“Suicidio” foi gravada em janeiro de 1991 no Estudio DB-3, de Recife, com mixagem dos amigos Nino e Pesado, da banda pernambucana Câmbio Negro HC. O repertório é composto basicamente de musicas já lançadas anteriormente, como “Rumores de guerra” e “America Latina now”(aqui com a participação de Pesado no refrão), ou já conhecidas de quem freqüentava os shows. A grande novidade, que surpreendeu a todos, foi a faixa título, que fugia um pouco da ortodoxia punk anarquista então em voga com uma letra de temática mais intimista e arranjos com solos de guitarra melódicos e minimalistas. Com suas 8 faixas distribuídas em menos de 10 minutos, na demo a banda ainda soava punk, mas com uma nítida preocupação em expandir seus horizontes. Este material está sendo agora, 30 anos depois de seu lançamento original, relançado em vinil, num EP/Compacto de 7 polegadas, pela No Gods No Masters Distro.
Essa nova fase se consolidou com o lançamento, em 1994, do primeiro LP, auto intitulado, já com Marcelo e Almada de volta a seus postos. A semente lançada em “Suicidio” frutificou num repertório impecável, que incluía dois poemas musicados de autoria do poeta, fanzineiro e capoeirista Nagir Macaô, “O vinho da história” e “A noite do deus morto”, e letras enigmáticas, beirando a abstração, como “Mancha de sangue”, além de uma notável evolução lírica e musical mesmo em faixas mais panfletárias, como “Hienas na carcaça”, “Brasil Heróico”(com seu tom épico), “Filhos do medo” e “Política da seca” – que tem frases dignas da melhor literatura, a meu ver (“pessoas castigadas pelo sol e pela fome lamentam a dor de mais um ano que passou”).
Karne Krua passou por várias outras fases, com trocas de integrantes e influências as mais diversas, do hard Core novaiorquino à musica regional do sertão nordestino, mas sempre preservando sua identidade, capitaneada pela figura de Silvio, único membro fundador remanescente. Segue viva e ativa até hoje! São 35 anos de atividade ininterrupta, fazendo shows e lançando novas demos, EPs e álbuns nos mais diversos formatos, em CD, k7, vinil e streaming, sempre fazendo musica radical e independente em um ambiente inóspito, periférico. Um feito e tanto!
por Adelvan Kenobi
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