Espero que seja tão prazeroso ler quanto foi gostoso pra mim escrever.
Feliz 2011.
# Kick Ass (2010), de Matthew Vaughn – Alan Moore uma vez teve uma idéia brilhante. Ele pensou: “O que aconteceria se os chamados “super-heróis” existissem de verdade, qual seriam as REAIS consequencias para o mundo ?” O resultado foi a obra-prima WATCHMEN, considerada por muitos (eu incluso) a melhor história em quadrinhos de todos os tempos e que rendeu um dos melhores filmes da década, como veremos abaixo. Pois bem, a idéia original teve várias imitações e desdobramentos. Kick Ass é um dos últimos, e dos melhores. O argumento explora as consequencias que o ato insano de vestir uma fantasia e sair por aí fazendo justiça com as próprias mãos teria para a pessoa que por acaso tivesse esta infeliz idéia, passando longe de analises políticas e filosóficas mais rebuscadas. E é sensacional. Dave Lizewski, o “aloprado” em questão, é apenas um pouquinho menos “looser” no filme do que no quadrinho que o originou, mas a grande estrela do longa é mesmo a personagem “Hit Girl”, assassina-mirim implacável brilhantemente interpretada pela atriz Chloë Grace Moretz, de apenas 13 anos. Excelentes cenas de ação, humor negro afiado, trilha sonora bacana e uma verdadeira sucessão de citações a clássicos da cultura pop, como a cena em que a garotinha invade o edifício do mafioso ao som de Ennio Morricone, o que nos remete ao já clássico Kill Bill, de Quentin Tarantino. De quebra, uma das melhores atuações da carreira de Nicholas Cage no papel de “Big Daddy”, o pai de Hit Girl. Imperdível.
# Watchmen (2009), de Zack Snyder – Foda-se a crítica ranheta que recebeu cheia de dedos e frescuras essa brilhante adaptação do clássico absoluto dos quadrinhos adultos. A mim, particularmente, só me pareceu estranha, à primeira vista, a “superforça” que os personagens humanos ( demasiadamente humanos, nos quadrinhos ) adquirem na tela grande, mas entendi como um recurso visual apropriado a uma adaptação para o cinema do que teria que ser, afinal, um filme de ação estrelado por super-heróis, apesar do riquíssimo pano de fundo político, sociológico e filosófico que a história oferece. Tudo o mais eu achei perfeito. É a melhor adaptação de uma História em quadrinhos já feita até o momento. Roscharch foi magnificamente representado e continua sendo meu personagem favorito, mesmo diante de criações magníficas como o Dr. Manhattan, o Comediante ou Ozymandias. Tenho certeza que este filme adquirirá um status cult e, a exemplo de outros, como Blade Runner, será melhor reconhecido posteriormente.
# Batman – o Cavaleiro das trevas (2008), de Christopher Nolan – Confesso que já estou de saco cheio de adaptações cinematográficas para Heróis de quadrinhos, mas seria uma grande injustiça não citar, aqui, esse blockbuster. É perfeito, e tudo o que tinha para ser dito sobre a interpretação do Coringa por Heath Ledger já o foi, então vou poupá-los de tamanha redundância. Tenho certeza que me divertirei bastante revendo daqui a alguns anos.
# Avatar (2009), de James Cameron – Este Faroeste Hippie futurista new age foi me conquistando aos poucos. Me incomodei com o simplismo e o maniqueismo das mensagens “edificantes” e ecologicamente corretas que o diretor escancara na tela de forma nem um pouco subliminar (muito embora concorde com o conteúdo delas, de uma forma geral) na primeira vem em que assisti (já vi 3 vezes), mas à medida que fui encarando-o como o que realmente é, um genuíno representante do “cinema pipoca”, diversão da melhor qualidade, me rendi. E a rendição final aconteceu justamente quando pude ver a edição especial, finalmente, em 3D. Sensacional.
# Lunar (2009), de Duncan Jones – Em 1968 Stanley Kubrick lançou sua obra-prima, a ficção científica “cerebral” definitiva: 2001, uma odisséia no espaço. Eram os tempos da Guerra fria e, propositalmente ou não – da parte do diretor Andrei Tarkovsky creio que não – os soviéticos responderam com outra pérola cinematográfica, “Solaris” – posteriormente refilmado por Steven Soderbergh. Em 2009 o Novato Duncan Jones, filho de David Bowie, tomou como ponto de partida idéias extraídas dessas duas obras seminais para criar uma das mais interessantes e originais ficções científicas da década. Está lá o computador “inteligente” que interage com o(s) humano(s) solitário(s) preso(s) num casulo espacial, e estão lá os delírios e alucinações que não se sabe se têm origem externa desconhecida ou são apenas fruto da imaginação do personagem. A princípio o que poderia ser um mero plágio, mesmo que bem feito (vide o horripilante “A Ilha”, de Michael Bay, que toma “emprestado” algumas das melhores idéias já geradas no mundo da ficção científica para produzir um pastiche sem sentido), vai tomando rumos inesperados e se torna uma grata revelação. Filme produzido com orçamento baixíssimo, se sustenta quase que totalmente no talento de seus realizadores, talvez por isso tenha sido praticamente ignorado por sua produtora, a Sony (na lógica tacanha do mundo dos negócios, que por sinal é duramente criticado na película, pouco investimento requer pouca necessidade de retorno e portanto não há razão para se investir ainda mais em marketing), que o lançou diretamente no Mercado de vídeo em diversos países, incluindo o Brasil. Uma pena, teria sido ótimo ter visto esta pequena pérola no cinema.
# Filhos da Esperança (2006), de Alfonso Cuarón – Pode ser visto como um filme de ação e aventura dos mais empolgantes e movimentados, mas tem também como pano de fundo uma interessantíssima reflexão sobre temas políticos e sociais, além de fazer uma mais do que oportuna referência ao nosso estágio atual de desenvolvimento sócio-economico. Num futuro não muito distante, ou numa realidade alternativa, tanto faz, a humanidade se vê subitamente estéril. As pessoas simplesmente param de fecundar, o que provocará, evidentemente, a extinção da raça humana num curto período de tempo. Para conter a onda de pânico que se abate sobre todos, medidas de exceção são tomadas e o fascismo parece tomar conta do mundo – nada muito diferente de nossa realidade, já que vivemos sob a ameaça de um colapso ambiental provocado por nosso próprio estilo de vida e diante do medo constante de uma ameaça desconhecida que pode literalmente explodir a qualquer instante em qualquer parte do planeta, o que lançou a maior potência mundial numa esquizofrênica “guerra ao terror”. Brilhante exercício de estilo do diretor de “E sua mãe também”.
# E sua mãe também (2001), de Alfonso Cuarón – Divertidíssima comédia de costumes mexicana sobre dois amigos adolescentes burgueses mergulhados numa vida despreocupada regada a sexo, drogas e muita festa que se deparam “quase sem querer” com a realidade dura da vida ao conhecerem uma deliciosa mulher casada que os acompanha a uma suposta praia fictícia chamada “Boca do céu”. Sem afetações dramáticas, com o impacto próprio das grandes mudanças e dos grandes retratos. Estrelado por Gael Garcia Bernal, que havia sido revelado ao mundo no anterior “Amores Brutos”, de 2000.
# Grindhouse (2007), de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino – Injustamente fracassado projeto dos dois “enfants terribles” de Hollywood. Uma Sessão 2 em 1 homenageando o cinema trash de horror e ação. Acima de tudo, um exercício de estilo – a garota com uma metralhadora implantada no lugar da perna amputada é uma das mais bizarras e marcantes sacadas visuais da história da sétima arte. Os dois filmes foram relançados separadamente, mas vale muito a pena ver a versão original, principalmente pelos hilários treilers fictícios (um deles, “Machete”, virou filme de verdade).
# Quem quer ser um milionário? (2008), de Danny Boyle – Espécie de “Caminho das índias” do cinema “alternativo”, esta história folhetinesca diverte e emociona na medida certa se você, é claro, “entrar no clima”. Eu me diverti muito assistindo esse pastiche (para os detratores), ou homenagem, para os admiradores (e são muitos, haja visto que o filme ganhou o Oscar), ao cinema indiano, a tal “Bollywood”. Com direito, inclusive, a “dancinha”, no final. Eu gosto de Danny Boyle. Até de “A praia”, tão defenestado, eu gosto. Fraco mesmo, dele, só “por uma vida menos ordinária”.
