OBS: Marcio Sno não é a garota, o garoto nem o cachorro da foto abaixo.
By (em ingrês é mais chique) Adelvan Kenobi
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Escarro Napalm - Vamos começar sendo didáticos?
Marcio Sno - Bóra, você é quem manda!
EN - Já que você é o cara quando se fala em divulgação da arte de se fazer fanzines (e não me venha com falsa modéstia), explique para a nossa meia dúzia de eventuais leitores o que vem a ser um fanzine, qual a idéia por trás da coisa, e como era/é produzido, divulgado e distribuído.
Sno - Menos, menos, meu caro! Existem nomes muito mais importantes que eu na arte de fazer e explicar fanzines… Mas vamos lá! Eu disse que você é quem manda, então, obedeço!
O fanzine, a grosso modo, seria uma espécie de “revista independente”, um meio de comunicação alternativo feito por pessoas que não se contentam em ficar de apenas um lado da notícia (leitor) e passam a ser produtores de informação, ou seja, editores de fanzines.
Nesses veículos, são divulgados, em sua maioria, artistas da cena underground, como músicos, poetas, quadrinistas, escritores, entre outros. Isso não impede que também sejam divulgados artistas do mainstream e assuntos além do submundo: principalmente nos que tem linhagem anarco-libertária, são discutidos assuntos da atualidade, mas sempre com uma visão diferente dos grandes meios de comunicação, mostrando um outro lado da notícia.
O fanzine em papel era e é feito de forma artesanal. Até meados dos anos 1990, a comunicação funcionava via carta, nosso computador era a máquina de escrever e nosso e-mail marketing era o flyer (uma espécie de cartão de visitas que circulava entre as cartas). Era tudo na unha, na raça. Pra quem hoje vê como a coisa funcionava, pode não acreditar, mas era assim mesmo: todo mundo se conhecia pelo correio, as bandas independentes faziam a trilha sonora e os fanzines eram o nosso meio de divulgação.
A gente recebia os materiais e fazia resenhas, entrevistas etc. e tal, datilografava e diagramava ao mesmo tempo, recortava, colava imagens, fotos, textos e chegava ao chamado original, que era copiado em xérox e distribuído via correio, em shows, eventos, reuniões ou colocados em alguns pontos estratégicos para serem vendidos ou mesmo dados.
EN - Como surgiu e idéia de registrar através de um documentário a obra dos “Fanzineiros do Século Passado”?
Sno - Na verdade a ideia desse documentário veio bem antes, lá por volta de 2006, quando eu estava na faculdade de jornalismo e era época de pensar no que produzir como trabalho de conclusão de curso no ano seguinte. Nessa época eu já tinha feito a cartilha Fanzines de Papel, que foi uma pesquisa que fiz sobre fanzines e, para mim, até então, o assunto “fanzine” já tinha se esgotado se fosse lançado em forma de monografia, não haveria o desafio no TCC. Só faria sentido manter o tema se eu fizesse um documentário a respeito. Mas para isso me faltava técnica (ainda falta), equipamento, tempo e grana para poder gravar com as pessoas que eu achava interessante. Então, foi shift+del para essa ideia.
No ano passado, a ideia retomou em minha cabeça após algumas conversas por telefone com José “Zinerman” Nogueira (Delírio Cotidiano), que fez com que eu resolvesse tirar essa proposta do fundo da gaveta do meu inconsciente. Mas eu não queria ser o único responsável por essa história: queria envolver o máximo de pessoas possível nessa aventura e bolei um projeto e distribuí por e-mail para os meus contatos dos fanzines. O retorno foi quase que imediato e total: todo mundo queria colaborar, dar depoimento, ajudar de alguma forma.
Um dos principais quesitos desse projeto era não ter deadline, pois todos nós crescemos, montamos famílias, ganhamos mais responsabilidades e pedir prazo para zerar um documentário feito sem fins lucrativos e nenhum incentivo financeiro, seria declarar um natimorto. Aí foram surgindo várias pessoas de todo canto do país para registrar imagens de determinadas localidades, como numa espécie de centrais regionais. Porém, por conta de todas essas responsabilidades que falei, isso ainda não se solidificou como eu imaginava, mas ainda acredito que isso ainda vai rolar.
