quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"Mestiço é bom" - Darcy Ribeiro

Eu tenho certeza que nós fizemos um país bonito, temos é que enforcar os canalhas. Os finos e educados, temos que enforcar. Mas, olha, o que eu digo, sempre, é muito fácil fazer uma Austrália: pega meia dúzia de franceses, ingleses, irlandeses e italianos, joga numa ilha deserta, eles matam os índios e fazem uma Inglaterra de segunda, porra, de terceira, aquela merda.

O Brasil precisa aprender que aquilo é uma merda, que o Canadá é uma merda, porque repete a Europa. É para ver que nós temos a aventura de fazer o gênero humano novo, a mestiçagem na carne e no espírito. Mestiço é que é bom. Minha carne na Europa nunca foi tomada por portuguesa, ou por espanhola, ou por grega. Perguntaram se eu era persa, porque tinha muito mais cara de árabe, que parece muito mais com cara de índio.

Essas carnes velhas nossas não são caras viáveis na Europa. Então, nós fizemos um povo. Um povo capaz de herdar 10 mil anos de sabedoria indígena, de adaptação ao trópico e fazer uma civilização tropical. Depois é que o europeu chega aqui, plantando trigo. Esse povo está aí e eu digo que somos a nova Roma. Em Roma, querem que vá falar disso, querem que eu escreva mais artigos. E por que nova Roma? Somos a maior massa latina. Os franceses ficaram tocando punheta, os italianos bebendo chianti, os romenos com medo dos russos, quem saiu fodendo por aí foi espanhol e português e fizemos uma massa de gente que é de 500 milhões.

Então, os latinos só se multiplicaram aqui. Há dois mil e quinhentos anos saíram soldados do laço da Etrúria, falando latim, fizeram a França, fizeram Portugal, não sabem como. Pegaram os selvagens de lá, latinizaram e permaneceram. Como é que permaneceram em plena Península Ibérica, com 900 anos de domínio árabe e não se arabizaram? Como é que aguentaram todas as invasões e se mantiveram?

Nós somos melhores, porque lavados em sangue negro, em sangue índio, melhorado, tropical. Então, no futuro, você vai ver daqui a 100 anos, numa reunião, qualquer uma da humanidade, aquele bloco enorme de chineses, vão sobrar chineses, mais da metade dos homens serão chineses. Um absurdo! Vai haver quantidade de árabes, mil milhões de árabes. Importantíssimo, serão uma nova civilização, mil milhões de árabes fiéis à arabidade. Haverá 500 milhões de neobritânicos, haverá muitos outros. E haverá mil milhões de latino-americanos, que somos nós, os latinos. Só nós estamos com a cara lá, nós somos Roma.

Na reunião da humanidade, o que é importante não é a França, a Europa. Aquilo que dizia Sartre. A Europa, aquela peninsulazinha da Ásia, dobrada sobre a África, vai ficar reduzida ao seu tamanho. Vai ficar no mundo, no futuro, a América Latina, e na América Latina o Brasil, o Brasil com 300 milhões de habitantes.

Não é uma beleza? Mas querem acabar com a foda aqui, querem nos liquidar. O que eu quero é que esse povo cresça e esse povo vai realizar sua potencialidade. Não é possível que durante tantos séculos uma classe dominante infiel nos queira explorar como um proletariado externo. Isso não vai continuar, não. Eu escrevi um livro, “O Povo Brasileiro”, que vai ajudar aos brasileiros a se assumirem com orgulho como a nova Roma e entenderem que nós somos muito mais difíceis de fazer do que a merdinha da Austrália. Que nós estamos nos fazendo, que nós vamos amadurecer e é preciso vencer um dia a canalha. Eu quase venci em 1964. É claro que eu não podia vencer, com Lyndon Johnson mandando os navios dele para cá, com o jango não querendo brigar. Mas quase vencemos.

Somos uma Roma tardia. O seu gene tem gene Tupinambá, os que foram mortos. É a herança dos trópicos, vai melhorar. No dia em que a economia não seja para exportar, mas seja, como a norte-americana, para consumir. 

*Capítulo de longa entrevista concedida por Darcy Ribeiro (1922-1997) a Antonio Callado, Antonio Houaiss, Eric Nepomuceno, Oscar Niemeyer, Ferreira Gullar, Zelito Viana e Zuenir Ventura, mediados pelo editor Renato Guimarães. Do livro “Mestiço É Que É Bom” (editora Revan, 1997)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Várias variáveis ...

É alvissareiro e, quiçá, inspirador, quando a principal atração de um festival independente produzido numa cidade periférica do mundo globalizado capitalista é uma banda local. O Mopho fechou a primeira noite do festival Maionese, ocorrido em Maceió no final de semana passada, e não decepcionou: um show enxuto, com um repertório perfeito focado em algumas de suas melhores composições retiradas de todos os seus três álbuns. Não foi perfeito: João Paulo, o principal compositor, guitarrista e “frontman”, se mostrava um tanto quanto inquieto, prejudicando a ritmo da apresentação com recorrentes ajustes no equipamento entre uma música e outra, mas isso não foi motivo suficiente para que se perdesse o brilho do conjunto da obra.

Não foi perfeito mas chegou perto, da perfeição. Como sempre, salta aos olhos a incrível competência de todos os que ocupavam o palco, sem exceção. Mas não aquela competência mecânica, insossa, típica de quem está ali apenas para fazer bem seu trabalho e garantir o ganha pão: a competência de quem tem muito a mostrar, em forma e conteúdo, e se esmera em passar aquelas mensagens codificadas em forma de música da melhor forma possível, sem firulas perfomáticas, aos que estão assistindo, na platéia. Emocionante. Pra voltar pra casa – dos pais de Maíra Ezequiel, que me hospedaram de forma extremamente generosa e hospitaleira – com a alma lavada.

