quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Era uma vez …

Um dos filmes mais impactantes e inovadores já produzidos, Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, colocou em xeque todo um modo de fazer política, de educar os jovens e de lidar com a delinquência quando foi lançado, em 1971, na Inglaterra.

À frente da gangue dos Droogs, Alex, interpretado por Malcolm McDowell, barbariza as ruas de Londres até ser preso e submetido a um tratamento de “reeducação”, baseado em lavagem cerebral, para ser reinserido na sociedade. O cenário futurista que criou uma nova estética, o figurino que influenciaria o punk, além do uso da música eletrônica – então uma novidade – intercalado com trechos de Beethoven marcaram época no imaginário da Sétima Arte.

Quarenta anos após seu lançamento, ele volta em cópia restaurada ao Brasil, durante a 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, assim como o documentário Era uma Vez… Laranja Mecânica, dirigido pelo francês Antoine de Gaudemar. Ex-diretor de redação do jornal Libération, Gaudemar fala com exclusividade à revista CULT sobre o documentário – “durou dez dias” – e a atualidade de Laranja Mecânica – “uma metáfora da violência da sociedade contemporânea”.

CULT - Laranja Mecânica é um dos filmes mais influentes da história do cinema?

Antoine de Gaudemar – Ele impressionou muito quando foi lançado, pois muitas pessoas o julgavam violento demais. Na Inglaterra, o próprio Kubrick decidiu retirá-lo de circulação após alguns jovens delinquentes terem dito que se inspiraram nele para cometer crimes. O filme se tornou um “cult” para todos aqueles que enxergavam ali uma metáfora da violência da sociedade contemporânea. Ele exprime muito bem o sentimento de desespero que pode levar jovens sem trabalho e sem futuro a atos extremos. Também mostra muito bem como, diante dessa violência, o Estado pode imaginar respostas igualmente violentas, como a lavagem cerebral e a lobotomia – que retiram do indivíduo sua capacidade de livre-arbítrio e o transforma em uma ovelha dócil.

A ideia de que se deve ter prazer o tempo todo – “é uma diversão só”, diz Alex em um dado momento do filme ” – parece disseminada hoje. Kubrick previu esse estado de coisas na sociedade atual?

Um dos slogans de Maio de 68 era: “Ter prazer sem entraves”. E muitos dos jovens dos anos 70 quiseram aplicar esse princípio em suas vidas, recusando-se a viver como seus pais, a trabalhar como todo mundo, libertando-se das proibições sociais (drogas, sexualidade) e cultivando uma forma de hedonismo e de anarquismo. Portanto, Kubrick sabia do que se passava à época, e isso certamente o influenciou. Mas Laranja Mecânica foi igualmente premonitório. As experiência psiquiátricas que descreve no filme de fato ocorreram, não apenas nos países comunistas – como a União Soviética -, mas também nas democracias ocidentais. Kubrick denuncia os perigos de uma repressão violenta demais contra os desvios sociais e a anarquia. Os Droogs recusam todos as amarras da sociedade, desejavam viver como quisessem, sem moral nem lei. Queriam se aproveitar da vida com tanto cinismo quanto as pessoas que os oprimiam - ministros, psiquiatras, policiais. Isso também é válido hoje: o cinismo do poder e do dinheiro é ainda mais forte do que nos anos 70. Os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres, cada vez mais pobres, e nunca as desigualdades sociais foram tão grandes nos países ditos “democráticos”.

A cena em que Alex canta Singing in the Rain enquanto violenta a mulher do escritor funciona também como metáfora do próprio filme?

Ela é uma metáfora de Hollywood e da visão americana do mundo, sempre otimista e triunfante. É preciso cantar, ainda que debaixo de chuva. A ilusão é mais forte do que a realidade: o mundo vai mal, mas Hollywood canta. Bater em um homem indefeso e violentar sua mulher enquanto se canta é uma metáfora da violência da sociedade contemporânea: todos os golpes são permitidos, mas tudo é escondido sob um verniz triunfante, encantador como uma comédia musical. Isso é o que pensa Malcolm McDowell – e concordo com ele.

Quais foram as principais inspirações de Kubrick para o figurino e o cenário?

Laranja Mecânica supostamente transcorre em um futuro próximo, o que explica a escolha das casas (a do personagem escritor) e dos edifícios (a prisão) mais modernas, quase futuristas. O filme também é muito marcado pela estética de fim dos anos 60 e de início dos anos 70, da pop art: cores muito vivas, quadros psicodélicos, moda pré-punk, música pop e eletrônica – podemos ouvir no filme os primeiros sintetizadores de Walter Carlos [compositora americana nascida em 1939, foi uma das primeiras a utilizar sintetizadores].

Christiane Kubrick, viúva de Stanley Kubick , diz no documentário que Laranja Mecânica não é um filme inteiramente inglês. Concorda com essa afirmação?

Acho que ela quis dizer que essa história poderia ter ocorrido em outros lugares que não apenas a Inglaterra. O romance de Anthony Burgess e o filme epônimo de Kubrick foram realizados numa época em que despontava um novo tipo de delinquência, a delinquência juvenil. Esse fenômeno foi particularmente sensível na Inglaterra, com o surgimento de gangues como os “skinheads” ou os “hoolingans”, mas isso também ocorria em toda a Europa. Nesse sentido, estou de acordo com Christiane Kubrick.

O sr. vê algum paralelo entre a situação vivida pelos jovens no filme e os distúrbios ocorridos nas grandes cidades da Inglaterra, em agosto passado, e da França, seis anos atrás?

Há relação, sim, embora distante. Em Laranja Mecânica, os Droogs são uma gangue isolada, sem nenhuma consciência política, que roubam dos ricos, agridem mendigos e estupram as mulheres. Em Paris, seis anos atrás, ou em Londres, agora, tratava-se de grupos muito mais numerosos, que desafiavam a polícia, pilhando lojas e tudo o que simbolizasse dinheiro e autoridade. Nos dois casos, são pobres que atacam os ricos, uma espécie de desespero. Mas Alex e sua gangue dependem da criminalidade individual, isolada, enquanto os distúrbios urbanos em Londres e Paris são prova de um profundo mal-estar social e, sobretudo, coletivo.

