de sábado, 28 de março de 2015.
Cheguei por volta das 22:00H à recém-reformada Praça Camerino, no centro da cidade, àquela altura já tomada pelo tradicional “pretume” dos freqüentadores deste tipo de evento. A tempo de presenciar, logo de cara, uma cena inusitada: a primeira pichação, no monumento central da praça! Pelo menos havia uma mensagem, digamos, “edificante”: “A Rua é nossa! Fora fascistas”. Ah se a “wannabe” “puliça” (não mais uma “simples” guarda municipal) de sua excelência João Alves primeiro e único, o eterno, pega uma coisa dessas! Ia ser bomba de gás pra todo lado! A festa ia acabar ali mesmo ...
Não foram pegos, os pichadores - a guarda municipal certamente estava brincando de ser PM em algum outro lugar, ao invés de cumprir sua obrigação original, que é a de garantir a preservação do patrimônio público -, e a noite prosseguiu relativamente tranqüila. Mas não por muito tempo. Já na entrada estranhei: não havia revista! Era pagar, apresentar o ingresso e entrar, livremente. Não me lembro de ter visto, também, nenhuma sinalização de saída de emergência. A área pela qual o público tinha que passar para circular entre os ambientes era estreita e estava sempre congestionada. Não quero nem imaginar o que teria acontecido caso houvesse algum tumulto ou incidente sério durante as apresentações. O mesmo vale para vários outros espaços de eventos da cidade. A tragédia da Boate Kiss já parece ter sido esquecida e voltamos à velha rotina de negligencia com a segurança e a vida das pessoas. Péssimos sinais. Mas tudo bem, vai dar tudo certo ...
Não deu. Mas a gente chega já lá. Nem tudo foi “treta” nesta noite antológica que foi aberta pela Cessar Fogo, banda já não tão nova mas que acaba sendo, se comparada à “headliner” e à Karne Krua, que tocaria em seguida e já está há 30 anos na estrada. Since 1985.
Cessar Fogo mandou muito bem! Fazem um som com uma pegada bem tradicional aliada a algumas firulas na guitarra, o que dá ao "molho" um sabor especial, inusitado, fugindo um pouco do "feijão com arroz" do punk rock. Estão com uma nova formação, novamente com dois guitarristas, o que ajuda a reproduzir os arranjos de seu primeiro – e excelente – disco, “conflitos mundanos”. Muito bem ensaiados, entregaram uma perfomance precisa e energética sob o comando do carismático “frontman” Luiz. O publico prestigiou e já se apresentava em bom número no recinto, agitando bastante, muito embora já se fizesse presente, também, o tradicional palhaço que pensa que show de rock é um picadeiro no qual pode extravasar suas frustrações na base da violência gratuita. Lamentável, mas o imbecil era um só e foi devidamente identificado – não pela segurança, que não existia, mas pela própria intervenção dos presentes, que trataram de colocá-lo em seu devido lugar. Ânimos acalmados, tudo transcorreu na paz.
Na apresentação seguinte, da Karne Krua, os problemas com o som começaram a se tornar evidentes: a guitarra estava baixa e mal se ouvia a voz de Silvio. Melhorou quando ele trocou de microfone. Foi uma apresentação curta e grossa, que se encerrou em grande estilo com “inanição”. Em todo caso, muito boa, como sempre.
Os ânimos voltaram a se exaltar no meio do público quando a Edose estava no palco. Fazem um som que remete a Matanza e Raimundos, com letras que falam de cerveja, mulher e ... briga! “Não sei ainda o que penso da vida/Mas o que me incomoda eu resolvo na briga”, diz uma delas. “Rock testosterona", eu diria. A pista foi tomada por caras “fortões” exalando “masculinidade”. Não é, definitivamente, a minha praia, então fui tomar um ar, porque o calor dentro do recinto era insuportável ...
Piorou, e muito, quando o Ratos subiu, finalmente, ao palco. Haviam cerca de 400 cabeças na casa – relativamente pequena - e todo mundo entrou pra ver, evidentemente – a Casa Rua da Cultura tem vários ambientes, um deles externo, onde todos se concentravam nos intervalos, já que não era permitido sair para a praça. O caos se formou, com algumas rodas de pogo mais insanas já registradas aqui neste cantinho do mundo, além das já tradicionais invasões de palco e "stage dives". E o Gordo já foi logo mandando o papo reto, confirmando a suspeita de que havia algo errado no ar: “o patrão aí diz que não tem grana pra pagar a gente, e ainda vamos ter que pegar uma van até Salvador pra descer a duas horas de SP pra voltar pra casa. Mas vamos tocar, em respeito a vocês, do público. Se isso não for amor, não sei mais o que é”. E tome cacetada atrás de cacetada no pé do ouvido! Um repertório eclético, que misturou músicas de praticamente todas as fases da banda tocadas numa velocidade insana, além de dois covers, do Anti Cimex e do Extreme Noise Terror. Grande show, com um som bem melhor equalizado que o das bandas de abertura. Deu pra ouvir tudo em alto e relativamente bom som.