A noite havia começado bem mais cedo para nós, que chegamos atrasados, com o Medialunas, de Porto Alegre – e adjacências – tocando para um público reduzido no Armazém Usina, um simpaticíssimo galpão restaurado e situado na região do porto do histórico bairro do Jaraguá. À parte os problemas acústicos, típicos de um ambiente que não havia sido projetado originalmente para abrigar apresentações musicais, o lugar me impressionou. Tinha até ar condicionado! E o festival, em si, foi o mais bem estruturado e organizado que vi nos últimos tempos, com direito, inclusive, a um bazar de produtos alternativos bem mais rico do que o que se costuma ver nesses tempos de farta oferta gratuita de material cultural virtual. Conseguiu o feito, inclusive, de me fazer usar meu cartão de crédito, coisa que não estava nos planos, definitivamente! Mas foi por uma boa causa: comprar os dois primeiros discos do Kafka, banda pós-punk paulistana dos anos 1980, nas edições originais em vinil, da Baratos Afins, e “Viva”, o disco ao vivo do Camisa de Vênus, que foi o item numero um de minha coleção e que eu tive o disparate de trocar por uma edição em CD xexelenta, não me perguntem porque. Finalmente o encontrei de novo com a capa e encarte interno – raridade! - em bom estado. R$ 30,00 cada disco do Kafka e 15 o do Camisa. Achei barato.

Mas voltemos ao Medialunas: é uma simpática dupla de indie rock que canta musicas melódicas porém “esporrentas” em português, espanhol e inglês – se bem me lembro. Já os tinha visto na noite anterior, em Aracaju, e gostado bastante. Os vocais são alternados entre o guitarrista e a baterista, que tem uma voz doce mas bate forte nas peles, quando necessário.

Na sequencia, Xique Baratinho. Fazem, em Maceió, mais ou menos o mesmo que o Maria Scombona em Aracaju: um som calcado no rock mas com forte sotaque regional. Ou seria o contrário? Enfim, é “fusion”. E é muito bem composto e executado de forma extremamente competente, também. E também têm muitos anos de estrada, o que faz com que tenham músicas bastante conhecidas do público local, que cantava junto em vários momentos. É bom, mas não é muito a minha praia ...

Foto: Nando Magalhães
Porque minha praia é o rock. E Autoramas é rrrrrock, como eles fazem questão de deixar bem claro em cada mínimo acorde ou movimento de palco, numa insistência que, às vezes, soa até irritante. Há quem ache, inclusive, meio falso, “poser”, mas eu discordo. Já vi vários shows deles e sempre me deixo envolver pelo clima de celebração roqueira juvenil embalado por batidas retas, melodias simples e solinhos de guitarra tosquinhos porém “gostosinhos”. E por Flavia Couri, musa, estilosa, maravilhosa. Nem curto muito os dois últimos discos, um tanto quanto “jovem guarda” demais para o meu gosto, mas ao vivo continuam muito bons.

A noite seguinte, no sábado, para nós, os eternos Atrasildos da Silva, começou com o Zefirina Bomba, da Paraíba, no palco. Lamentei ter perdido Ataque Cardíaco, de Delmiro Gouveia – a cidade mais Hard Core do interior do nordeste – que todo mundo dizia que foi muito bom. Zeferina é um esporro do caralho, é realmente impressionante o barulho que Ilson consegue tirar daquele violão velho. Mas acho-os muito fracos em termos de composição, o que compromete o resultado final. Ok, eu sei, é punk rock, é “grunge”, é pra ser simples mesmo, mas não sei, acho que exageram na dose do minimalismo - por opção estética, talvez. Em todo caso, fizeram um bom show, pois acreditam no que fazem e isso garante a energia primária que é o motor que move as engrenagens do rock.

Aí vieram uns tais Nelsons, de Paulo Afonso, com um tal “Cangaço HI-FI” que nada mais é que uma emulação daquela mistura que já deu tudo o que tinha que dar nos anos 1990 de rock com rap e guitarras com scratch. Chatíssimo. E o Foxy Trio, de Olinda, Pernambuco, que faz um som bem mais lento, introspectivo, com longas passagens climáticas interrompidas aqui e ali por explosões “guitarrísticas” muito bem orquestradas. Não funcionou muito bem no palco, no meio de um festival, mas deu pra sentir que têm algo a dizer. Vale uma conferida posterior, no sacrossanto recesso do lar ...

O metal esteve presente com o Death “mezzo” “nu” metal do Abismo, local. Competentes. Barulhentos. Mas eu, particularmente, não agüento os clichês do estilo. Afinação baixa, vocais guturais, som meio “grooveado” com passagens “pula pula” em meio a convites às rodas de pogo. Não foi ruim, mas também não impressionou. Deu pro gasto.

Foi um bom aquecimento para a Necronomicon, sensacional formação roqueira calcada no que de melhor os anos 60 e 70 nos deram em termos de peso “sabbáthico” e psicodelia “crua”. Músicas longas, cheias de passagens, vocais berrados porém cantados, bateria devidamente castigada com energia e estilo, conduzindo com perfeição a guitarra de Lillian Lessa que eu finalmente consegui ouvir da forma que sempre quis: em alto e bom som! Nem tenho muito mais o que falar desses porras, sou fã incondicional. Segundo melhor show do festival, perdendo apenas para a Mopho.

Poderia ter ido embora, mas queria ver o Mukeka di Rato. Para tanto tive que esperar o chatíssimo Zander e seu “emotional Hard Core”, o popular “emo”. Vai um pouco na linha do Dead Fish, com letras “emocionais”(dã) cantadas a plenos pulmões em meio a boas guitarras ligadas no talo. A galera parece gostar muito. Eu não.

O show do Mukeka foi mais ou menos a bagaceira de sempre. Nem o melhor nem o pior que eu já vi – e vi vários. A impressão que tenho é que o Sandro voltou aos vocais sem o mesmo pique de antes: faz o show meio que no piloto automático, pra cumprir tabela. O que, na verdade, não faz o menor sentido, porque tenho certeza que ele não vai ficar rico sendo o vocalista do Mukeka di rato. Mas vai ver é só impressão minha. Enfim, foi divertido, mas o som estava muito embolado, sem definição. Tocaram canções clássicas de todas as fases e discos da banda. Destaque para “carne”, a música, que eu acho muito foda. Muito acima do repertório da própria banda, inclusive.

