Foto por Hugo Daniel |
Foi ótimo, claro. Estávamos com saudade. Tocaram com a
Renegades, os “anfitriões”, e com uma banda nova chamada Amandinho, que saiu do
Recife com destino ao mundo numa “cruzada contra o rock de arena” – seja lá o
que isso queira dizer. Banda nova, “instigada”, fez um bom show, energético –
mas meio chato nas partes mais “viajantes”.
Adolfo Sá ficou sabendo da novidade e, num timing perfeito,
fez uma excelente – e necessária - entrevista com a snooze que eu,
preguiçosamente, reproduzo abaixo – a postagem original está em http://blog.vivalabrasa.com/
Quando começaram a tocar juntos, os irmãos Fábio Oliveira e Rafael Júnior eram apenas moleques que curtiam Pixies, Sonic Youth e Hüsker Dü. Fabinho tinha 14 anos na gravação da primeira fita demo e Rafael divulgava a banda através de cartas. Mesmo vivendo numa cidade pequena e distante dos grandes centros como a Aracaju dos anos 90, quebraram barreiras: emplacaram clipe na MTV, participaram de coletâneas nacionais e foram trilha sonora em comercial de surf.
Quando começaram a tocar juntos, os irmãos Fábio Oliveira e Rafael Júnior eram apenas moleques que curtiam Pixies, Sonic Youth e Hüsker Dü. Fabinho tinha 14 anos na gravação da primeira fita demo e Rafael divulgava a banda através de cartas. Mesmo vivendo numa cidade pequena e distante dos grandes centros como a Aracaju dos anos 90, quebraram barreiras: emplacaram clipe na MTV, participaram de coletâneas nacionais e foram trilha sonora em comercial de surf.
Mais de duas décadas, três álbuns e inúmeras formações
depois, a Snooze tá saindo de um longo período de hibernação. O último show foi
em 30 de dezembro de 2014, na Festa da Antevéspera. O motivo é que seus
integrantes são músicos requisitadíssimos. Rafael é baterista do Ferraro Trio,
Maria Scombona, Classex Brothers, toca em bares acompanhando Julico dos Baggios
e ainda participa de algumas apresentações da Orquestra Sinfônica de Sergipe.
Fábio já foi professor de contrabaixo no Conservatório, volta e meia acompanha
nomes como Patricia Polayne, Nino Karvan, Deilson Pessoa e Paulinho Araújo. O
guitarrista Luiz Oliva, caçula do grupo, é engenheiro de som, produz discos e
faz mesa em shows e festivais.
VIVA LA BRASA - A demo que vocês lançaram em 95 abriu muitas
portas numa era em que a internet ainda não tava tão disseminada e as
informações não eram tão disponíveis…
RAFAEL JÚNIOR - Sim, a gente utilizava correios e telefone,
não tinha internet. Fizemos de forma despretensiosa, não sabíamos onde ia dar,
mas eu acompanhava o movimento dos zines e sabia que a qualidade da demo era
muito boa. Mesmo assim foi surpresa ver tantas resenhas positivas em jornais e
revistas como Folha de SP, Estadão, Rock Brigade etc.
VLB - Quando lançaram o primeiro álbum em 98 vocês fizeram
uma turnê pelo sudeste. Como foi gravar o disco de estreia por um selo paulista
e fazer esse rolê?
RJ - Marcelo Viegas, do selo Short Records que hoje é editor
de livros pela Ideal, desenvolveu uma empatia com a banda logo no início e
ficamos bem amigos. Ele foi o canal pra coletâneas, matérias, além de ter
lançado os dois primeiros discos. Articulou parte da tour no sudeste também,
hospedou a gente e tal. Mas antes dessa viagem já tínhamos viajado o nordeste
inteiro por 3 anos seguidos. Só não visitamos São Luís no Maranhão. Fomos pro
Piauí de carro, fazíamos 4 cidades de quinta a domingo, show em Salvador direto…
Então a gente já tinha uma estradinha. No lançamento do disco em 98 passamos
por Niterói no Rio e tocamos em São Paulo, São Bernardo do Campo e Jundiaí.
Anos depois também fizemos Sorocaba e fomos em Goiânia duas vezes, através do
pessoal da Monstro Discos.
VLB - Lembranças especiais, já que Daniel, guitarrista da
banda falecido em 2010, também tava com vocês?
RJ - Daniel cativava a todos com seu jeito tímido e na dele,
mas soltava os cachorros com as guitarradas no palco… Era bem brincalhão nas
viagens.
