É disso que trata o bafafá sobre a Operação Porto Seguro. Começou fofoca. Dona Marisa detesta Rosemary. Rosemary viajou 23 vezes para o exterior na comitiva oficial do ex-presidente. Tinha acesso direto a Lula, e o usava para descolar altos cargos para os amigos. Logo foi dito em português claro: Rose e Lula foram amantes muitos anos. E abriu-se uma nova temporada de caça ao Lula. Disparada, olhe só, pela Polícia Federal, cuja chefe máxima é... Dilma.
Será assunto para meses. Talvez caso pra CPI. As perguntas que precisam ser respondidas: houve corrupção ou tráfico de influência? Quem corrompeu, quem foi corrompido? Cadê o dinheiro? Rosemary usou sua influência junto a Lula? E, por fim, Lula se beneficiou da corrupção ou cometeu algum crime?
É motivo para revirar a vida pessoal do ex-presidente, como se fosse uma lata de lixo? Sem dúvida. E Lula deve tomar a iniciativa e se explicar. Quem vive de dinheiro público não tem direito de dizer que não fala deste ou aquele assunto. Vida particular de funcionário público sob suspeita é pública. Vale pra Rose. Vale pra Lula.
Esse é sempre o assunto: dinheiro. Nosso ex-presidente gera ódio em alguns grupos, mas a rinha não é emocional. É disputa pelo poder, pela chave do cofre. Tentaram de todo jeito liquidar Lula, antes da sua primeira eleição e durante os seus oito anos de mandato. Saiu popularíssimo, elegeu sucessora, e agora o prefeito de São Paulo, ambos tirados da mágica manga de sua casaca. Também saiu incólume do julgamento do mensalão. Parece impossível que não soubesse do que seus braços direitos no governo e no PT faziam.
A cobertura do julgamento atrapalhou. A história foi contada em termos de Fla-Flu, juízes pró e contra o PT. Magistrados viraram astros, e passaram a se portar como tais, para as câmeras. Distribuíram penas pesadíssimas, em País onde os líderes do crime organizado têm penas leves, que cumprem ordenando massacres de policiais, via celular. Só Lula, que indicou boa parte dos juízes do STF, foi poupado. A pressão continua. É o Rosegate, é Marcos Valério.
A satisfação de alguns astros da mídia é indisfarçável, pimpões como pintos na lama. Não conseguimos pegar Lula no mensalão, festejam, vamos pegar com essa Rose. Se não der, pelo menos fazemos ele sofrer um pouco, envergonhando sua esposa e filhos com a exposição de sua traição. E vamos dar o máximo de exposição às novas acusações de Marcos Valério. Pressionar por investigações, e dar munição para a oposição. E se nada colar, bem, quem sabe o câncer volta?
É válido. O campo oposto também soube seduzir seus evangelistas, muitos acolhidos no poder, outros vivendo de mesada. Infelizmente, uma das exigências para a fama, no ambiente midiático de 2012, é o histrionismo. Trata-se de garantir que o mundo em preto e branco e cuspir certezas e bordões. Com isso, deixamos o campo do jornalismo e da opinião, e igualam-se em irrelevância os campeões dos dois lados.
Um lado então grita que é o maior escândalo desde Sodoma e Gomorra. E o outro garante que é mais uma tentativa de golpe midiático-tucano. Propaganda enganosa. Há uma tentativa de inviabilizar uma nova candidatura de Lula, e abrir pelo menos a possibilidade do PSDB levar a presidência em 2014? Sim. Lula nos deve explicações? Sim também.
Nem toda defesa de Lula é sectária. Nem toda acusação contra Lula é golpismo. Vamos fundo nas investigações de aprontadas tucanas e outras? Por favor. Mas vamos reconhecer que há jornalismo de fato, e evidências de fato contra Rose, os irmãos Vieira e companhia. Eles têm de falar. Assim como Cachoeira, e Valério. No Congresso, com transmissão ao vivo. E Lula também. Ele colocou a amante em cargo público. Ela aprontou. Lula tem direito ao respeito, como disse esta semana Dilma em Paris. E à crítica, pelo que ficou nos devendo. Mas não tem direito ao silêncio.
Lula não tem direito ao silêncio
Enviei. Recebi elogios. Confirmaram a publicação na íntegra para dali a alguns dias. Na véspera de sair, fui informado de que o texto fora barrado por instâncias superiores. Sem problemas. Não é censura, é edição, nem me pediram para mudar nada. Alguém com poder para isso decidiu que o texto não estava adequado para sair no jornal. Que jornal? Não conto para não criar problemas para quem me convidou.
E porque não importa, na prática. Mas fiquei um pouco desapontado. Porque o texto é razoavelmente inofensivo, e fui equânime na distribuição de críticas - sobrou pra todos os lados. E porque é uma nova demonstração de como nossa imprensa (e não só o jornal em questão) está mais reaça e careta a cada dia que passa.
Fui informado que serei pago. Ótimo. E melhor ainda que aqui no R7 escrevo exatamente o que quero, e sai exatamente como escrevo.
André Forastieri
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