O tema comum a todos os filmes de Kubrick é a dicotomia clássica entre razão e emoção?

Não sei dizer, pois cada um deles é muito diferente do anterior. Para ficarmos em Laranja Mecânica, diria que o tema do filme são o bem e o mal. Kubrick mostra que a verdadeira natureza do homem é má, e que o mal pode ressurgir nele a qualquer momento. (NOTA: Discordo dessa visão maniqueísta do filme, e não creio que Kubrick a endosse na fita. Acho que o embate está muito mais para o que é dito abaixo, entre PULÃO e RAZÃO. Se o filme passa alguma mensagem é a de que, muito embora seja necessário algum tipo de controle social para que o mundo não mergulho num caos hedonista, o caminho não é o o do autoritarismo. Mas em nenhum momento vejo no filme esta distinção entre bem e mal, tanto que, como o próprio entrevistadoa admite, o personagem principal, mesmo cometendo barbaridades por toda a narrativa, acaba se tornando simpático aos olhos do expectador). De fato, o homem se debate entre razão e pulsão, e isso é o que nos fascina em Alex: não chegamos a considerá-lo inteiramente antipático; ao contrário, ele desperta simpatia em nós, pois nos remete ao nosso próprio inconsciente, à porção de maldade que todos carregamos dentro de nós mesmos.

por Marcos Flamínio Peres

Fonte: Revista cult

Kubrick no cinema


No aniversário de 40 anos de Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), o Janela Internacional de Cinema do Recife terá como parte importante da sua programação uma retrospectiva inédita no Brasil dos longas metragens do grande cineasta americano Stanley Kubrick. Durante a quarta edição do festival, que vai de 4 a 13 de novembro, será exibida, no majestoso Cinema São Luiz, a obra completa do diretor, em cópias de 35mm e em cinema digital DCP, via equipamento de projeção especialmente instalado.

Laranja Mecânica (1971), cuja cópia restaurada em 4K foi apresentada no último Festival de Cannes, em maio, será projetado no IV Janela ao lado de clássicos absolutos do cineasta como A Morte Passou por Perto (Killer’s Kiss, 1955), O Grande Golpe (The Killing, 1956), Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957), Spartacus (1960), Lolita (1962), Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964), 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001 A Space Odissey, 1968), Barry Lyndon (1975), O Iluminado (The Shining, 1980), Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987) e De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999). Os mais velhos poderão rever e as novas gerações de cinéfilos poderão ver pela primeira vez na tela grande, num templo do cinema como o São Luiz, filmes essenciais de um autor imprescindível.

O Janela Internacional de Cinema do Recife tem o orgulho de apresentar programação tão especial na tela do Cinema São Luiz, palácio de 1952 restaurado recentemente pelo Governo de Pernambuco.

A Retrospectiva Stanley Kubrick é apenas uma parte da programação extensa que será divulgada nas próximas semanas pelo festival, que tem o patrocínio do Governo de Pernambuco (Edital do Audiovisual - Funcultura, da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), da Petrobras e da Chesf.

NOTA: Quero muito ver isso ...

+ AQUI

Stanley Kubrick nasceu no dia 26 de Julho de 1928 em Nova Iorque. Considerado inteligente, apesar das suas más notas na escola, foi enviado pelo pai em 1940 para Pasadena, na Califórnia, onde um tio deveria orientar os seus estudos. Voltou ao Bronx em 1941 para terminar os estudos secundários, não se notando qualquer alteração no seu comportamento e resultados académicos. O pai tentou interessá-lo pelo xadrez, com sucesso. Tornou-se rapidamente um jogador de algum gabarito e chegou a participar de partidas apenas pelo dinheiro. Aos treze anos o pai ofereceu-lhe uma máquina fotográfica, despertando uma nova paixão no jovem. Conseguiu vender uma das suas fotos para a revista Look, que acabou contratando-o. Ao mesmo tempo, seu interesse pelo cinema tornou-se tão grande que não descansou enquanto não começou a filmar. Em 1950 investiu todo o seu dinheiro na realização do seu primeiro documentário, Day of the Fight (1950), um filme de dezesseis minutos sobre o pugilista Walter Cartier. O documentário acabou sendo comprado pela RKO para a sua série This Is America. Nos anos seguintes fez vários documentários sob encomenda: Flyng Padre(1951), para a série Pathe Screenliner da RKO, e The Seafarers (1952), filme em cores de meia hora. Foi nesta altura que abandonou a Look para se dedicar totalmente ao cinema. Com a ajuda de familiares, de alguns investidores e com o dinheiro que ganhara em jogos de xadrez no Central Park, pôs de pé a sua primeiro longa metragem, Fear and Desire (1953). O projeto, filmado nas montanhas de San Gabrielle, perto de Los Angeles, com uma pequena equipe de dez pessoas, não foi muito feliz e acabou com o divórcio entre ele e a sua primeira mulher, Toba Metz. Se o filme não agradou muito e não conseguiu reaver o investimento, o seu talento como realizador foi de imediato reconhecido. O seu segundo filme, Killer's Kiss (1955) teve mais sucesso sendo vendido à United Artists. Em 1955 realizou seu primeiro filme para um estúdio, The Killers. Este filme negro, escrito pelo famoso Jim Thompson, autor de policiais violentos, chamou a atenção pela elaborada estrutura temporal e foi o seu primeiro verdadeiro êxito.

