quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Eduardo Galeano: “Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?”

Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?
Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E, como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

por Eduardo Galeano

pragmatismo politico

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Comandante guerreiro ...

Maior ícone da resistência negra ao escravismo no Brasil, Zumbi dos Palmares será agora uma lembrança constante em meio aos sergipanos e turistas que visitarem a Orla de Atalaia, em Aracaju. É que uma estátua em sua homenagem foi inaugurada pelo governador Marcelo Déda ao final da tarde desta quinta, 22, no espaço ‘Monumento aos Formadores de Nacionalidade’. A ação faz parte das atividades comemorativas ao Dia da Consciência Negra, festejado em 20 de novembro.
O próprio Déda idealizou a homenagem ainda em 2007, no início de sua gestão no governo estadual, ao visitar o Monumento já composto por estátuas de Tiradentes, D. Pedro II, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Barão do Rio Branco, Duque de Caxias, José Bonifácio e a Princesa Isabel.
"Hoje nós demos a este Monumento aquilo que faltava nele: o povo negro, os afrodescendentes, a história da luta contra a escravidão, a história da luta pela liberdade, a história da luta pela afirmação da contribuição da negritude no processo de formação da nação brasileira. Um grande ausente foi convidado, e daqui não sai mais. Aqui agora ele vai compartilhar a atenção dos que visitam o nosso estado, os que vêm aqui", ressaltou o governador.
Feita em bronze, a escultura mede 1m80 - o que seria a mesma altura de Zumbi dos Palmares - e foi produzida em Belo Horizonte, pelo escultor Léo Santana. "Zumbi está aqui como herói do povo negro, mas não só como isso. Zumbi está aqui como herói do povo brasileiro, herói dos negros, brancos, imigrantes, índios, de todas as nações que vieram formar conosco essa beleza de país que é o Brasil", enalteceu Déda.
Ratificando o mérito do homenageado, o governador remeteu à origem de Zumbi: "africano, trazido menino, foi batizado com nome português, fugiu para os quilombos, aprendeu com tantos outros que nas matas de Alagoas construíram os mais combativos quilombos a resistir à escravidão. Mas não deu seu sangue para a chibata do colonizador; não aceitou cortar cana debaixo de humilhação; a ser escravo, preferiu ser guerrilheiro, líder de quilombo".
Segundo Déda, ao invés de puxar o arado do senhor de engenho, Zumbi segurou a lança da liberdade "e foi ajudar o seu povo a sair da escravidão, a fundar novos quilombos, a acreditar na liberdade, a escrever a história da luta do povo brasileiro. Não é à toa que os negros do Brasil escolheram Zumbi para ser o seu patrono, para ser o símbolo da sua raça, da sua luta, da sua trajetória histórica e o símbolo do seu futuro, do brasileiro que não cede à opressão, que não aceita a escravidão, que não aceita a indignidade, que luta contra a desigualdade e guerreia pela liberdade plena", colocou.
Gratidão
A homenagem foi comemorada pelos diversos representantes das comunidades negras que compareceram ao evento. "Essa é uma grande homenagem aguardada por muitos anos. Zumbi é o rei, é o nosso guerreiro!", exaltou a Mãe Lindinalva, popular integrante de grupos representativos da comunidade negra.
Da mesma forma avaliou o dirigente do Movimento Negro Unificado, Carlos Augusto Conceição. "Hoje é um dia especial. Neste Monumento não estava contemplada a história do povo negro brasileiro. Agradecemos enquanto movimento social negro e dizemos que Sergipe está no caminho correto para realizar as políticas sociais em benefício do povo negro", afirmou.
Sensibilidade
O ato de inauguração da estátua de Zumbi teve a presença da chefe da representação regional do Ministério da Cultura (Minc) nos estados da Bahia e Sergipe, Mônica Trigo, que estendeu sua estadia na capital justamente para acompanhá-lo. "Eu fiquei, pois achei importante a ousadia do governador Marcelo Déda em incluir Zumbi, um ícone da cultura nacional como um mártir da identidade nacional. Isso é importantíssimo para nós que consideramos a diversidade um elemento essencial da Cultura nacional", observou.
Secretário de Estado dos Direitos Humanos e Cidadania, Luiz Eduardo Oliva também destacou a sensibilidade do governador. "O governador percebeu que não tínhamos nenhum negro, nenhum representante do povo, sobretudo de origem africana, que formou de fato o povo brasileiro. Este ato tem uma das maiores representatividades hoje dentre todas as comemorações que estão havendo no país em relação ao Dia da Consciência Negra".
Para a secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, o momento é de "celebração da contribuição dos negros na formação da sociedade brasileira, uma forma que o Governo de Sergipe, sob a liderança do governador Marcelo Déda, encontra para fazer justiça a uma etnia que foi fundamental para a formação da cidadania e da sociedade brasileira".
Presenças
A inauguração foi prestigiada por diversas autoridades locais como o vice-governador, Jackson Barreto, a primeira-dama e secretária de Estado da Inclusão Social, Eliane Aquino; os prefeitos de Aracaju, Edvaldo Nogueira, e de Lagarto, Valmir Monteiro; os deputados federais Márcio Macêdo, Laércio Oliveira e Pastor Heleno; os deputados estaduais João Daniel e Gustinho Ribeiro; e o presidente da Câmara Municipal de Aracaju, vereador Emmanuel Nascimento.
Fonte: ASN