Teria sido tudo, se não perfeito, de excelente tamanho, não fosse o que veio a seguir, na praça, quando o evento já havia acabado e o público se dispersava: uma briga estúpida que terminou, literalmente, em sangue. Muito sangue! Nunca tinha visto nada parecido, parecia cena de Kill Bill. Estranho, pois não vi nenhum objeto cortante na mão de nenhum dos “gladiadores”. Mas havia, certamente, porque o corte foi feio. Com as unhas é que não foi feito ...
O cara foi socorrido e consta que passa bem. O autor da “proeza”, velho conhecido da cena, fugiu do flagrante mas não demonstra arrependimento, já que chegou a postar novas ameaças no facebook! Facebook que também foi usado pelo Ratos para lavar a roupa suja, numa sequencia de troca de ofensas lamentável. Eles reclamam da falta de pagamento e do não cumprimento das exigências técnicas previamente acordadas relativas ao som de palco. Acompanhe a polêmica clicando aqui, caso tenha estômago para mais uma daquelas discussões intermináveis, com direito a ameaças de morte e linchamento virtual coletivo.
E foi isso. Dentre mortos e feridos, salvaram-se todos. Lamentáveis os contratempos, mas eu me diverti, devo admitir. E diversão é solução, sim. É solução pra mim. Que a crise nacional e mundial seja contornada, que o Estado Islâmico seja derrotado, que os produtores produzam e as bandas sejam pagas! Que venham mais e melhores shows ...
Mas o DOOM, que ia rolar no lançamento do novo disco da Karne Krua, já era. Foi cancelado.
"O sonho acabou". De novo.
Sonhar é de graça.
Realizar ...
A.
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Mais ou menos porque aquela noite marcou a saída de cena da Terrozone produções, que vinha trazendo grandes nomes do cenário nacional à cidade, sob a alegação de prejuízos na bilheteria. Não parecia o caso, agora: um bom público compareceu à Casa Rua da Cultura na noite de sábado, 28 de março de 2015.
Cheguei por volta das 22:00H à recém-reformada Praça Camerino, no centro da cidade, àquela altura já tomada pelo tradicional “pretume” dos freqüentadores deste tipo de evento. A tempo de presenciar, logo de cara, uma cena inusitada: a primeira pichação, no monumento central da praça! Pelo menos havia uma mensagem, digamos, “edificante”: “A Rua é nossa! Fora fascistas”. Ah se a “wannabe” “puliça” (não mais uma “simples” guarda municipal) de sua excelência João Alves primeiro e único, o eterno, pega uma coisa dessas! Ia ser bomba de gás pra todo lado! A festa ia acabar ali mesmo ...
Não foram pegos, os pichadores - a guarda municipal certamente estava brincando de ser PM em algum outro lugar, ao invés de cumprir sua obrigação original, que é a de garantir a preservação do patrimônio público -, e a noite prosseguiu relativamente tranqüila. Mas não por muito tempo. Já na entrada estranhei: não havia revista! Era pagar, apresentar o ingresso e entrar, livremente. Não me lembro de ter visto, também, nenhuma sinalização de saída de emergência. A área pela qual o público tinha que passar para circular entre os ambientes era estreita e estava sempre congestionada. Não quero nem imaginar o que teria acontecido caso houvesse algum tumulto ou incidente sério durante as apresentações. O mesmo vale para vários outros espaços de eventos da cidade. A tragédia da Boate Kiss já parece ter sido esquecida e voltamos à velha rotina de negligencia com a segurança e a vida das pessoas. Péssimos sinais. Mas tudo bem, vai dar tudo certo ...
Não deu. Mas a gente chega já lá. Nem tudo foi “treta” nesta noite antológica que foi aberta pela Cessar Fogo, banda já não tão nova mas que acaba sendo, se comparada à “headliner” e à Karne Krua, que tocaria em seguida e já está há 30 anos na estrada. Since 1985.
