sábado, 1 de janeiro de 2011
Mulher brasileira em primeiro lugar
Eu gosto de simbolismos, e admiro muito quem dá a volta por cima depois de passar por situações adversas. Nao consigo imaginar situação mais adversa para um ser humano do que se encontrar indefeso nas mãos de sádicos torturadores. A primeira presidente do Brasil, empossada hoje em Brasilia, passou por isso, e agora, na condição de primeira-mandatária da república, é também a comandante suprema das Forças Armadas, a mesma instituição que, ao tomar o poder pela forca em 1964, promoveu a barbarie da qual ela mesma foi vítima. Para mim, este detalhe tem um valor simbólico ainda maior que o fato de se tratar de uma mulher.
"Woman is the nigger of the world", já dizia John Lennon em uma de suas canções. Mulheres que ainda são relegadas a meros capachos em boa parte do mundo, e mesmo no chamado mundo civilizado, o que compartilha os valores da civilizacões greco-romana, judaico-cristã e européia ("nossa" civilização, enfim), só muito recentemente elas começaram a deixar de ser vistas como cidadãs de segunda categoria. Somente em 1893, na Nova Zelandia, as mulheres conquistaram, pela primeira vez no mundo, um dos direitos mais elementais em uma sociedade que se diz livre: o de votar. No Brasil, apenas em 1932, sob a presidência de Getúlio Vargas, todas as restrições ao voto feminino foram suprimidas. Através do Decreto nº. 21.076, de 24 de fevereiro, foi instituído o Código Eleitoral Brasileiro, cujo artigo 2 disciplinava que era eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo.
Portanto, parabéns, Dilma Roussef.
A.
Pronunciamento à nação da Presidenta da República, Dilma Rousseff, no Parlatório
Queridas brasileiras, queridos brasileiros, eu e o nosso vice-presidente, Michel Temer, e sua senhora, Marcela, estamos aqui assumindo a Presidência e a Vice-Presidência do Brasil. Eu estou feliz, como raras vezes estive na minha vida, pela oportunidade que a história me deu de ser a primeira mulher a governar o Brasil. Mas eu estou muito emocionada pelo encerramento do mandato do maior líder popular que este país já teve. Ter a honra do seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guardam para a vida toda.
Conviver todos estes anos com o presidente Lula me deu a dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu país e por sua gente. A alegria que sinto pela minha posse como presidenta se mistura com a emoção da sua despedida. Mas Lula estará conosco. Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade.
A tarefa de suceder o presidente Lula é desafiadora. Eu saberei honrar este legado e saberei consolidar e avançar nesta obra de transformação do Brasil. A vontade de mudança do nosso povo levou um operário à Presidência do Brasil. Seu esforço, sua dedicação e seu nome já estão gravados no coração do povo, o lugar mais sagrado da nossa nação.
Hoje o presidente Lula deixa o governo depois de oito anos, período em que liderou as mais importantes transformações na vida do país. A força dessas transformações permitiu que vocês, o povo brasileiro, tivessem uma nova ousadia: colocar, pela primeira vez, uma mulher na Presidência do Brasil. Para além da minha pessoa, a valorização da mulher melhora nossa sociedade e valoriza a nossa democracia.
Quero, neste momento, prestar minha homenagem a outro grande brasileiro, incansável lutador, companheiro que esteve ao nosso lado, ao lado do presidente Lula nesses oito anos. Eu me refiro ao nosso querido vice-presidente José Alencar. Que exemplo de coragem e de amor à vida nos dá este grande homem! E que parceria Zé Alencar e Lula, Lula e Zé Alencar fizeram, pelo Brasil e pelo nosso povo!
Eu e Michel Temer nos sentimos responsáveis por seguir no caminho iniciado por eles. Aprendemos com eles que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados, uma imensa força brota do nosso país. Aprendemos que quando se governa amando o Brasil, preservando a sua soberania e desenvolvendo o nosso país para torná-lo do tamanho do sonho de cada brasileira e cada brasileiro, uma força imensa é mobilizada e todos nós avançamos juntos.
Reafirmo aqui outro compromisso: cuidarei com muito carinho dos mais frágeis e mais necessitados. Governarei para todos e todas as brasileiras. Uma mulher, uma importante líder indiana disse um dia que não se pode trocar um aperto de mão com os punhos fechados. Pois eu digo: minhas mãos vão estar abertas e estendidas para todos, desde os nossos aliados de primeira hora até aqueles que não nos acompanharam neste processo eleitoral.