VLB - Fabinho, como foi crescer na Snooze?
FÁBIO OLIVEIRA - Dá uma sensação boa olhar pra trás e a
história da banda se confundir com minha própria história pessoal. Isso também
é refletido no decréscimo da produção, na medida em que fui envelhecendo, o que
é a parte chata mas, enfim, faz parte quando a premissa foi sempre ser um hobby
levado a sério, e não meio de vida.
VLB - Luiz, como você entrou na banda?
LUIZ OLIVA - Em 2004, eu tocava na Triste Fim de Rosilene e
fizemos uma minitour por São Paulo. Fabinho tava morando lá e foi ver o show,
fomos apresentados e no dia seguinte nos encontramos por acaso numa loja de
discos. Eu tinha 18 anos e tava imerso no circuito hardcore. Fabinho era o cara
da Snooze e foi massa conhecê-lo naquela situação, já que eu tinha o maior
carinho e respeito pela banda que conheci por causa da minha irmã Kika, que me
apresentou a demotape quando eu era guri. Tempos depois, de volta a Aracaju,
Fabinho apresentava o Programa de Rock junto com Adelvan Kenobi, eu tava no
quarteto instrumental Perdeu a Língua e fomos convidados pra uma entrevista.
Durante a conversa, surgiu o convite pra tirar um som com a Snooze. Isso
aconteceu em 2007 e entrei na banda logo no primeiro ensaio.
VLB - O EP "Empty Star" é a única gravação com
você na banda?
LO - Gravamos tributos pro Second Come e Pastel de Miolos.
Poucos registros em estúdio, mas temos novas ideias e composições. Nunca
conseguimos nos organizar pra gravar um novo disco, mas o ímpeto existe e penso
que isso pode acontecer a qualquer momento.
FO - Eu tenho um quarto disco na cabeça há uns bons anos, e
parei de me preocupar. Quando chegar a hora a gente vai gravá-lo e vai ser bem
diferente de tudo que a banda fez até hoje.
VLB - Como cada disco marcou vocês, já que foram gravados
entre grandes intervalos de tempo e com diversas formações?
FO - À medida que convive com pessoas diferentes, que se
tornam próximas, sua personalidade também vai mudando. Com certeza existe um
Fabinho em cada um dos trabalhos…
RJ - Todos os músicos que passaram deram sua influência,
isso é um processo bem natural. A única formação meio criticada pelos fãs mais
antigos foi sem a presença de Fabinho, ele continuava na banda mas tava morando
em SP e era importante manter a atividade naquele momento específico em que
lançamos o terceiro álbum.
VLB - Rafael, voce sempre foi um cara muito ativo: é
bombeiro, surfista fissurado, pai de 3 filhos e toca com meio mundo de gente.
Como arruma tempo e disposição pra tanta coisa?
RJ - Sou músico full time e é o que sei fazer na vida.
Encontrei remuneração fixa na área através de concursos públicos, em 1995 pra
Orquestra e em 2002 pra Banda de Música do Corpo de Bombeiros. Sempre conciliei
essas atividades com o surf e a criação dos filhos, tocando com artistas que me
chamam e em casas noturnas e bares. Paralelamente, também dou aulas. Entre 2007
e 2013 ainda encontrei tempo pra fazer graduação em Música pela UFS.
VLB - Fabinho também tem formação musical, além de
Psicologia, confere?
FO - Confere, mas ainda sou formando em licenciatura em
Música. Também dei aulas de inglês e atualmente sou coordenador musical no
Sesc.
VLB - E Luiz se especializou em engenharia de som…
LO - Eu já brincava com áudio desde moleque, quando comecei
a tocar aos 13 e gravar minhas idéias em K7 num microsystem Aiwa que tinha uma
entrada de microfone e num gravador de jornalista que me permitia gravar
ambientes na rua. Logo depois chegou o computador e pude implementar a danação.
Em 2009 me candidatei a uma vaga de estágio na Fundação Aperipê, logo após ter
feito o curso de desenho de som e captação de som direto no Núcleo de Produção
Digital Orlando Vieira, e foi aí que a parada ficou mais séria. Fui selecionado
e depois de um ano de trampo meu ex-chefe saiu e fui convidado a assumir o
lugar dele. Fiquei lá até 2012, tive a chance de aprofundar meus conhecimentos
em diversos segmentos da produção de áudio e aproveitava todas as férias e
folgas pra fazer cursos dentro e fora do estado. Entre o som ao vivo, estúdio e
audiovisual, pude trabalhar com orquestra sinfônica, grupos folclóricos, bandas
do pé-de-serra ao thrash metal, documentários e longas-metragens.