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Opa! Não falta mais ...

Na próxima quinta-feira, 22, às 18h, o Governo de Sergipe vai inaugurar um monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares no espaço ‘Monumento aos Formadores de Nacionalidade’, na Orla de Atalaia, em Aracaju. Essa ação faz parte das atividades comemorativas ao Dia da Consciência Negra, festejado em 20 de novembro. A solenidade será comandada pelo governador do Estado, Marcelo Déda.

A estátua é feita de bronze e mede 1m80, altura que seria a mesma do homenageado. Foi produzida em Belo Horizonte (MG) pelo escultor Léo Santana, o mesmo que esculpiu os outros monumentos que embelezam a Orla. Na placa, consta o seguinte texto: “Zumbi nasceu livre, em União de Palmares, Alagoas, Brasil. Símbolo da resistência e da luta contra a escravidão, é reconhecido como herói nacional. Após 300 anos, a data da sua morte, 20 de novembro de 1695, foi instituída como Dia Nacional da Consciência Negra. Viva Zumbi!”.

O monumento em homenagem a Zumbi juntar-se-á às oito estátuas que atualmente integram o espaço ‘Monumentos Formadores de Nacionalidade’. Os outros homenageados são: Tiradentes, D. Pedro II, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Barão do Rio Branco, Duque de Caxias, José Bonifácio de Andrade e Silva e a Princesa Isabel.

NOTA DO BLOG: Parabéns aos responsáveis pela iniciativa. 

Fonte: Cultura Sergipana

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Falta alguém ...

          Eu gosto de monumentos. Sempre gostei. Eles fornecem identidade às ruas de uma cidade. Muitos extrapolam estes limites e tornam-se uma espécie de representação simbólica de toda uma nação, como o Cristo Redentor, que, para além do Rio de Janeiro, mundo afora, representa o Brasil. Dá pra imaginar São Paulo sem o Monumento aos Bandeirantes? Ou Paris sem a Torre Eiffel?

          Sempre  achei Aracaju pobre em monumentos. Fora a Ponte do Imperador – que por não ser uma ponte nem servir usualmente como atracadouro serve apenas como monumento  – temos poucos, e pouco conhecidos. Por isso fiquei feliz quando começaram a erguê-los na Nova Orla da Atalaia. Gosto muito do que homenageia os escritores e intelectuais e do que é dedicado a Inácio Barbosa, presidente da provícia de Sergipe Del Rey e fundador da cidade de Aracaju. Este último, especialmente, é bastante peculiar e criativo, pois não exibe nenhuma imagem do homenageado em si, já que não existem registros pictográficos do mesmo. Há, em seu lugar, uma figura humana estilizada sendo observada por pessoas comuns que compõem as três etnias formadoras do Brasil: um homem branco, uma negra e uma índia. 