Um grande amigo meu, que fez comigo o documentário INGs – Indivíduos Não Governamentais, Averaldo Rocha, tinha acabado de adquirir uma câmera fodona e me deixou usar como e onde eu quisesse. Só para ter uma ideia, ele nunca usou a máquina, podemos dizer que eu acabei com a virgindade dela! Bem, o principal eu já tinha e agora era botar a ideia em prática! E passei a gravar da minha forma, do meu jeito e com a minha técnica limitada, junto com meu filho Calvin, que me acompanhou na maioria das gravações que, além de me ajudar, pôde conhecer mais de perto a vida que me meti antes de ele nascer.
O primeiro entrevistado foi o Leonardo Panço e, até agora, consegui gravar 21 depoimentos e mais um gravado pelo Pedro de Luna.
EN - E os “fanzineiros deste século” existem? Ou seriam os blogueiros os novos fanzineiros?
Sno - Seria um pouco dos dois! Pode parecer estranho você pensar que ainda exista neguinho que nade contra corrente, publicando em formato impresso, quando se tem uma internet toda, lhe dando de mão beijada todos os recursos do mundo para você criar um veículo de comunicação. Mas ainda existem muitos fanzines na ativa até hoje, como é o caso do Juvenatrix do Renato Rossati (que tem centenas de exemplars lançados) e o Aviso Final do Renato Donisete, que acabou de completar 20 anos de existência! Também tem os clássicos QI de Edgard Guimarães e Top! Top! de Henrique Magalhães. Também têm os que começaram a fazer agora, como o Ricardo Chakal, com o Social Agression e o Diego El Khouri com o Cama Surta.
Apesar de todas essas boas notícias para o impresso, sejamos realistas: a produção de fanzines caiu drasticamente e boa parte dos fanzineiros migraram para os blogs ou simplesmente abandonaram tudo. Outros, para manter parte da característica dos impressos, distribuem os fanzines em formato pdf, para a pessoa baixar, imprimir e ler.
Curiosamente, muitos dos blogueiros que surgiram a partir dos anos 2000, têm em sua produção características semelhantes aos fanzines, porém, nem todos têm essa noção.
Por um outro lado, noto uma nova volta dos fanzines, por um caminho um tanto diferente do que se possa imaginar: muitos educadores e professores estão utilizando o fanzine como ferramenta para ajudar na formação de crianças e jovens, dentro do que se conceituou chamar educomunicação. Eu mesmo dei oficina para educadores da ONG onde eu trabalho, e eles multiplicaram para os seus educandos, que piraram na ideia, eles não conheciam o fanzine e acabaram adotando o agora “método”, para expor suas ideias e até mesmo reivindicar coisas em sua comunidade. E percebo que isso vem acontecendo em diversos lugares, como a exemplo de Gazy Andraus e Elydio dos Santos Neto, ambos doutores, que aplicam a técnica do fanzine para mestrandos na área de educação! Fernanda Meireles é uma pessoa que viaja o país dando oficinas de fanzines para diversos públicos em diversas realidades. Direto recebo e-mail de professores e pesquisadores querendo saber mais sobre fanzines, para ajudarem em suas teses e para aplicar com seus educandos.
Não vou me atrever em falar que os fanzines terão o mesmo gás dos anos de 1980, 90, mas, por conta dessa utilização educacional, ele vai demorar um pouquinho mais para sumir. E acho que vai conviver harmoniosamente com a internet e os blogs.
EN - Quais as principais dificuldades, técnicas e/ou conceituais que você teve para produzir o documentário?
Sno - Técnicas, todas! Afinal de contas, o que sei de gravação de imagens é o básico: dar play e mandar ver. OK, estou exagerando um pouco, mas é mais ou menos isso mesmo. Não utilizei iluminação, usei a luz ambiente. Isso prejudicou no resultado final de alguns personagens.
Outra coisa atrapalhou bastante foram os ruídos em algumas gravações, que prejudicaram alguns depoimentos, como no caso da Thina Curtis e do Gazy Andraus.
