No Brasil os primeiros fanzines de que se tem registro datam
da década de 1960 e também circulavam entre fãs de ficção científica. A partir
dos anos 1980 começou a se formar uma grande rede de circulação de informações
subterrâneas voltada principalmente para os universos do rock e das histórias
em quadrinhos, fenômeno que perdurou até a popularização da internet, no final
da década seguinte.
Em Aracaju o pioneiro neste tipo de publicação foi Silvio
Campos, que já produzia seu “Arakarock” – todo feito a mão, de próprio punho –
no início da década de 1980. Seu envolvimento com o punk rock fez com que
iniciasse em 1986 a publicação do “Buracaju” – este já datilografado -,
certamente a mais importante publicação do estilo na época. Era voltado à
divulgação de bandas e do movimento anarquista e teve grande circulação
nacional, via correios, sendo o maior responsável pela divulgação da
embrionária cena roqueira local.
Circulava também na época o “Seduções ecológicas” – publicado por Ana Iuna, formada em biologia pela UFS –, o “Clube do ódio” – mais “cabeça”, literato, meio beat, que tinha entre seus colaboradores Helder “Podre”, hoje DJ Dolores -, “Boca Quente”, de Roberto Aquino, e o “Centauro sem cabeça”, do poeta e capoeirista Nagir Macaô. Esta movimentação acabou chegando até mim em Itabaiana, onde morava – e onde eu na verdade já publicava um fanzine, o “Napalm”, sem ter consciência disso. Eu comecei a me interessar por rock a partir do primeiro rock in rio e da leitura da revista Bizz e resolvi fazer minha própria publicação – porque tinha ciúme de emprestar minhas revistas! Como não conhecia o termo, chamava de “apostilha”.
Circulava também na época o “Seduções ecológicas” – publicado por Ana Iuna, formada em biologia pela UFS –, o “Clube do ódio” – mais “cabeça”, literato, meio beat, que tinha entre seus colaboradores Helder “Podre”, hoje DJ Dolores -, “Boca Quente”, de Roberto Aquino, e o “Centauro sem cabeça”, do poeta e capoeirista Nagir Macaô. Esta movimentação acabou chegando até mim em Itabaiana, onde morava – e onde eu na verdade já publicava um fanzine, o “Napalm”, sem ter consciência disso. Eu comecei a me interessar por rock a partir do primeiro rock in rio e da leitura da revista Bizz e resolvi fazer minha própria publicação – porque tinha ciúme de emprestar minhas revistas! Como não conhecia o termo, chamava de “apostilha”.
A primeira metade da década de 1990 foi a mais rica para os
fanzines em Aracaju. A partir da troca de idéias entre malucos das mais
diversas tribos urbanas que freqüentavam as escadarias da Catedral e as lojas
“Lókaos” e “BR Records”, especializadas em rock underground, foram surgindo
publicaçãoe como “Furúnculo no cérebro” - uma publicação da “Zé Guiaba
produções artísticas”, de Teleu; “Entropia indiscreta” e “Acatalepsia”, de
Furia; “Sinagoga´s Butterfly” - mais “cabeção”, voltado para a filosofia e a
literatura, publicado a seis mãos por Dani Maya, Sérgio “Dedão” e Clarck Bruno;
“Mouth Stranger”, de Estranho e Carlos “Mouth” - que focava no Heavy Metal; e o
maior e mais célebre de todos, aquele que alcançou visibilidade nacional e é
considerado até hoje um dos melhores fanzines já publicados no Brasil: o
“Cabrunco”.