A MGM, que já notara as qualidades do jovem realizador, deu-lhe a possibilidade de realizar na Alemanha a adaptação de uma novela de guerra, Paths of Glory (1957), com Kirk Douglas, filme que marcou a emergência de Kubrick como um grande diretor. Essa saga passada na primeira guerra mundial é uma inteligente e aguçada crítica à prática militar. É também uma poderosa peça cinematográfica, visto que Kubrick sintetiza as lições que aprendeu sobre composição e movimento de camera. A experiência foi tão positiva que Kirk Douglas o convidou mais tarde para substituir Anthonny Mann na realização de um épico que estava encalhado, Spartacus, seu primeiro e único trabalho contratado, típico épico dos anos 50 colorido em Technicolor. No filme que, ao contrário de todas as expectativas, Kubrick realizou à sua maneira, participaram atores como Laurence Olivier e Tony Curtis, além de Kirk Douglas. Um fato curioso, já testemunho de um artista sem concessões que almeja o controlo artístico total do seu trabalho, foi o de ter impedido Russell Metty, o diretor de fotografia, de trabalhar. Não gostando do trabalho do técnico, ele próprio foi o responsável pela fotografia. Este queixou-se sem resultado e, ironicamente, acabou por ganhar o Óscar de melhor fotografia sem ter feito nada durante a realização do filme. O projeto seguinte foi One-Eyed Jack (1961) com Marlon Brando, mas devido a incompatibilidades entre duas personalidades tão fortes, Kubrick abandonou o filme, acabando Brando a realização do western.

Desencantado com Hollywood e com a América, e depois de mais um casamento acabado, Kubrick muda-se para a Inglaterra. Passou a trabalhar lá desde então, desenvolvendo e produzindo apenas sete filmes em 30 anos, cada um meticulosamente trabalhado e cada um notadamente diferente dos outro.

O seu primeiro filme no outro lado do Atlântico foi o famoso e controverso Lolita (1962), uma adaptação do romance de Vladimir Nabokov sobre o romance de um homem de meia idade com uma jovem de apenas 12 anos. Embora Kubrick tenha se queixado da censura tê-lo impedido de explorar a estória em maiores detalhes (dois anos foram adicionados a idade real de Lolita), o filme é visto hoje como um exemplo extraordinário de comédia mesclada com drama e romance.

Dr. Fantástico (1964), o seu filme seguinte, era uma comédia de humor negro sobre a guerra fria em que Peter Sellers tinha três papéis diferentes. Aquilo que devia ser originalmente um drama, baseado no livro Red Alert de Peter George, foi convertido numa hilariante paródia sobre o poder nuclear, porque Kubrick achava que o livro tinha muitas ideias que não podiam ser levadas a sério. O filme, apesar da sua originalidade, foi um grande sucesso, tanto de público como de crítica.

Os sucessos de Lolita e Dr.. Strangelove Or: How I Learned To Stop Worrying and Love the Bomb, junto com seu trabalho em Spartacus, proporcionaram a Kubrick a liberdade de escolher seus próprios temas e, mais importante, de exercer total controle sobre a produção dos filmes, uma liberdade rara para qualquer cineasta.

Em 1965 Kubrick começou a produção daquele que é considerado por muitos o melhor filme de sempre, 2001: Odisseia no Espaço. Inspirado em um conto de Arthur C. Clarke, A Sentinela, esta produção de 1968 é uma reflexão complexa sobre o pendor do homem para a violência. Tomando cinco anos de filmagem, redefiniu as fronteiras do gênero e estabeleceu convenções visuais, metáforas e efeitos especiais que permanecem até hoje como padrão para a indústria cinematográfica. Visualmente hipnótico e com uma narrativa ousada, 2001 fez de Kubrick um herói cultural. Apesar das confusas críticas na época de seu lançamento, provou ter sido influência estilística para diversos filmes lançados nos últimos 25 anos.

Seu trabalho seguinte, A Laranja Mecânica, baseado no ensaio satírico de Anthony Burgess do mesmo nome, é uma meditação sobre crime e castigo. Apesar de extremamente violento (até lhe foi atribuído um X nos Estados Unidos, depois retirado), o filme teve bastante sucesso, sendo inclusive nomeado para vários óscares. Também esteve proibido e depois liberado no Brasil com as famosas "bolinhas pretas" que perseguiam as "partes intímas" dos atores enquanto eles se movimentavam na tela. Quem viu nunca esquecerá. "Laranja Mecânica" é um estudo sobre a amoralidade do ser humano, que não consegue administrar seus instintos frente a uma civilização igualmente incapaz de administrar suas contradições sociais. O filme é muito violento e tem uma das melhores trilhas sonoras da história do cinema. Aliás, Kubrick sempre demonstrou uma ousadia imensa na confecção do som de seus filmes, jamais se permitindo a solução fácil da música incidental que automaticamente sublinha o contexto dramático de cada cena. Kubrick, assim como brinca com a imagem, brinca com o som.

Em 1975 adaptou uma novela de W. Thackery, Barry Lyndon. O filme relatava a ascensão e queda de um irlandês na Inglaterra do século XVII. Foi bem recebido pelo público, mas não agradou à crítica em geral. No início dos anos oitenta experimenta o filme de terror com The Shining, adaptação da obra homónima de Stephen King. King não gostou do que Kubrick fez com a sua história e ele próprio a adaptou ao cinema mais tarde. Enquanto o filme de Kubrick é uma obra prima do cinema de terror, ninguém se lembra mais do filme produzido por King.

Nesta altura, Kubrick já não se preocupa com o tempo. Entre The Shining e o seu filme seguinte passam-se sete anos. Só em 1987 surge a sua nova produção, Nascido para Matar, sobre a guerra do Vietnam, uma das obras cinematográficas fundamentais sobre o conflito do sudoeste asiático. Novo êxito crítico e comercial.

Kubrick morreu, em Londres, no dia 07 de março de 1999, deixando pronto De Olhos Bem Fechados, com Tom Cruise e Nicole Kidman, e uma série de projetos intocados, como a ficção científica A.I. - Inteligência Artificial e Wartime Lies, drama sobre a Segunda Grande Guerra.