No caso do conceitual, a coisa veio meio que naturalmente. As perguntas foram meio que padronizadas, só em alguns casos que abordei outros assuntos. Quando já tinha essa totalidade de depoimentos acumulados, fui convidado para participar do 1° Ugra Zine Fest e um dos organizadores, o Douglas, perguntou se eu queria levar uma prévia do doc pro evento. Topei em fazer um apanhado. Mas durante a edição gostei tanto do resultado final, que resolvi pensar diferente: a ideia inicial era fazer um documentário único, com todos os depoimentos que eu iria colher pelo Brasil afora, por intermédio dos colaboradores, coisa e tal. Mas decidi lançar esse que seria uma prévia como o “Capítulo 1”, e dividir o doc em assuntos. Primeiro porque acho que seu fosse lançar conforme a ideia inicial, iria dar mais de duas horas, e pra segurar alguém em frente à tela por esse tempo todo, o cara tem que ser profissional, o que não é meu caso. E depois porque diminui um pouco a minha ansiedade e a do povo em geral que sempre pergunta “quando é que vai sair o doc?”. E acho que vai ser mais light pra todo mundo e talvez a pressão seja menor. E isso já é um grande ponto, pois por conta de algumas cobranças no meio do caminho, quase desisti, pois a partir do momento que rola a cobrança, a coisa passa a se tornar obrigação e aí o tesão vai embora. Deixei o documentário de molho por dois meses, para me livrar do peso da cobrança e depois que a poeira abaixou, passei a dedicar-me ao doc com mais carinho e cá estou.
EN - Há um bom número de gente já devidamente registrada nos depoimentos, como foi a logística para chegar a este povo todo? Os que não moram em SP, como obteve os depoimentos deles?
Sno - Boa parte do pessoal que está nesse primeiro capítulo são daqui, de São Paulo, aí foi mais no esquema de agendar mesmo e ir na casa de cada um para gravar. Mas no caso do Leonardo Panço (RJ), Fellipe CDC (DF), Daniel Villa Verde (RS), Gazy Andraus (Santos), aproveitei a vinda deles pra cá para fazer os registros, afinal não tive oportunidade de fazer viagens por enquanto. Sempre fico de olho em alguém que vem pra cá pra marcarmos. Agora haverá dois eventos em SP que trará pessoas de fora: o Prêmio Angelo Agostini e o Ugra Zine Fest. E eu pretendo levar a câmera na bolsa, o tripé e mandar ver!
EN - Existe alguma “meta” a ser alcançada no sentido de quantos e quem entrevistar? Caso positivo, como pretende cumpri-la – pretende viajar para colher depoimentos Brasil afora?
Sno - Talvez uma das metas é conseguir entrevistar as pessoas que considero “chave” dentro do universo dos zines. As que tiveram uma representatividade considerável no que se diz a respeito de zines. E talvez são as que mais terei dificuldades de conseguir pela distância e disponibilidade. Mas ainda teremos muito tempo para isso!
Outra meta é tentar com essa coleção de capítulos mostrar o que é definitivamente fanzines e o maior número de assuntos possíveis.
Mas o que eu queria mesmo é que acontecesse o lance de ter “pólos” em diversos lugares do país para, de fato, realizar um trabalho de equipe.
Puxa, viajar pelo Brasil para pegar depoimentos, eu pretendo sim! Mas estou com meus pés bem no chão. Esse trabalho não me trará nenhum retorno financeiro, muito pelo contrário, esse doc só aconteceu porque investi nele, com grana (para comprar fitas, bancar gasolina, passagem, energia elétrica) e com meu trabalho na captação de imagens, edição, que tomaram boa parte do meu tempo e que me privou, por exemplo, de estar junto com minha família.
Quero muito cair numas loucuras de pegar um final de semana e ir, por exemplo, para Aracaju e entrevistar figuras como Adelvan Kenobi, Rafael Jr., Adolfo Sá, Sylvio e outras figuras que movimentaram o underground sergipano. E fazer o mesmo no Rio, Curitiba, Joinville… Mas sei que isso é um sonho remoto, mas não custa pensar que isso pode sim acontecer.
EN - Quais os seus planos para o documentário, depois de pronto? Como pretende divulgá-lo e distribuí-lo?
Sno - Assim que acabar tudo, talvez nunca mais quero falar sobre fanzines! Uma vez na minha vida, pensei que nunca mais ia me envolver no assunto, mas como se pode perceber, estou comprometido até a testa!
A divulgação, já está sendo feita e a cada capítulo lançado, será da mesma forma: enviando para amigos, revistas, jornais, TVs, festivais, e o que mais aparecer para colocar a história para circular.