# A Festa nunca termina (2002), de Michael Winterbottom – Brilhante retrato da história da legendária gravadora Factory e, por tabela, da fervilhante cena alternativa de Manchester. “Todo filmado com câmeras digitais, 24 Hour Party People beira o formato de um documentário e concentra esforços em três acontecimentos: a ascensão do Joy Division, a loucura do Happy Mondays e a euforia e o declínio do club Haçienda.” (omelete). Tudo isso pelo ponto de vista de Tony Wilson, apresentador de televisão que pressente (acertadamente) que o primeiro show dos Sex Pistols na cidade desencadearia um processo que daria no que posteriormente ficaria conhecido como “Madchester”. Para o bem e para o mal, só ficam de fora O Simple Red e os Smiths. Todo o resto está lá, muito bem retratado, incluindo os cultuados Durutti Column e A Certain Ratio.
# Extermínio (2002), de Danny Boyle – O bom e velho “filme de zumbi” repaginado para o século XXI pelo criador de um dos melhores filmes da década passada, “Trainspotting”. Danny Boyle teve uma sacada simples e certeira: porque não mortos-vivos ágeis e velozes no lugar dos tradicionais seres rastejantes? Para injetar mais realismo à coisa, as criaturas não são mais cadáveres trazidos de volta à vida de forma sobrenatural, mas vítimas de uma epidemia que se espalhou por toda a ilha britânica. A cena inicial, com o personagem principal percorrendo sozinho uma Londres estranhamente deserta, é antológica.
# Madrugada dos mortos (2004), de Zack Snider – No rastro do “revival” promovido pelo filme de Danny Boyle, eis que surge um belíssimo remake do clássico de George Romero, a segunda parte de sua trilogia dos zumbis. A premissa é a mesma: humanos ilhados num shopping center, numa brilhante metáfora da sociedade de consumo - não seríamos nós, consumidores, também zumbis, consumindo sem pensar tudo o que encontramos pela frente?. As cenas de ação, no entanto, foram turbinadas pelo conceito criado em “Exterminio”: eles não mais rastejam, eles correm, e muito, e são bem mais selvagens e vorazes. Eletrizante e assustador.
# Zumbilândia (2009), de Ruben Fleischer – É impressionante como uma idéia pode render tanto. Duvido que George Romero imaginasse que estava, na verdade, criando um novo gênero cinematográfico e toda uma nova mitologia de terror que se estende pelas mais diversas plataformas, como literatura e histórias em quadrinhos, ao filmar seu clássico “Night of the living Dead” na já distante década de 60 do século passado. Quando se pensava que nada de interessante poderia surgir de mais uma comédia sobre zumbis, eis que surge este “Zombieland”, que lida com os mesmos temas e as mesmas premissas mas consegue ser, ainda assim, divertidíssimo e, acredite, original. Excelente.
# Gomorra(2008), de Matteo Garrone – Uma máfia muito longe do glamour comumente retratado no cinema: feia, suja, ultraviolenta, amoral e totalmente desprovida de qualquer resquicio de “glamour”. Adaptação de um livro de sucesso baseado em fatos reais que enfureceu os personagens retratados, membros da camorra, a Cosa Nostra napolitana.
# Aconteceu em Woodstock (2009), de Ang Lee – Um filme “menor”, despretensioso, do aclamado diretor Ang Lee, mas que se revela divertidíssimo ao mostrar a epopéia que foi trazer a uma cidadezinha conservadora do interior dos Estados unidos o que viria a ser o maior festival de música (não apenas de rock) de todos os tempos. Retrata com perfeição o clima da época, e a meu ver o que muitos viram como um defeito eu achei uma grande sacada – não há uma imagem sequer dos shows em si. Porra, quem quiser ver OS SHOWS de Woodstock, é a só assistir O FILME “Woodstock”. Simples.
# Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos (2010), de Paulo Halm – Existe vida inteligente no mundo das comédias românticas produzidas no Brasil que não contam com a produção da Globo Filmes nem são dirigidas por Daniel Filho.
# Deixe ela entrar(2007), de Tomas Alfredson – Em meio à onda do momento, os “filmes de vampiro”, surge esta pequena pérola que narra uma inusitada história de amor entre uma vampira presa num corpo pré-adolescente e um garoto vítima de “bulliyng” na escola. Ao mesmo tempo lírico, tocante, violento e bizarro. Ressaltando que estou falando da versão original, sueca, e não do remake prestes a ser, mais uma vez, cometido por Hollywood.
# Mullholand Drive (2001), de David Lynch – (Wikipédia): “Uma jovem e atraente morena (Laura Harring), sobrevive a uma tentativa de assassinato e a um terrível acidente de automóvel, mas perde a memória. Em choque, encontra refúgio num apartamento. Betty (Naomi Watts), uma jovem recém-chegada a Los Angeles, com intenções de se estabelecer como atriz, chega de táxi ao mesmo apartamento, onde encontra a mulher morena desorientada, que assume o nome de Rita, porque viu o nome num cartaz do célebre filme “Gilda” com Rita Hayworth.” O que se vê a partir daí é um verdadeiro labirinto mental criado por situações surreais e imagens enigmáticas, tão ao gosto do hermético diretor David Lynch. Como a maioria dos filmes dele, não entendi quase nada, mas mesmo assim gostei muito. É como penetrar num mundo de pesadelos kafkianos. A confusão é tanta que o próprio Lych elaborou um “guia de pistas” para se entender a história, que reproduzo a seguir:
- No começo do filme, antes dos créditos, duas pistas são reveladas.
- Fique atento para o que está escrito no luminoso vermelho.
- Qual o título do filme, para qual o personagem Adam Kesher está realizando teste de elenco? Ele será mencionado mais uma vez durante o filme?
- O acidente é um importante acontecimento no filme. Onde ele acontece?
- Quem entrega a chave azul e porquê?
- Fique atento para o roupão, o cinzeiro e a caneca de café.
- Qual mistério é revelado no palco do “Club Silencio”?
- Somente o talento de Camilla pode ajudá-la?
- Fique atento para o objeto que está nas mãos do estranho homem que vive perto da lanchonete “Winkie”!
- Onde está tia Ruth?
# A Casa de Alice (2007), de Chico Teixeira – Um “filme de observação”, como bem definiu Marcelo Hessel em sua crítica no site Omelete. A casa de Alice é pobre, pequena e superlotada. Não chega a ser miserável, em termos financeiros, mas é triste, porque é desprovida de vida, de esperança.
# Violência Gratuita (2007), de Michael Hanneke – Refilmagem, quadro a quadro e com os mesmos diálogos, de um filme de 1997. Mas não se assuste: o que a princípio seria uma heresia deixa de sê-lo por ter sido praticado pelo mesmo autor/diretor. Assustadora fábula sobre a violência, onde dois jovens sádicos torturam, sem nenhum motivo aparente a não ser o simples prazer em praticar o mal, um casal de classe média. Não vi o original, mas gostei muito deste aqui, um verdadeiro exercício de estilo que coloca o expectador na incômoda condição de cúmplice do sadismo dos personagens.
# O Hospedeiro (2006), de Bong Joon-Ho – Bizarro, engraçado, político, aterrorizante e eletrizante. Muito suspense e cenas antológicas naquele que é o melhor “filme de monstro” do século, até o momento.
# Cloverfiled (2008), de Matt Reeves e J.J. Abrams – Pode ser que seja porque eu gosto muito de “filmes de monstro” (sempre curti, desde que assistia às aventuras da tartaruga espacial japonesa “Gamera” na sessão da tarde), mas me diverti bastante com esta fita que, a princípio, não teria nada de especial, já que usa recursos um tanto quanto manjados, como o tom documental captado em imagens tremidas que simulam uma câmera na mão. Mas não há como negar que o produtor J. J. Abrams (de Lost) tem estilo, e ele se reflete no resultado final. O monstro, em especial, é impressionante, sempre mostrado apenas de relance mas com um “design” bizarro e realmente assustador. Segundo melhor do gênero na década (só perde para “O Hospedeiro”).
# Machine Girl (2008), de Noboru Iguchi – Ok, nunca fui um grande fã de filmes trash, mas esse aqui me impressionou. Depois dele, você nunca mais verá as colegiais japonesas (adoro!) com os mesmos olhos. The Machine Girl conta a história de uma linda e vingativa japinha deliciosamente trajada naquele tradicional uniforme que consiste de uma blusa branca e saia vermelha xadrez e que faz a alegria de marmanjos babões mundo afora, só que com uma metralhadora adaptada no lugar de seu braço amputado. Ela resolve ir a forra com alguns ninjas e mafiosos malvados da forma mais cruel, divertida e trash possível. Esses japoneses são mesmo realmente malucos.
