domingo, 5 de abril de 2015

HEIL CLINT !!!

Achei justa a premiação de Birdman como melhor filme no oscar deste ano. Alejandro González Iñárritu vê coroada uma carreira brilhante que começou com uma espécie de trilogia de histórias com tramas paralelas – Amores brutos, 21 gramas e Babel. Deu uma “escorregada” com o chatíssimo Biutiful mas se redimiu com louvor ao dirigir esta brilhante crítica ao mundo da industria do entretenimento, que suga a alma de todos que dela participam, na frente ou por trás das telas - e dos palcos. Torcia também por "Boyhood", mas "tá valendo" ...

Por outro lado, não gostei do resultado do melhor filme estrangeiro. "Ida" é bom, mas "Relatos Selvagens" é melhor. O primeiro é intimista e introspectivo - conta, numa bela fotografia em preto e branco, a história de uma freira polonesa que começa a se descobrir ao desenterrar alguns fantasmas do passado de sua família - e do país. O segundo é quente, vibrante, pulsante - latino! São pequenas cronicas de situações-limite narradas em tom farsesco, mas sempre com um fundo de verdade ou verossimilhança. Trata a vida como ela é: um dantesco teatro do absurdo. Mas com bom humor, o que faz toda a diferença.

Em todo caso, é interessante notar como a premiação do Oscar está se descolando da preferência do público. Dos indicados a melhor filme deste ano de 2015 apenas um é sucesso de bilheteria: “Sniper Americano”, que se tornou um fenômeno e já é considerada a produção do gênero – guerra – mais bem sucedida da história.

INFELIZMENTE, porque se trata, na verdade, de uma abjeta propaganda belicista e protofascista que se dedica, de forma absolutamente desonesta, a glorificar um psicopata. Desonesta porque omite informações cruciais para justificar o injustificável: num momento estamos diante da comoção do personagem principal, um cowboy texano fracassado criado no fundamentalismo religioso , com as imagens dos ataques às torres gêmeas. Na cena seguinte já o vemos no Iraque, dando cobertura às tropas invasoras como atirador de elite ...

Acontece que uma coisa não tem nada a ver com a outra! É público e notório que Bush, o presidente de então – republicano, mesmo partido do diretor, Clint Eastwood - utilizou-se de pelo menos duas mentiras para realizar seu intento: a suposta existência de um arsenal de armas de destruição em massa, nunca encontrado, e as conexões do governo de Saddan Hussein com organizações terroristas, também nunca comprovadas. Muito pelo contrário: Saddan era inimigo jurado de morte da Al Qaeda, já que mantinha com mãos de ferro um regime ditatorial, mas laico, num território cobiçado pela “jihad”. Sua queda, aliada à crise provocada pela guerra civil na Síria, abriu espaço para o terror absoluto personificado no Estado Islâmico.

De posse dessa informação, que é pública e notória, mas que as pessoas podem muito bem ter esquecido – vivemos na era da distração, ninguém mais presta atenção nem lembra de nada – não faz o menor sentido a história de bandidos contra “mocinhos” que vemos na tela. Se pelo menos o filme fosse, REALMENTE, muito bom, ainda teríamos algo a se comemorar. Mas não é o caso. No geral, é competente, claro, afinal Clint é um “senhor” diretor, com um extenso currículo que pesa a seu favor, neste quesito. Mas não é nada demais. Eu, particularmente, achei chatíssimo: uma sucessão infinita de cenas de ação manjadas com dramalhões familiares chorosos e personagens pra lá de caricatos, feitos sob medida para provocar repulsa e empatia na platéia amorfa. Com direito, inclusive, a uma cena “chave” em que a nítida utilização de um boneco substituindo um bebê quebra todo o impacto dramático. Já tinha lido numa resenha e confirmei na sessão – lotada! – em que assisti: todo mundo nota! Chega a ser vexaminoso ...

Enfim, passe longe! Se você, por algum motivo, quer ver uma obra de arte com viés ideológico de extrema direita que valha a pena, do ponto de vista estético e/ou artístico, fique com alguma reprise dos clássicos de Leni Riefensthal ou de David Wark Griffith. As cenas finais de Sniper Americano, que mostram imagens reais do sepultamento do "herói", até lembram os desfiles retratados no célebre documentário nazista "O Triunfo da Vontade". Mas as semelhanças param por aí. O filme da diretora preferida de Hitler é reconhecidamente um clássico. O de Clint é um lixo. O triunfo da mediocridade.

Passou do tempo de se aposentar, caubói ...




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