Pois bem: fui ver “O Retorno” e só lá, na sala escura, me
dei conta que aquela era, na verdade, a terceira parte! Sério, passei batido
pelo “Império Contra-ataca”. Normal, eu era criança e vivia no interior de
Sergipe, numa época em que internet não era nem coisa de ficção científica –
nunca soube de nenhuma FC que tenha previsto a rede. Desnecessário dizer que
fiquei mais perdido que cego em tiroteio. Como assim, Luke é filho de Darth
Vader? E que diabos aconteceu com Han Solo? Em todo caso, adorei. O filme
reacendeu a chama, e logo voltei a ser um fanático por Star Wars. “O império
contra-ataca” vi primeiro em VHS, e depois no cinema, na época da restauração e
do relançamento, no final da década seguinte.
Desde o fim da terceira – que na verdade era a sexta – parte
ficamos todos na expectativa da seqüência daquela história, que pudemos ver
finalmente hoje, 17/12/2015, 32 anos depois. Valeu a pena a espera ...
“O Despertar da Força” é basicamente uma recriação do
primeiro filme. A história é praticamente a mesma: jovem que vive uma vida medíocre
num planeta desértico da periferia da galáxia é pego(a) de sopetão numa encruzilhada
do destino por uma guerra entre rebeldes e forças “oficiais”, se descobre
herdeiro(a) de uma tradição mística poderosa e ajuda a derrotar o lado negro da
“força”, personificado numa figura sinistra e mascarada em trajes pretos e numa
superarma a serviço de uma organização totalitária e fascista.
Isso é ruim? Depende do seu tipo de expectativa. Se é pela
volta da saga aos trilhos, depois dos escorregões da trilogia “prequel”, sairá
do cinema plenamente satisfeito. É uma espécie de recomeço, que te pega pela
emoção ao mesclar com perfeição a apresentação de novos personagens com o
retorno de velhos conhecidos. Mais importante: gera muita expectativa pelo que
vem por aí ...
Prós e contras: O ritmo do filme é perfeito, com cenas de ação
absolutamente fantásticas, mas o roteiro, além de excessivamente derivativo,
peca pelo subaproveitamento de pelo menos uma personagem nova, a Capitã dos Stormtroopers Phasma – isso mesmo,
uma mulher - e outra "clássica", a Princesa Leia, que fala pouco e muito pouco aparece. Há que se dar também, para uma plena apreciação do conjunto da obra, vários descontos pela forçação de barra de algumas soluções dramáticas, como o fato de que o império, representado aqui por uma falange
fascista sucessora, continua bastante carente de engenheiros competentes, já que suas estações armadas supostamente indestrutíveis continuam assustadoramente vulneráveis aos ataques dos rebeldes ...
Adorei o sotaque britânico acentuado da protagonista, aliás
muito bem interpretada por Daisy Ridley – excelente atriz. Já o Finn de John
Boyega eu achei um tanto quanto exagerado e caricato – mas nada que comprometa irremediavelmente
a atuação. BB8, o dróide que emula RD-D2, é perfeito. E Han Solo continua o mesmo –
só que BEM mais velho, evidentemente. Ele parece ter se divertido com a possibilidade de voltar ao personagem, apesar dos diálogos sofríveis e das cenas soporíficas com Carrie Fischer. Já a interação com Chewbacca, o parceiro velho de guerra, segue divertidíssima.
O vilão era meu grande temor. A primeira impressão que tive,
ao ver as primeiras imagens, foi de uma “recauchutagem” vagabunda do visual do
Darth Vader, o que não deixa de ser verdade. Só que a idéia era justamente esta,
e é ótima: Kylo Ren é uma versão “vacilante” do grande ícone Sith. O
desenvolvimento psicológico do personagem é primoroso, conferindo ao mal uma
nova face, para além da dicotomia binária e maniqueísta. Sua fraqueza é,
paradoxalmente, o que o torna, realmente, perigoso.
A
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