          Já o chamado “Monumento aos Formadores da Nacionalidade” acho incompleto. Falta alguém ali. Estão lá os presidentes Kubitscheck e Getúlio Vargas, o Duque de Caxias, o Barão do Rio Branco, Tiradentes, José Bonifácio e Dom Pedro II. Está lá, inclusive, a imagem de Isabel, “A redentora”, princesa que entrou para a história apenas porque seu pai, o imperador, estava ausente quando chegou a hora de assinar, finalmente, a Lei Áurea, que abolia a escravidão no Brasil. Libertas Quæ Sera Tamen. Falta, no entanto, aquele que é o principal símbolo da luta contra este mal. Aquele que lutou com todas as suas forças e sacrificou a sua vida em nome da liberdade. Zumbi dos Palmares.

          Nem seria necessário desalojar a princesa de seu pedestal: Há um espaço vazio, clamando para ser preenchido, entre as imagens de Tiradentes e de José Bonifácio, o “patriarca da independência”. De quem ergueu o monumento não se poderia esperar que se lembrasse deste verdadeiro Herói popular. Só não sei, sinceramente, como alguém desta já nem tão nova administração do Governo Estadual ainda não pensou nisso, já que se trata, supostamente, de uma coalizão de centro-esquerda comandada por um partido socialista.  

          Fica lançada então a idéia: Representação de Zumbi no monumento aos formadores da pátria! Já!

por Adelvan ----------------------------------------------------------------------------------

          A palavra Zumbi, ou "Zambi", vem do termo zumbe, do idioma africano quimbundo, e significa fantasma, espectro, alma de pessoa falecida. Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Rebatizado com nome cristão de 'Francisco', recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte anos.

          O Quilombo dos Palmares - localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas - era uma comunidade, um reino ou república - não se sabe ao certo - formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal e sua população chegou a trinta mil pessoas, segundo estimativas.

         Por volta de 1678 o governador da Capitania de Pernambuco, cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou de seu líder, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos caso o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita, mas Zumbi a rejeitou, desafiando a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa,  tornou-se então o novo líder dos quilombolas.

          Quinze anos depois, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antonio Soares e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população quanto à lenda da imortalidade de Zumbi.

Polêmicas: Alguns autores levantam a possibilidade de que Zumbi não tenha sido o verdadeiro herói do Quilombo dos Palmares e sim Ganga-Zumba: "Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia.[...]"
 
De acordo com José Murilo de Carvalho, em "Cidadania no Brasil" (pag 48), "os quilombos mantinham relações com a sociedade que os cercavam, e esta sociedade era escravista. No próprio quilombo dos Palmares havia escravos. Não existiam linhas geográficas separando a escravidão da liberdade". Para alguns estudiosos, no entanto, a escravidão nos quilombos não se assemelhava à escravidão dos brancos sobre os negros, sendo os escravos considerados como membros das casas dos senhores, aos quais deviam obediência e respeito. Algo semelhante à escravidão entre brancos, comum na Europa na Alta Idade Média.

Segundo alguns estudiosos Ganga Zumba teria sido assassinado, e os negros de Palmares elevaram Zumbi a categoria de chefe: "Depois de feitas as pazes em 1678, os negros mataram o rei Ganga-Zumba, envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o comando-em-chefe do Quilombo". Seu governo também teria sido caracterizado pelo despotismo: "Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo.

Em todo o caso, Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão. Lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra."

wikipedia

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Inimigos de seu inimigo ...

Já estava começando a achar que a idéia do “clandestino” seria mais uma a não ter continuidade, a “morrer na praia”, quando surge na net, via Facebook, a informação de que a terceira edição estava engatilhada, desta vez com a presença da Leptospirose, sensacional banda de Hard Core “non sense” de Bragança paulista. Com abertura da Renegades of punk.

A regra é divulgar o local do evento apenas algumas horas antes da apresentação, portanto quem quiser ficar informado tem que ficar de olho nas redes sociais. Aconteceu novamente na orla, desta vez no Skate park Cara de Sapo. Cheguei com uns 20 minutos de antecedência e já havia um bom público presente. A noite prometia ...

