quarta-feira, 28 de maio de 2014

The Jesus & Mary Chain no Memorial da América Latina

Foto por Rodrigo Sommer
Não dá pra negar que houve uma certa dose de decepção para os que foram ver o The Jesus & Mary Chain ao vivo no Memorial da América Latina domingo passado. Muito por conta da falta do peso e da distorção, que só deram as caras, e mesmo assim em níveis abaixo do que gostaríamos – creio que posso falar por todos os presentes, pelo menos os que conheciam a banda – no bis, quando tocaram uma seqüência de seu disco mais célebre e barulhento, o primeiro, “psychocandy”. Os demais contratempos já eram previsíveis: a perfomance sofrível de Willian – que não cantou, apenas tocou – ou tentou tocar – guitarra - e o mau humor de Jim, que chegou a interromper a apresentação por três vezes. A falta de entrosamento era evidente, mas a qualidade das canções e o simples fato de estarmos ali, em frente a uma bela estrutura – tá “podendo”, a Cultura Inglesa – montada ao lado da icônica mão com o mapa da América Latina sangrando diante de um dos maiores mitos do rock mundial, compensou o esforço de sair de casa – no meu caso, de muito longe – num domingo chuvoso. Chuva que deu uma trégua e recomeçou, por incrível que pareça, exatamente na hora em que eles começaram “Happy when it rains”! Um daqueles momentos mágicos que ficarão guardados para sempre na memória dos presentes ...

O show do jesus foi também, eu confesso, uma desculpa “de luxo” para passar alguns dias em São Paulo, nossa megalópole insana e frenética, entre amigos queridos, discos, livros e cinema da melhor qualidade. Dentre os muitos bons programas possíveis recomendo uma visita à Sensorial Discos (Rua Augusta, 2.389 – jardins), que tem um bom acervo de cervejas, CD´s e discos de vinil a preços convidativos num um ambiente aconchegante e ótimo atendimento. De lá você pode seguir para o número 2075 da mesma rua e pegar uma ou mais sessões no Cinesesc, que atualmente abriga em seu saguão uma belíssima exposição de fotografias com astros do cinema nacional. Lá vi dois filmes, um bom – “Hotel Mekong”, tailandês, de Apichatpong Weerasethakul, uma espécie de exercício estético semidocumental – e sobrenatural - filmado às margens do rio que separa a Tailândia do Laos – e outro ótimo: “Heli”, de Amat Escalante, brutal produção mexicana que merece um parágrafo à parte ...

A história, totalmente “Mundo cão” e muito bem contada, se passa numa cidade do interior do México assolada pela violência do narcotráfico. Violência que é escancarada na tela sem concessões, sem desvios de olhar. Gira em torno das conseqüências de um romance adolescente que desanda devido ao roubo de dois pacotes de cocaína desviados dos estoques apreendidos por um esquadrão militar, numa trama de vingança banhada em sangue. Absolutamente chocante, principalmente porque sabemos que é real.

por Adelvan - Abaixo, entrevista conduzida por Fabiana de Carvalho e publicada originalmente no g1.

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A história do rock britânico certamente seria muito diferente – e menos barulhenta – se os irmãos Jim e William Reid não tivessem criado, em 1983, o Jesus and Mary Chain. Sem saber tocar quase nada, mas com um talento nato para compor doces melodias e soterrá-las em paredes de guitarras distorcidas e muito altas, a dupla garantiu o primeiro sucesso da então recém-criada gravadora Creation, de Alan McGee, que lançaria ainda bandas como Primal Scream, Teenage Fanclub, My Bloody Valentine e Oasis, entre muitas outras.

No domingo (25), o Jesus and Mary Chain faz sua terceira visita ao Brasil, após shows em 1990 e 2008, como a principal atração do encerramento do 18º Cultura Inglesa Festival. O evento, que tem ainda apresentações dos galeses do Los Campesinos! e dos brasileiros Monique Maion, Voliere e Staff Only, acontece na Praça Cívica do Memorial da América Latina, a partir das 12 horas. Veja abaixo como retirar os ingressos gratuitos.