Recebeu 4 indicações ao Oscar de Melhor Diretor, por seu trabalho em Dr. Fantástico (1964), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971) e Barry Lyndon (1975).

Recebeu 3 indicações ao Oscar como produtor, por Dr. Fantástico (1964), Laranja Mecânica (1971) e Barry Lyndon (1975).

Recebeu 5 indicações ao Oscar como roteirista, por seu trabalho em Dr. Fantástico (1964), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), Barry Lyndon (1975) e Nascido Para Matar (1987).

Ganhou um Oscar de Melhores Efeitos Especiais, por seu trabalho em 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968).

Recebeu 2 indicações ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Diretor, por seu trabalho em Laranja Mecânica (1971) e Barry Lyndon (1975).

Recebeu uma indicação ao Framboesa de Ouro de Pior Diretor, por seu trabalho em O Iluminado (1980)

Ganhou em 1997 um Leão de Ouro, no Festival de Veneza, dado pela sua contribuição ao cinema.

Ganhou em 1997 um prêmio do Director's Guild of American, pelo conjunto de sua obra cinematográfica.

Ganhou em 1988 o Prêmio Luchino Visconti (Itália), pela sua contribuição ao cinema.

NOTA: Texto sem assinatura

Fonte: Webcine

terça-feira, 25 de outubro de 2011

(*) Leonardo Panço, testemunha ocular da escória


* Expressão “ixpierta” cunhada por Adolfo Sá em seu blog, que você deve visitar assim que possivel para ler a megaentrevista com Panço que ele publicou lá.
Panço que aparece, na foto acima , retratado por Mauro Pimentel na sala de sua casa
A primeira coisa que eu tenho para falar sobre o novo/velho (porque na verdade foi o primeiro que ele escreveu, apenas demorou “um pouco” – mais de uma década! – para lançar) livro de Leonardo Panço é que ele é cheiroso. Sim, cheiroso! Pra quem gosta de cheiro de tinta impressa em papel, claro. Eu gosto. Muito. Especialmente se o impresso for novo – e este é, está lá, na abertura: 1ª. Edição, outubro de 2011.
Gosto de sentir o cheiro dos livros, sempre gostei. Porque ? Não sei. Só sei que é assim, e na internet não é assim, embora imagine que qualquer dia inventam, também, a internet com cheiro. Deve ser amor, pois sempre cheirei os livros que lia, às vezes em público, para a surpresa dos desavisados, como Adolfo Sá no dia do lançamento do “Esporro” aqui em Aracaju. Dito isto, digo mais: o livro é bonito. Não sei se é gostoso, porque não como livros. Não com a boca, pelo menos. Com os olhos, talvez. A capa é ótima, a encadernação é boa e as páginas, ricamente ilustradas com inúmeras fotos e reproduções de cartazes de shows, fluem com facilidade ao serem manuseadas.
Agora o conteúdo: é divertido. Muito divertido. O que esperar, afinal, de um livro que se propõe a contar historias do underground carioca da primeira metade dos anos 90, principalmente, quando algumas das mais insanas formações do rock brazuca, como Gangrena Gasosa, Zumbi do Mato, Piu Piu e sua banda e chatos e chatolins estavam em plena atividade e com seus membros na fina flor da juventude descompromissada ? Loucura total, claro!
Temos encontros inusitados, por exemplo: você sabia que o Fugazi, uma das mais sérias (sério mesmo) e respeitadas bandas de rock alternativo do mundo, já tocou com a Gangrena Gasosa num pico suburbano tosco da baixada fluminense? E se eu te disser que houve um encontro pra lá de bizarro entre membros das duas “agremiações” no banheiro do local do show? Pois aconteceu, e está lá, contado em detalhes. Assim como estão inúmeros outros episódios curiosos e pitorescos, como a quase prisão dos membros do zumbi do mato por estarem cheirando balas garoto, os bastidores da entrevista da Gangrena (campeões de insanidade) no programa do Jô Soares, as tentativas de estupro e de shows pirotécnicos dos Chatos e Chatolins e as loucuras de Piu Piu, famoso por tocar fogo no próprio corpo e broxar recebendo um boquete em pleno palco – tudo isso e mais os perrengues comuns pelos quais todos, sem exceção, já passaram, e com os quais qualquer pessoa que já tenha se aventurado por um momento que seja no mundo do rock independente e alternativo vai se identificar.
Porque nem tudo é loucura total, claro – há algumas passagens bem ingênuas até. Mas tudo junto forma um impressionante mosaico e acaba ajudando, e muito, a contar uma história: a história de uma cena que fez história, para além dos que se projetaram na mídia, como o Planet Hemp, principalmente. Os que ficaram pelo caminho, como Poindexter, Soutien Xiita, Anarchy Solid Sound e Sex Noise, deixaram também um legado valioso que merece ser resgatado, e este livro o faz com louvor. Isto para não mencionar os que continuam por aí, existindo e insistindo, como a Gangrena, o Zumbi e o próprio Jason, banda posterior do autor, que segue firme em nova formação preparando um novo disco.
O painel é, inclusive, bem mais amplo do que Panço deixa entender nas entrevistas, com suas compreensíveis ressalvas de que seu relato é incompleto. Está quase tudo lá – o que de mais relevante aconteceu no cenário da época está, senão esmiuçado, pelo menos citado, sempre. E satisfatoriamente retratadas estão as carreiras de inúmeras bandas, produtores, personalidades e casas de espetáculo: além das já citadas, temos pequenas biografias dos Beach Lizards, do Dash, de Simone e do Formigão, do Funk Fuckers, do B. Negão, de Skunk e Marcelo D2, do Cabeça, da coletânea paredão, lançada pela “major” EMI, do Garage, o “templo” de todos, e de Fabio, dono do Garage, de quem são, apropriadamente, algumas das últimas palavras escritas no livro.
Missão cumprida, Leonardo Panço. Pode descansar.
Sei que não ...
por Adelvan