Cessar Fogo mandou muito bem! Fazem um som com uma pegada bem tradicional aliada a algumas firulas na guitarra, o que dá ao "molho" um sabor especial, inusitado, fugindo um pouco do "feijão com arroz" do punk rock. Estão com uma nova formação, novamente com dois guitarristas, o que ajuda a reproduzir os arranjos de seu primeiro – e excelente – disco, “conflitos mundanos”. Muito bem ensaiados, entregaram uma perfomance precisa e energética sob o comando do carismático “frontman” Luiz. O publico prestigiou e já se apresentava em bom número no recinto, agitando bastante, muito embora já se fizesse presente, também, o tradicional palhaço que pensa que show de rock é um picadeiro no qual pode extravasar suas frustrações na base da violência gratuita. Lamentável, mas o imbecil era um só e foi devidamente identificado – não pela segurança, que não existia, mas pela própria intervenção dos presentes, que trataram de colocá-lo em seu devido lugar. Ânimos acalmados, tudo transcorreu na paz.
Na apresentação seguinte, da Karne Krua, os problemas com o som começaram a se tornar evidentes: a guitarra estava baixa e mal se ouvia a voz de Silvio. Melhorou quando ele trocou de microfone. Foi uma apresentação curta e grossa, que se encerrou em grande estilo com “inanição”. Em todo caso, muito boa, como sempre.
Os ânimos voltaram a se exaltar no meio do público quando a Edose estava no palco. Fazem um som que remete a Matanza e Raimundos, com letras que falam de cerveja, mulher e ... briga! “Não sei ainda o que penso da vida/Mas o que me incomoda eu resolvo na briga”, diz uma delas. “Rock testosterona", eu diria. A pista foi tomada por caras “fortões” exalando “masculinidade”. Não é, definitivamente, a minha praia, então fui tomar um ar, porque o calor dentro do recinto era insuportável ...
Piorou, e muito, quando o Ratos subiu, finalmente, ao palco. Haviam cerca de 400 cabeças na casa – relativamente pequena - e todo mundo entrou pra ver, evidentemente – a Casa Rua da Cultura tem vários ambientes, um deles externo, onde todos se concentravam nos intervalos, já que não era permitido sair para a praça. O caos se formou, com algumas rodas de pogo mais insanas já registradas aqui neste cantinho do mundo, além das já tradicionais invasões de palco e "stage dives". E o Gordo já foi logo mandando o papo reto, confirmando a suspeita de que havia algo errado no ar: “o patrão aí diz que não tem grana pra pagar a gente, e ainda vamos ter que pegar uma van até Salvador pra descer a duas horas de SP pra voltar pra casa. Mas vamos tocar, em respeito a vocês, do público. Se isso não for amor, não sei mais o que é”. E tome cacetada atrás de cacetada no pé do ouvido! Um repertório eclético, que misturou músicas de praticamente todas as fases da banda tocadas numa velocidade insana, além de dois covers, do Anti Cimex e do Extreme Noise Terror. Grande show, com um som bem melhor equalizado que o das bandas de abertura. Deu pra ouvir tudo em alto e relativamente bom som.
Teria sido tudo, se não perfeito, de excelente tamanho, não fosse o que veio a seguir, na praça, quando o evento já havia acabado e o público se dispersava: uma briga estúpida que terminou, literalmente, em sangue. Muito sangue! Nunca tinha visto nada parecido, parecia cena de Kill Bill. Estranho, pois não vi nenhum objeto cortante na mão de nenhum dos “gladiadores”. Mas havia, certamente, porque o corte foi feio. Com as unhas é que não foi feito ...
O cara foi socorrido e consta que passa bem. O autor da “proeza”, velho conhecido da cena, fugiu do flagrante mas não demonstra arrependimento, já que chegou a postar novas ameaças no facebook! Facebook que também foi usado pelo Ratos para lavar a roupa suja, numa sequencia de troca de ofensas lamentável. Eles reclamam da falta de pagamento e do não cumprimento das exigências técnicas previamente acordadas relativas ao som de palco. Acompanhe a polêmica clicando aqui, caso tenha estômago para mais uma daquelas discussões intermináveis, com direito a ameaças de morte e linchamento virtual coletivo.
E foi isso. Dentre mortos e feridos, salvaram-se todos. Lamentáveis os contratempos, mas eu me diverti, devo admitir. E diversão é solução, sim. É solução pra mim. Que a crise nacional e mundial seja contornada, que o Estado Islâmico seja derrotado, que os produtores produzam e as bandas sejam pagas! Que venham mais e melhores shows ...
Mas o DOOM, que ia rolar no lançamento do novo disco da Karne Krua, já era. Foi cancelado.
Sonhar é de graça.
Realizar ...
A.
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