segunda-feira, 4 de maio de 2015

partículas de chumbo disparadas de um objeto metálico cruzam o céu em direção a um amontoado de carne, sangue e músculos. Células atordoadas sucumbem à falta de estímulos. Membros e órgãos inertes estendidos no chão frio. Moléculas e átomos se fundem como que para lembrar que as aparências exteriores não passam de ilusão de ótica projetada pela mente humana para mascarar a verdade de que somos feitos da mesma matéria que o universo. Descarga de vida em túnel quente e úmido – temperatura ideal para a perpetuação da farsa. Eterno retorno. Correr instintivamente em direção a um destino ignorado. Morrer no caminho ou repousar em segurança e aguardar a metamorfose. Substâncias tóxicas interferindo no processo natural – o poder da vontade elimina o destino. O fim de um projeto de vida. Um em um milhão. Um milhão de projetos significa um número incalculável de partículas animadas por estímulo exterior. Novas formas que só têm significado sob o ponto de vista de um cérebro treinado para ver o que não existe. Estímulos nos chegam através dos sentidos e são armazenados por uma massa gelatinosa que guardamos em uma parte do nosso corpo. Organizados segundo uma arbitrária lógica milenar – o que, no final das contas, não quer dizer muita coisa – transformam-se em verdade e norma de conduta que conduzirá aquele grupo de partículas durante o tempo em que permanecer sob aquela forma ...

Olhos fixos na tela, imagens invadem o nosso subconsciente. Luke Skywalker ergue seu sabre de luz e promete defender a justiça. Adrenalina em nossas veias deixa os músculos enrijecidos e a mente inquieta. Músculos enrijecidos deslizam cercados por carne umedecida e nos fazem pensar por alguns segundos que a vida não é, afinal, tão ruim quanto imaginamos.

Sensações transportam nosso corpo a planos paralelos de consciência. A vida prossegue sua jornada em direção ao nada. Impulsionado pela vontade de potência, que é a essência irracional da existÊNCIA, o homem deixa sua marca invisível num ponto minúsculo e desprezível do cosmo ...

Desprezível se pensado pelo imaginário ponto de vista de uma consciência universal. Para nós, ele é tudo. O mundo que nos cerca é a razão de nossa continuidade, e não nos resta outra alternativa a não ser aproveita-lo da melhor maneira possível.

Sentir no corpo o sangue correndo nas veias. O desejo insano que, apesar dos pesares, nos impulsiona inexoravelmente em direção ao futuro.

As guitarras estão plugadas.

O show deve continuar.

1994.

A

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