# Amarelo Manga (2002), de Claudio Assis – Retrato sem retoques de um mundo cão na periferia do grande Recife. Brilhantes interpretações de Matheus Nachtergale, no papel de um homossexual ressentido, Leona Cavalli, cujos pelos pubianos ilustram a foto em close do cartaz, Jonas Bloch, fazendo um taxista que gosta de dar tiro em cadáveres e Dira Paes, que surge na vida do tal taxista sedenta de sexo e perversão depois de uma decepção amorosa/vocacional.
# O Baixio das Bestas (2007), de Cláudio Assis – o diretor continua retratando o mundo cão com estilo, só que agora em ambiente rural, a zona da mata pernambucana. Depois de assistir às desventuras de uma criança explorada pelo avô e abusada por um “agroboy” e presenciar a prostituta vivida por Dira Paes ser currada com um bastão de madeira num cinema abandonado, fica ainda mais difícil nutrir alguma simpatia pela raça humana – porque essas coisas acontecem, de verdade, pode ter certeza.
# Estômago (2007), de Marcos Jorge – Um show de interpretação de João Miguel no papel de um rapaz humilde que usa seu talento incomum para a culinária para se dar bem em meio às adversidades da vida – especialmente quando ele vai parar na cadeia por conta de uma vingança cometida contra seu ex-patrão e uma prostituta pela qual era apaixonado.
# Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino – Cochilei (e muito) ao ver este filme no cinema, o que me deu a falsa impressão de que era um filme menor de Tarantino, uma infindável sucessão de diálogos intermináveis com algumas explosões de violência entre eles. Não deixa de ser verdade, mas revendo depois em DVD, percebo o que perdi: Ao contrário da primeira parte de Kill Bill, o outro filme que mais gosto de Tarantino nesta década, que é ação do início ao fim, ele realmente se sustenta em diálogos, e não há absolutamente nada de errado nisso, pois os diálogos são sensacionais. Especialmente os protagonizados pelo coronel nazista Hans Landa, magnificamente interpretado por Christoph Waltz. Os 20 primeiros minutos do filme, onde Tarantino já diz a que veio com um longo interrogatório conduzido pelo “caçador de judeus”, são dele, e dão o tom do que vem a seguir: uma verdadeira viagem a uma realidade paralela onde tudo parece funcionar de acordo com as regras (ou a falta delas) muitas vezes absurdas das referências cinematográficas que são a obsessão do diretor, notadamente os “westerns” e os “filmes de ação” – não por acaso, Enio Morriconi é uma presença constante na trilha sonora. Uma obra-prima, que já valeria a pena ser visto apenas para ouvir Brad Pitt falando italiano com sotaque de caipira norte-americano.
# Kill Bill Vol.1 (2003), de Quentin Tarantino – Fiquei meio que obcecado por esse filme desde a primeira (dentre as inúmeras) vez em que assisti. Trata-se de um brilhante exercício de estilo com uma identidade visual única baseada numa infinidade de referências à cultura pop, especialmente os filmes de artes marciais e os faroestes italianos. A segunda parte também é muito boa, mas este aqui é perfeito, com seu ritmo frenético e alucinante que não deixa espaço para fôlego em meio a uma sequencia de cenas de lutas absolutamente antológicas. Fetiches, violência estilizada e muito, muito sangue derramado.
# O invasor (2001), de Beto Brant – Paulo Miklos revela aqui seu maior talento, o de ator, ao interpreter um marginal “casca grossa” que chantageia dois sócios inescrupulosos que o haviam contratado para eliminar um terceiro que se recusava a participar de uma licitação fraudulenta. Poderia ter sido um bom motivo pra ele também sair dos Titãs e a gente ver se aquela merda acabava de uma vez, mas infelizmente não aconteceu.
# Donnie Darko (2001), de Richard Kelly – Ao som de clássicos dos anos 80, como Echo & the bunnymen (The Killing Moon), Tears for fears (Head over heels), Duran Duran (Notorious) e Joy Division (Love will tear us apart), somos apresentados a Donnie Darko, um rapaz aparentemente esquizofrênico que vive conversando com um amigo imaginário, um coelho de 1,80 de altura que anuncia para ele o fim do mundo – que chega na forma de uma turbina de avião que despenca do céu e destrói o quarto do protagonista, numa trama complexa que lida com conceitos de ficção científica, como viagens no tempo. “Cult movie” total.
# Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004), de Michel Gondry – Um dos melhores “filmes de amor” que já assisti (meu preferido é o classicão “Dr. Jivago”). E um filme muito, muito diferente. Parte de uma premissa meio que de ficção científica, a idéia de que poderia existir uma máquina que apagasse de nossa mente memórias dolorosas e/ou indesejadas. A tal máquina é usada por Joel Barish (Jim Carrey) para deletar de suas memórias qualquer resquício da existência de Clementine Kruczynski (Kate Winslet). Os dois eram namorados, mas depois de um tempo veio aquele marasmo e os problemas ficaram mais freqüentes que os sorrisos. No universo imaginado por Kaufman, sofrer por amor não é mais preciso. Basta ir à Lacuna Inc. e ter todas as memórias sobre determinada pessoa, animal, ou fato deletadas de sua mente para sempre. A questão é: vale mesmo a pena o sacrifício de esquecer momentos felizes apenas para escapar da dor de saber que eles ficaram para trás ? Tocante.
# Tropa de Elite 2 – O Inimigo agora é outro (2010), de José Padilha – Muito mais profundo e complexo. Muito mais história pra contar. Faz o primeiro parecer uma introdução.
# Tropa de Elite (2007), de José Padilha – Excelente como “filme de ação”, razoável como reflexão sociológica. Causou muita confusão ao ser acusado de fascista e “moralmente condenável” por boa parte da “inteligentsia” tupiniquim, fato que acho extremamente injusto para com o diretor José Padilha, que já havia mostrado a que veio no excelente (e humanista) “ônibus 174”. Em nenhum momento eu achei que o filme legitimava as atitudes do personagem do Capitão Nascimento, brilhantemente vivido por Wagner Moura. Muito pelo contrário: o retratava como uma pessoa assombrada, perseguida e perturbada em seu íntimo pelo que era “obrigado” a fazer em sua profissão. A única tese que é, a meu ver, encampada pelo filme e com a qual não concordo é a que condena os usuários de drogas pelo financiamento da violência do tráfico. Teve também um efeito colateral indesejável, que foi dar uma sobrevida ao ridículo e caricato grupo carioca de “rock” Tijuana. Fora isso, nota 10.
# X-Men 2 (2003), de Bryan Singer – Esta segunda parte da saga dos mutantes é geralmente considerada melhor que a primeira, mas tenho minhas dúvidas. Eu, particularmente, gosto muito dos dois filmes, mas confesso que o primeiro teve mais impacto, talvez por ver finalmente tão bem retratado na telona algo pelo qual eu era fanático nos anos 80, quando acompanhava avidamente as aventuras escritas por Chris Claremont e desenhadas por John Byrne na saudosa “Superaventuras Marvel”. Minha cena preferida, neste aqui, é a da fuga de Magneto – um exercício de criatividade a serviço do entretenimento de qualidade.
# O Senhor dos anéis 2 e 3 (2002/2003), de Peter Jackson – Nunca tive lá grande interesse pela literatura de JRR Tolkien, por isso veio bem a calhar a filmagem de sua principal obra – assim eu poderia saber, afinal, de que se tratava sem precisar mergulhar nos três calhamaços de páginas que compõem a trilogia. Confesso que o primeiro filme me decepcionou, com aquele papo furado piegas e aquela mitologia chata que só nerd de carteirinha agüenta. Se fosse só isso, tava fora. Felizmente resolvi arriscar a segunda e aí sim, o bicho começou a pegar e o filme se tornou o que eu esperava que fosse: uma aventura movimentada e sanguinolenta repleta de criaturas fantásticas em batalhas épicas. O terceiro segue na mesma linha e também é muito bom. O primeiro ficou na lembrança apenas como uma introdução muito longa, chata e desnecessária.
# Persépolis (2007), de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud – Quem foi que disse que História e política têm que ser assuntos chatos e entediantes? Esta animação baseada nos quadrinhos que contam histórias reais vividas por uma iraniana exilada na França está cheia dos dois, e é divertidíssima. Grandes sacadas, como a passagem em que a jovem senhorita descobre os prazeres da decadência cultural ocidental via pirataria de discos do iron maiden, que ela confunde com uma banda punk. Imperdível.