Fiquei bastante surpreso, positivamente falando, com a estrutura e a organização do Festival. Esperava que fosse algo mais mambembe, improvisado. Impossível não comparar o que vi naquele final de semana em Maceió com o atual momento em que passamos aqui, em Aracaju. Afinal, desde a “morte” – independência ou morte, lembram? – do PUNKa, em 2004, a cidade não tem nenhum festival independente acontecendo de forma regular e organizada. Vivemos à mercê da maré dos momentos, ora com muitos e excelentes shows acontecendo ao mesmo tempo em pontos diversos, ora com nada a fazer.

Depois de um longo período de pasmaceira e estagnação, quando os poucos produtores que ainda se arriscavam a promover por aqui apresentações com bandas de fora de médio ou pequeno porte - estas últimas de passagem em turnês “do it yourself” - cansaram de tomar prejuízo, por falta de público, a maré parece estar, aos poucos, virando. Por conta, em grande parte, do grande momento que vivemos, paradoxalmente, na cena local, com o surgimento de excelentes novas bandas, como a Tody´s Trouble Band, e a lenta projeção além-fronteiras provincianas de outras já não tão novas, como a The Baggios. Um dos grandes responsáveis por essa “retomada”, digamos assim, foi o pessoal que organiza os eventos “Clandestino”, feitos na rua, sem porta, sem cobranças, embora não sem custos.

O “Happening” cooperativo teve mais uma edição na última quinta-feira, dia 07 de novembro de 2013. Aconteceu na praça do farol da Farolândia, próximo à UNIT, com apresentações da Renegades of punk e do Medialunas, de Porto Alegre – e adjescências. Foi lindo, como sempre. O gerador roncando, o rock rolando, as crianças brincando e o vento soprando. E fanzines circulando! Lá recebi, das mãos do camarada Aquino, a cópia # 22(de 50) da simpática publicação xerocada com sobrecapa em papel vegetal “linhas tortas”, em primeira e gloriosa edição. Bacana, bem diagramado, com bons textos de Josimas e Maria Rita Kehl, poemas de Hilda Hist e Carlos Drummond de Andrade e um pôster “militante” de Ivo Delmondes. Digo mais: naquela mesma noite, ali vizinho, no CHE, os goianos do Hellbenders se apresentaram para um bom público com as locais Nucleador e Tody´s Trouble Band.

Hellbenders faz aquele rock pesado “mezzo” stoner cantado em inglês que se tornou característico de Goiânia. Um bom show, energético, com boas composições e uma boa presença de palco – um pouco exagerada, é verdade, especialmente da parte de um dos guitarristas e principal vocalista, que não se cansava de fazer caras e bocas e mostrar a língua a la Gene Simmons, mas enfim, faz parte do show dele, fazer o que ...

Já a Nucleador vem renascendo das cinzas em grande estilo com um novo – que já nem é mais tão novo – vocalista e novas – que também não são mais tão novas – composições que estarão no seu aguardado segundo disco. Tão aguardado que já está sendo chamado de “o chinese democracy sergipano”.

Tody´s Trouble é foda, melhor banda da cidade, atualmente. Mas naquela noite exageraram no desleixo e só foram subir no palco em adiantadas horas, por pura vagabundice, já que estavam todos lá, batendo papo, e o som estava “de cima”. Vi um pouco do show, como sempre ótimo, e me mandei.

Além do CHE e do Tio Maneco – que é mais “light”, apenas flerta com o som preferido do capeta – o Capitão Cook está reabrindo as portas e estão surgindo, surpreendentemente, novos espaços para apresentações de rock “underground” na cidade. Caso do Saloon, no Augusto Franco, e da Caverna do Jimi Lennon, no centro. Lá vi, dias atrás, um excelente show de Hard Core com mais uma devastadora apresentação da Karne Krua, que não só se recusa a “morgar” como vem se superando a cada dia em todos os aspectos, seja nas novas composições, seja na energia que entregam ao vivo. E perdi a estréia do Skabong, primeira banda inteiramente dedicada ao ska da cidade – antes havia o Friendship, que flertava com o estilo. Porque estava discotecando no segundo show depois da reabertura do cook, com Snooze e Arthur Matos. Que não deu praticamente ninguém, porque além do ska com renegades no Caverna estava acorrendo, no Tio Maneco, um show de covers com Plástico jr. E Cia. Ltda. Além do Saloon, onde certamente também estava rolando um rock.

É isso então. Ainda não temos um festival, mas por outro lado a cena está viva e ativa, se multiplicando com qualidade, o que é mais importante e pode gerar uma movimentação mais forte, permanente e, suprema ambição, SUSTENTÁVEL! Meta perseguida pelo Zons, festival muito bem articulado ao qual não compareci justamente porque estava em Maceió, no Maionese.

“Várias Variáveis”, como dizia o “grande filósofo” Humberto Gessinger.

SQN.

A.

#


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Jango

Acabo de assistir ao vivo, pela TV, as homenagens com honras militares que o governo brasileiro prestou, antes tarde do que nunca, aos restos mortais do ex-presidente João Goulart, deposto em PRIMEIRO DE ABRIL de 1964 por um golpe de estado. É sempre emocionante ver a História passar diante de seus olhos, principalmente quando se está fazendo, ao mesmo tempo, justiça. Faço minhas, também, as lágrimas derramadas pela viúva e demais parentes presentes, bem como as da presidente Dilma Roussef. Nesses momentos ela, certamente, deve lembrar o que sofreu nos porões do regime de excessão.

Aproveito para prestar, também, uma pequena reverência. Para tanto publico, na íntegra, o discurso proferido por Jango no célebre comício da Central do Brasil em que ele anunciou as reformas de base e que serviu como estopim para a rebelião nas casernas.

Clicando AQUI você assiste, na íntegra, o célebre documentário de Silvio Tendler.

Descanse em paz, presidente.

"Devo agradecer em primeiro lugar às organizações promotoras deste comício, ao povo em geral e ao bravo povo carioca em particular, a realização, em praça pública, de tão entusiasta e calorosa manifestação. Agradeço aos sindicatos que mobilizaram os seus associados, dirigindo minha saudação a todos os brasileiros que, neste instante, mobilizados nos mais longínquos recantos deste país, me ouvem pela televisão e pelo rádio.

Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos milhões de irmãos nossos que dão ao Brasil mais do que recebem, que pagam em sofrimento, em miséria, em privações, o direito de ser brasileiro e de trabalhar sol a sol para a grandeza deste país.

Presidente de 80 milhões de brasileiros, quero que minhas palavras sejam bem entendidas por todos os nossos patrícios.

Vou falar em linguagem que pode ser rude, mas é sincera sem subterfúgios, mas é também uma linguagem de esperança de quem quer inspirar confiança no futuro e tem a coragem de enfrentar sem fraquezas a dura realidade do presente.

Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais significativas organizações operárias e lideranças populares deste país.

Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.

Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.

A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam.

A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.

Ainda ontem, eu afirmava, envolvido pelo calor do entusiasmo de milhares de trabalhadores no Arsenal da Marinha, que o que está ameaçando o regime democrático neste País não é o povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas nacionais. Democracia é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.

Democracia é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social.

Não há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do povo; não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais sentidas reinvindicações.

Estaríamos, sim, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, que de norte a sul, de leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior, em revoltantes condições de miséria.

Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tentar levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras do episcopado brasileiro.

O inolvidável Papa João XXIII é quem nos ensina que a dignidade da pessoa humana exige normalmente como fundamento natural para a vida, o direito ao uso dos bens da terra, ao qual corresponde a obrigação fundamental de conceder uma propriedade privada a todos.

É dentro desta autêntica doutrina cristã que o governo brasileiro vem procurando situar a sua política social, particularmente a que diz respeito à nossa realidade agrária.

O cristianismo nunca foi o escudo para os privilégios condenados pelos Santos Padres. Nem os rosários podem ser erguidos como armas contra os que reclamam a disseminação da propriedade privada da terra, ainda em mãos de uns poucos afortunados.

Àqueles que reclamam do Presidente de República uma palavra tranqüilizadora para a Nação, o que posso dizer-lhes é que só conquistaremos a paz social pela justiça social.

Perdem seu tempo os que temem que o governo passe a empreender uma ação subversiva na defesa de interesses políticos ou pessoais; como perdem igualmente o seu tempo os que esperam deste governo uma ação repressiva dirigida contra os interesses do povo. Ação repressiva, povo carioca, é a que o governo está praticando e vai amplia-la cada vez mais e mais implacavelmente, assim na Guanabara como em outros estados contra aqueles que especulam com as dificuldades do povo, contra os que exploram o povo e que sonegam gêneros alimentícios e jogam com seus preços.

Ainda ontem, trabalhadores e povo carioca, dentro da associações de cúpula de classes conservadoras, levanta-se a voz contra o Presidente pelo crime de defender o povo contra aqueles que o exploram nas ruas, em seus lares, movidos pela ganância.

Não tiram o sono as manifestações de protesto dos gananciosos, mascarados de frases patrióticas, mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer a impunidade para suas atividades anti-sociais.

Não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar, e tenho proclamado e continuarei a proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da Constituição, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação.

Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada, injusta e desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas.

Todos têm o direito à liberdade de opinião e de manifestar também sem temor o seu pensamento. É um princípio fundamental dos direitos do homem, contido na Carta das Nações Unidas, e que temos o dever de assegurar a todos os brasileiros.

Está nisso o sentido profundo desta grande e incalculável multidão que presta, neste instante, manifestação ao Presidente que, por sua vez, também presta conta ao povo dos seus problemas, de suas atitudes e das providências que vem adotando na luta contra forças poderosas, mas que confia sempre na unidade do povo, das classes trabalhadoras, para encurtar o caminho da nossa emancipação.

É apenas de lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados à realidade nacional.

São certamente, trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque poderão, com tanta surdez e tanta cegueira, ser os responsáveis perante a História pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil e à felicidade de seu povo brasileiro.

De minha parte, à frente do Poder Executivo, tudo continuarei fazendo para que o processo democrático siga um caminho pacífico, para que sejam derrubadas as barreiras que impedem a conquista de novas etapas do progresso.

E podeis estar certos, trabalhadores, de que juntos o governo e o povo – operários , camponeses, militares, estudantes, intelectuais e patrões brasileiros, que colocam os interesses da Pátria acima de seus interesses, haveremos de prosseguir de cabeça erguida, a caminhada da emancipação econômica e social deste país.

O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade”.

A maioria dos brasileiros já não se conforma com uma ordem social imperfeita, injusta e desumana. Os milhões que nada têm impacientam-se com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso tão duramente construído, mas construído também pelos mais humildes.

Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos deste desenvolvimento.

Não, trabalhadores; sabemos muito bem que de nada vale ordenar a miséria, dar-lhe aquela aparência bem comportada com que alguns pretendem enganar o povo. Brasileiros, a hora é das reformas de estrutura, de métodos, de estilo de trabalho e de objetivo. Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar; que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros que da portentosa civilização industrial conhecem apenas a vida cara, os sofrimentos e as ilusões passadas.

O caminho das reformas é o caminho do progresso pela paz social. Reformar é solucionar pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do tempo em que vivemos.

Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da SUPRA com o pensamento voltado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa Pátria. Ainda não é aquela reforma agrária pela qual lutamos.

Ainda não é a reformulação de nosso panorama rural empobrecido.

Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado.

Mas é o primeiro passo: uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.

O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e intolerável.

Não é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos especuladores de terra, quase apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades, mas sim o povo.

Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo.

Reforma agrária com pagamento prévio do latifundio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro. Por isso o decreto da SUPRA não é a reforma agrária.

Sem reforma constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a Constituição, que tem acima de dela o povo e os interesses da Nação, que a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas nenhuma delas capaz de modificações estruturais profundas.

