Conheci Marcos Oliveira Ferreira, o MOF, primeiramente via troca de correspondências. Eu editava o Escarro Napalm, ele o "Meleka Korrosiva", um fanzine enxuto, bem diagramado e impresso num formato diferente, fininho. Ficamos bastante amigos. Tanto que ele veio me visitar aqui, em Aracaju, algum tempo depois. Passou quase um mês. Demos alguns "rolês" - fomos até Recife ver uma edição do Abril pro rock, por exemplo. Era 1995 e a gente teve a honra de assistir, juntos, uma apresentação da Nação Zumbi ainda com Chico Science.
Já o havia conhecido pessoalmente em 1994, em Belo Horizonte, durante o BH Rock Independente Fest. Na verdade foi ele que me encontrou: falou que estava de passagem pela cidade, para o festival e visitando parentes, viu meu nome no folder de divulgação das palestras e me procurou. Vimos vários bons shows juntos. Seus comentários sempre jocosos e bem humorados eram ótimos.
Em 1988 eu fui pela segunda vez ao Rio de Janeiro ver o show do U2 e desta vez foi ele que me ciceroneou pela sua cidade. Juntos vasculhamos lojas de discos atrás de promoções, e graças a suas dicas preciosas comprei o caixão com a discografia do Misfits e a caixa "The Airplane Flight High" do Smashing Pumpkins, a preços camaradas.
Quando voltei ao Rio em 2005 (por algum motivo que eu não sei bem qual é eu sempre vou à cidade Maravilhosa de 7 em 7 anos) encontrei-o como um dos proprietários da Loja Plano B, na Lapa, especializada em vinil. Sempre solícito e boa praça, me levou pra passear novamente - Bondinho, Santa Tereza, centro, Saara, CCBB ... Num final de tarde deixei ele numa estação do metrô, pois ele tinha resolvido dar uma mudada no roteiro e não pegou o ônibus que costumava pegar todo dia. Pois bem, foi exatamente naquela linha na qual ele deixou de embarcar que, naquela mesma noite, bandidos puseram fogo num ônibus com os passageiros dentro. Não digo que ele escapou por um golpe do destino porque o incidente não foi na hora em que ele estaria presente, mas foi um episódio emblemático.
Marcos morava no complexo do Alemão, exatamente na área que foi palco daquela invasão recente da policia em conjunto com as Forças Armadas, numa operação de guerra sem precedentes. Uma vez eu liguei pra ele e ele me falou: "espera um pouco que eu vou fechar a janela porque tá rolando um tiroteio aqui na rua". Falei que ele tava de sacanagem, ele colocou o telefone na janela e dava mesmo para ouvir o barulho de tiros de fuzil. Sinistro.
Por mais um acaso do destino (ou não), Marcos ligou pra mim num domingo destes, depois de um bom tempo sem contato, a não ser via net. Conversamos trivialidades e ele se despediu, como sempre, me falando que se visse algum vinil de banda de metal da cogumelo dando sopa por aqui me avisasse que ele comprava. Já há algum tempo ele ajudava a organizar a Feira do Vinil, um evento muito bacana que cresce a cada edição. Fora isso, era um cara simples, na dele, discreto. Você provavelmente nunca ouviu falar de Marcos Oliveira Ferreira, mas saiba que ele existiu e era um cara muito gente fina que vai fazer falta, quer você saiba disso, quer não.
Marcos morreu semana passada. Neste momento o pessoal da Loja Plano B deve estar fazendo uma festa em sua homenagem lá na Lapa, no Rio de Janeiro. Eu estou lá, em espírito. Ele também, tenho certeza.
Descanse em paz, camarada.
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É, Adel, é muito duro perder um amigo. Mesmo que não estejamos juntos fisicamente, os melhores que tenho já há 20 anos, são estes que se esforçam por manter o contato e a amizade. Também acredito que onde quer que esteja, estará feliz por não ser esquecido.
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