# Valsa com Bashir (2008), de Ari Folman – Mais história e política em animação – só que, neste caso, sem resquícios de bom humor. Acompanha as angustias de um ex-soldado israelense tomado pelo sentimento de culpa por ter presenciado e, indiretamente, participado dos terríveis massacres de Sabra e Chatila no Líbano.
# O Céu de Sueli (2006), de Karim Ainouz – Histórias sobre pessoas sonhadoras presas a um ambiente inóspito, provinciano e hostil costumam me tocar, pois me remetem ao meu passado, já que também nasci e fui criado numa cidade na qual me sentia deslocado. Este pequeno grande filme fala sobre a vontade irrefreável de Hermila (Hermila Guedes) de dar o fora de sua terra natal, uma cidadezinha perdida nos confins do sertão cearense. Sem dinheiro para a viagem, ela adota o pseudônimo de Suely e resolve rifar o próprio corpo entre os homens da cidade. O vencedor terá o que ela define como “Uma Noite no Paraíso”. Sua atitude gera muita polêmica entre o habitantes do local, principalmente em sua família, como era de se esperar. Enquanto o prêmio da rifa não sai, ela ainda tem que terminar uma questão mal-resolvida com um ex-namorado de adolescência, vivido por João Miguel em mais uma de suas impecáveis atuações.
# Anvil! – The story of Anvil (2008), de Sacha Gervasi – Tocante documentário sobre a busca obsessiva pelo sonho de uma vida de uma banda de Heavy Metal que não “aconteceu”. Um exemplo de perseverança e amor à arte.
# Metal: Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal (2005), de Sam Dunn, com Scot McFadyen e Jessica Wise – Documentário que acompanha a jornada do antropólogo canadense Sam Dunn, de 31 anos, fã de heavy metal desde os 12, através do mundo, para obter depoimentos dos maiores representantes do estilo e, com isso, montar uma verdadeira tese sobre as origens e os motivos deste tipo de musica ser tão popular, amado e odiado, na mesma medida, por tanta gente ao redor do mundo. O filme estreou em 2005 no Festival Internacional de Toronto e foi lançado em uma edição dupla em DVD nos Estados Unidos em 19 de Setembro de 2006. Se existisse uma “Escola de rock” nos moldes daquela que aparece num clipe antológico do grupo indie Yo La Tengo, este aqui seria item obrigatório no currículo.
# Global Metal (“7 Countries. 3 Continents. 1 Tribe.”) (2008), de Sam Dunn e Scot McFadyen – Continuação de “A Headbanger´s journey” mostrando a força do metal ao redor do mundo. Começa justamente no Brasil, investigando as origens do estilo em terras tupiniquins através de entrevistas com Carlos “Vândalo”, ex-Dorsal Atlântica, e membros do Sepultura, e passa por países nos quais ninguém suspeitaria que houvesse uma “cena metal”, por menor que seja, como o Irã e a China. Emocionante o registro do primeiro show do Iron Maiden em solo indiano – me vi lá, e é exatamente o que teria acontecido comigo caso tivesse ido ao histórico show deles em Recife. Teria sido um sonho de adolescente enfim realizado.
# Guidable – A Verdadeira História dos Ratos de Porão (2008), de Fernando Rick e Marcelo Appezzato – Este tem um valor sentimental, já que sou e sempre fui um grande fã dos Ratos de Porão. Mas mesmo para quem não curte a banda vale a pena ver o filme – creio que funcionará como uma comedia involuntária, pois é impossível não cair na gargalhada com as infindáveis histórias de perrengues sem noção nas quais esses malucos se envolvem.
# Loki (2008), de Paulo Henrique Fontenelli – Emocionante retrato da vida de Arnaldo Baptista, genial líder e fundador dos Mutantes, a melhor e mais importante banda de rock brasileira de todos os tempos e uma das maiores do mundo (há quem diga que, caso tivesse nascido sob os holofotes do primeiro mundo, teria tido a mesma importância dos Beatles e dos Rolling Stones). Intercala depoimentos atuais com entrevistas e imagens raras de época.
# Toy Story 3 (2010), de Lee Unkrich – Essa pixar é REALMENTE foda. Passou uma eternidade desde o segundo Toy Story, e não é que eles conseguiram completar uma trilogia com uma história ainda melhor que as anteriores? E pasmem: com mais um estrondoso sucesso nas bilheterias. Os brinquedos-vilões são antológicos, especialmente o urso de pelúcia psicologicamente perturbado e o Ken (aquele mesmo, o da Barbie) metrosexual.
# Longe do Paraíso (2002), de Todd Haynes – Tocante drama focado no preconceito racial, um tema que, particularmente, me comove bastante. Cathy (Julianne Moore), esposa (branca) de um rico empresário bem sucedido da cidade de Hartford, Connecticut, interior dos Estados Unidos, sofre ao tentar desenvolver uma amizade (que aos poucos vai se transformando em algo mais) inter-racial com o seu jardineiro (Dennis Haysbert), negro. Estamos nos anos 50, então dá pra imaginar a instransponível barreira de preconceito e crueldade contra a qual os dois acabam se chocando. Belíssimo filme, merecia ter ganhado pelo menos um dos quatro Oscar a que foi indicado.
# Onde os fracos não tem vez (2007), de Ethan e Joel Coen – Ponto mais alto da carreira dos Irmãos Cohen, já que com esse “western” moderno eles abocanharam as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção na cerimônia do Oscar. Anton Chigurh, o matador implacável interpretado pelo espanhol Javier Bardem, já é um dos grandes vilões da história do cinema.
# A Má Educação (2002), de Pedro Almodóvar – De uns tempos pra cá a crítica especializada deu pra pegar no pé de Almodóvar, assim como no de Woody Allen. Discordo em gênero, número e grau em ambos os casos: ambos continuam mandando muito bem. “A Má Educação” tem um que de autobiográfico ao contar a história de dois amigos, Enrique (Féle Martinez) e Ignacio (Gael García Bernal), que compartilharam de uma dramática experiência infantil num colégio jesuíta onde a pedofilia de um dos padres, Manolo (Daniel Gimenez-Cacho), era um segredo mal-escondido – drama ao qual, ao que parece, o diretor também foi exposto. Separados um do outro por 16 anos, os dois se reencontram e têm, finalmente, a oportunidade de uma vingança tardia (o tal prato que se come frio) através de um longamente adiado ajuste de contas contra o padre molestador. Forte, menos colorido, mais “noir”, mas ainda Almodóvar e em grande forma.
# Igual a tudo na vida (2003), de Woody Allen – É um filme de Woody Allen em que Christina Ricci aparece de calcinha. Ponto final.
# Maria Antonieta (2006), de Sofia Coppola – Espécie de “fábula” baseada na história real da célebre rainha da França decapitada pela revolução, aquela mesma que supostamente teria respondido “que comam brioches” ao ser informada de que o povo não tinha pão. A diretora Sofia Coppola (filha de você sabe quem) tenta, numa interpretação livre e regada a musica contemporânea (the cure, strokes, Bow Wow Wow, gang of four, siouxsie and the banshees, new order), entender um pouco do universo irreal no qual estava imersa a personagem, o que resulta num belo (e interessante) retrato do anacronismo em que vivia a monarquia absolutista francesa diante do avanço inexorável da História. Com isso, escapa do maniqueísmo e consegue retratar a arquiduquesa austríaca que é enviada a Paris para se casar com o príncipe Luis XVI e assim garantir a linhagem de nobres e manter a boa relação entre as duas nações como um ser humano, uma mulher que, no fundo, só queria o que todos nós queremos: ser feliz. É sempre interessante assistir a mais uma eficiente humanização de um mito “negativo”, como em “A Queda, as últimas horas de Hitler”.
# A Queda, as últimas horas de Hitler (2004), de Oliver Hirschbiegel – Impressionante retrato da derrocada final do terceiro reich, com uma excelente caracterização de personagens históricos como Goebbels e Eva Braum, além do fuhrer em pessoa, doente e abalado, numa magnífica interpretação de Bruno Ganz. O filme fez muito sucesso (inclusive aqui, em Aracaju, onde ficou várias semanas em cartaz), o que atesta o fascínio que a história do ditador nazista ainda exerce. Foi criticado por, supostamente, “humanizar” a figura de Hitler, o que, convenhamos, é ridículo, já que ele era, DE FATO, humano – “demasiado humano” até, diria Nietsche, para o horror daqueles que se recusam a acreditar nas atrocidades que a humanidade é capaz de cometer.