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Rock in Rio São Francisco

           Cheguei ao Clube Altemar Dutra, em Canindé do São Francisco, sertão sergipano, num sábado, 08 de outubro de 2011, por volta das 20:00H. Era o Terceiro Alternativo Rock Canindé e a Urublues estava no palco, fazendo o de sempre: mais e melhores blues. Na verdade não haveriam muitas surpresas no quesito musical naquela noite, já que a escalação constava apenas de bandas já bastante vistas e com apresentações devidamente resenhadas por mim aqui mesmo neste espaço que nos cabe deste grande latifúndio que é a internet. A novidade, no caso, era o local onde a Festival estava acontecendo e o público, em bom número e, o mais importante, animado.
          O Clube Altemar Dutra, me parece, é um espaço público, já que ostenta uma gigantesca marca da prefeitura municipal em sua entrada. Um espaço amplo, com os shows acontecendo em um salão fechado porém arejado ladeado por um grande hall ao ar livre. Na parte de baixo, um bar e uma piscina – interditada, infelizmente. Ia ser legal ver se repetir ali o banho redentor que foi a marca do encerramento do Rock-se, no longiquo ano da graça de 1998 do século passado. “Um lugar do caralho”, enfim.
          Já o público foi surpreendentemente jovem, empolgado, ativo e participativo. A galera estava com uma sede de rock como há tempos eu não via por estas bandas. Falo de Aracaju, claro, cuja cena está morgadíssima, com um público apático e desinteressado que geralmente prefere ficar na porta dos shows bebendo e jogando conversa fora. Foi bonito (re)ver as boas e velhas rodinhas punk, os moshs com “caminha” e as pilhas humanas que se formavam sempre que alguém caía. Tudo isto, inclusive, com uma ampla participação feminina, e em todos os shows, fossem eles de blues, hard rock, hard core ou heavy metal.
          A banda que mais incendiou a galera foi a Mamutes, que entrou logo depois da Urublues desfalcada de sua baterista, prontamente substituída à altura por Tony Karpa, da One Last sunset. Foi jogo ganho, com a galera cantando junto as letras das musicas, as meninas dançando e os garotos se “esbagaçando”. Com direito, inclusive, a um quase explícito “assédio sexual” em pleno palco protagonizado por uma garota que subiu ao mesmo e ficou lá um tempão, se esfregando lascivamente principalmente em Kal e Rick, respectivamente o vocalista e o guitarrista (atenção senhoras patroas dos caras, eles não têm culpa, foi uma manifestação totalmente espontânea e, a princípio, sem grandes conseqüências, pelo menos que eu saiba). “É isso aí, rock and roll é libertação”, falou Kal com propriedade entre um urro e outro do camarada Cachorrão e antes de chamar Silvio da Karne krua para o grand finale, uma versão turbinada de “No fun”, dos stooges. Divertidíssimo.
          Karne Krua entrou na sequencia e fez um show esporrento, com alguns clássicos do cancioneiro Hard core local cantadas em uníssono pela platéia, ainda com todo o gás e pogando muito. Bonito de ver, principalmente as garotas, que em Sergipe geralmente são muito tímidas quando o assunto é "se jogar" em rodas "punk" (sim, estávamos em Sergipe, mas numa região fronteiriça, e muitos dos presentes não eram sergipanos). A karne fez, inclusive, uma bonita homenagem a Redson, do Cólera, falecido recentemente (e homenageado também no crachá de identificação do evento), com um cover de “passeatas”, e encerrou sua apresentação com uma sequencia matadora tocada no talo e sem intervalo entre uma musica e outra. Excelente.
           A banda seguinte, Hatend, de Paulo Afonso, demorou muito a se arrumar e eu, cansado daquele bate bate chato de passagem de som de bateria, saí para tomar um ar e dar uma voltinha na simpática praça que fica em frente ao clube. Acabei apenas ouvindo os shows seguintes de fora mesmo, portanto vou me abster de maiores comentários. Entrei apenas para ajudar Luiz Oliva numa entrevista com Adalberto Feitosa, o mentor e organizador da “parada” (com a inestimável ajuda do incansável Luiz Humberto, agitador cultural “underground” da vizinha Poço Redondo), e foi surpreendente: o cara tem muita história pra contar! Ele tem 50 anos e é paulista. Conheceu Redson na Estação São Bento do metrô ainda no final dos anos 70 e costumava freqüentar clubes paulistanos célebres, como o “Fofinho rock clube”, que eu conheci em minha primeira visita à cidade, em 1991. Foi nesse mesmo 1991 que Adalberto se mudou para o sertão sergipano para trabalhar na Usina Hidrelétrica e se apaixonou pelo local, ainda mais depois de descobrir que por aqui também havia uma cultura “subterrânea” roqueira. Esta é a terceira edição que ele produz do Festival Alternativo rock, sempre com muito esforço e algum prejuízo, mas muita satisfação e nenhuma sombra de arrependimento. Para o ano que vem diz contar com um apoio prometido de uma das facções políticas locais (será ano de eleição e nessa época os recursos públicos costumam ser mais generosos, para o bem ou para o mal), o que viabilizaria uma espera menor por uma nova edição (a última foi há 3 anos). Convidei-o para aparecer qualquer sábado destes nos estúdios da Aperipê FM para contar sua história no ar no ao vivo programa de rock. Espero que role.
          Voltei pra casa na mesma noite, apesar da viabilíssima opção de dormir por lá mesmo numa pousada que encontrei cuja diária custava a bagatela de R$ 15,00! A viagem de volta foi tranqüila, no tapetão da “Rota do Sertão”. Não fosse pelo excesso de quebra-molas, por alguns animais na pista e por uma súbita neblina na altura de Itabaiana, teria tirado o percurso, de cerca de 200km, em menos de 2 horas e meia (foram quase 3). Foi o fim de um dia divertido que começou às 11 da manhã e teve sua primeira parada em Itabaiana, onde almoçamos num simpático e aconchegante restaurante a quilo chamado Garfil, que recomendo muito. É na entrada da cidade, já no fim da avenida, próximo ao Cemitério, à sede do INSS (que ficam, oh! Ironia, um em frente ao outro) e à Associação Atlética. Fica a dica.
           Chegando em Canindé, uma outra dica é uma visita ao MAX, o Museu de Arqueologia de Xingó, um prediozinho elegante e aconchegante que abriga num ambiente climatizado alguns dos achados arqueológicos da região, dentre eles utensílios domésticos e fósseis dos habitantes locais de 9.000 anos atrás. Para chegar lá, você deve virar à esquerda no trevo que desemboca numa das praias do Rio São Francisco que ficam de frente para a majestosa Usina Hidrelétrica de Xingó.
          Virando à direita, você chega em Piranhas, cidade histórica alagoana encravada entre as montanhas e o velho Chico. Vale muito a pena a visita. É uma cidadezinha muito simpática, cheia de ladeiras e casinhas coloridas, que abriga um museu dedicado às coisas do sertão e do cangaço. Foi lá, em Piranhas, que ficaram expostas, pela primeira vez, as cabeças decepadas de Lampião, Maria Bonita e demais membros de seu bando. Destaque para um charmoso e aconchegante café que fica no alto de uma torre que abriga um relógio, a Torre da estação. Recomendo.
          Recomendo também ver o sol se por entre as montanhas às margens do rio. Muito bonito. Teria sido tudo perfeito, não fosse por uma alma sebosa que cismou de abrir o potentíssimo som de mala do seu carro e espalhar pelo ambiente uma pra lá de desagradável cacofonia de ruídos que alguns chamam de “musica” – uma daquelas “quebradeiras” baianas, pagode diluído para as massas, o que nos fez desistir de bater uma macaxeira com carne de bode pela qual vínhamos salivando há tempos – ah, esses gordinhos …
          Na volta para Canindé passamos por um Mirante da Chesf que estava fechado mas que já tinha visitado em minha última passagem por lá. É outra boa dica de passeio, já que lá você encontra diversos souvenirs à venda e pode agendar uma visita à usina, que eu não fiz mas deve ser interessante. Assim como interessante deve ser (certamente é) o passeio de barco pelo rio que te leva a um banho entre os cânios e/ou à rota do cangaço, numa caminhada pela caatinga que termina na gruta de Angicos, em Poço Redondo, Sergipe, o lugar onde o bando de Lampião foi emboscado e chacinado. Que eu saiba, há duas opções: pelo catamarã, que você pode pegar já a partir de Aracaju, indo de van até lá, ou lá mesmo em Piranhas: vimos um local que vende passagens a R$ 40,00. Voltarei lá e farei isso o mais breve possível.

