Digo isso de forma absolutamente lúcida, pensada e
repensada, e sem nenhum resquício de “bairrismo”. Pois bem: estabelecida esta
verdade irrefutável, de fácil comprovação por qualquer um que se disponha a
conhecer a música deles, devo dizer que acabaram de lançar o melhor disco já produzido
por aqui. Ponto, de novo.
“Dias difícil no Suriname” teve uma longa gestação: começou
a ser gravado em maio de 2012 e só foi finalizado dois anos depois. No
processo, a banda perdeu um de seus principais componentes, o guitarrista Julio
Andrade, que saiu para se dedicar a seu projeto principal, o duo The Baggios.
Como fã, fiquei preocupado, pois era notória, nas apresentações que se
seguiram, a dificuldade dos caras em se adaptar à uma nova formação, mais
enxuta – normal, não deve ser fácil substituir um guitarrista como Julico. Mas
sempre botei fé que iriam se ajustar. Só não sabia se a tempo de não prejudicar
o novo álbum em gestação ...
Pois bem: o disco foi lançado há alguns meses, de forma
virtual, e foi uma agradável surpresa. É magnífico! Já começa escancarando uma
de suas principais influências, na “stoneana” “Todo pecado do mundo”, que abre
com um excelente riff de guitarra. Julico toca nela e em mais quatro faixas. Em
outras três, o auxílio vem de Rafael Costello, membro fundador, hoje morando em
São Paulo. Little Mel, da Máquina Blues, aparece em “Labirinto”, e Fabrício
Rossini em “A esperança”.
Foi assim, com uma ajuda providencial de amigos e
ex-integrantes pra lá de talentosos, que a Plástico lapidou esta verdadeira
obra-prima da música independente local. Que prossegue com uma velha conhecida,
já lançada como single, a belíssima “Mar de leite azedo”. “Sentado no
Arco-iris”, a terceira faixa, comprova, de certa forma, o talento dos caras, pois
é uma composição de dois ícones do rock brazuca, Raul Seixas e Gileno Azevedo
(da dupla “jovemguardista” Leno e Lillian), mas parece deles – e não sou só eu
que tenho essa impressão: até hoje vejo gente se surpreender ao saber que se
trata de um cover. É, também, uma faixa
bônus para quem comprar o disco físico, em CD, já que não havia feito parte do
lançamento virtual por conta de imbróglios com a liberação dos direitos
autorais.
O disco prossegue com “Cancioneiro”, uma robusta composição
de Julico cantada por Marcos Odara, o baterista, que bate um bolão também como
vocalista. É uma banda, aliás, que tem bons vocalistas de sobra – além de
Daniel e Odara, Plástico Jr. também costuma entoar suas próprias composições.
“Algo forte” dá prosseguimento à viagem sonora de volta ao
rock mais “hard”, com sensacionais riffs e solos de guitarra – quem? Ele, de
novo. Julico. Mas a disputa é boa e Rafael Costello dá mais uma vez o ar de sua
graça com mais uma levada tipicamente “stoneana” em “Persona non grata”. O solo
é absolutamente sensacional, totalmente na tradição do melhor do rock
“setentista”.
E então temos a mais pesada, “Quase desisto”, outra
excelente composição de Julico, e “Nem aí”, mais uma de Junior – com uma letra
totalmente “foda-se”, rock and roll! Encerrando tudo, a belíssima “A
esperança”, levada no violão. Sintomático que o disco acabe com uma música com
este nome. Temos esperança de que os dias passem a ser mais tranqüilos no
Suriname e a banda siga em frente, apesar das dificuldades ...
“Dias Difíceis no Suriname”, o disco – físico, em CD - foi
lançado em grande estilo no dia primeiro de novembro com uma apresentação
concorrida no Teatro Atheneu. A gravadora promete para o início do ano que vem
uma edição em vinil. Merece muito, tanta pela música, que soa sempre melhor quando
ouvida através de uma agulha, quanto pela espetacular arte de “Cachorrão”.
Já tenho o CD, mas vou querer o LP! E se sair em k7, quero também
...
http://plasticolunar.com.br/
A.
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