Graças à colaboração patriótica e técnica das nossas gloriosas Forças Armadas, em convênios realizados com a SUPRA, graças a essa colaboração, meus patrícios espero que dentro de menos de 60 dias já comecem a ser divididos os latifúndios das beiras das estradas, os latifúndios aos lados das ferrovias e dos açudes construídos com o dinheiro do povo, ao lado das obras de saneamento realizadas com o sacrifício da Nação. E, feito isto, os trabalhadores do campo já poderão, então, ver concretizada, embora em parte, a sua mais sentida e justa reinvindicação, aquela que lhe dará um pedaço de terra para trabalhar, um pedaço de terra para cultivar. Aí, então, o trabalhador e sua família irão trabalhar para si próprios, porque até aqui eles trabalham para o dono da terra, a quem entregam, como aluguel, metade de sua produção. E não se diga, trabalhadores, que há meio de se fazer reforma sem mexer a fundo na Constituição. Em todos os países civilizados do mundo já foi suprimido do texto constitucional parte que obriga a desapropriação por interesse social, a pagamento prévio, a pagamento em dinheiro.

No Japão de pós-guerra, há quase 20 anos, ainda ocupado pelas forças aliadas vitoriosas, sob o patrocínio do comando vencedor, foram distribuídos dois milhões e meio de hectares das melhores terras do país, com indenizações pagas em bônus com 24 anos de prazo, juros de 3,65% ao ano. E quem é que se lembrou de chamar o General MacArthur de subversivo ou extremista?

Na Itália, ocidental e democrática, foram distribuídos um milhão de hectares, em números redondos, na primeira fase de uma reforma agrária cristã e pacífica iniciada há quinze anos, 150 mil famílias foram beneficiadas.

No México, durante os anos de 1932 a 1945, foram distribuídos trinta milhões de hectares, com pagamento das indenizações em títulos da dívida pública, 20 anos de prazo, juros de 5% ao ano, e desapropriação dos latifúndios com base no valor fiscal.

Na Índia foram promulgadas leis que determinam a abolição da grande propriedade mal aproveitada, transferindo as terras para os camponeses.

Essas leis abrangem cerca de 68 milhões de hectares, ou seja, a metade da área cultivada da Índia. Todas as nações do mundo, independentemente de seus regimes políticos, lutam contra a praga do latifúndio improdutivo.

Nações capitalistas, nações socialistas, nações do Ocidente, ou do Oriente, chegaram à conclusão de que não é possível progredir e conviver com o latifúndio.

A reforma agrária não é capricho de um governo ou programa de um partido. É produto da inadiável necessidade de todos os povos do mundo. Aqui no Brasil, constitui a legenda mais viva da reinvindicação do nosso povo, sobretudo daqueles que lutaram no campo.

A reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver.

Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e andam descalças, porque não tem dinheiro para comprar.

Assim, a reforma agrária é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho às industrias e melhor remuneração ao trabalhador urbano.

Interessa, por isso, também a todos os industriais e aos comerciantes. A reforma agrária é necessária, enfim, à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo.

Como garantir o direito de propriedade autêntico, quando dos quinze milhões de brasileiros que trabalham a terra, no Brasil, apenas dois milhões e meio são proprietários?

O que estamos pretendendo fazer no Brasil, pelo caminho da reforma agrária, não é diferente, pois, do que se fez em todos os países desenvolvidos do mundo. É uma etapa de progresso que precisamos conquistar e que haveremos de conquistar.

Esta manifestação deslumbrante que presenciamos é um testemunho vivo de que a reforma agrária será conquistada para o povo brasileiro. O próprio custo da produção, trabalhadores, o próprio custo dos gêneros alimentícios está diretamente subordinado às relações entre o homem e a terra. Num país em que se paga aluguéis da terra que sobem a mais de 50 por cento da produção obtida daquela terra, não pode haver gêneros baratos, não pode haver tranquilidade social. No meu Estado, por exemplo, o Estado do deputado Leonel Brizola, 65% da produção de arroz é obtida em terras alugadas e o arrendamento ascende a mais de 55% do valor da produção. O que ocorre no Rio Grande é que um arrendatário de terras para plantio de arroz paga, em cada ano, o valor total da terra que ele trabahou para o proprietário. Esse inquilinato rural desumano é medieval é o grande responsável pela produção insuficiente e cara que torna insuportável o custo de vida para as classes populares em nosso país.

A reforma agrária só prejudica a uma minoria de insensíveis, que deseja manter o povo escravo e a Nação submetida a um miserável padrão de vida.

E é claro, trabalhadores, que só se pode iniciar uma reforma agrária em terras economicamente aproveitáveis. E é claro que não poderíamos começar a reforma agrária, para atender aos anseios do povo, nos Estados do Amazonas ou do Pará. A reforma agrária deve ser iniciada nas terras mais valorizadas e ao lado dos grandes centros de consumo, com transporte fácil para o seu escoamento.

Governo nenhum, trabalhadores, povo nenhum, por maior que seja seu esforço, e até mesmo o seu sacrifício, poderá enfrentar o monstro inflacionário que devora os salários, que inquieta o povo assalariado, se não forem efetuadas as reformas de estrutura de base exigidas pelo povo e reclamadas pela Nação.

Tenho autoridade para lutar pela reforma da atual Constituição, porque esta reforma é indispensável e porque seu objetivo único e exclusivo é abrir o caminho para a solução harmônica dos problemas que afligem o nosso povo.

Não me animam, trabalhadores – e é bom que a nação me ouça – quaisquer propósitos de ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de todos, o povo brasileiro e os governos que me sucederem. A eles, trabalhadores, desejo entregar uma Nação engrandecida, emancipada e cada vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez, pacificamente, os graves problemas que a História nos legou. Dentro de 48 horas, vou entregar à consideração do Congresso Nacional a mensagem presidencial deste ano.

Nela, estão claramente expressas as intenções e os objetivos deste governo. Espero que os senhores congressistas, em seu patriotismo, compreendam o sentido social da ação governamental, que tem por finalidade acelerar o progresso deste país e assegurar aos brasileiros melhores condições de vida e trabalho, pelo caminho da paz e do entendimento, isto é pelo caminho reformista.

Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão, caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente para melhores dias. Mas também, trabalhadores, quero referir-me a um outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos nacionalistas destes país. Acabei de assinar, antes de dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares.

A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao patrimônio nacional.

Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da Lei n. 2.004, lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.

Ao anunciar, à frente do povo reunido em praça pública, o decreto de encampação de todas as refinarias de petróleo particulares, desejo prestar homenagem de respeito àquele que sempre esteve presente nos sentimentos do nosso povo, o grande e imortal Presidente Getúlio Vargas.

O imortal e grande patriota Getúlio Vargas tombou, mas o povo continua a caminhada, guiado pelos seus ideais. E eu, particurlamente, vivo hoje momento de profunda emoção ao poder dizer que, com este ato, soube interpretar o sentimento do povo brasileiro.

Alegra-me ver, também, o povo reunido para prestigiar medidas como esta, da maior significação para o desenvolvimento do país e que habilita o Brasil a aproveitar melhor as suas riquezas minerais, especialmente as riquezas criadas pelo monopólio do petróleo. O povo estará sempre presente nas ruas e nas praças públicas, para prestigiar um governo que pratica atos como estes, e também para mostrar às forças reacionárias que há de continuar a sua caminhada, no rumo da emancipação nacional.

Na mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional, estão igualmente consignadas duas outras reformas que o povo brasileiro reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros maiores de 18 anos ajudar a decidir dos seus destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, pugnamos pelo princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.

Também está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros. Pelos universitários, classe que sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares nacionalistas.

Ao lado dessas medidas e desses decretos, o governo continua examinando outras providências de fundamental importância para a defesa do povo, especialmente das classes populares.

Dentro de poucas horas, outro decreto será dado ao conhecimento da Nação. É o que vai regulamentar o preço extorsivo dos apartamentos e residências desocupados, preços que chegam a afrontar o povo e o Brasil, oferecidos até mediante o pagamento em dólares. Apartamento no Brasil só pode e só deve ser alugado em cruzeiros, que é dinheiro do povo e a moeda deste país. Estejam tranqüilos que dentro em breve esse decreto será uma realidade.

E realidade há de ser também a rigorosa e implacável fiscalização para seja cumprido. O governo, apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a exploração do povo. E faço um apelo ao povo para que ajude o governo na fiscalização dos exploradores do povo, que são também exploradores do Brasil. Aqueles que desrespeitarem a lei, explorando o povo – não interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja ele em Olaria ou na Rua do Acre – hão de responder, perante a lei, pelo seu crime.

Aos servidores públicos da Nação, aos médicos, aos engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que suas reinvindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que em breve serão atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever com aqueles que permanentemente cumprem o seu para com o país.

Ao encerrar, trabalhadores, quero dizer que me sinto reconfortado e retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto mais perto estivermos do cumprimento de nosso dever. À medida que esta luta apertar, sei que o povo também apertará sua vontade contra aqueles quenão reconhecem os direitos populares, contra aqueles que exploram o povo e a Nação.

Sei das reações que nos esperam, mas estou tranqüilo, acima de tudo porque sei que o povo brasileiro já está amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não faltará com seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista.

Quero agradecer, mais uma vez, esta extraordinária manifestação, em que os nossos mais significativos líderes populares vieram dialogar com o povo brasileiro, especialmente com o bravo povo carioca, a respeito dos problemas que preocupam a Nação e afligem todos os nossos patrícios. Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo brasileiro. E, para isto, podemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das bravas e gloriosas Forças Armadas da Nação.

Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil.

#



quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Vestígios das noites passadas ...

Criamos fungos aqui ...
O simpático auditório do Museu da Gente Sergipana foi pequeno, na noite de ontem, para abrigar o público que compareceu à “premiére” de “Na Estrada do tempo”, documentário que flagra a Plástico Lunar, uma das mais importantes bandas do rock sergipano, entre turnês, shows “domésticos”, gravações para o novo disco e discussões sobre a Segunda Guerra Mundial.

Dirigido por Alessandro Santana, o “Cabelo”, da Faz o que pode produtora, o filme tem um bom ritmo e excelente montagem, com direito a tomadas experimentais – numa delas é mostrada, por tempo maior do que o convencional, uma esteira de aeroporto que não traz nenhuma bagagem – que, inseridas no contexto, fornecem uma identidade própria ao produto final, sem deixá-lo cansativo. Muito pelo contrário: a utilização de diferentes recursos, filtros e linguagens resulta numa dinâmica que justifica a duração do filme, um “média metragem” – produções do tipo, totalmente “do it yourself” e com recursos caseiros de captação de som e imagem, geralmente se adequam melhor ao formato de curta metragem.

Um Homem com uma câmera
Na tela, tivemos acesso aos bastidores da convivência entre os integrantes da banda, além de assistirmos às apresentações nos estúdios da Trama – os técnicos de som locais foram entrevistados e se mostraram impressionadíssimos com o talento dos caras – e no projeto “Prata da casa”, no SESC Pompéia, em São Paulo. Passaram ainda por Minas Gerais,  Curitiba e Santa Catarina, onde se apresentaram, pela terceira vez, no festival “psicodália”, que é realizado ao ar livre, no campo, em clima de “Woodstock”. Há ainda o registro de shows “em casa”: o Concerto para o fim do mundo, em Aracaju, na noite tida como a última para a raça humana por uma interpretação do calendário maia, e a apresentação no projeto “Verão Sergipe”, do governo do estado, realizado na Barra dos Coqueiros, cidade vizinha à capital sergipana, na qual eles contaram com uma inesperada participação de Gilberto Gil durante o cover de “punk da periferia”. Para delírio de Marcos Odara, o baterista, fã incondicional.

Mas o grande destaque, sem sombra de dúvidas, vai para o bom humor com que são retratados diálogos antológicos, como os que Odara e Plástico jr. travam sobre a importância de Stalin e da União Soviética na vitória sobre os nazistas durante a segunda guerra mundial, ou quando Júnior – os dois, ele e Odara, são as “estrelas” no quesito “verborragia” – anuncia um experimento que poderá resultar na melhor ou pior produção de eventos de todos os tempos, comandada por um ser híbrido imaginário denominado Chackelma Nunes Montalvão. Quem é “do meio” sabe do que ele está falando. Boa parte da platéia sabia, e riu muito.

