sexta-feira, 20 de março de 2015

The Sonics em São Paulo ...

Foto: Luisa Migueres / Terra
The Sonics é uma daquelas bandas que surgiram, fizeram algum barulho – tiveram pelo menos um hit "underground", “The Witch” – e depois sumiram na poeira da história. Ficariam para sempre no limbo do esquecimento se não estivessem, também, muito à frente do seu tempo, o que fez com que se tornassem um objeto de culto extremamente influente. Só para que se tenha uma idéia, Iggy Pop já disse uma vez que se não fosse pelos Sonics, o Stooges não teria existido. Não precisaria dizer mais nada, mas digo: The Cramps gravou “strychnine” em seu álbum de estréia, “Songs the Lord Tought us”. The Fall a incluiu numa “peel session”. Kurt Cobain era fã. Eles são de Tacoma, Washington. Na região de Seattle. Desnecessário dizer que são, também, uma espécie de padrinhos, ou “avôs”, do grunge.

Foto: Luisa Migueres / Terra
É protopunk, rock de garagem sujo e distorcido produzido muito antes da sujeira e da distorção tomarem conta do mundo. Falavam sobre sexo, drogas e insanidade – “psycho”! - entre acordes minimalistas e ritmos primais quando o mundo se preparava para mergulhar na psicodelia – que logo levaria ao rock progressivo – e no verão do amor hippie. Deram seu recado e se separaram, em 1968. Uns foram para a universidade, outros entraram em outras bandas. O saxofonista Rob Lind foi para o Vietnã. Combater. Fizeram aparições esporádicas com formações improvisadas ao longo do tempo, até decidirem voltar definitivamente no final da primeira década do século XXI. Em 2010 lançaram um EP, “8”, com quatro musicas inéditas gravadas em estúdio – de Seattle, com produção de Larry Parypa e Jack Endino - e quatro clássicos de seu repertório registrados ao vivo. Anunciam para o próximo dia 31 de março o primeiro álbum de inéditas em mais de 40 anos. Para comemorar, saíram em turnê pelo mundo. E começaram pelo Brasil ...

Foto: Luisa Migueres / Terra
Por São Paulo, mais precisamente. Show único e exclusivo. Imperdível! Eu não perdi – por sorte, estava de viagem marcada para ver o Ministry, que se apresentaria na mesma casa – Audio, na Barra Funda – na noite seguinte. Também pela primeira vez no Brasil e com um único show. Duas noites que prometiam. Muito.

A primeira promessa foi cumprida com louvor. Cheguei atrasado mas consegui ingresso. A entrada foi tranqüila – havia fila apenas para as cortesias. Era uma festa da Levi´s. Lá dentro, pouca gente – e olha que a casa é pequena. Mas não por muito tempo: logo o ambiente estava completamente tomado por um público ansioso que, no entanto, curtiu numa boa a apresentação do Legendário Chucrobilly, de Curitiba. Bom show. Extremamente minimalista – é uma “one man band” – e com uma sonoridade totalmente “hillbilly”. Na sequencia, uma discotecagem – fraca – de João Gordo.Muita musiquinha japonesa esquisitinha. Achei chato.

Foto: Luisa Migueres / Terra
Um “coroa” sobe ao palco para averiguar as instalações – eu estava colado lá, com meu camarada Andhye Iore, de Maringá. Uma garota mostra um LP, em vinil, e dá a entender que quer autógrafos. Ele explica que não é da banda, mas ela pede, por gestos, que ele leve o disco para os caras assinarem. Ele leva. E trás, com as assinaturas. Ela fica feliz. Eu também. Estamos todos felizes. E a felicidade explode de vez quando eles sobem finalmente ao palco, com um visual totalmente antiquado – roupas indênticas, estilo “country” – mas um som poderoso,  apesar dos problemas técnicos com o amplificador da guitarra. Começaram com “Cinderella” sendo berrada a plenos pulmões pelo vocalista/baixista Freddie Dennis, ex-Freddie and the Screamers, the Kingsmen e  the Liverpool 5. Ele não é da formação original, como o baterista, mas foda-se: puta vocal ácido! Perfeitamente integrado. O outro vocal, mais “encorpado” e técnico, fica por conta do tecladista, Gerry Rosile – este, sim, membro fundador. Assim como o guitarrista, Larry Parypa, e o ex-soldado e saxofonista Rob Lind. Que não se fez de rogado e já foi logo sacando do bolso uma gaita que tocou de forma visceral. A casa quase veio abaixo ...

Foto: Luisa Migueres / Terra
Já na segunda ou terceira música o palco foi invadido por garotas que dançavam ao som da banda, sem atrapalhar o show. Coisa linda de se ver. Pena que a festa não duraria: a equipe de segurança tratou de por ordem na casa. Na medida do possível, pois o público estava realmente insano e conseguiu passar a energia para o palco. Com direito, inclusive, a vários “crowd surfing”! Parecia show de Hard Core! Lind, o saxofonista, era também o encarregado de se comunicar com a platéia e não conseguia esconder a cara de satisfação.  Se despediu com um “goodbye, crazy  people”, depois de uma apresentação histórica em que standards – tipo “loui loui” - foram executados ao lado de composições próprias cantadas por todos a plenos pulmões. Algumas novas, e muito boas. Inclusive nos títulos: uma delas foi anunciada como “I don´t need no fucking doctor”! Mais apropriado, impossível.

Uma daquelas noites para lavar a alma e ficar na memória de quem presenciou.

Foto: Luisa Migueres / Terra
Para sempre!

A.

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