A estrutura, precária porém decente, foi montada em cima de uma das “piscinas” do parque, o que foi uma ótima idéia, até porque conseguiu resolver o problema do ruído do gerador, que muitas vezes se confundia com o som das próprias bandas – como ele ficou embaixo da estrutura de concreto que abriga as “piscinas”, o barulho foi desviado pela corrente de ar que vinha do mar. Só dava um pouco de medo de que alguém caísse lá de cima na hora da empolgação, o que seria lamentável mas, felizmente, não aconteceu.

Som minimamente equalizado (com a guitarra não teve jeito, ficou meio “Xôxo”, mas deu pra levar), começa a bagaça. Já havia visto a Leptospirose em ação em duas outras ocasiões: uma aqui mesmo, em Aracaju, e outra no Abril pro rock deste ano, em Recife. Foi mais do mesmo, e do bom, só que num novo cenário e com um clima alto astral contagiante, pois não parava de chegar gente e todos pareciam felizes em estar ali presentes. Os caras fazem um som rápido e pesadíssimo, mas sem espaço pra tosquices além da que é devidamente inserida no contexto. Tocam muito! Todos eles! E tocam com muito gosto. E foi lindo, e todo mundo curtiu e aplaudiu. Na comissão de frente, a turma do gargarejo não se fez de rogada e se jogou no pogo, Slam Dancing e “mosh invertido”.

No intervalo, Daniela me confessa uma certa apreensão ao dizer “e agora, como é que a gente vai tocar depois disso?”, mas ela estava enganada. Os capetas do rock baixaram bonito na banda inteira, mas especialmente nela, uma grande “front woman” – é só olhar as fotos pra notar a expressão de satisfação na cara de todos, mas especialmente na dela. Tocou e cantou e gritou como nunca, perfeitamente entrosada com  a poderosa cozinha pilotada por João Mario e Ivo Delmondes, e com isso voltou a empolgar a galera, que realmente tinha dado uma “morgada”. Destaque para o cover de “O inimigo”, das Mercenárias, e para as intervenções desarticuladas de Badaró, legendário punk rocker de Itabaiana, ao microfone. Acho que ninguém entendeu nada do que ele disse, mas todos curtiram e aplaudiram.

Foi lindo. Melhor edição até agora, com o maior e melhor público. Não parava de chegar gente! A impressão que se tinha é que, se a festa durasse a noite inteira, iria reunir uma verdadeira multidão. Chegou perto.

Mas não dá. O inimigo está sempre por ali, rondando, e desta vez passou perto: viaturas da Policia Militar e do temido GETAM, Grupamento Especial Tático de Motos, auto-denominado “a cavalaria de aço da PMSE”, circularam pelo local. Com olhares curiosos para a aglomeração, mas sem nenhuma abordagem, para o bem de todos e felicidade geral da nação “roqueira”.

Show do ano em Aracaju, até o momento. Qualquer dia tem mais. Fiquem de olho ... 

Fotos: Dillner Bansky
Texto: Adelvan


Inimigo

Mercenárias

voce não sabe quem é seu inimigo.
voce está completamente perdido.
perde tempo arrochando meu amigo.
perde tempo esmurrando meu amigo.

de que adianta arranjar treta comigo
se sou inimigo do seu inimigo,
se estamos todos por baixo das mesmas garras
das mesmas garras.

inimigo seu é quem sabe não voce.
perdido completamente está voce.
amigo meu arrochando tempo perde.
amigo meu esmurrando tempo perde.

adianta que do comigo treta arranjar
inimigo seu do inimigo sou se
baixo por todos estamos de
garras mesmas das...

domingo, 4 de novembro de 2012

" NO MONEY NO ENGLISH ", Ratos de porão

Em vinil é melhor, porra! Não sou entusiasta fanático de nenhum formato de midia específico mas tive mais uma prova de que o bom e velho bolachão preto ainda é a melhor forma de se ouvir música ao pousar o braço de meu heróico e resistente 3 em 1 caseiro da Sony comprado em 1991 (nunca foi para o conserto!) no mais novo petardo lançado, apenas em vinil, pelo Ratos de Porão - "No Money, no english" - e ter meus ouvidos estuprados por uma onda sonora implacável e cristalina de peso e distorção ...

