terça-feira, 10 de agosto de 2010

Istoé Entrevista Lula

Tem coisas que realmente não dá pra engolir, como o PT aliado de Roseana Sarney no Maranhão e de Fernando Collor (FERNANDO COLLOR !!!!) em Alagoas. Mas eu devo admitir que não consigo deixar de ter, ainda, uma certa admiração por Lula. Em disputas do PT contra o PSDB, eu nunca deixarei de escolher o primeiro, até porque o que o PSDB, pelo menos em tese, se propõe a fazer (a tal Social-democracia, que nada mais é que um gerenciamento mais equilibrado para o sistema capitalista) o PT já mostrou que faz melhor. Muito melhor. Eu, particularmente, com base na minha formação política não tão apurada mas acredito que sustentada em preceitos minimamente sólidos que me foram fornecidos, inclusive, pelo próprio Partido dos Trabalhadores, nos seus primórdios, não acredito que seja suficiente. É preciso ousar mais, muito mais, para avançar em direção a uma situação em que a distribuição de renda, a fonte primária de todos os males, seja mais equilibrada. Mas não descarto a hipótese de que o governo Lula, mesmo com esses apoios espúrios, esteja avançando neste sentido. Apenas desconfio, e muito, e isso é saudável. Desconfiar, sempre – principalmente em se tratando de política, este território pantanoso onde tantos interesses estão em jogo o tempo inteiro.

Em todo caso, recomendo a leitura da entrevista que a Revista Istoé publicou com o presidente esta semana, acredite você nele ou não. Abaixo, um resumo da conversa, seguido de um link para a matéria completa.

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O momento de Lula - A poucos meses de deixar o governo e com uma popularidade que, mostram as pesquisas, beira a unanimidade, Lula concede à ISTOÉ uma entrevista histórica, em que fala de seu legado e de seu papel na política, hoje e amanhã.

por Carlos José Marques, Delmo Moreira, Mário Simas Filho e Octávio Costa

Diz a tradição, ao descrever os últimos dias no poder, que a solidão dos políticos é tanta que até o cafezinho passa a ser servido frio. Definitivamente esse não é o caso de Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos 21 anos, desde que o Brasil se redemocratizou e voltou a eleger diretamente seu presidente, Lula protagonizou todas as eleições. Depois de dois mandatos consecutivos, este ano seu nome não estará na urna eletrônica. Mesmo assim, Lula termina seu governo com a agenda cheia e como o personagem central da própria sucessão..

Até os candidatos da oposição fazem questão de exaltar as realizações de seu legado. Na manhã da quinta-feira 5, um presidente muito bem-humorado recebeu a reportagem de ISTOÉ em seu gabinete improvisado no Centro Cultural Banco do Brasil (o Planalto está em reforma). O café continua na temperatura correta e nada indica que irá esfriar, mesmo depois de passada a eleição. Na entrevista de quase duas horas, o presidente mostrou que tem planos para o Brasil e também para manter a liderança internacional que conseguiu construir nos últimos oito anos.

Quando perguntado sobre seu destino depois de passar adiante a faixa presidencial, Lula inicialmente argumenta com a necessidade de um tempo para reflexão, longe dos holofotes. A “promessa” de um período sabático, no entanto, tem pernas curtas e não resiste à metáfora que Lula usa para explicar o papel de um ex-presidente. “Ele deve ter cuidado para não ser tratado como um vaso chinês. Grande, bonito e que passa a ser um incômodo. Ninguém sabe onde colocá-lo.” Ou seja, o ex-presidente, segundo Lula, deve impor sua presença não pelo que fez no passado, mas, sim, por suas ideias e seus projetos. Em outra metáfora, desta vez relacionada ao futebol, Lula faz uma referência velada à derrota do Brasil na Copa do Mundo. “O que eu jamais faria como técnico é marcar um gol, correr para a retranca e ficar esperando o adversário vir para cima de mim.” A cinco meses do final de seu governo, o presidente está feliz, vai continuar em campo e quer jogar no ataque.

É quase certo que será criada uma fundação, nos moldes americanos, para dar respaldo e consequência às ações do ex-presidente Lula. Ele acredita que a maior parte de sua popularidade está relacionada aos acertos nas políticas sociais de seu governo e quer fazer com que elas sejam “socializadas”. A ideia do presidente é levar as experiências sociais do Brasil para países da América do Sul, do Caribe e da África. “Já tenho muitos convites de países africanos para ir lá e mostrar o que e como fizemos”, revela. Lula ainda não sabe exatamente o que fará nesse sentido, mas admite repetir o formato das caravanas da cidadania, que percorreram o Brasil em suas campanhas ao Planalto. “Pretendo construir uma equipe de companheiros que acumularam oito anos de experiência no governo e 30 anos de experiência na oposição, para a gente colocar as ideias em prática”, diz Lula. Na frente interna, a prioridade absoluta é a reforma política. “Eu sonho com a construção de uma frente ampla no Brasil. Juntar as forças políticas, construir um programa comum e fazer a reforma partidária. Essa é uma condição sine qua non para a gente poder mudar o Brasil em definitivo”, afirma o presidente. “Precisamos qualificar nossos políticos e nossas instituições e isso é uma tarefa que compete aos partidos políticos e não ao presidente.”

