O mérito maior vai, evidentemente, para o canadense Bryan Lee O`Malley, criador da História em quadrinhos que conta a História do cara que está sossegado com seu namoro casto (apesar de todos os seus amigos desconfiarem de suas reais intenções) com a adorável chinesinha Knives Chau, de apenas 17 anos, mas vê seu mundo virar de cabeça pra baixo ao conhecer Ramona Flowers, por quem se apaixona e cujo passado vai ter que enfrentar – literalmente falando. Mas muitos aplausos devem ser dirigidos, também, à sensacional direção de Edgar Wright, responsável por duas outras pérolas da sétima arte, "Chumbo Grosso" e "Todo Mundo Quase Morto". Seu filme tem um roteiro enxuto e uma montagem ágil e criativa, o que faz com que mesmo os que não são adeptos do mundo dos vídeo-games (eu não sou) ou que detestam comédias românticas adolescentes (bleargh!) caiam de amores pela obra, que é isso e muito mais, já que tem referência a praticamente tudo o que circunda o mundo jovem contemporâneo, da estética dos mangás ao Kung fu (nas lutas), passando pelo rock alternativo e pela sempre complicada transição para a vida adulta.
As bandas “fictícias” merecem uma menção honrosa à parte: as músicas da Sex Bob-Omb, na qual Scot toca baixo, são de autoria do cantor, compositor e multi-instrumentista norte-americano Beck. Ele se encarregou de gravar os instrumentos enquanto os próprios atores - Michael Cera, Mark Webber e Alison Pill (WE ARE SEX BOB-OMB !!!) - fizeram os vocais. Já uma das concorrentes na batalha de bandas, a sensacional Crash and the Boys, é na verdade “dublada” pelo Broken Social Scene e comparece com duas excelentes faixas minimalistas: “I'm So Sad, So Very, Very, Sad” e “We Hate You Please Die”.
O único “calcanhar de Aquiles” é o interprete do protagonista: Michael Cera está mais para o nerd apalermado de “Juno” (que eu detesto) do que para o relativamente “descolado” Scott Pilgrim. É, no entanto, um típico caso em que uma deficiência acaba sendo usada a favor e contribuindo para acrescentar pontos ao resultado final: a mistura de auto-confiança (que ele ganha em forma de espada flamejante em uma das lutas) e hesitação acaba dando origem a um personagem mais complexo. Acaba fugindo do previsível e se tornando a escolha certa por vias tortas.
Já Mary Elizabeth Winstead está perfeita como Ramona. Aliás, todo o elenco de apoio está muito bem – inclusive os caricatos “Evil ex´s”, membros da temível (ui) “Liga dos ex-namorados do mal” de Ramona. O afetadíssimo # 01, o indiano Satya Bhabha, e o mais poderoso de todos, o # 03, que possui impressionantes poderes conferidos pela dieta vegana (que lhe são retirados por uma hilária patrulha devido à ingestão de leite e, supremo pecado - e burrice, um frango à parmegiana!), são os melhores. Há até umA ex, fruto de um surto de “curiosidade bi” – levadinha essa Ramona. Outro destaque é Wallace Wells (Kieran Culkin), “colega de quarto gay descolado de Scott”, como descrito no filme, que é ao mesmo tempo um grande alívio cômico e um personagem extremamente leve e bem construído. Poucas vezes, aliás, se viu um filme lidar com a homossexualidade de uma maneira tão madura e sem arroubos politicamente corretos e chatos como neste.
Scott Pilgrim passou praticamente batido pelo cinema no Brasil. Em Aracaju, estreou na última Virada Cinematográfica, sábado passado, e voltará às telas do Cinemark do Shopping Jardins na próxima sexta, dia 18, onde ficará em cartaz por pelo menos duas semanas na Sessão Cine Cult - diáriamente, às 14H.
por Adelvan.
Adoro suas resenhas sobre os filmes. E esse é um grande merecedor. Achei importante a menção das músicas das bandas, que eu amei. Me mexia toda acompanhando... Todo aquele universo surreal de video-game. Perfeito! Valeu a pena ter esperado tanto tempo e ver Scott Pilgrim no cinema. A pena é que, pelo cansaço, acabei cochilando por uns 5 minutos, e perdi alguma coisa. Mas é certamente daqueles filmes que verei várias vezes. ^^
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