Trata-se de um LP duplo com sobras de estúdio e faixas ao vivo nunca lançadas, emoldurado por mais uma sensacional capa produzida pelo genial Marcatti - desta vez mostrando um pobre coitado sendo torturado num pau-de-arara com saco plástico na cabeça por um PM animalesco sob os olhos complacentes da igreja e do estado. Tinha decidido que ia comprá-lo assim que vi uma foto do dito cujo na página da Laja records do Facebook, mas diante do salgadíssimo preço de 100 pilas, estava hesitando. Acabei pegando na mão de Luiz Humberto, da Purgatorius records, por 90 conto (e sem frete, evidentemente) num show que rolou este mês em Capela, interior do estado. Só falta pagar ...

Abre com uma sensacional cover para "reaganomics/sad to be", que eu já conhecia de um tributo ao DRI que havia baixado em mp3, e foi justamente aí que se manifestou, em todo o seu esplendor, a diferença entre ouvir uma musica em formato digital via caixinha de som de computador ou em glorioso vinil, com caixas de som decentes e som no talo. Não dá nem pra comparar!

Continua com outro cover, com letra em português, da banda norueguesa Turbo Negro. Bem mais fraquinha, assim como a seguinte, uma composição prória nunca antes lançada extraída das sessões de gravação do disco "onisciente coletivo" - um dos mais fracos da banda. Finalizando o lado A do primeiro disco, dois petardos: mais um cover, desta vez inusitado, porque em castelhano e de um artista que, a princípio, não tem nada a ver com o Ratos - o poeta, cantor, compositor e ativista político chileno Victor Jara. Eles já haviam experimentado algo parecido no Tributo a Arnaldo Baptista, dos Mutantes, nos anos 80, e se saído igualmente bem. A última é "Stone Dead Forever", do Motorhead, que ficou boa, apesar do inglês sofrível do Gordo.

Abrindo o lado B, "Thaw", do Septic Death, com direito à inserção de um discurso virulento anti-político em português. Ótima. Depois de "Direito de fumar", uma ode à auto-destruição, uma sequencia de sons extraídos de uma demo de 2001. Razoáveis - uma delas tem um título estranho para uma musica do Ratos de Porão, "tenho medo de te perder". Fechando o disco, duas faixas das sessões de "Carniceria Tropical": "Bad Cake" e "Estaca zero" - nesta última há outro momento inusitado, um trecho em ritmo de bossa nova! Dá pra imaginar o Gordo cantando Bossa nova? Pois é, ficou bom!

O disco 2 se resume a gravaçoes "demo" de músicas já lançadas em "just another crime in massacreland", de 1993, e trechos de dois shows ao vivo, de 1992 (não diz onde foi) e 2000 (no Hangar, casa de show localizada em São Paulo, capital). Parece pouco, mas não é: a gravação da demo é muito boa, se brincar melhor até que a do disco em si. As músicas são todas em inglês, mas o Gordo parece ter feito um esforço para pronunciar melhor as palavras. E Ao Vivo, não há nem o que questionar: no palco, o Ratos é imbatível, especialmente quando executa clássicos do "naipe" de "Amazonia nunca mais", "Novo Vietnã" e "Agressão/repressão".

Chama a atenção a qualidade e unidade sonora do disco como um todo. Se as informações não estivessem registradas na contracapa, nem daria para notar que se tratam de sessões registradas em diferentes datas e fases da banda. Excelente trabalho de equalização e, imagino, masterização - neste caso, posso apenas imaginar, já que, infelizmente, não há nehuma informação quanto à produção do disco no encarte. Aliás, outra deficiencia: não há "encarte" propriamente dito, apenas uma capa dupla que, quando aberta, exibe as letras das musicas emolduradas por um desenho do ilustrador "Magoo". Já os rótulos foram produzidos pelo camarada Tulio DFC, de Brasília.

É um disco irregular e recomendado especialmente para os fãs, mas não deixa de ser um grande lançamento. Valeu cada centavo investido.

por Adelvan



#