quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A serviço do "Grande irmão"

“Enxergar o que realmente se passa debaixo de nossos narizes exige um esforço constante.” A frase é de George Orwell, dita por Winston Smith, personagem central de seu célebre romance “1984”, mas cai como uma luva para o que vemos diariamente na cobertura das manifestações de rua pela grande mídia. Anteontem, por exemplo, no Jornal Nacional, numa reportagem sobre a invasão da sede de um partido de oposição na Venezuela pela “polícia política” – palavras dele – do governo “chavista”, Willian Bonner fez questão de ressaltar que “a polícia agiu com a truculência costumeira”. E é verdade. Mas é verdade, também, que os que reprimem as manifestações, no Brasil, também costumam agir com brutalidade. Não é o que parece, a julgar pela cobertura da mídia. Agora a pouco, no Jornal Hoje, Sandra Annemberg nos informou que a Tropa de Choque incumbida de cumprir uma ordem de despejo, em São Paulo, foi recebida a pedradas por VÂNDALOS protegidos por barricadas. No mesmo telejornal, logo em seguida, somos informados de que MANIFESTANTES voltaram a entrar em confronto com as tropas oficiais na Ucrânia. Para ilustrar, a imagem de um MANIFESTANTE arremessando uma bomba de fabricação caseira. Provavelmente um dos mesmos que foram mostrados ontem, numa reportagem do Jornal da Globo, fabricando alegremente coqueteis molotov, ao lado de outro que mostra, sem nenhum constrangimento, o fuzil que guarda na mala do carro. E dos que arrancavam pedras do calçamento para lançar na polícia, igualzinho ao que os “vândalos” fazem aqui. Porque aqui são desordeiros impedindo o cumprimento da lei. Lá, eles estão apenas se defendendo e defendendo o direito à liberdade, ou, em outras palavras, o direito de exigir que seu país adira alegremente ao bloco falido da União Européia em crise.

Não se trata de maniqueísmo nem de tentar tapar o sol com a peneira. Compreendo perfeitamente o sentimento dos ucranianos, historicamente oprimidos pelo imperialismo russo, mesmo no tempo dos soviéticos que, a princípio, prometeram ampla autonomia – promessas solenemente esquecidas assim que o “czar vermelho” Joseph Stalin assumiu o poder, numa tradição autocrática e autoritário que persiste ainda hoje, sob o tacão do “neoczar” Vladimir Putin. Na verdade, muito por conta disso, não tenho uma opinião formada sobre a situação por lá, muito embora tenha certeza de que a adesão à União européia não pode ser, a médio e longo prazo, uma solução para os males do povo. Já sobre a Venezuela, apesar de reconhecer que o atual presidente não é um cara “maduro”(desculpem o trocadilho infame, não resisti), com suas bravatas machistas e/ou homofóbicas e sua tentativa patética de induzir a população a um culto messiânico do líder falecido, fica patente a ideologização da cobertura midiática, que teima em não reconhecer os avanços sociais conseguidos pelo “chavismo”, focando apenas no que é negativo, como a inflação e a escalada da violência urbana. Ideologização que eu até aceitaria caso fosse declarada, honesta, e não encoberta sob um falso manto de imparcialidade. Do jeito que está, não é jornalismo “isento”. É propaganda, proselitismo.

Fique atento, portanto, à forma na qual a notícia chega até você. Não absorva de forma acrítica tudo que vê para depois regurgitar idéias distorcidas nas redes sociais.

Fique atento às palavras!

Semântica é tudo.

A.

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