por Adelvan

Fotos: Nina

#

No Sense, uma entrevista

No Sense é uma das bandas pioneiras do grindcore no Brasil. Foi formada em 1990 na cidade de Santos, São Paulo, e gravou uma demotape, "confused mind", um EP 7 polegadas chamado "out of reality" pela Fucker records, de São Paulo, e um LP em vinil, "cerebral cacophony", pela Cogumelo, de Belo Horizonte. Pararam em 1993 e voltaram em 2008 a todo vapor, tendo lançado, já, um novo EP, "obey", que além de ser uma prévia do novo disco traz, como bonus, o primeiro EP, fora de catálogo e nunca antes lançado em CD.

Abaixo, uma entrevista com Marly, a vocalista:

programa de rock – Por quanto tempo vocês ficaram separados ? Vocês conseguiriam lembrar, exatamente, quais e quando foram as últimas atividades (show, ensaio, reunião) que tiveram enquanto banda antes de se separar e depois, na reunião?
No Sense – Ficamos separados exatamente 15 anos…só lembro do último show, que foi em Santo André, e eu estava com um barrigão de 7 meses…já pra volta rolou um “telefone sem fio”….um encontrava o outro e ficávamos mandando recados porquê nunca calhava de encontrarmos os 4 de uma vez….até que calhou de combinarmos tudo por telefone e o reencontro se deu já no ensaio…dia 20 de julho de 2008, no dia do meu aniversário. Presentão!!!!!!
pdr – Como aconteceu esta volta da banda ? Foi algo planejado, amadurecido, ou simplesmente aconteceu, sem nenhum planejamento, tipo um “Big Bang” ?
ns – Então, como falei a vontade sempre esteve em algum lugar adormecida…
pdr – O que vocês fizeram no tempo em que estavam separados ? Se envolveram com algum projeto de cunho “artístico” ou simplesmente tocaram suas vidas pessoais ?
ns – Eu tive a minha adorada e amada Chesed Geburah, banda estilo black metal (não temática!) com muitos teclados, muito clima, vocais diferentes…algo também pioneiro pra época….mas fiquei só um ano na banda, depois parei com tudo e fui me dedicar aos estudos…os meninos se envolveram em vários projetos como:
Angelo: Abuso Sonoro e o selo Elephant Rec. que lançou várias bandas;
Morto: Abuso Sonoro, Toxic Freak, Leucopenia, Bones Erosion;
Paulinho: Violent Vision, Wrinkled Witch, Empire of Souls.
pdr – Como tem sido esta retomada, em termos de retorno do publico e satisfação pessoal de vocês como membros da banda – está tudo ocorrendo de acordo com o previsto (se é que previam algo) ou têm se surpreendido? Têm sentido algum tipo de retorno da galera mais jovem ? E os velhos “fãs”, como receberam a volta do No Sense ?
ns – Isso é muito louco! Porquê só depois da volta passamos a ter a real dimensão do que fomos e representamos diante da receptividade!!! Não tínhamos expectativa alguma, nem sabíamos se íamos um aguentar a cara do outro rsrs…mas foi melhor do que imaginamos……
Os “fãs” são os “olds”, um mais maluco que o outro!
pdr – Me falem dos shows que têm feito, como tem sido o clima em geral ?
ns – Fizemos poucos, mas foram muito bons! É que não demos muita sorte ainda de tocarmos com bandas só do gênero então o público fica meio sem reação…rsrs
pdr – Não tenho nada contra bandas que voltam apenas para matar a saudade e fazer shows tocando somente as mesmas musicas, mas respeito mais as que se preocupam em produzir algo novo, compor novos sons, portanto saúdo o No Sense por isso. Como surgiram essas novas composições ? Já tinham planos de lançar um disco novo ou aconteceu como consequencia ?
ns – Nos primeiros ensaios já saiu a “No More Hope”, de lá pra cá temos quase 30 músicas novas….é meio automático…parece que esses anos todos a inspiração ficou “encubada”….você não têm noção de como está o cd…já está quase todo gravado…músicas maravilhosas!!!!!!
pdr – Me falem do processo de gravação do novo EP e das diferenças que vocês sentiram em relação à experiência da primeira fase da banda, quando gravaram 1 demo, 1 compacto e 1 LP.
ns – Naquela fase não tinhamos experiência alguma….eu continuo sem..rsrs….os meninos já gravaram várias coisas com suas respectivas bandas….eu apanhei nesse cd da volta….se não fosse o aparato técnico de pessoas como o Claudio, nosso produtor (que agora é o baixista) e meu amigo Josh do Bode Preto, que mesmo de longe me ajudou pra caramba, eu não sei como teria finalizado!
pdr – Algum plano para o relançamento do LP “Cerebral cacophony” em CD ?
ns – Nenhum!!!! No máximo tocar as músicas ao vivo! A Cogumelo não se pronuncia, nem nós!
pdr – Como vocês vêem a “cena” hoje em comparação àquela na qual nasceram e foram gestados, no início dos anos 90? – o que melhorou, o que piorou, o que continua na mesma …
ns – Fraquinha né???? Mas os que restaram valem por 100 daquela época!
pdr – Já que entramos no tópico “recordar é viver”, façam uma retrospectiva da carreira da banda: como começou, quais os melhores shows, viagens, melhores (e piores, porque não?) momentos, enfim.
* MORTO: Bom, o inicio de tudo deu-se com a ideia de fazer alguma coisa que envolvesse barulho, com influências do que mais ouvíamos na época, Napalm, Terrorizer, Repulsion….a ideia de ter um mina como vocal surgiu do nosso grande amigo Angelo,e também a loucura de trocarmos de função pois na época eu tocava guitarra e ele baixo dai se já sabe , bom os shows sou meio lesado pra lembrar mas posso dizer q tivemos muitos bons e também muitas roubadas, em questão a viagens não fomos muito longe dos nosso estado um ou outro que não me recordo,mas dizer pior não dá pra dizer porque sempre tiramos proveito de tudo pois cada lugar uma experiência nova.