Por enquanto, estou distribuindo via carta e de mão em mão. Vou usar esse processo para as primeiras 300 cópias. Já distribuí quase 100. Depois, ou até antes de zerar as cópias, vou disponibilizar na internet pro pessoal baixar mais facilmente. Afinal, meu bolso ficará mais feliz também!
No finalzão disso tudo, quando não tiver mais assunto pra colocar, pretendo juntar tudo isso num só DVD. Aí sim, pretendo investir bastante para ter um material bacana, com encarte cheio de páginas, e tudo mais que se tem direito! Mas isso só vou me preocupar lááá na frente!
EN - Quais foram os fanzines que você publicou, até onde eles chegaram e qual o retorno que você teve de todo este trabalho?
Sno - Bem, meu primeiro fanzine foi o que mais me trouxe retorno: o Aaah!!, lançado em 1993. Ele durou 6 edições e teve diversos formatos e números de páginas, uma das edições chegou a ter 120 páginas e um miniposter. Também editei o Don’t Worry!!, em conjunto com a minha então namorada Joelma (que hoje é minha esposa). Nesse meio-tempo lancei o erótico Pleasure, que teve duas edições. Mais tarde, já casado e com filho, lancei o fanzine de bolso Ejaculação Precoce, que a partir da terceira edição passou a chamar Lady Die! e acabou na quarta edição. Quando tudo relacionado a zines para mim já fazia parte do passado, o Xan Brás me chamou para dar uma oficina de zines no Sesc Barra Mansa e foi quando eu lancei a primeira edição da cartilha Fanzines de Papel (que teve a segunda edição revista e ampliada em 2007 – e hoje é uma referência para quem pesquisa sobre zines). Com o calor dos fanzines de volta, lancei duas edições do Arreia!, que talvez seja o que achei mais legal, no que pude explorar o que mais gosto de fazer: entrevistas. Paralelo a isso tudo, colaborei para diversos zines de diversas temáticas, estados e países, com textos, desenhos, entrevistas e o que mais coubesse.
Nessa minha carreira, fiz contato com muita gente, que colaborou nos meus zines, mandou material de suas bandas, seus desenhos e poesias. Pessoas de todos os tipos, formatos, ideologias que se possa imaginar! Nos meus fanzines eu abria espaço para qualquer tipo de pensamento (claro, evitando os preconceituosos e extremistas) e, com isso, fiz amizade com pessoas. Muitas. Muitas mesmo! Muito mais que os amigos que tenho hoje no facebook. Talvez o triplo ou o quíntuplo, ou mais.
E com isso, o maior retorno que tive nessa história toda, foram as amizades que conquistei nesse caminho. Tenho amigos da época das cartas que até hoje mantemos a amizade. Você, Adelvan, é uma dessas. Pessoas que extrapolaram o limite da divulgação em zines, ou trocas de informações, para quase fazer da minha família. Meu padrinho de casamento é o Jean Marim (Sonidos, Ruídos y Ideas), conheci nesse meio, e ele é também padrinho do meu filho e eu padrinho dele de casamento também. O Marlos (And Chimarrão for All!) é um irmão pra mim (que inclusive casou-se com a fanzineira Karol, e hoje moram em Londres)… Bem, esses são alguns exemplos de quão forte era a nossa rede de amizades na época.
O reconhecimento de nossos esforços acho que também é um retorno bacana. Você ouvir pessoas falarem que se inspiraram no seu zine para fazer um, é uma grande recompensa! Outras te procurando para falar sobre zines, seja em uma oficina, palestra, debate, ou mesmo para uma consultoria, é muito legal, e eu gosto muito disso! Procuro sempre me disponibilizar para dar uma força.
EN - Como aconteceu seu primeiro contato com esta rede “subterrânea”? Foi uma identificação imediata, ou só aos poucos você foi se interessando em participar ativamente do processo?
Sno - Confesso que no começo tinha um certo preconceito com o underground. Eu lia muito a revista Bizz, cheguei a ser assinante por alguns anos, inclusive. Aí, passei a ler a Rock Brigade, Dynamite e por aí foi. Nessas revistas haviam seções para divulgação de bandas desconhecidas, como o Headbanger Voice. Demorei para tomar coragem – e me despir dos preconceitos – para escrever para uma dessas bandas. Resolvi escrever para várias. Só escrevi para bandas que não eram da capital paulista, por vergonha mesmo, eu era muito tímido. Lembro que os primeiros a me mandarem demos foram a Scum Noise, Soutien Xiita, Anarchy Solid Sound, Ñrü, Prophecy, No Violence. Passei a perceber que tinha muita coisa boa no subterrâneo e, aos poucos, aquele preconceito foi pro saco definitivamente!
