quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Há uma luz que nunca se apaga
Lux Interior R.I.P.
Erick Lee Purkhiser, mais conhecido pelo codinome de Lux Interior - o famoso incendiário vocalista da banda americana The Cramps - faleceu ontem (04/fev) na Califórnia vítima de problemas cardíacos. Lux já estava com 62 anos, mas ainda continuava excursionando com a banda.
O Cramps surgiu em Nova Iorque na segunda metade dos anos 70 juntamente com toda a cena que se reunia no lendário clube CBGB. Sua mistura de rockabilly com punk rock logo ganhou o nome de "Psychobilly", embalado ainda mais pelas letras das músicas que falavam sobre zumbis, monstros, seres de outros planetas, rock'n'roll e garotas usando biquini com metralhadoras nas mãos.
Entre os diversos clássicos da banda estão "Can Your Pussy Do the Dog?", "Human Fly", "I Was A Teenage Werewolf" e é claro "Bikini Girls With Machine Guns". Lux deixa a sua esposa Poison Ivy, guitarrista e também líder do The Cramps, da qual ele era praticamente inseparável. Infelizmente a banda nunca se apresentou no Brasil.
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Um herói do rock, de salto e calcinha
"EU GOSTAVA dos B-52's até descobrir que, de dia, eles tiravam as perucas. Então perdi o interesse."
Lux Interior, vocalista dos Cramps, conversa com o amigo André Barcinski enquanto dirige do aeroporto de Los Angeles até a casa em que vivia com a mulher, Poison Ivy, guitarrista da banda. É a mesma casa de Glendale, região de L.A., onde Lux morou até morrer do coração, na semana passada, aos 62 anos.
Essa história de 2001 resume a trajetória demencial de Lux e os Cramps. Lux era de verdade, no palco ou fora dele. Foi buscar o Barça com a mesma calça justíssima de vinil e os mesmo sapatos femininos de salto muito alto e fino que usava nos shows. Em casa, nenhum objeto fabricado depois de 1962. Nem a TV.
Quem deveria estar escrevendo esta coluna é o Barcinski, o brasileiro que teve mais contato com os Cramps, em shows, entrevistas e tentativas de trazê-los ao país. Quase vieram em 92, para fazer um clipe dirigido pelo Zé do Caixão (a ideia de juntar Cramps e Mojica foi deste que vos escreve, modéstia à parte).
Se bobear, Cramps foi a banda que mais vi ao vivo. Em Boston, duas vezes, em San Francisco, trocentas, acho que em Londres também.
O clima era de abandono e descontrole. Lux vestia sempre calça de vinil preta de cintura ultrabaixa. Jaqueta de vinil também, aberta, sem camisa. E os tais sapatos de mulher.
De cara, se atirava na plateia. Passava o microfone por dentro das calças. Engolia o mesmo microfone na sequência. Beijava pessoas na boca aleatoriamente. Terminava só de calcinha.
O som era surf music com punk com blues. Fanáticos por filmes B, obcecados por fetiches sexuais, os Cramps eram a essência primal do rock and roll.
Se você nunca os viu, não sabe o que é rock.
Álvaro Pereira Júnior.
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