Tenho
aqui em minhas mãos uma charmosa e bem acabada edição de bolso do novo
livro de Yury Hermuche. Trata-se de um interessante apanhado de
divagações aleatórias narradas num fluxo contínuo de pensamento
transposto para o papel – de ótima qualidade e encadernado em lombada
quadrada com uma capa azul piscina muito bonita. A narrativa não é
linear e não há uma história a ser contada, mas ao se deixar
envolver pelo que é dito – e está escrito – faz-se a magia: é como se
você estivesse entrando na cabeça do autor e passasse a compartilhar de
suas angustias, frustrações e sensações: o desejo ao rever uma amiga que
já foi um antigo caso, o vento frio no rosto, a sensação de estar sendo
seguido(a). “A Cidade sob a sombra. Uivos diferentes ecoam das janelas
dos apartamentos e eles são firmes. Viscerais, sensuais demais. A noite é
uma delícia. Você só precisa saber se mover para encontrar o leve vento
frio que sopra contra o rosto. O metal das placas de trânsito rangendo,
as ruas cada vez mais vazias.”Conheci Yury Hermuche ainda na primeira metade dos anos 1990, quando ainda publicava em cópias xerox distribuídas via correio o meu fanzine, “Escarro Napalm”. Ele morava em Brasilia e produzia uns quadrinhos muito bons, com histórias recheadas de sexo, rock e divagações existencialistas. Gostava bastante do traço dele e dele, como pessoa – publicar um fanzine era, em grande parte, uma desculpa para fazer novos amigos para além das fronteiras geográficas às quais estamos presos, em maior ou menor grau. Mas perdi o contato quando parei de “fanzinar”. Só o reencontrei já no século XXI, por acaso, via internet, como guitarrista da banda “indie” paulistana Firefriend. Não sabia que ele também escrevia. Este, “anti-heróis e aspirinas”, já é seu terceiro livro. Foi lançado por uma editora própria, dele e de mais três amigos, chamada “longe”, que você pode conhecer acessando http://muitolonge.com.br/.
Yury é o personagem principal de seu próprio livro. Ele gosta de estradas, não de igrejas. “Uma estrada é tão diferente de uma igreja. As igrejas e os templos também são muito velhos, assim como as estradas. Mas duas coisas não poderiam ser tão diferentes. A estrada é aberta e avança pelo mundo. A igreja é fechada, te esconde do mundo. A estrada te leva para os lugares, permite que você se mova por aí. A igreja não te leva para lugar nenhum, você entra e sai exatamente da mesma forma todos os dias. A experiência na igreja é totalmente abstrata: você visita as vastidões com as palavras. Mas falam de um mundo muito pequeno. Na estrada, a experiência suga a energia do seu corpo, você pode morrer se não for cuidadoso. E o mundo é enorme. A igreja responde, a estrada pergunta. Para onde você quer ir? A estrada não o julga.”
Yury está nesse mundo para aumentar o caos, não para contribuir com a ordem.
http://www.youtube.com/
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