# O segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee – Se não chorei (não me lembro muito bem) foi por muito pouco, depois de assistir a esta emocionante história de amor entre dois indivíduos que, por acaso, são do mesmo sexo, no ambiente hostil e preconceituoso do oeste Americano. Pelo menos vontade de chorar, tenho certeza que tive. Esse tipo de história me emociona mesmo, porque fico tentando me colocar no lugar dessas pessoas, vítimas de concepções absolutamente absurdas que as faz reprimidas e infelizes. Fico lembrando de quando Morava em Itabaiana e ficava impressionado com a coragem e a altivez de um rapaz homosexual que desafiava a tudo e a todos desfilando impavidamente com todos os seus trejeitos afetados e afeminados, tentando ignorar os insultos dos quais era vítima por todos os lados – as pessoas simplesmente não deixavam o cara em paz! Impressionante.
# Anti herói Americano (2002), de Shari Springer e Robert Pulcini – Alguém já disse que a história de qualquer um, desde que bem contada, daria um bom livro – ou filme. Este filme corrobora essa “tese”. Relata a vida rotineira e aparentemente sem nenhum atrativo em especial de Harvey Pekar, um arquivista de um hospital de Cleveland. Ele tinha tudo para passar por este mundo sem chamar muita atenção, mas era amigo de Robert Crumb, o mito dos quadrinhos “underground”, e um dia teve a idéia inusitada de contar seu dia-a-dia em forma de quadrinhos, com o auxilio luxuoso do amigo famoso. Foi um sucesso – ao ponto de cair nas graças de David Letterman, do célebre “The Late show”, um dos programas de entrevista com maior audiência nos Estados Unidos (algo parecido com o que acontece aqui entre Jô Soares e Rogério Skylab). O filme retrata de forma brilhante a história da vida ordinária porém ainda assim muito interessante de Pekar, que ainda estava vivo quando do lançamento (ele morreu aos 70 anos em 12 de julho de 2010).
# O cheiro do ralo (2007), de Heitor Dhalia – Sou fã de Lourenço Muttarelli desde a primeira vez em que pus os olhos em suas maravilhosas obras em “bandas desenhadas”, nas revistas Animal e Mil Perigos. Pra mim, é o melhor autor de História em quadrinhos do Brasil – como desenhista E roteirista, algo raro, por aqui. Infelizmente, parece que ele se cansou de dar murro em ponto de faca (se há uma categoria artística sem prestígio no Brasil, é esta) e resolver ser “apenas” escritor. E Ator !!! Um surpreendentemente bom ator, diga-se de passagem. Ele faz um papel secundário nesta adaptação de um de seus livros em que Selton Melo dá um verdadeiro show de interpretação como Lourenço, o infeliz proprietário de uma loja de compra e venda de objetos usados que começa a ter delírios de grandeza a partir do incômodo cheiro exalado pelo ralo do banheiro entupido. Apaixona-se pela bunda (isso mesmo, não pela “proprietária” da bunda, pela bunda, em si) de uma garçonete e começa a “coisificar” seus “clientes”, humilhando-os e catalogando-os a partir dos objetos que eles tentam lhe vender. Extremamente minimalista, com cenários que se restringem a galpões decadentes e objetos antigos empilhados, se sustenta totalmente nos diálogos afiados e nas excelentes atuações de todo o elenco. Um verdadeiro triunfo.
# O labirinto do Fauno (2006), de Guillermo Del Toro – Magnífica e sombria fábula política e psicológica repleta de metáforas e alegorias. Com um visual deslumbrante, penetra na mente de uma criança que tenta escapar da realidade sufocante em que vive, em plena época da ditadura fascista do general Franco. Fantasia e realidade se misturam em cores vibrantes e personagens fascinantes, num estilo que remete a uma mistura dos universos fantasiosos de Terry Gillian e Tim Burton com a tradição surrealista espanhola, cujos maiores expoentes foram o cineasta Luis Bunuel e o artista plástico Salvador Dali.
# Fale com Ela (2002), de Pedro Almodóvar – Grande Almodóvar! Num de seus melhores trabalhos, conta a história de um enfermeiro efeminado que cuida de uma bailarina em coma e, involuntariamente, acaba ensinando um jornalista a lidar com a situação de incomunicabilidade pela qual está passando com sua amante, Lydia, uma toureira que também entra em coma depois de ser atingida na arena. “Fale com ela”, é a lição. Apenas fale. Amor incondicional, é isso.
# Match-Point (2005), de Woody Allen – Fui assistir este filme numa condição curiosa: convidei uma amiga par ir ao cinema sem saber que ela não gostava de comédias. Para minha sorte, apesar de ser um dos melhores filmes de Woody Allen, NÃO È uma comédia. É uma espécie de homenagem aos “thrillers” de Alfred Hitchcock, com direito, inclusive, à ênfase no erotismo e à fixação por uma loira fatal (Scarlett Johanssen, linda de morrer), duas das principais características do mestre do suspense. O filme se passa em Londres (a partir dele o cineasta passou a experimentar filmar com mais frequencia fora de seu cenário habitual, a cidade de Nova York) e é uma primorosa história de adultério e traição que remete a “Crime e Castigo”, de Dostoiévsky (um dos personagens principais é flagrado lendo o livro numa das cenas) e com a própria situação de Allen, “traindo” sua amada “grande maçã” ao filmar tendo como cenário o “fog” londrino.
# Scoop (2006), de Woody Allen – Que se foda a crítica “ranheta” que insiste em afirmar que Woody Allen “perdeu o timing”. Scoop é uma comédia engraçadíssima sobre um “furo de reportagem” paranormal conseguido pelo espírito de um jornalista falecido no barco de Caronte, que conduz as almas ao mundo do além, e transmitido pelo fantasma à reporter novata Sondra, vivida por … Scarlet Johanssen ! Linda ! Linda demais ! Maravilhosa !
# O Guia do Mochileiro das galáxias (2005), de Garth Jennings – Por incrível que pareça, pelo menos que eu me lembre, eu nunca tinha ouvido falar do “Guia do Mochileiro das galáxias” até circa 2005, quando começou-se a especular sobre a produção cinematográfica baseada na célèbre série de ficção científica satírica publicada por Douglas Adams em 1979 e que tem um verdadeiro séquito de fãs fiéis ao redor do mundo. Com um senso de humor muito parecido ao dos também britânicos do Monty Pithon, a história, na verdade, surgiu como uma novela de rádio, que foi compilada em fitas cassete e só então virou um bestseller literário. O filme foi roteirizado pelo próprio Adams (com a ajuda de Karey Kirkpatrick), que infelizmente morreu de ataque cardíaco antes de poder conferir o resultado final. Adapta o primeiro livro e narra as delirantes aventuras de Arthur Dent, um cara comum que, ao lutar para evitar a demolição de sua casa, é surpreendido, ao lado de toda a população da terra, pelo anúncio de que o próprio planeta seria removido para obras de ampliação da Via Láctea. Ao lado do amigo Ford Perfect, que se revela um alienígena que havia passado os últimos 15 anos na terra disfarçado com o intuito de estudar os hábitos dos humanos para a atualização do “Guia do Mochileiro das galáxias”, um livro que explica tudo, ele embarca numa nave movida a “probabilidade infinita” (não sem antes escapar das garras dos Vogons, a raça de burocratas encarregada de tocar as obras que varrerão a terra do mapa) e vive muitas aventuras em busca do significado “da vida, do universo e de tudo o mais”, sempre com o auxílio de uma toalha de banho, imprescindível para qualquer viajante espacial, e do onipresente guia. O filme não é tão bom quanto o livro, tem uma narrativa um tanto quanto histérica e um ritmo truncado, mas no geral transpõe de forma satisfatória para a telona alguns personagens antológicos como Prostetnic Vogon Jeltz, o burocrata/poeta-torturador, e o “paranoid android”, robô deprimido que já foi inclusive homenageado pelo Radiohead na música de mesmo nome. Vale uma conferida, nem que seja como introdução ao mundo maluco da mente de Douglas Adams, que inclusive foi homenageado por Richard Dawkins no seu já célebre livro “Deus, um delírio”.
