segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Triunfo da vontade de potência ...

por Marcelinho Hora
“Sem música, a vida seria um erro”, disse o filósofo. A noite de sábado, 30 de agosto de 2014, me fez lembrar esta sentença. Foi mais do que um show de Heavy Metal, foi uma celebração da vida – por mais contraditório que isso possa parecer, já que o estilo dominante antende por Death Metal, o “metal da morte”. Mas nem tanto. A morte, afinal, faz parte do processo ...

Sou um fã tardio do Krisiun: conheço-os desde o primeiro compacto, tosquissimo, que comprei num pacote que adquiri para revender na minha loja, nos anos 90, das mãos de Nelson, da Rothness, que chegou com um fusca abarrotado de disquinhos de vinil na casa de minha tia em Cidade Ademar, São Paulo. Desde lá venho acompanhando com atenção e admiração a trajetória da banda, sempre evoluindo em técnica e projeção, inclusive internacional. Chegaram próximo à perfeição dentro do que se propõem a fazer, a meu ver, nos dois últimos álbuns, “southern storm” e “The Great execution”, quando as composições ganharam uma maior dinâmica e ficaram mais “quebradas”, menos “retas” – era o que me incomodava, até então. A partir daí, quanto mais eu vejo – e ouço – mais gosto.

O show de sábado, beneficiado pelo ambiente pequeno, que traz a banda para mais perto do público, e pela qualidade do som, cristalino, foi perfeito. Comecei vendo de trás, na tranqüilidade, mas só senti mesmo a pulsação da coisa quando resolvi adentrar a arena em que se transformou a frente do palco – lá atrás o volume estava chegando um pouco baixo. O choque dos corpos em transe conduzido pelos “blast beats” em ritmo de britadeira do baterista Max amplifica a intensidade da musica, conduzida com uma precisão impressionante pelo trio. Outro nível, definitivamente – anos e anos de turnês ao redor do mundo fazem toda a diferença, sempre!

Sei que vai soar injusto, mas não vou conseguir destacar nenhuma composição própria da banda, pelo motivo descrito acima: sempre os acompanhei um pouco à distancia. Muito por conta disso, mas também fazendo justiça ao que de fato aconteceu – clássico é clássico, afinal – devo dizer que o ápice, o momento da grande catarse, foi quando eles tocaram a mais devastadora versão de “Black Metal”, do Venon, que eu jamais imaginei um dia ter a oportunidade de ouvir. Chega a ser constrangedora a comparação com a gravação original. Ali, naquela palhetada precisa e vigorosa de Moyses, o potencial daquele riff antológico se apresenta em toda a sua glória. Impossível não erguer os punhos e gritar triunfante “lay down your souls to the gods rock 'n roll”. SALVE OS DEUSES DO INFERNO KRONOS, MANTAS E ABADDON! Aquele momento em que você desce do alto de seus quarenta e alguns anos de idade e volta, repentinamente, à adolescência, nos anos 1980 ...

Tocaram ainda “No Class”, do Motorhead, e encerraram o show com menos de duas horas de apresentação, mas em grande estilo, com direito à faixa título do primeiro álbum, “Black Force Domain”, e um “stage dive” do vocalista/baixista Alex Camargo, como que comprovando o que ele dizia a todo momento, entre uma música e outra, sempre que o público fazia coro gritando o nome da banda: que aquela era uma noite especial e que ele nunca iria esquecer. Foi, certamente, a melhor das três passagens do Krisiun por aqui – a última havia acontecido no Gonzagão e a primeira foi há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante – o Vasco Esporte Clube, na região do mercado central, com produção da saudosa Destruction productions e sonorização by “Paquito” – “Tá CD!!!”.

O público também prestigiou não em tão grande número mas com entusiasmo as bandas locais de abertura, Sign of Hate e [maua]. A primeira tem, por sinal, no Krisiun uma de suas principais influências. Para a apresentação de sábado contaram com o reforço de seu excelente ex-vocalista, infelizmente apenas numa participação especial – uma pena, pensei que ele havia voltado à banda. Já a [maua] faz um som híbrido, cheio de “groove” e influenciado pelo chamado “nu metal”. Têm na competência de seus músicos e no carisma de seu vocalista, Ericão, suas principais virtudes. Estão sempre evoluindo, apesar das constantes mudanças de formação. Merecem, NO MÍNIMO, o respeito de todos, mesmo daqueles com um gosto musical mais ortodoxo ...

Vale mencionar, também, que o show aconteceu num tradicional “pico” da “playboyzada” local, o “Infinity club”, antiga Boate do Augustu´s – e várias outras denominações. É a boate de “Fabieira Olivano”, decano das micaretas e patrono da diluição cultural. Nunca havia ido lá. Nada de muito impressionante. Me chamou a atenção, apenas, a falta de saídas de emergência sinalizadas. “Vivendo e não aprendendo”, como dizia o Ira! Que nunca haja ninguém morrendo, é o que se espera, depois do que aconteceu na Boate Kiss, mas fazer o que, diante do eterno descaso dos responsáveis e da negligencia de quem deveria fiscalizar ...

Em todo o caso, foi antológico ver aquele evento acontecendo ali.

O mundo, realmente, dá voltas ...

A

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