Destaque também para a trilha sonora, cheia de versões inusitadas para antigos “hits” e com o resgate de músicas ainda mais antigas e um tanto quanto esquecidas do repertório da banda, como “fungos”.

Antológico!

A.

#

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Gravidade ...

Cinema é, em grande parte, ilusão de ótica. Desde a primeira exibição, quando a platéia correu assustada temendo ser atropelada pela imagem da locomotiva que chegava à estação. Nos anos 1990 eu saí da sala com a impressão de que, ao dobrar a esquina, iria me deparar com um tyranossauro rex ou um velociraptor, depois de assistir a “Jurassic Park”. Já havia imaginado voar com o “Superman” de Christopher Reeve e agora, ao ver “Gravidade”, me imaginei no espaço, à deriva, com Sandra Bullock e George Clooney. Foi agoniante ...

Para além da pura diversão – para a qual funciona perfeitamente – o novo filme de Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança, E sua mãe também) nos dá a exata dimensão dos perigos a que estão submetidos os astronautas quando trabalham em gravidade zero, no espaço sideral, o mais inóspito dos ambientes. Para tanto, precisa apenas de um fiapo de história: tripulantes de um ônibus espacial são pegos de surpresa em plena atividade fora da nave por uma chuva de detritos causada pela explosão de um satélite russo. Subitamente desprovidos do suporte tecnológico que tinham á disposição ao alcance da mão, têm que se virar para sobreviver e voltar a salvo para casa – o belíssimo planeta azul que domina a paisagem, quando esta não está tomada pela negritude do cosmo.

Os grandes trunfos do filme são o realismo visual com o qual retrata o drama, especialmente quando assistido em 3D e em iMAX – tive a experiência, já que estava no Rio quando do lançamento, e foi sensacional. Um amigo que me acompanhou literalmente passou mal -, a direção segura e um roteiro enxuto e inteligente, capaz de prender a atenção ao mesmo tempo em que quebra expectativas ao fugir dos clichês dos cinemas de ação e de catástrofe hollywoodyanos. Nem a escolha da protagonista, a princípio, equivocada, atrapalha o espetáculo: na verdade proporcionou a Bullock a atuação da sua vida, pela qual está cotada para o oscar.

"Gravidade", 2013, de Alfonso Cuarón

Um triunfo!

"Círculo de Fogo", 2013, de Guillermo Del Toro – Divertidíssima homenagem aos filmes de robôs gigantes x monstros bizarros japoneses, tão caros à minha infância – e à de milhares de seres ao redor do mundo. Diversão pura, mas de primeiríssima qualidade. As batalhas épicas entre as criaturas magnificamente animadas com o que de melhor a tecnologia dos efeitos especiais pode nos dar são mais do que suficientes para que esqueçamos os inevitáveis clichês e as atuações canastronas, notadamente a do protagonista, Charlie Hunnam, o “Jax' Teller" de “Sons of Anarchy”. Na verdade tudo funciona, aqui: mesmo os exageros estão perfeitamente inseridos no contexto e a serviço da diversão. Coisa de moleque, mesmo. Assumidamente.

Excelente.

"Guerra Mundial Z", 2013, de Marc Forster  - Alucinante adaptação do Best seller de Max Brooks estrelada por Brad Pitt que recicla a mitologia dos zumbis com resultados pra lá de satisfatórios – impressionante como uma premissa tão “batida” é capaz de render tanto! Ou é isso ou sou eu que sou realmente fã da ‘bagaça” ...

Com uma narrativa mais convencional que a do livro, conta, mais uma vez, a já conhecida história da epidemia mundial de zumbis num ritmo frenético e muito bem editado, repleto de cenas de ação e algumas idéias inovadoras e sensacionais - a melhor delas é a do Muro erguido em torno de Jerusalém, tão pródiga na construção de muros.  Os ataques vêm em ondas e em massa, mas não há closes de violência “pornográfica”, tão caros às produções do gênero. O recurso, certamente controverso, foi adotado para que o filme obtivesse a classificação de 13 anos. A mim, particularmente, não incomodou. Me diverti bastante com a trama repleta de ação e suspense que, mesmo nos momentos mais clicherosos – e eles estão lá – não chega a ofender a inteligência do expectador.

Muito bom.

"A Morte do demônio", 2013, de Fede Alvarez - Desnecessário remake do clássico de Sam Raimi que, por trás da estética graficamente sofisticada, esconde uma produção recheada de clichês e atuações medíocres. Totalmente esquecível. Valeu apenas por me dar a oportunidade de ter uma experiência inédita: vi no cinema do shopping Prêmio, o primeiro aberto na periferia da capital sergipana. Fui porque foi o primeiro filme legendado a ser exibido por lá.

Deprimente.

"Faroeste Caboclo", 2013, de René Sampaio – Horripilante adaptação da canção épica composta por Renato Russo nos tempos em que atuava como “trovador solitário” e que se tornou um improvável “hit” quando gravada pela Legião Urbana, nos anos 80. Era surreal ouvir, no rádio comercial, uma música de quase 10 minutos que discorria sobre vingança e conflito sociais.

Mas aqui nada funciona. Os personagens são caricatos, a edição é picotada e aleatória, a direção é frouxa e o roteiro, confuso. Nem dá pra desenvolver nenhuma empatia pelos personagens, já um tanto quanto irreais no contexto da obra original, megalomaníaca. Em grande parte pela péssima atuação do elenco - todo ele, sem exceção.  

Ruim demais.

"O Dia que durou 21 anos", 2012, de Camilo Tavares – Documentário que mostra a participação do governo dos Estados Unidos nos preparativos do golpe de estado que derrubou o governo de João Goulart em PRIMEIRO DE ABRIL de 1964. Com uma edição ágil e rico em imagens de arquivo perfeitamente recuperadas, contextualiza muito bem o drama da guerra fria, nos jogando na cara o que nosso complexo de vira-latas nos impediu por tanto tempo de ver: o Brasil era – e é – grande e importante demais para que pudesse escapar impunemente da esfera de influência da superpotência do norte. Em outras palavras: eles não deixariam que o “bananão” se transformasse numa nova Cuba, nem que para isso tivessem que transformá-lo num novo Vietnã. Não foi preciso, como todos sabemos: Jango “arregou” e entregou de bandeja o ouro aos bandidos. Com a desculpa de evitar um banho de sangue – o que, pelo que vemos aqui, não era exagero – abriu caminho para outra carnificina, cometida aos poucos nos porões da repressão ao longo de 21 anos, tempo em que durou o regime de exceção.