O “Cabrunco” era o que se chamava na época de “pro-zine” – mais profissional, com cara de revista. Era editado, principalmente, por Adolfo Sá, que posteriormente se formou em jornalismo pela UFS – seu TCC foi sobre fanzines -, com a ajuda de Rafael Jr., baterista da Snooze, nas sessões dedicadas à musica, e de Marcio “de Dona Litinha” – hoje vocalista da Naurêa – falando de literatura. Foi xerocado até o número 6. O número 7 teve capa colorida e foi impresso na Gráfica Digital. O 8 na Gráfica da UFS. Era bancado, principalmente, por anunciantes, por isso tinha uma tiragem bem maior que o usual. Chegou a chamar a atenção da imprensa nacional, sendo eleito, ao lado do “Papakapika”, do Paraná, um dos dois melhores fanzines do Brasil. Não se prendia a um tema específico, mas dava grande destaque à cena roqueira local, com resenhas de shows, discos e fitas “demo”. Publicou entrevistas antológicas com Mundo livre S/A e Zenilton, que eles encontraram por acaso, de “rolê” na rua – ele morava em Aracaju. Em pleno auge de sua redescoberta via Raimundos, o forrozeiro veterano, rei do duplo sentido, foi emparedado pelos “cabrunquentos” e se saiu com pelo menos uma declaração bombástica – e antológica: “Eu tô achando é bom que esses minino novo me descobriram. Agora quero aproveitar o sucesso, quero mais é morrer emaconhado e com AIDS, comendo essas minina novinha”. Todas as edições do “Cabrunco” estão disponíveis para download em pdf no blog de Adolfo, http://blog.vivalabrasa.com
Surgiu também, nesta época, um fanzine no interior, o
“Putrefy”, publicado em Estância por Alberto “Pereba” – que hoje, atente o
estimado leitor para as voltas que o mundo dá, é padre! Era escrotíssimo, com
sátiras engraçadíssimas, algumas “impublicáveis” em qualquer veículo
minimamente respeitador da moral e dos bons costumes. Sua personagem “Jezebel,
a puta”, era antológica! Já na primeira década do século XXI aconteceu uma
interessante movimentação “fanzinística” em Itabaiana, com títulos como “Xibiu”,
“100Palavras”, “Rosebud”, “Vitrola de papel”, “The Cool Megafun Zine”, “Fun
Zine” e “Tico Tico no Fullbach”, que iam da poesia – Samara era a musa local
desta seara – ao rock de garagem, passando por muita polêmica e fofoca. Foi uma
época intensa na cidade serrana, com toda uma movimentação roqueira underground
gravitando ao redor dos shows que aconteciam no Bar “Casagrande”, uma espécia
de CBGB “ceboleiro”, com bandas como Karranca, Dr. Garage, Urublues e
Carburadores.
Com a popularização da internet a circulação de fanzines
xerocados pelo correio foi minguando até praticamente desaparecer. No limiar do
novo século poucos nomes surgiram por aqui – lembro apenas do “Cartão Postal”,
que era publicado por Duardo Costa e Carol. Até Silvio, incansável, parou de
“fanzinar” - sua última publicação, "Boogie Hooker", era dedicada ao blues e distribuída nos shows de uma de suas bandas, a Máquina Blues. Mas há resistência: um jovem franzino e entusiasmado chamado Aquino
Neto tomou gosto pela coisa através da “fanzinoteca” improvisada que o “velho
guerreiro” manteve por algum tempo em sua loja, a “Freedom”, e passou a
publicar um novo fanzine chamado “Guerrilha”, todo feito à mão. Recentemente
lançou o “Linhas Tortas”, muito melhor elaborado, e segue na atividade com uma
distribuidora de publicações alternaticas chamada “Café com veneno”, onde
publica, dentre outros, os desenhos do talentoso itabaianense Maicon Rodrigues.
Também em Itabaiana temos Adilson Lima, que produz quadrinhos divertidos e
ilustrou a capa do novo disco da banda de Thrash metal sergipana Berzerkers.
É importante dizer, no entanto, que a movimentação "fanzineira" diminuiu mas não acabou de vez: "vira e mexe" me deparo, na Freedom, com alguns fanzine novos produzidos no velho esquema, xerocados, como “O Velho punk”, do veterano Robério “Nininho”, "Páginas Sujas", de Alécio, e "Kaos Universal", do casal Kelly(que também é de Itabaana) e Renan - moram em São Cristóvão, cidade histórica que faz parte da região metropolitana de Aracaju. Em shows de rock eles também costumam dar as caras, eventualmente - alguns muito caprichadinhos, como o "Ouija", de Marcio Tiago, outros rápidos, rasteiros e panfletários, geralmente pequenas publicações punks e feministas.
Recentemente estive numa feira de publicações alternativas
no Museu da Imagem e do som de São Paulo, a “Feira Plana”. Nem sabia que
existia, mas existe, e é impressionante: muita gente! Cheguei atrasado para uma
palestra sobre a série “Zine é compromisso”, da revista Vice, que havia me
entrevistado. Ao me ver por lá, o camarada Marcio Sno – maior pesquisador e
divulgador do universo “fanzinistico” no Brasil – passou a me apresentar aos
amigos como “uma lenda viva, o cara que foi mencionado no auditório, que fazia
fanzine sem saber o que era fanzine no interior de Sergipe na década de 1980”.
O mundo, realmente, dá voltas.
Da revista "Cumbuca"
A.
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