pdr – Porque parou ?
ns – Porquê engravidei..tivemos que dar um tempo..embora tenhamos feito shows até meus 7 meses de gestação. Nessa de “dar um tempo” foi cada um pro seu lado.
pdr – Me falem sobre a relação de vocês com as gravadoras que lançaram seus discos, antes e agora – alguma diferença significativa ?
ns – A Fücker não existe mais, mas a nossa relação é de extrema gratidão….o seu dono, Leandro, era uma pessoa espetacular e apostou na banda de forma surpreendente!
A Cogumelo deixou a desejar…péssimo estúdio, péssima produção, péssima divulgação, não tivemos muita voz ativa e sentimos que “queimamos” 20 músicas maravilhosas com isso.
Atualmente a Violent é nossa parceira, mas não 100%, o trabalho que estamos realizando agora, que só estará completo com o cd, pois na verdade Obey é uma promo comemorativa dos 20 anos do 7′ ep, é uma produção indepente de um grande fã nosso que prefere ficar no anonimato. É uma história curiosa. Ele se propôs a bancar tudo desde que ficasse no anonimato e que todas as fitas masters lhe fossem enviadas, sem quaisquer edições.
pdr – Marly, você foi meio que pioneira nessa história de garotas na formação de bandas com um som tão extremo. Como foi este processo, as pessoas estranhavam muito? Sua presença foi bem aceita ou você sofreu algum tipo de manifestação machista/sexista pelo fato de ser uma mulher “cantando” grindcore? Para situar um pouco o contexto da época, nos fale um pouco das outras bandas que tinham membros do sexo feminino, como o Purulence – como era, enfim, a participação feminina na cena da época e o que, na sua opinião, mudou (ou não), de lá pra cá.
ns – Na verdade quem sofreu preconceito foi a banda…cansei de ouvir de uns caras da região que tinham banda de thrash e afins que éramos uns retardados, que o som era um bosta….teve um cara que teve as manhas de chegar pra mim e dizer “Marly, sai disso, isso é ridículo”….ahahaha mas o castigo veio a cavalo….em poucos meses um dos selos mais legais nos contratou e gravamos o ep e deixamos todo mundo se remoendo de ódio….até hoje tem gente que nos odeia….por isso temos um pacto: Nunca tocaremos em Santos….aproveitando o espaço, posso dar um recado pra esse povo que está entalado em minha garganta esses anos todos???
PAU NO CU DE VOCÊS SEUS MERDAS!!!! VOCÊS SABEM QUEM VOCÊS SÃO!!!
Quanto à mim eu nunca recebi ou percebi manifestações machistas/sexistas…talvez pela minha postura…meio de moleque, bem maloqueira também…visual camiseta/calça/tênis….isso não dava mesmo muita margem à esse tipo de reação….só vim descobrir que causei uma espécie de “espanto”, digamos assim, e o que pensavam de mim com o advento da internet…pois li muitos comentários que eu nunca imaginei!!! Coisas surreais!!! Hoje eu dou risada, naquela época daria porrada!!!! De meu conhecimento, aqui no Brasil, de som extremo mesmo só o Purulence mesmo, que veio um pouco depois, e aquelas meninas eram demais!!!! SE eu abri alguma porta pra mulherada, foi o Purulence quem passou por ela primeiro, e elas são meu maior orgulho por ter aberto tal porta. Tinha outras bandas na época como Volkanas, Flammea, mas eram outro estilo, outra proposta…Hoje em dia tem o Necrose com minha amiga Angela que representa muito bem a cena!
pdr – Grindcore não é apenas “música” (há quem ache que nem isso é), o aspecto ideológico sempre foi forte no desenvolvimento do estilo. Como vocês se situam neste campo? Pensam o mundo, em geral, da mesma forma, com a mesma matriz ideológica, ou algo mudou ?
ns – Realmente tem grind que é uma corrida de velocistas que você não entende nada e nenhuma música te marca….Só que nós não fazemos esse grind….nossa linha é a linha Napalm, a linha que você escuta a música, sente o riff e tem vontade de chorar de tanto que te toca….essa é a minha relação com o grind….acho que é uma questão de alma mesmo…tem gente que ouve Sabbath e acha uma barulheira também…vou falar o quê? Só posso dizer que colocamos nossa alma quando estou “cantando” qualquer música do No Sense…se soa dissonante para a maioria…talvez nossa alma seja dissonante e não podemos fazer nada quanto à isso. Vejo os “meninos” comporem e vejo admirada todo o processo de criação…rola uma sinergia impressionante! E fazemos isso porquê gostamos, pois, orgulhosamente, admito que todos eles tocam muito e poderiam tocar outros estilos, como o fazem!
No passado tivemos uma postura mais ideológica..hoje queremos apenas falar o que sentimos em determinada situação que se apresente…sem dogmas…como em “Spilling the holly shit” em que eu canto como se fosse um cristão suplicando ao seu pastor (e ele respondendo), Vendetta, que fala de vingança pura e simples, ou da Guided, que é uma honemagem ao Dexter…rsrs..como pode ver….bem variado….
Eu nunca vou subir no palco e ficar pregando meu ideais!!!! Eu quero é subir no palco e me divertir!!! Eu quero é rock!!!!
pdr – Pra finalizar: “Haverá futuro”?
ns – Pra nós enquanto o Napalm Death e o Terrorizer tocarem em nossos corações, sim!
Adelvan perguntou
Marly respondeu
Exceto em *
Mais AQUI
#