# A Origem (2010), de Christopher Nolan – Apesar do ritmo frenético e exageradamente corrido, com uma verdadeira avalanche de explicações de regras vomitada a todo instante pelos personagens, é impossível não se deslumbrar com esta engenhosa aventura que se passa nos sonhos, especialmente pelo visual delirante e surreal que, em muitos casos, lembra as telas de Salvador Dali. O ponto alto, visualmente falando, é a cena em que a arquiteta faz com que o chão sob seus pés se contorça e passe a ser, ao mesmo tempo, o céu sobre suas cabeças. Excelente também o desenvolvimento da trama, em que camadas de sonhos se sobrepõem numa verdadeira epopéia que, no final das contas, nada mais é do que uma reimaginação dos tradicionais “filmes de assalto”. A cereja do bolo é o final, que deixa as conclusões por conta da cabeça do expectador.
# Pecados Íntimos (2006), de Todd Field – Drama pesado com tramas paralelas: desejo reprimido, intrigas, traições e uma difícil convivência entre típicos cidadãos de classe médio dos subúrbios americanos e um pervertido, preso por exibir-se para uma criança, que já cumpriu sua pena mas tem que continuar pagando por seus pecados como um pária social.
# Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles – Um marco na história do cinema nacional. Talvez (frise-se muito bem o talvez, pois há, certamente, controvérsias) o melhor filme brasileiro já feito. Numa edição frenético porém com um ritmo perfeito, é contada a história da “bandidagem” do bairro do subúrbio carioca que surgiu a partir da desocupação de áreas nobres na região da lagoa Rodrigo de Freitas. Uma história real, diga-se de passagem – para que não reste dúvidas quanto a isso, são exibidas, em meio aos créditos finais, matérias veiculadas na época retratada pelo Jornal Nacional. Dentre os muitos aspectos antológicos, ficaram para sempre os bordões: “Dadinho o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, porra”. “Pega a galinha aí, rapá”. Antológica a exibição no horário nobre da rede Globo, SEM CORTES: não esqueço como foi surreal ver na telinha, em rede nacional, a dica de uma das personagens para que a outra se acostumasse com o sexo anal, envolvendo uma banana “esquentada” enfiada num ponto estratégico.
# Tiros em Columbine (2002), de Michael Moore – Eu gosto de Michael Moore. Me identifico com seu posicionamento político e não o acho manipulador. Ele começou a se destacar pra valer com este antológico documentário em que tenta desvendar (sem muito sucesso, diga-se de passagem) a fascinação dos estadunidenses (porque norte-americanos os canadenses também são) pela violência e pelas armas de fogo, tendo como ponto de partida a tragédia provocada por dois adolescentes (Dylan e Eric) que mataram 14 estudantes e um professor na Columbine High School, em 1999. Dentre as inúmeras passagens curiosíssimas, destaca-se a do banco que dá de presente um rifle a qualquer um que se torne seu correntista e a viagem ao Canadá para constatar que lá tudo é diametralmente oposto aos Estados Unidos no quesito violência urbana – as pessoas, inclusive, costumam deixar as portas de suas casas constantemente abertas ! Se só isso não bastasse, conseguiu um feito prático: convenceu a rede de Lojas Wall-mart a parar de vender munição.
# Farenheit 9/11 (2004), de Michael Moore – Como não poderia deixar de ser, as baterias aqui são voltadas para a Besta-Fera do Apocalipse, o maior energúmeno a alcançar o posto político mais importante na história da humanidade: George W. Bush. Nem vou perder o meu tempo tecendo maiores comentários, pois é um daqueles filmes sobre os quais tudo o que poderia ser dito já o foi. Antológico.
# Babel (2006), de Alejandro González Iñárritu – Não gosto muito de “21 gramas”, mas adoro “Amores Brutos” e este “Babel” – filmes que formam uma espécie de trilogia, já que têm uma estrutura bastante semelhante, baseada no encadeamento de várias histórias e personagens paralelos. Aqui e globalização e a “teoria do caos” interferem na rotina de pessoas de diferentes partes do mundo que, a princípio, não têm absolutamente nada em comum, a não ser o fato de todos viverem no mesmo planeta.
# Os Incríveis (2004), de Brad Bird – Mais uma incrível (sic) variação sobre o tema criado por Alan Moore em Watchmen: Heróis no “mundo real”, e aposentados. “Quando conhecemos os personagens principais, eles estão no auge de suas carreiras de salvadores do mundo, vivem na mídia e trabalho é o que não falta. Mas após um incidente com uma das pessoas em perigo, os heróis começam a ser alvo de processo em cima de processo. O governo então cede à pressão popular e acaba proibindo a ação de superseres” (Marcelo Forlani, no Omelete). O Sr. Incrível, no entanto, não consegue se adaptar a esta nova rotina e acaba arrastando toda a sua família, também composta por “superseres”, de volta à ação. Diversão garantida “para toda a família”.
# Sin City (2005), de Frank Miller e Robert Rodriguez – A segunda melhor adaptação de uma História em quadrinhos já feita – só perde pra “Watchmen”. Nunca a tela do cinema reproduziu com tanta perfeição de detalhes o visual de uma obra impressa. Pequenas histórias com clima “noir” e conteúdo “hard core” (violência extrema) que se passam na sombria “cidade do pecado” criada por Miller para sua antológica série em quadrinhos. Prostitutas guerrilheiras, clérigos corruptos, tiras durões e todo o tipo de psicopatas compõem a fauna que habita esta película, imperdível para qualquer um que se interesse por cinema “com colhões”.
# Wall-E (2008), de Andrew Stanton – Mais um triunfo da Pixar. É a história de um robozinho deixado na terra para cumprir a impossível tarefa de recolher o lixo produzido pelos humanos, que partiram para o espaço. É também uma história de amor, já que Wall-E se apaixona por Eva, uma “robôa” exploradora extremamente elegante, cujo design foi inspirado no dos i-Pods da Apple. Uma magnífica crítica aos “tempos modernos” (os humanos se tornaram obesos, já que não se movem mais para nada, usando a tecnologia para absolutamente tudo, desde a locomoção até os contatos sociais) com uma belíssima referência ao imortal HAL 9000, de “2001 – Uma odisséia no espaço”.
# Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi – Demorou, mas finalmente alguém fez uma adaptação decente do célebre personagem dos quadrinhos que revolucionou o conceito dos “super-heróis”. A única coisa que eu não gostei foi da armadura bizarra usada pelo Duende Verde, que o faz parecer com algum personagem tosco de série televisiva japonesa.
# Homem-Aranha 2 (2004), de Sam Raimi – Melhor que o primeiro. O Dr. Octopus é ótimo, um dos melhores vilões já criados. Os tentáculos funcionam muito bem na tela grande.
# Atividade Paranormal (2009), de Oren Peli – Surpreendente filme de horror que parte de uma premissa pra lá de batida, já explorada no fenômeno “A Bruxa de Blair”, mas consegue assustar – e muito! Tudo graças ao talento do diretor estreante, que sabe criar o clima de suspense com uma maestria impressionante. Não por acaso tornou-se outro fenômeno, arrastando multidões para as salas de cinema.
# Os outros (2001), de Alejandro Amenábar – Uma brilhante “pegadinha”. Nada é o que aparenta ser nessa assustadora história sobre fantasmas. Quase tão bom quanto “o sexto sentido” – interessante como o conceito me assusta, apesar de eu não acreditar em vida após a morte. Talvez por isso mesmo: ver um fantasma seria, para mim, duplamente assutador, já que desafiaria minha racionalidade. “No creo em brujas, pero que las hay, las hay”.
# Shrek (2001), de Andrew Adamson e Vicky Jenson – E eis que a Pixar encontra finalmente um rival à altura na figura do ogro do pântano apaixonado pela princesa encantada e atormentado pelo Burro falante, um dos personagens mais deliciosamente irritantes já criados, capaz de rivalizar com o Patolino dos Looney Tunes ou o Cartman de South park. Ressaltando a diferença de que o Burro é gente boa, não tem o caráter duvidoso dos dois outros personagens citados.
# Shrek 2 (2004), de Andrew Adamson Kelly Asbury – Melhor que o primeiro. O Gato de Botas é antológico.
# A Era do gelo (2002), de Chris Wedge e Carlos Saldanha – Superprodução hollywoodiana co-dirigida por um brasileiro! Divertidas aventuras de personagens antológicos numa era pré-histórica em que o mundo era gelado. Valeria a pena ser visto só pelas trapalhadas do esquilo Scrat tentando abrir sua noz.