Fundamental.

"À procura de Sugar Man", 2012, de Malik Bendjelloul – Primeiro filme que assisto inteiro online, legendado, via youtube. E com uma qualidade de imagem excelente! Vencedor do Oscar de melhor documentário do ano passado, conta a inacreditável história de Jesus Sixto Rodriguez, um talentoso cantor folk que surgiu nos anos 1960, em Detroit, nos Estados Unidos, mas que desapareceu misteriosamente após lançar dois discos que foram fracassos de venda. Torna-se, no entanto, um inesperado – e desconhecido – sucesso na então fechada, pelo “apartheid”, África do Sul. Mas sucesso mesmo, no nível de Elvis Presley ou dos Beatles.

Várias lendas surgem para explicar seu sumiço, dentre elas a de que havia se suicidado em pleno palco. A verdade, no entanto, é que ninguém sabia o que havia realmente acontecido. Até que alguém responde a um apelo lançado a esmo na internet, tal qual uma garrafa com uma mensagem em meio ao oceano ...

Emocionante.

"Hitchcock", 2012, de Sacha Gervasi – Primorosa reconstituição dos bastidores da filmagem de “Psicose”, a obra-prima do mestre do suspense. Baseado no livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose (Ed. Intrínseca), de Stephen Rebello, mostra as dificuldades que o diretor teve para encontrar financiamento para sua ousada nova produção, bem como a maneira dúbia com a qual se relacionava com suas belíssimas atrizes e a crise pela qual passava seu casamento com Alma Reville, seu “braço direito”, magistralmente interpretada por Helen Mirren . Tudo contado de forma leve e bem humorada, mas extremamente inteligente. Só não gostei da caracterização prostética do protagonista, vivido por Anthony Hopkins. Apesar dos esforços do ator, sempre  excelente, não achei que tenha ficado muito parecido ...

Excelente.

"O sonho de Wadjda", 2012, de Haifaa Al Mansour  - Filme saudita que retrata a opressão de uma sociedade extremamente conservadora através do sonho de uma menina de 12 anos: ter uma bicicleta. O que não é praticamente nada para tantos ao redor do mundo, para ela assume uma aura contestadora de desafio aos costumes rígidos guiados pelo corão. Um daqueles filmes aparentemente simples que, em suas entrelinhas, contam muito sobre a conjuntura social e política da região em que foram produzidos. Foi o primeiro filmado inteiramente na Arábia Saudita, que não possui nem mesmo salas de exibição em seu território – isso explica, em parte, o fato da película existir, mesmo tendo sido dirigida por uma mulher, que por lá não tem o direito dirigir nem mesmo automóveis.

Assisti no Cinema Vitória, do centro de Aracaju, que tem uma programação alternativa. Excelente poder ver em tela grande, por aqui, produções diferenciadas de cinematografias que fogem do circuito dos blockbusters.

Muito bom.

"Bonitinha, mas ordinária", 2008, de Moacyr Góes – Equivocada adaptação da célebre peça de Nelson Rodrigues. O principal equívoco, que compromete toda a obra, é a ambientação atual da história, o que destrói completamente a premissa principal: quem, em sã consciência, poderia acreditar que, nos dias de hoje, um pai rico se daria ao trabalho de lançar mão do expediente de comprar um marido para salvar a “reputação” de sua filha, currada num baile funk caricato de uma favela filmada “pra gringo ver”? Confesso que me esforcei pra entender a opção como uma espécie de “licença poética”, mas não deu: ficou tudo irreal demais, deslocado. A linguagem do autor é por demais ligada à sua época, anterior à revolução sexual e dos costumes. Ainda funcionava para o arcaico Brasil dos anos 70, mergulhado nas trevas da ditadura militar – quando nem mesmo o divórcio ainda era permitido por lei! – mas hoje, em pleno século XXI, não mais. É evidente que temos ainda forte presença, em nosso caldo cultural, do moralismo religioso e da hipocrisia burguesa, magnificamente retratados na obra, mas o enfoque teria que ter sido outro. Porque os tempos são outros: muito mais confusos, velozes e contraditórios. Se adaptação seria tão literal, inclusive na reprodução dos diálogos, a ambientação teria que ter sido mantida.

Fora isso, a direção é ruim. Simples assim. Acabou com toda a sutileza do texto, transformando malandragem em canastrice. Uma pena. Um grande desperdício de dois grandes talentos, de Leandra Leal e de João Miguel.

Fraco. 

"Reds", 1981, de Warren Beatty – A recente leitura do clássico “10 Dias que abalaram o mundo” me levou a querer rever esta competente cinebiografia do jornalista/ativista comunista norte-americano John Reed cometida em 1981 por Warren Beatty. Apesar de um tanto quanto esquemática e acadêmica, com um ritmo por vezes arrastado, combina muito bem o depoimento de testemunhas oculares da história, certamente aproveitando o fato de que muitas delas ainda estavam vivas, apesar da idade avançada, com uma primorosa reconstituição histórica - especialmente perfeita a representação na tela da figura de Zinoviev, um dos mais importantes – e controversos – líderes do Partido Bolchevique. Joga a favor do filme o fato de que o personagem retratado era um destemido aventureiro que desafiava, com seu comportamento e o de sua companheira, a também jornalista Louise Bryant, a moral e os costumes conservadores de sua época. Juntos, eles estiveram presentes em alguns dos fatos mais importantes da história do século XX.

John Reed faleceu em Moscou, vítima de tifo, aos 44 anos. Trata-se do único estrangeiro que, morrendo na União Soviética, teve seu corpo enterrado com grandes honras nas muralhas do Kremlim, ao lado do mausoléu de Lenin.

Bom.

A.

#