Nessas cartas, recebi muito flyers de outras bandas e fanzines. Peraí: fanzines? O que era isso? No Headbanger Voice também tinha uma seção para esses tais de fanzines. Não tive coragem de perguntar o que era isso. Naquela época não tínhamos o Google, que ajudaria muito a tirar essa dúvida. Resolvi escrever para alguns e perguntando quanto que era pra receber o fanzine. Quando recebi o Secret Face, pude tera noção na prática do que era o fanzine.
Como eu ja tinha contato com alguma galera de bandas na época, um dia, indo trabalhar, me veio na cabeça: “porra, eu também posso fazer um fanzine!”, comecei a correr atrás, me baseando nos que eu havia recebido nessa época, como o Gnomo da Tasmânia, Mensageiro, Alta Tensão, entre outros. Aí não teve mais volta. Minha rede de contatos foi aumentando assustadoramente ao ponto de eu receber pacotes de cartas todos os dias e começar a ter problema para responder as cartas em tempo hábil.
EN - Como você vê a situação atual desta rede “analógica” se comparada ao que era nos anos 80/90? Você acha que há futuro para este tipo de troca de informações ou “resistir é inútil” e tudo será, inevitavelmente, substituído pela troca de arquivos digitais via internet?
Sno - A rede analógica, passou para a digital e não tem mais volta. Só usamos o correio quando temos que mandar alguma coisa que não é possível via internet. Isso é fato e não tem lógica voltar atrás. Porém, essa rede digital só pôde ser constituída com o passado analógico.
Os arquivos digitais acho que podem ser o futuro mais certo que consigo ver. Alguns zines já são lançados assim, como é o caso do Juvenatrix, Inferno Pub, Pensá, por exemplo. São zines que os editores montam e botam em um site ou enviam pelo e-mail mesmo pra galera baixar, com a opção de imprimir ou não.
Porém, ainda haverá sempre uma galera que manterá essa história de trocar materiais via correio, pois tem alguns tipos de materiais que são bem mais bacanas em formato físico, como por exemplo: livros, CDs e DVDs com encartes fodas. Mas, sem dúvidas, será num ritmo infinitamente menor que antigamente.
EN - Você ainda produz e/ou pretende continuar produzindo este tipo de material impresso? Por quê?
Sno - Pretendo sim, inclusive noutro dia estava conversando com o Luciano Irrthum (desenhista de Belo Horizonte que contribuiu para diversos zines, inclusive os meus) e estamos para lançar uma campanha para retomarmos os fanzines impressos e trocarmos via correio, como antigamente, com a intenção de mantermos a chama acesa como antigamente. A única “exigência” será que os fanzines terão que ter pelo menos 16 páginas em meio ofício, para haver mais justiça nas trocas.
E para essa campanha, já estou elaborando o fanzine que estou chamando de Me, Myself and I, no qual vou publicar somente coisas minhas, que inclui textos, desenhos nunca publicados e os que eu faço durante reuniões. Mas o plus desse zine será a entrevista que terá comigo. Pedi para alguns amigos mandarem perguntas de variados assuntos. Sim, vai ser uma ode ao meu umbigo! E uma terapia! Não sei se as pessoas se interessarão em saber sobre mim, mas não tô nem ai, o zine é meu!!
Na verdade será a primeira vez que lançarei um zine sem colaboradores e isso acho que vai ser um grande desafio, pois tudo dependerá exclusivamente de mim! Agora veremos quem é quem! Ahahah!
Por quê? Bem, acho que por resgatar um pouco como é esse lance de fazer o zine da forma antiga, retomar um pouco o passado. Talvez para ter sensação parecida que um cara tem ao ouvir vinil em épocas de MP3.
EN - Deixe a gente conhecer um pouco do Márcio Sno como pessoa – fale-nos de sua vida pessoal, quem é você, quais são suas origens, o que anda fazendo da vida...
