Nasci em Itabaiana, interior de Sergipe, em 1971. Sou “nascido e criado” lá, já que só me mudei definitivamente para a capital, Aracaju, aos 18 anos. Lá desenvolvi o hábito da leitura, através dos quadrinhos, principalmente de “Tex”, que meu irmão mais velho colecionava, e também o gosto pelo jornalismo, provavelmente a partir das revistas “Manchete” que um tio, que tinha um bar, tinha sempre a disposição para os clientes. Eram revistas sem capa – na época as distribuidoras, para baratear o frete, devolviam apenas as capas para as editoras, para comprovar que o exemplar não havia sido vendido.
Com o rock
“underground” devo ter tido meu primeiro contato vendo a já célebre matéria
sobre os punks paulistanos no Fantástico,
sempre citada até hoje em documentários e entrevistas. Lembro que, a partir dali, o termo, antes desconhecido, virou uma
espécie de xingamento no meu circulo de amigos: “Vôte, fulano parece que é punk,
só vive fazendo ‘Indiagem”(termo evidentemente pejorativo e politicamente
incorreto que era usado como sinônimo de bagunça na época).
Comecei a
conhecer melhor e a me identificar com aquele novo universo quando a rede globo
transmitiu ao vivo a primeira edição do rock in rio. Tinha um povo muito doido
e diversificado ali, uns fazendo musica festiva e dançante com umas perucas
estranhas, outros falando do diabo no palco ao som de guitarras distorcidas!
Tinha até um coroa maluco que arrancou a cabeça de um morcego com a boca e
cuspiu! Impossível ignorar. E tinha a Nina Hagen! Caralho, ela era bem louca,
uma espécie de Cindy Lauper levada às ultimas conseqüências ...
Na Livraria
Cunha – que na verdade era uma papelaria, mas funcionava também como banca de
revistas – chegavam os quadrinhos de super heróis que eu tanto amava e também
as revistas Bizz e Chiclete com banana. Em novembro de 1986 resolvi comprar
minha primeira Bizz, a de numero 16, que tinha Matt Dillon, o ator, na capa .
Foi nela que li pela primeira vez a respeito de bandas clássicas das quais nunca
tinha ouvido falar, como The Doors e Velvet Underground, e do universo musical
alternativo, notadamente o pós punk e a vanguarda paulistana. Notei que havia
muito mais coisas entre o céu e a terra do que supunha a minha vã filosofia
alimentada pelo radio e a televisão ...
O fascínio
só aumentou quando conheci também o universo radical do metal, a partir da
audição do álbum “Somewhere in time”, do Iron Maiden. Virei “metaleiro”, membro
de uma “tribo” que em Itabaiana tinha pouquíssimos adeptos, só eu e mais dois
ou três amigos – sendo que um se revelou um “poser” ao ficar com dor de cabeça
durante a primeira audição do recém-lançado reign
in blood do slayer, e foi devidamente enxotado da confraria. A necessidade
de aumentar esse séquito fez com que eu tivesse a brilhante idéia de fazer uma
“apostilha” com pequenas biografias de minhas bandas preferidas para distribuir
pela cidade.
A primeira
edição do NAPALM, a tal “apostilha” – que na verdade eu pensei como uma revistinha
artesanal, portanto precisava de um nome – saiu em abril de 1988, com uma capa
desenhada por mim mesmo a partir de uma arte de Libero Malavoglia para a banda
Chave do Sol, de São Paulo. Eram cerca de 15 folhas de papel A4 datilografadas,
xerocadas e grampeadas, frente e verso. O nome eu tirei de uma foto da
apresentação da Legião Urbana na célebre casa noturna paulistana do início da
década de 1980 que eu havia visto na Bizz, depois de descobrir que se tratava
de uma bomba incendiária que havia sido usada no Vietnã.
Deu certo:
começou a circular pelos corredores do colégio onde eu estudava e além - a
noticia de que havia um fanzine – era esse o nome da criatura, soube depois - circulando pelo interior do estado chegou à
loja de discos Disturbios Sonoros, de Aracaju. Um dos sócios, Antonio Passos,
ofereceu-se para conseguir uma tiragem maior, de cem cópias – nem sei mais
quantas eram no inicio, mas acho que não
chegavam a dez – e passou a vender exemplares, o que fez com que Silvio
“Suburbano”, vocalista da pioneira banda punk Karne Krua, me mandasse um
pacotão recheado com publicações semelhantes vindas de todos os cantos do
Brasil. Só ali percebi que havia toda uma rede de comunicação subterrânea
circulando mundo afora divulgando uma vasta gama de assuntos que não chegavam à
grande mídia.
Cheguei a entrar em contato timidamente com essa rede através dos endereços que constavam no pacotão de Silvio e na sessão de cartas da revista Rock Brigade, que começou como um fanzine mas a essa altura já chegava nas bancas de Aracaju – era a célebre Headbanger´s voice, imortalizada inclusive numa música da Gangrena Gasosa, banda do Rio de Janeiro. Mas a brincadeira foi interrompida pelas necessidades da vida: passei no vestibular e fui sugado pelo mundo acadêmico, me restando pouco tempo e dinheiro, principalmente, para dedicar ao Napalm, que teve ao todo seis edições.
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