Em novembro, Jim e William, únicos remanescentes da formação original, vão tocar, na íntegra, seu disco de estreia, em shows em Londres, Manchester e Glasgow. “Psychocandy” completa 30 anos em 2015 e, com sua combinação perfeita de doçura e psicose, tão bem definida no título, é considerado um dos discos mais influentes do rock britânico em todos os tempos. Também às vésperas da histórica data está sendo lançada uma biografia oficial, “Barbed wire kisses: The Jesus and Mary Chain story”. Escrito pela jornalista Zoe Howe, o livro chegou às lojas inglesas no dia 19 de maio.
Em entrevista ao G1, por telefone, Jim Reid falou principalmente de sua complicada relação com o irmão William, com quem divide os vocais e guitarras. As brigas entre eles já aconteciam na década de 80, quando a banda fazia caóticos shows de 15 minutos que, invariavelmente, terminavam em equipamento destruído e pancadaria entre músicos e plateia. Muitos anos depois, elas chegaram a provocar o fim da banda, em 1998, após o lançamento do sexto disco, “Munki”.

Em 2007, porém, os irmãos chegaram a um acordo e voltaram aos palcos no festival Coachella, nos Estados Unidos. Desde então, fizeram alguns shows e prometeram um disco novo, que ainda não saiu porque, previsivelmente, os dois nunca chegam a um acordo. Depois da reunião – que não significa necessariamente que fizeram as pazes – Jim e William apresentaram apenas uma música nova, “All things must pass”, em 2008.
Leia a seguir a entrevista de Jim Reid.

G1 – A pergunta é inevitável, já que disso depende a existência da banda. Como anda o relacionamento entre você e seu irmão?
Jim Reid – 
Sempre vai ser problemático entre William e eu, sempre seremos problemáticos. Termos essa banda juntos é uma grande alegria, mas é preciso certo esforço para as coisas funcionarem. Acho que existe muita tensão, que acaba indo parar nas músicas e ajuda a fazer bons discos. Não acho que nós dois voltaremos a ser melhores amigos novamente, mas sabemos como não incomodar um ao outro. Definitivamente é a banda que nos mantém juntos. Não conversamos muito e, sempre que o fazemos, é sobre a banda. Depois desse show (no Brasil) vou passar uns tempos em Los Angeles e nós não vamos nem nos ver.
G1 – Havia uma enorme expectativa pela volta da banda, mas desde que vocês se reuniram não fizeram muitos shows e lançaram apenas uma música nova. Por que?
Jim Reid – 
Basicamente é uma questão de oportunidade, sabe. Nós não precisamos tocar mais, não existe necessidade. No momento não há um disco novo para promover, então, de vez em quando, quando temos vontade de fazer alguns shows, reunimos a banda e fazemos uma pequena turnê. A diferença é que agora fazemos pelos fãs, sem ter um álbum ou uma gravadora te dizendo pra fazer turnês para promovê-lo. Agora é algo simplesmente por puro prazer e eu gosto disso.
Não acho que nós dois voltaremos a ser melhores amigos novamente, mas sabemos como não incomodar um ao outro"
Jim Reid, sobre o irmão William
G1 – E quando exatamente você e William decidiram reunir a banda e por que?
Jim Reid –
 Por várias razões. Não tocamos juntos durante nove anos. É esquisito. Nos anos 90 eu não imaginaria que algum dia iria querer voltar a tocar com o Jesus and Mary Chain porque era tão terrível, tão inacreditavelmente doloroso. Então, se naquela época alguém me dissesse ‘olha, você vai fazer isso de novo um dia’, eu nunca acreditaria. Mas, você sabe, nove anos é um tempo longo e é tempo suficiente para curar algumas feridas. Então comecei a pensar ‘talvez não tenha sido assim tão ruim’, entende? Mas levou um bom tempo até tudo acontecer. O pessoal do Coachella ficava nos convidando todos os anos, tentando levar a banda para tocar no festival. E aí simplesmente aconteceu de eu e William nos falarmos por telefone após um longo tempo. E percebemos que eu achava que ele nunca iria querer voltar e ele pensava que eu é que não aceitaria. Foi quando entendemos que ambos estavam interessados.
G1 – E você alguma vez imaginou que estaria tocando no Jesus and Mary Chain 30 anos depois de lançar 'Psychocandy'?
Jim Reid –
 Oooh! (risos). De jeito nenhum eu poderia imaginar isso. Quando você tem vinte e poucos anos simplesmente não imagina como será o futuro. Eu tenho 52 agora. Há trinta anos eu não imaginava que esse tipo de coisa poderia acontecer. Quando você tem vinte não pensa em como vai ser quando tiver cinquenta.
G1 – E além dos shows para os 30 anos do primeiro disco, quais são seus planos? Alguma novidade sobre aquele disco que vocês prometem desde 2007?
Jim Reid – 
Sim, temos planejado um disco há bastante tempo mesmo. Mas discutimos muito sobre como gravá-lo e onde fazer isso. Então ainda não gravamos nada. Mas acredito que em algum momento haverá um disco novo sim. Vai ser preciso uma dose de sorte, acho (risos).
G1 – No início vocês ficaram famosos pelo caos no palco e pelas violentas brigas em seus shows de 15 minutos. Quando você acha que o Jesus and Mary Chain se tornou uma banda mais madura?
Jim Reid – 
Bem no comecinho tínhamos nossas razões... quer dizer, pra começar nós nem tínhamos muitas músicas pra tocar. Outra coisa é que nós queríamos nos certificar de que seríamos muito barulhentos e extremos e pensávamos que nada poderia causar mais impacto nas pessoas do que tocar dessa forma por 20 ou 25 minutos no máximo. Mas depois lançamos outro disco, tínhamos mais músicas e as pessoas passaram a esperar mais de nós. Além disso, todo mundo envelhece, todo mundo muda. Os caras de bandas não são nem um pouco diferente.

