A provocação serviu como uma luva para os que ainda têm fôlego para o “debate” político polarizado e nivelado por baixo que vemos se arrastar há pelo menos 10 anos e acabou se tornado mais uma evidencia de algo que eu sempre digo: se engana quem acha que o mundo do rock está tomado por hostes reacionárias de extrema direita. É certo que há os que comungam desse anacronismo, tanto no “mainstrean” – Lobão e Roger, do Ultraje a rigor, são os nomes que logo vêm à mente – quanto nos guetos do punk e do metal: Fabio,. Vocalista da icônica Olho Seco, de São Paulo, Digão, do Raimundos, Roosevelt “Bala”, do Stress, de Belém do Pará – a banda que lançou o primeiro disco de Heavy metal brasileiro – foram apenas alguns dos que “saíram do armário” recentemente. Mas isso faz parte de um fenômeno que estamos vendo se espalhar por todo o mundo, impulsionado em grande parte pelas redes sociais. Não é exclusividade do rock, definitivamente.
A mim causa estranheza este tipo de posicionamento, tendo em vista que o rock foi, em sua origem, a música que fez cair as barreiras entre pretos e brancos em plena América ainda dominada pela segragação racial legalizada. Mas a verdade é que sempre existiram roqueiros “de direita”: há, por exemplo, o episódio célebre em que Elvis, “The pelvis”, apareceu de surpresa na Casa Branca ocupada por Richard Nixon oferecendo-se como delator “infiltrado” a serviço do FBI. Temos também Ted Nugent, Dave Mustaine, e mais recentemente John Lydon e Krist Novoselic apoiando atitudes tresloucadas de Donald Trump. Mas eu, particularmente, sempre achei e continuo achando que são exceções. O rock na minha cabeça sempre foi uma subcultura de cunho libertário e progressista. Teve um impacto muito grande na minha vida e na de muita gente que eu conheço: eu tive uma formação católica tradicional e repressora, da qual me libertei, em grande parte, a partir da descoberta de todo aquele universo musical e cultural barulhento e contestador no qual passei a mergulhar a partir da transmissão do primeiro rock in rio pele TV aberta e pela leitura da revista Bizz, que chegava em minha cidade, Itabaiana.
Apesar de reconhecer que o gênero está estagnado, sem produzir nada de realmente novo e arrebatador há pelo menos vinte anos, ainda defendo o rock porque o rock, se não me salvou – porque quem salva é Deus, o rock só alivia, como dizia o Made in Brazil – aliviou bastante boa parte de minhas angustias ao longo dos últimos 35 anos.
Adelvan Kenobi
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2 comentários:
Tenho um exemplar do Escarro em meu acervo....creio que trocamos carta em meados dos anos 90...sou editor do FATHERzine-Um zine dedicado a Jimi Hendrix. Parabéns pelo blog...tá muito massa!! ABS.
Sim, me lembro do FATHERzine. Era massa. Valeu a visita - e as leituras. E o contato.
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