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Mangaba verde

A noite de abertura do Festival "Mangaba Instrumental", que aconteceu mês passado na Concha Acústica do Oceanário de Aracaju, na Orla da Praia de Atalaia, tinha tudo para ser memorável, mas foi apenas “mais ou menos”. Principalmente porque a atração “de fora”, a sensacional Vendo 147, uma das melhores bandas de rock em atividade no Brasil atualmente, tocou pouco (acho que foi menos de uma hora de show) e com, praticamente, o som do palco, apenas. Quem já os viu em ação ao vivo pode imaginar o quanto a apresentação dos caras perde com o som assim, baixinho ...
Só comecei a curtir pra valer o show quando resolvi ir pra frente do palco: aí sim, o couro estava comendo. Eles perderam um pouco do peso, mas ganharam MUITO em qualidade desde a última apresentação que eu vi - e olha que já eram bons pra cacete!. Impressionante a riqueza de detalhes dos arranjos das músicas que fazem parte do impecável “Godofredo”, primeiro disco dos caras, à venda na barraquinha do incansável André Teixeira a módicos 15 reais. Vale ressaltar que o disquinho vem embalado num formato diferenciado, lembrando um compacto de vinil, o que enriquece as artes da capa e do encarte, de autoria do sergipano Duardo Costa – guitarrista da banda, aliás.
Voltando ao palco: descontando-se os percalços, foi uma ótima apresentação, com os músicos afiadíssimos e “viajando” em longos trechos de músicas com cara de Jam sessions que beiram a psicodelia. Com direito, inclusive, a uma estilosa bateria transparente com luzes coloridas que, me falaram, eles trouxeram de Salvador especialmente para o show. Quanto ao fato de o volume do som estar estupidamente baixo e a banda ter sido aparentemente pressionada pela produção (intimada, ouvi dizer, pela Polícia Ambiental) a acabar logo sua apresentação, o que não dá pra entender é porque este tipo de coisa acontece num evento devidamente autorizado pela prefeitura e com a impressionante lista de apoiadores/patrocinadores presente no cartaz de divulgação - especialmente por constar nele a marca do governo do estado, o que dá a entender que há algum respaldo "oficial". Ressalto que não sei se foi realmente este o motivo, mas caso tenha sido, não se justifica, já que há poucos dias a também baiana Ivete Sangalo havia aportado ali pertinho com seu megaespetáculo de gosto pra lá de duvidoso “Ao Vivo No Madison Square Garden”. Deve ser porque ela é Ivete, ela pode. Coisas de (Bu)racaju ...
As outras atrações da noite, pelo menos, não parecem ter tido o mesmo problema: tocaram em alto e bom som. E foram grandes atrações. Tudo começou com o som climático da Coutto e Orquestra de Cabeça. Primeiro show dos caras. Do que consegui assimilar, gostei. Na sequencia, Casa Forte e seu rock instrumental vigoroso e consistente. Antes da Vendo, o Ferraro Trio, que navega com classe e desenvoltura naquela frágil linha divisória que separa os estilos musicais, ora soando rock, ora jazz, ora soul, mas sempre com muita propriedade e personalidade. É uma das melhores bandas em atividade na cidade atualmente, sem sombra de dúvidas.
por Adelvan