# A Era do Gelo 2 (2006), de Carlos Saldanha – Melhor que o primeiro. O brasileiro assumiu as rédeas da franquia e mandou muito bem, com sucesso de público e crítica. A mamute que pensa ser um gambá é um personagem impagável.
# A Era do Gelo 3 (2009) de Carlos Saldanha e Mike Thurmeier – Melhor que o segundo (sou fascinado por dinossauros, desde criança).
# Adeus Lênin (2003), de Wolfgang Becker – Deliciosa fábula política em que o filho de uma dedicada funcionária do Partido Comunista Alemão tenta poupar sua mãe, enferma, do choque provocado pela queda do muro de Berlim, que ela não viu porque estava em coma. Situações impagáveis, como a explicação dada por ele para a enorme publicidade da Coca-Cola que ela consegue ver pela janela: “A senhora não sabia? Nós descobrimos que fomos nós, os comunistas, que descobrimos a fórmula. Os malditos ianques capitalistas a roubaram.”
# Monstros S.A. (2001), de Pete Docter – Um dos filmes mais engraçados que eu já tive o prazer de assistir. A premissa é sensacional: Os monstros que as crianças tanto vêem dentro dos armários existem, eles são funcionários da companhia elétrica de seu mundo, movido à energia gerada pelos gritos de horror dos humanos pequeninos. Um deles, a fofíssima “Boo”, consegue escapar para sua “dimensão paralela” e pronto: a confusão está armada.
# Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (2006), de Larry Charles – Um dos filmes mais engraçados que eu já tive o prazer de assistir. Borat Sagdiyev é o segundo melhor repórter do Glorioso País Cazaquistão, irmão da segunda melhor prostituta da referida nação, e está de viagem pela América com o intuito de produzir um documentário sobre os estranhos hábitos deste povo distante. No caminho, no entanto, se apaixona por Pamela Anderson (“Pamiéla”), mesmo depois do choque de descobrir, através do famoso vídeo caseiro exibido para ele por uns garotos da estrada, que ela não era mais virgem. Acho que, desde “A Vida de Brian”, do Monty Python, eu não ria tanto assistindo um filme.
# Bruno (2009), de Larry Charles – Não é tão bom quanto Borat, mas é ótimo. Dentre as inúmeras cenas engraçadíssimas, destaque para a surra que o personagem leva ao tentar virar hetero e para o inacreditável boquete “espiritual”.
# Ônibus 174 (2002), de José Padilha e Felipe Lacerda – Emocionante reconstituição da vida trágica do garoto de rua que morreu sufocado pela polícia depois de sequestrar e manter como reféns os passageiros da linha 174, no Rio de janeiro, em 12 de junho de 2000. A trágica morte da professora que ele usou como escudo humano foi transmitida ao vivo, em tempo real, pela televisão, para todo o país.
# O Clã das Adagas Voadoras (2004), de Zhang Yimou – Esqueça aquela chatice de Ang Lee, “O tigre e o dragão” (gosto muito dele como diretor, mas esse pastiche de artes marciais é muito chato, cruz credo). Vá direto na fonte: “O clã das Adagas voadoras” é mais autêntico, tem um visual ainda mais deslumbrante e um colorido arrebatador. As sequencias de artes marciais, com as coreografias exibidas em câmera lenta, beiram a perfeição. “No ano 859, a China passa por terríveis conflitos. A dinastia Tang, antes próspera, está decadente. Corrupto, o governo é incapaz de lutar contra os grupos que se rebelam. O mais poderoso e prestigiado deles é o Clã das Adagas Voadoras. Leo e Jin, dois soldados do exército oficial, recebem a missão de capturar o misterioso líder do grupo e, para tanto, elaboram um plano: Jin se disfarça como um combatente solitário, ganha a confiança da bela revolucionária cega Mei e, assim, infiltra-se no grupo. Mas a dupla não contava com os sentimentos que Mei despertaria nos dois.” (Mario Fanatic Abbade, no Omelete)
# As bicicletas de Belleville (2006), de Sylvain Chomet – Deslumbrante animação “para adultos” (ou não) que conta, num traço perfeito, a História de Madame Souza, uma senhora portuguesa “cujas ânsias estão dirigidas única e exclusivamente a seu neto, a princípio um garoto rechonchudo e melancólico. Primeiramente, ela lhe compra um cachorro, que acaba por preencher o vazio na vida do menino – o animal, porém, é logo esquecido, sendo substituído por uma bicicleta. A partir de então, o rapaz cresce e torna-se aficionado por ciclismo, uma paixão amplamente apoiada – e estimulada – por Madame Souza. Quando surgem notícias de que haverá um campeonato, o jovem não pensa duas vezes: logo começa a se preparar. Porém, é lá, no circuito, que a confusão tem início, ao ter seu neto seqüestrado. Madame Souza parte em uma aventura bastante surreal cheia de referências ao nosso mundo, a outras obras cinematográficas e muita crítica ao modo de vida atual.” (http://www.cineplayers.com/filme.php?id=97)
# Mary e Max (2009), de Adam Elliot – Animação depressiva, feita em massinhas no bom e velho sistema “stop motion”, que relata a improvável relação entre uma garotinha australiana e um judeu de meia-idade novaiorquino recluso e psicologicamente afetado. A amizade entre eles é capaz de romper todas as barreiras e distâncias – de idade, de sexo, geográficas e de maturidade …
# A Viagem de Chihiro (2001), de Hayao Miyazaki – Belíssima “viagem” do mestre Hayao Miyazaki através da mitologia japonesa, com sua infinidade de espíritos e criaturas fantásticas. Tudo através do ponto de vista de Chihiro, uma criança que parte em busca de seus pais desaparecidos e no meio da jornada tem que aprender a superar seus medos e limitações em uma história que pode ser classificada como um conto de fadas moderno. Perfeito.
# Waking Life (2001), de Richard Linklater – Filosofia em desenhos animados. Um verdadeiro furacão de idéias, divagações e devaneios. É um tanto quanto verborrágico e, por isso mesmo, difícil de acompanhar, mas se você se deixar envolver, vai se deslumbrar com essa originalíssima idéia de um dos mais competentes e ecléticos diretores de cinema de nossos tempos.
# O Homem Duplo (2005), de Richard Linklater – Usando a mesma técnica de animação de “waking Life” (a rotoscopia, que “pinta” os atores e cenários reais, incluindo novas cores e texturas na película), Linklater se aventura aqui em mais uma adaptação para o cinema de uma obra de Phillip K. Dick, no caso, o romance “A scanner darkly”, que conta a confusa história de um policial (Keanu Reeves) disfarçado (profundamente disfarçado, diga-se de passagem) que recebe a incumbência de investigar seu próprio alter-ego, o traficante Bob. Aos poucos, as duas personalidade vão se fundindo, confundindo e, literalmente, “fundindo a cuca” de seus hospedeiros e do expectador. Phillip K. Dick quase nunca é fácil, mas é sempre brilhante.
# Escola do rock (2003), de Richard Linklater – Mais um do Linklater (gosto desse cara). Esse não tem nada de cerebral nem de rebuscado, muito pelo contrário: é diversão descompromissada para ser assistida em família, caso prefira (eu, se tivesse filhos, exibiria para eles, com toda a certeza). É a divertidíssima história de um roqueiro “frustrado” que se passa por professor e tem a brilhante idéia de dar aulas de … rock ! A idéia é bastante parecida com a de um clipe do Yo La Tengo (sensacional, por sinal), e Jack Black, como sempre, está ótimo.
# Sede de Sangue (2009), de Park Chan-wook - Mais uma bizarra variação sobre o mito do vampiro cometida, desta vez, por um cineasta oriental, o coreano Park Chan-woo, autor da Trilogia da Vingança formada por Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (2005). Um padre católico participa de um experimento científico e, como consequencia, é infectado por um vírus que o transforma numa espécie de morto-vivo chupador de sangue e com poderes sobrenaturais. Seus instintos, inclusive os sexuais, afloram, o que o faz entrar em conflito com sua fé. Para a sede de sangue ele até que encontra uma solução inusitada porém moralmente aceitável. Já para a sede de sexo ... Sucumbe aos encantos de uma sedutora garota que é tratada como escrava por uma familia de amigos e é usado por ela como instrumento de vingança, além de tentar a todo custo convencê-lo de que ele deveria se deixar dominar, também, por seu instinto de predador, algo que, de fato, ela exercita com total desprendimento ao tornar-se, também, uma vampira. Há quem acuse o diretor de misoginia por conta de sua fixação em "femmes" literalmente "fatalles". O fato é que o cara é muito bom, e tem muito estilo, inclusive visual: interessante o conceito da casa remodelada do casal de vampiros, toda pintada de branco e iluminada com luzes fluorescentes - seria para compensar a impossibilidade de expor-se à luz do sol ?