VLB - O clip de "704", cover do Second Come, foi
gravado no seu estúdio em casa?
LO - Eu tinha acabado de me mudar pra um apartamento e o
registro aconteceu nesse fluxo. Tudo muito simples, filmamos com uma condição:
os takes que constam no vídeo deveriam ser os mesmos da faixa gravada. Sem
dublagem. Elialdo Galdino, grande comparsa e editor deveras competente, foi o
responsável por tornar a ideia possível. O Second Come é uma banda histórica e
o tributo saiu pela Midsummer Madness, do Rodrigo Lariú.
VLB - A clássica pergunta: por que cantar em inglês? Sei que
vocês não gostam dela e que a Snooze surgiu num período em que as guitar bands
brasileiras procuravam mesmo se distanciar do "Rock Brasil" dos anos
80. Mas nunca surgiu a inspiração pra uma letra em português?
FO - O que posso dizer é que, apesar de não ser minha língua
mãe e eu nem sequer ter morado na gringa, as letras em inglês soam pra mim
naturais, descobri esse universo através dos discos. O rock brasileiro eu já
havia esgotado na pré-adolescência, então tudo o que soava e eu internalizava
era em inglês. Então é meio fazer algo que você já tem prática. Compor em
português seria começar do zero e, não, não estou interessado.
VLB - As letras da Snooze são existenciais e sentimentais.
Como é tocar num evento mais engajado e combativo como o Clandestino? Onde
essas linhas se cruzam?
FO - Nossa linha de combate é o rock, quer mais? 20 anos de
suicídio comercial e você quer mais? Brincadeiras à parte, nós fomos convidados
pra tocar na última edição com o Wry, mas a data chocou com minhas atividades
no Sesc. Ficamos felizes com a insistência e o convite pra esse agora.
LO - Toquei a primeira vez no Clandestino em 2014, numa
edição especial da Triste Fim de Rosilene e Karne Krua. Aconteceu no half pipe
do conjunto Inácio Barbosa e foi surreal! Chego junto com o projeto sempre que
posso, realizei um minidocumentário da décima edição, gravei o áudio de outras
tantas e só de comparecer e ocupar os espaços já sei da importância que isso
confere. O hardcore exerceu uma influência brutal na minha vida. Aos 17, quando
recebi o convite do Ivo pra entrar na TFR, eu era o típico moleque que não
tinha família com condições pra me bancar e tocar guitarra era a melhor coisa
que eu sabia fazer. De cara, me vi inserido num circuito articulado, que se
nutria do faça-você-mesmo e que prezava por uma vida mais simples e autônoma.
Conservo essas posturas até hoje e entendo a capacidade de articulação que só
os coletivos podem exercer. É massa perceber que estamos na ativa e podemos
contar uns com os outros até hoje.
RJ - Adorei o convite pro Clandestino, é um evento autêntico
e honesto, feito por pessoas que confiamos e também admiramos. Acho que vai ser
bem legal e é uma oportunidade pro pessoal mais novo que nunca viu a banda, já
que a gente tem tocado tão pouco.
VLB - Vocês imaginavam que aquela banda de irmãos que
ensaiavam no quarto se tornaria cult 20 anos depois?
FO - Era tão espontâneo que a gente nem pensava. Fazer
planos era mais no nível do fantástico do que realidade.
RJ - Às vezes acho até graça e penso que é supervalorizada,
sei lá. Nossos fãs acabam se tornando amigos. Por outro lado, tem uma galera
nova que não faz ideia de nada, o que já fizemos e por onde andamos. Pra mim o
meio termo tá bom. Fizemos nossa parte e de alguma forma abrimos caminho pra
uma galera que tá aí.
VLB - O que vem pela frente pra Snooze?
LO - A Rússia invadindo ou não o Brasil, vamos fazer um show
irado no Clandestino!
RJ - Espero que venha mais material novo e não apenas shows
saudosistas. Aviso que tá confirmada a Festa da Antevéspera dia 30/12, nos
encontramos lá!
DISCOGRAFIA
Snooze (demotape) - 1995
Waking Up… Waking Down (álbum) - 1998
Let My Head Blow Up (álbum) - 2002
Snooze (álbum) - 2006
Empty Star (EP) - 201
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