segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Dias Difíceis no Suriname ...

Plástico Lunar é uma banda sergipana, de Aracaju. E é uma das melhores bandas de rock em atividade no Brasil. Ponto.

Digo isso de forma absolutamente lúcida, pensada e repensada, e sem nenhum resquício de “bairrismo”. Pois bem: estabelecida esta verdade irrefutável, de fácil comprovação por qualquer um que se disponha a conhecer a música deles, devo dizer que acabaram de lançar o melhor disco já produzido por aqui. Ponto, de novo.

“Dias difícil no Suriname” teve uma longa gestação: começou a ser gravado em maio de 2012 e só foi finalizado dois anos depois. No processo, a banda perdeu um de seus principais componentes, o guitarrista Julio Andrade, que saiu para se dedicar a seu projeto principal, o duo The Baggios. Como fã, fiquei preocupado, pois era notória, nas apresentações que se seguiram, a dificuldade dos caras em se adaptar à uma nova formação, mais enxuta – normal, não deve ser fácil substituir um guitarrista como Julico. Mas sempre botei fé que iriam se ajustar. Só não sabia se a tempo de não prejudicar o novo álbum em gestação ...

Pois bem: o disco foi lançado há alguns meses, de forma virtual, e foi uma agradável surpresa. É magnífico! Já começa escancarando uma de suas principais influências, na “stoneana” “Todo pecado do mundo”, que abre com um excelente riff de guitarra. Julico toca nela e em mais quatro faixas. Em outras três, o auxílio vem de Rafael Costello, membro fundador, hoje morando em São Paulo. Little Mel, da Máquina Blues, aparece em “Labirinto”, e Fabrício Rossini em “A esperança”.

Foi assim, com uma ajuda providencial de amigos e ex-integrantes pra lá de talentosos, que a Plástico lapidou esta verdadeira obra-prima da música independente local. Que prossegue com uma velha conhecida, já lançada como single, a belíssima “Mar de leite azedo”. “Sentado no Arco-iris”, a terceira faixa, comprova, de certa forma, o talento dos caras, pois é uma composição de dois ícones do rock brazuca, Raul Seixas e Gileno Azevedo (da dupla “jovemguardista” Leno e Lillian), mas parece deles – e não sou só eu que tenho essa impressão: até hoje vejo gente se surpreender ao saber que se trata de um cover.  É, também, uma faixa bônus para quem comprar o disco físico, em CD, já que não havia feito parte do lançamento virtual por conta de imbróglios com a liberação dos direitos autorais.

O disco prossegue com “Cancioneiro”, uma robusta composição de Julico cantada por Marcos Odara, o baterista, que bate um bolão também como vocalista. É uma banda, aliás, que tem bons vocalistas de sobra – além de Daniel e Odara, Plástico Jr. também costuma entoar suas próprias composições.

“Quem diria”, que vem na sequencia, é uma emocionante ode ao aconchego do lar, com uma letra singela que Daniel compôs pensando em sua mãe. Emocionante. Daniel é um  compositor de mão cheia e excelente vocalista. Em parceria com Nara Loupe e Verlane Aragão, é o responsável por sete dos doze petardos que compõem o disco. O lado A – o disco foi pensado como um vinil – se encerra com outra dele – e dela, Nara – “Labirinto”, com uma letra psicodélica e surreal embalada por um ritmo cadenciado. Plástico Jr., baixo e voz, abre o que seria o lado B com a também psicodélica “Amanheceremos”, que tem uma perfomance marcante de Leo Airplane nos teclados. Leo Airplane que é, também, o produtor do disco, é bom que se diga...

“Algo forte” dá prosseguimento à viagem sonora de volta ao rock mais “hard”, com sensacionais riffs e solos de guitarra – quem? Ele, de novo. Julico. Mas a disputa é boa e Rafael Costello dá mais uma vez o ar de sua graça com mais uma levada tipicamente “stoneana” em “Persona non grata”. O solo é absolutamente sensacional, totalmente na tradição do melhor do rock “setentista”.

E então temos a mais pesada, “Quase desisto”, outra excelente composição de Julico, e “Nem aí”, mais uma de Junior – com uma letra totalmente “foda-se”, rock and roll! Encerrando tudo, a belíssima “A esperança”, levada no violão. Sintomático que o disco acabe com uma música com este nome. Temos esperança de que os dias passem a ser mais tranqüilos no Suriname e a banda siga em frente, apesar das dificuldades ...

Por fim, é preciso que se fale com um carinho especial sobre a concepção visual do projeto gráfico, com belíssimas artes conceituais produzidas por Thiago Neumann que valorizam muito o produto final. Salta aos olhos, também, a qualidade do material em que o digipack foi impresso. Impecável! Com direito, inclusive, a impressão na parte interna do envelope onde fica guardado o encarte. Um luxo! Bola dentro total da Rock Company, a gravadora paulistana que bancou o projeto.

“Dias Difíceis no Suriname”, o disco – físico, em CD - foi lançado em grande estilo no dia primeiro de novembro com uma apresentação concorrida no Teatro Atheneu. A gravadora promete para o início do ano que vem uma edição em vinil. Merece muito, tanta pela música, que soa sempre melhor quando ouvida através de uma agulha, quanto pela espetacular arte de “Cachorrão”.

Já tenho o CD, mas vou querer o LP! E se sair em k7, quero também ...

http://plasticolunar.com.br/

A.

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