G1 – E você acha que hoje em dia é impossível uma banda ser tão espontânea quanto vocês eram no início? Acha que não há mais espaço para a inocência daquela época do início da gravadora Creation?
Jim Reid –  
Sim, você tem razão, é impossível ser daquele jeito, tudo mudou de forma absurda. No início, a Creation Records era basicamente Alan McGee, Dick Green e nós, as bandas. Não existiam nem escritórios. As bandas simplesmente ficavam no quarto de hóspedes da casa do Alan, dobrando encartes, montando as capas dos discos e coisas assim. Hoje em dia eu nem sei te dizer mais como funciona o mundo da música. Está mais fácil gravar um disco, claro, mas a música escocesa ficou muito pior. O indie, ou punk, ou seja lá como for que você queira chamar, não consegue revelar uma banda boa. Esse tipo de música está quase como era o jazz nos anos 90.
G1 – Você ainda percebe a influência do Jesus and Mary Chain em outras bandas? Qual a maior contribuição de vocês, na sua opinião?Jim Reid 
– Não ouço muitas músicas novas. As pessoas me dizem sempre que existem bandas que soam como o Mary Chain e algumas mencionam isso em entrevistas. Quer dizer, às vezes até ouço alguma banda e reconheço algo de Jesus and Mary Chain ali, é legal isso. Mas acho que nossa maior contribuição são nossos discos e a maneira como realmente não nos importávamos no início. Havia muita gente na indústria musical que não nos queria e que achava que não podíamos gravar as coisas que fizemos naquela época. Acho que tivemos muita sorte.
G1 – E com que  frequência as pessoas ainda abordam vocês para falar sobre a banda e os discos mais antigos?
Jim Reid – 
Bem, eu moro em Midlands [região central da Inglaterra] e tenho que ser honesto com você: ninguém me conhece ou sabe quem eu sou. Mas, sim, quando viajamos muita gente ainda vem falar sobre a banda, especialmente integrantes de outras bandas.
G1 – Vocês estiveram duas vezes no Brasil, a primeira delas há mais de 20 anos. Você se lembra de muita coisa daquela época? E como compara as duas visitas?
Jim Reid – 
Sim, eu me lembro muito bem da primeira visita, na verdade. O público era muito entusiasmado. E, bem, éramos obviamente bem mais velhos da segunda vez, mas também foi ótimo. A única grande diferença pra mim é que eu estava bastante sóbrio dessa vez, porque foi durante um período de cinco anos durante os quais eu não bebia.

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