Sno - Bem, acho que eu não mudo muito do que as pessoas me conhecem por intermédio dos zines. Mas vamos lá…
Meu pai é de origem japonesa (meu nome verdadeiro é Márcio Mitio Konno) e minha mãe é de uma cidade pequena de Minas Gerais, chamada Jequeri. Nasci aqui mesmo em São Paulo, tenho três irmãs e desde cedo tive que me virar pra conquistar minhas coisas: comecei a trabalhar aos 13 anos. Passei a namorar a Joelma aos 16, com quem casei aos 22 (quase 23), no ano em que nasceu o Calvin (1998).
Talvez a minhas raízes orientais tenham me feito uma pessoa muito paciente e que consegue compreender algumas situações com certa facilidade e a dar tempo ao tempo. Também sou muito correto e odeio injustiças. Pode ser por isso que muitas pessoas buscam conselhos comigo e são eternamente gratas!
Não costumo criar muitas expectativas sobre as coisas, faço a minha parte e espero que os resultados venham por eles mesmos. Talvez essa pode ser meu maior defeito tendo em vista esse mundo capitalista e competitivo. Mas acho que não mudarei esse jeito até a segunda ordem. Sei que recebo muita cobrança externa sobre isso (principalmente de minha família), mas apoiando-se em minha “pseudo-sabedoria”, o tempo dará as melhores respostas!
Trabalho há 13 anos e meio em uma ONG (www.acomunitaria.org.br), no Núcleo de Cultura & Lazer e, em algumas ações, utilizo a experiência e vivência que tive com os zines.
Me formei em jornalismo em 2007, mais para realizar um sonhodo que pra investir no mercado de trabalho, que sempre soube que era fechado.
Gosto muito de música, filmes, futebol, literatura, teatro e adoro conversar sobre isso. E, consequentemente, gosto de pessoas que conversem sobre esses assuntos.
Sou basicamente isso aí. Odeio holofotes na minha cara, prefiro o backstage.
EN - Espaço aberto para considerações finais e/ou para falar de assuntos que considere importantes e eu não mencionei.
Sno - Olha, acho falei bastante coisas e acredito que o leitor não terá mais muita paciência para que eu entre em algum assunto.
Quero deixar bem claro aqui que esse documentário foi idealizado apenas para que a memória da produção dos fanzines impressos seja conservada e registrada em formato audiovisual. Não quero e nem pretendo utilizar essa produção para me aparecer ou querer representar um marco na histórias dos zines, ao contrário do que algumas pessoas pensam e espalham. Não quero ser mártir. Com esse projeto, não fiquei esperando que alguém fosse tomar a iniciativa. Eu simplesmente resolvi fazer. Ponto. Ao invés de ficar reclamando: “ah, falta fulano, falta cicrano, eu não participei, devia ter feito assim, assado”, resolvi fazer.
E eu não vou ficar parado pra ficar discutindo essas coisinhas. Porra, estou prestes a completar 36 anos, sou pai de família, tenhos minhas responsabilidades profissionais… Não tenho tempo pra coisas pequenas. Nesses momentos me vem a frase de Raul Seixas: “eu tenho uma porção de coisas pra conquistar e não posso ficar aqui parado”. E assim eu sou: vivendo intensamente, produzindo insanamente e sem ter a mínima ideia onde tudo isso vai dar.
Agradeço de coração a você, Adelvan, meu amigo de anos a fio, por esse espaço concedido em seu blog! É um grande orgulho estar aqui, pois você é um grande batalhador da cena sergipana e é uma das pessoas que segue a mesma linha que eu: “Se ninguém faz, façamos!” Longa vida a você e para todos os seus projetos e ações! Que a força esteja com você!
:: márcio sno ::
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3 comentários:
Questionável as impressões desse caba...
Esse cabra é bacana demais, pessoa simples e sincera, faz as coisas com o coração sem esperar nada em troca.
Me identifiquei muito com essa "personalidade fanzineira", e sempre foi um prazer trocar cartas com ele e ler o "Ahhh!" nos anos 90, bem como participar do recente projeto "Me, Myself and I", tô curioso pra ver o resultado!
Parabéns, Adelvan!
Abraço no Sno!
Muito boa entrevista! fanzine é um gesto de liberdade , só fazendo um pra pessoa sentir o queu significa1 se depender de mim, nao morre nunca.
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