# O Lutador (2008), de Darren Aronofsky – “Só a vida pode nocauteá-lo”, estampa o cartaz desse filme. E nocauteia. Depois de uma ficção científica cerebral que pouca gente viu e muito menos entendeu, Aronofsky simplifica as coisas e nos conta a emocionante história de redenção de Mickey “The RAM” Rourke – a história de ambos, do personagem e do ator que o interpreta. The RAM é um astro da luta livre envelhecido e decadente, que começa a pedir ajuda aos que o cercam e um dia o amaram (sua filha, especialmente) um tanto quanto tarde demais, quando sua personalidade fraca e afundada em excessos já os tinha afastado, ao que tudo indica, para sempre. Ele tenta mudar, mas não consegue. A carne é fraca. Muito fraca.
# A Fita Branca (2009), de Michael Haneke - As origens psicológicas do mal são exploradas nesta fita sombria com uma magnífica fotografia em preto e branco. Acontecimentos estranhos estão ocorrendo num vilarejo alemão às vésperas da primeira guerra mundial. O mistério da autoria dos crimes, aparentemente motivados pelo ódio, esconde a gestação da serpente que ameaçará o mundo dali a alguns anos, com a ascenção do nazismo. "Barbarism begins at home", já dizia Morrissey numa música do The Smiths.
# Ensaio sobre a cegueira (2008), de Fernando Meirelles – Dizem que o livro é melhor (sempre dizem). Não sei porque não li – ainda. Mas a premissa é interessantíssima: um surto de cegueira assola a humanidade e, diante das circunstâncias pra lá de adversas, todas as características humanas, para o “bem” ou para o “mal”, afloram, em toda a sua magnitude. A cena do estupro coletivo é fortíssima. O próprio Saramago gostou, então quem sou eu pra dizer que é ruim.
# Hellboy 2 (2008), de Guillermo Del Toro – Prefiro este ao primeiro. O visual é mais rebuscado e o roteiro, muito embora também beire o absurdo (normal, em se tratando das aventuras de um demônio-detetive que trabalha numa agência que investiga eventos paranormais), é melhor resolvido. Mais uma vez o cinema busca sua fonte de inspiração nas Histórias em quadrinhos, e acerta.
# [rec] (2007), de Jaume Balagueró e Paco Plaza - Mais um daqueles filmes despretensiosos que surpreendem pelo talento de seus realizadores. É uma assutadora história de zumbis que se passa num edifício em quarentena na espanha. O final é absolutamente aterrador. Há uma versão norte-americana não de todo ruim, apesar de totalmente desnecessária.
# Animatrix (2003)(vários) – 9 contos animados que se aprofundam no universo criado pelos irmãos Wachovsky. Extremamente influenciados pelos animes, as animações japonesas. Nos extras é desenvolvida uma teoria que já existia de forma embrionária em minha cabeça: Os japoneses foram, pelo menos até o momento, o único povo exposto a um bombardeio nuclear massivo, e isso pode explicar, em parte, a fixação que eles têm por universos apocalípticos.
Matrix Reloaded (2003), de Larry & Andy Wachowsky – Exageros à parte (e eles são muitos), a segunda parte da trilogia Matrix não chega a ter o brilhantismo do primeiro filme, mas é excelente como diversão e tem também conceitos bastante interessantes, como o das crianças que “entortam” garfos com a força do pensamento na casa do oráculo. Destaque para a espetacular cena de perseguição na “freeway”. E para Monica Belucci, evidentemente. Já as cenas da rave em Zion, de tão exageradas e gratuitas, são constrangedoras.
Matrix Revolutions (2003), de Larry & Andy Wachowski – Aqui, todo o brilhantismo da saga quase vai por água abaixo. “Revolutions”, o episódio final de Matrix, é um bom filme de ficção científica cheio de efeitos especiais impressionantes, ação incessante e design de produção esperto. E só. Muito pouco para o que prometia a produção original, verdadeiramente revolucionária. O confronto final com a entidade que comanda o mundo virtual é previsível e preguiçoso. Mas a batalha campal entre Neo e o “vírus” Smith, que passou a ser uma ameaça à própria Matrix, por exemplo, é antológica. O filme é cheio de altos e baixos, mas os baixos não são tão baixos ao ponto de excluí-lo de qualquer lista de melhores filmes da década, então aqui está – mas com ressalvas.
Star Wars - Episódio II: Ataque dos clones (2002), de George Lucas – Depois do polêmico episódio I, extremamente criticado por seu tom infantiloide e pelo quase que universalmente odiado personagem Jar Jar Binks (o que faz lembrar “O retorno de Jedi” e os ewoks), a franquia Star Wars meio que volta aos trilhos com o Episodio II. Evidentemente que não há como comparar com a primeira trilogia: os tempos eram outros, mais românticos. Mas não deixa de ser um bom filme, especialmente para os fãs da saga. Para além dos efeitos especiais digitais mais rebuscados porém, paradoxalmente, mais artificiais (as boas e velhas maquetes tinham seu charme), continua forte a veia inventiva de Lucas, principalmente sua capacidade para criar alienígenas bizarros e vilões antológicos: neste episódio temos o Conde Dookan, interpretado pelo mito do cinema de horror Christopher Lee. Roteiro e argumento não chegam a empolgar tanto quanto os dos filmes originais, mas as cenas de ação e o ritmo frenético garantem a diversão.
Star Wars: Episódio III - A vingança dos Sith (2005), de George Lucas – O último filme da saga Star Wars já começa em meio a uma daquelas batalhas espaciais devastadoras típicas da série, onde somos reapresentados (ele já havia aparecido em forma de desenho animado em “As guerras clônicas”, na TV) a um novo e assustador vilão, o General Grievous, espécie de andróide cujo corpo físico é uma fusão de uma poderosa estrutura robótica com um cérebro e sistemas nervoso e sensorial orgânicos. O design do personagem é muito bom – aliás, o que continuou excelente na segunda trilogia foram os desenhos de produção para veículos, objetos, andróides e personagens, que seguiram a tradição de modernidade com um toque “retrô”. O filme segue num bom ritmo, sem grandes arroubos de genialidade porém sem nada de muito constrangedor para os fãs, até o final, onde assistimos, finalmente, à transformação de Anakin Skywalker, intepretado pelo fraco Hayden Christensen, no vilão dos vilões, o soturno Darth Vader. Memorável.por Adelvan Kenobi
Nossa! Temos gostos muito parecidos. Assisti boa parte dos listados e já estou anotando aqui os que não vi, pois sei que você tem muito bom gosto pressas coisas!
ResponderExcluirQue venham mais filmes maravilhosos!
caceta! acho que você listou TODOS os filmes lançados nessa década, heheheh... muitos desses eu ainda nem vi... só faltou A FITA BRANCA do michael 'heineken', um dos 5 melhores que eu vi nos últimos 10 anos... parabéns.
ResponderExcluirputz, A FITA BRANCA ! Só não entrou na lista porque tinha esquecido (muita coisa né). Em breve constará da versão atualizada ...
ResponderExcluirjá incluí a Fita Branca - no final, entee as duas últimas imagens.
ResponderExcluirassisti quase todos mas o melhor da sua lista em minha opinião é SIN CITY. a fotografia do filme é obscenamente igual ao quadrinho.
ResponderExcluirMurillo
Sin city é uma obra-prima, realmente. E é a MAIS FIEL adaptação de um quadrinho para o cinema (a melhor é Watchmen, na minha opinião, claro).
ResponderExcluirBicho, que lista! Queria ter metade dessa disciplina pra lembrar e escrever sobre todos. O máximo que eu consigo fazer é montar uma listinha no http://icheckmovies.com dos que eu já vi. Parabéns!
ResponderExcluirÉ uma lista e tanto. Muitos filmes em comum. Curioso over o seu olhar sobre esses. :) Os inéditos são uma lista para "filmes que pretendo ver". ;)
ResponderExcluirCara, concordo com tudo o que está ai, na minha opinião só faltou O Orfanato, e eu colocaria também V de Vingança, mas a lista está ótima!
ResponderExcluirÓtima lista!!
ResponderExcluirRecomendo muito: http://www.imdb.com/title/tt0095327/combined