Lula reconhece que a promoção de uma reforma política não será uma tarefa fácil, mas promete que ouvirá gente de todos os partidos, numa espécie de seleção brasileira da política. Mas adverte, porém, que uma legenda certamente ficará de fora da frente ampla: “Acho que acabou o tempo da ilusão de que a gente poderia trabalhar com o PSDB. Eu acreditei nisso e muitos petistas também, mas acabou”. Na opinião de Lula, os tucanos escolheram um outro projeto para o País. À direita.

A exemplo do desafio político nacional, o presidente Lula também tem um projeto ambicioso para a América do Sul. Conta que já foi convidado para assumir um posto na Internacional Socialista, mas considera que a entidade tem a cara da Europa. ‘Eu seria um estranho no ninho”, diz. Missões especiais ou cargos de relevo na ONU ou no Banco Mundial, como vem sendo cogitado no Brasil e até no Exterior, o presidente Lula descarta com veemência. Essas instituições, a seu ver, devem ser dirigidas por burocratas, e não por estadistas. Seus olhos, portanto, estão voltados para a política latino-americana. Segundo Lula, a cara política da América Latina mudou, mas os partidos continuam os mesmos. Isso vale para a Venezuela, de Chávez, e para a Argentina, dos Kirchner. “Precisamos juntar essa coisa toda e começar a elaborar uma nova doutrina da criação de uma instituição política que uniformize determinados princípios na América Latina.” Mas, por favor, antecipa o presidente, nada de dogmatismo. E muito menos de manifestos marxistas.

Quanto ao papel da ONU na resolução de conflitos internacionais, o presidente Lula entregou os pontos, depois do fogo cerrado que se abateu sobre ele ao tentar uma saída para a crise nuclear do Irã. E, apesar de ser tratado como “o cara” pelo presidente americano, Barack Obama, Lula não esconde a decepção profunda com o líder americano. Segundo ele, “não haverá solução para o Oriente Médio enquanto os americanos acharem que são eles os responsáveis pela construção da paz”.

A frustração com as grandes potências internacionais não é suficiente, no entanto, para empanar o clima de festa nesses últimos meses de governo. E o principal motivo para isso está nos rumos que vem tomando a sucessão. Durante a entrevista, Lula recebeu das mãos de Gilberto Carvalho, seu fiel chefe de Gabinete, o resultado da última pesquisa CNT/Sensus. “Olha o resultado da pesquisa para vocês: Dilma, 41,6%; Serra, 31,6%; e Marina, 8,5%”, disse um sorridente Lula. O avanço da ex-ministra Dilma Rousseff, escolhida pelo próprio presidente para sucedê-lo, era mais do que esperado por Lula. “Um governo que tem 76% de bom e ótimo nos últimos cinco meses de mandato, um presidente da República que tem 86% de bom e ótimo e se colocar o regular vai a 98% em alguns Estados é um governo com forte possibilidade de fazer a sucessão”, observa.

Apesar da confiança absoluta na vitória de Dilma, o presidente é complacente com seus adversários. “Essa é uma eleição engraçada. Três candidatos da oposição foram do meu partido. E tem o Serra, que é uma pessoa com quem tenho uma relação de respeito antiga. Ou seja, não tenho nenhum inimigo”, constata, com generosidade. No mesmo tom, Lula convive muito bem com o fato de ter se tornado o objeto de desejo da grande maioria dos candidatos na atual campanha. “Eu fico feliz em saber que ninguém quer fazer campanha falando mal de mim. É uma coisa agradável”, afirma, mas ressalva que tem “um lado, um partido e um candidato”. É inegável que o desempenho eleitoral da ex-ministra está umbilicalmente ligado à popularidade do presidente e, a cinco meses de se despedir de Brasília, a agenda de Lula continua abarrotada de compromissos. Na semana passada, por exemplo, o presidente empenhou-se em convencer o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a conceder o perdão à iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento. “Quero trabalhar até o dia 31 de dezembro. Terei agenda até o dia que entregar a faixa para quem for eleito presidente da República”, diz Lula.

Mas algo deixou de ser feito, há algum arrependimento, presidente? Sim, responde Lula, faltou aprovar a reforma tributária, apesar de todos os projetos enviados ao Congresso Nacional. Por quê? Para explicar, o presidente recorre a Jânio Quadros, que renunciou em 1961 e atribuiu o gesto às “forças ocultas”. “Tem um desgraçado de um inimigo oculto que está trancado em algum armário e não permite que se vote a reforma tributária”, explicou o presidente Lula. Como se vê, no ambiente de festa do CCBB, até mesmo as dificuldades são recebidas com bom humor. Ou então são atribuídas a seres fictícios. Lula, hoje, não tem inimigos.

Leia a entrevista completa aqui.

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