É com este espírito de união que eu assumo hoje o governo do meu país. Acredito e trabalharei para que estejamos todos unidos pelas mudanças necessárias na educação, na saúde, na segurança e, sobretudo, na luta para acabar com a pobreza, com a miséria. Não peço a ninguém que abdique de suas convicções. Buscarei o apoio, respeitarei a crítica. É o embate civilizado entre as ideias que move as grandes democracias como a nossa. Não carrego, hoje, nenhum ressentimento nem nenhuma espécie de rancor. A minha geração veio para a política em busca da liberdade, num tempo de escuridão e medo. Pagamos o preço da nossa ousadia ajudando, entre outros, o país a chegar até aqui. Aos companheiros meus que tombaram nessa caminhada, minha comovida homenagem e minha eterna lembrança.
Queridas brasileiras e queridos brasileiros, já fizemos muito nos últimos oito anos, mas ainda há muito por fazer. E foi por acreditar que nós podemos fazer mais e melhor que o povo brasileiro nos trouxe até este momento. Agora é hora de trabalho. Agora é hora de união. União de todos nós pela educação das crianças e dos jovens. União pela saúde de qualidade para todos. União pela segurança de nossas comunidades. União para o Brasil continuar crescendo, gerando empregos para as atuais e para as futuras gerações. União, enfim, para criar mais e melhores oportunidades para todos nós. O meu sonho é o mesmo sonho de qualquer cidadão ou cidadã: o sonho de que uma mãe e um pai possam oferecer aos seus filhos oportunidades melhores do que a que eles tiveram em suas vidas.Esse é o sonho que constrói um país, uma família, uma nação. Esse é o desafio que ergue um país.
Apresentei há pouco uma mensagem, com meus princípios e compromissos, no Congresso. Ali existem metas e objetivos, mas também existem sonhos. Acho bom que seja assim. Para governar um país, um país continental do tamanho do Brasil, é também preciso ter sonhos. É preciso ter grandes sonhos e persegui-los.
Foi por não acreditar que havia o impossível que o presidente Lula fez tanto pelo país nesses últimos anos. Sonhar e perseguir os sonhos é exatamente romper o limite do possível. Para consolidar e avançar as grandes conquistas recentes precisarei muito do apoio de todos vocês. Quero pedir o apoio de todos, de Leste a Oeste, do Norte ao Sul do nosso país.
Vou estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil na solidão do Amazonas, nos rincões do Nordeste, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas. Se todos trabalharmos pelo Brasil, o Brasil nos devolverá em dobro o nosso esforço. O Brasil é uma terra generosa. Tudo que for plantado com mãos carinhosas e olhar para o futuro será colhido com abundância e alegria.
Que Deus abençoe o Brasil e o povo brasileiro. Que todos nós juntos possamos construir um mundo de paz. Eu quero, neste momento, dizer a vocês que eu darei todo o meu empenho, toda a minha dedicação para fazer com que as transformações que nós começamos nesses últimos oito anos continuem, prossigam e se expandam porque o povo brasileiro e o nosso país têm condições, hoje, de se transformar no maior e no melhor país para se viver.
Um abraço a todos, homens e mulheres do meu Brasi
Cara, acompanhei a cerimônia de posse da Dilma e me veio um monte de imagens antigas na cabeça.
ResponderExcluirCoincidentemente na semana passada fui com meu filho no Memorial da Resitência (botei umas fotos no facebook) e estava explicando para ele o significado daquelas celas do DOPS, a militância, os absurdos provocados pelo governo filho da puta daquela época. Sempre que tenho contato com coisas que se referem a essa época podre do Brasil, fico muito incomodado, pois tenho certeza de que se eu fosse adolescente ou adulto naquela época, faria parte de algum grupo de resistência.
Bem, e essas memórias voltaram quando vi Lula recebendo Dilma no final da rampa e indo até aquele local onde ela discursou com a faixa de presidenta, como ela mesmo gosta de ser chamada.
Fiquei pensando no que ambos (Lula e Dilma) pensavam naquele momento, nas enrascadas que se meteram na época da ditadura, as torturas, nos amigos que desapareceram e todo o clima terrível da época, e também até onde conseguiram chegar: aqueles "terroristas" um dia iam chegar à presidência do Brasil!
Tenho muitas vírgulas quanto a forma de governar do PT, as alianças, coisa e tal. Mas posso dizer com muita certeza: nunca na história desse país uma virada de mesa foi tão representativa assim! E esse sentimento de se sentir representado no poder nunca foi tão forte.
Espero que as coisas continuem melhorando!