Fui na primeira noite do Abril pro rock basicamente pra ver
o Sebadoh, e não me arrependi, apesar
do show curto no qual já entraram chutando o pau da barraca e mandando um rock
“low fi” totalmente isento de frescuras e firulas. A apresentação
foi dividido em três partes, com Lou Barlow tocando guitarra na primeira e na
última. Num estilo bem peculiar, com palhetadas rápidas e esparsas. Não teve
muito papo nem enrolação, nem quando o microfone caiu e Barlow teve que se
prostar para continuar cantando e tocando, já que também não havia roadie,
aparentemente – Bruno Montalvão saiu correndo de trás do palco para ajudar mas
já era tarde, o cara já tava lá no chão de joelhos feito um adorador de Allah.
Foi bonito.
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| Autoramas |
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| Kataklysm |
Antes do Sebadoh tivemos uma tal de Orquestra Betodélica, que entrou alucinada, cheia de gente muito
animada, mas com uma proposta, no mínimo, confusa, misturando não sei o que com
não sei o que lá e alguns toques de psicodelia setentista regada a flauta doce.
Nos melhores momentos lembrava algo do rock brasileiro com pitadas de mpb dos
anos 70, tipo Secos e Molhados, mas de forma vaga, bem distante. Fiquei sabendo
através do meu camarada Rogério Big Brother que eram representantes da nova
cena independente do Recife, autodenominada “Movimento Manguebeto”. Ta serto
...
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| Obituary |
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| Olho Sêco |
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| Mukeka di rato |
Voltei a prestar atenção no palco quando Vladimir Korg
apresentou o Chakal como “uma banda
de metal do mal lá de Minas Gerais”. Bom show, boa presença de palco. O metal
mineiro é bem peculiar, com uma sonoridade própria, crua, beirando o punk, e
isso é bom. Mas devo confessar que nunca fui muito fã das bandas de lá não.
Sempre admirei bastante a cena, mas a verdade é que acompanhava de longe, nunca
parei pra ouvir de verdade a maioria dos grupos. E continuei com a mesma
impressão depois deste show do Chakal: é legal, mas falta algo. Composição,
talvez. Acho tudo muito tosco, sem definição. Vale mais pela atitude e pela
persistência dos caras. Mas esta é uma opinião bem pessoal, há uma verdadeira
legião de seguidores desse estilo “cogumelo” de ser, e eles estavam todos lá,
emocionadíssimos, cantando juntos. Isso foi bonito de ver. O rock me emociona.
Havoc, gringa, já
navega mais pela praia do revival thrash capitaneado por Violator e Municipal
Waste, e é muito boa. Nada de novo, como sempre, já que tradição aqui é a
tônica da proposta, mas os caras são bons compositores, para além de excelentes
músicos e “performers”, o que faz toda a diferença. Um grata surpresa pra mim,
que não conhecia.
A esta altura dos acontecimentos o cansaço já batia pesado
em todos, mas a barulheira teria um “grand finale” à altura da noite com um
encontro de duas gerações do “Metal da morte” protagonizada pelo Kataclysm, do Canadá, e o Obituary, mestres da cena de Death Metal
da Florida que causou furor no final dos anos 80 e início dos 90 em torno do
Morrisound Studios de Scott Burns – que hoje trabalha com informática. Se
afastou do ramo da musica com uma triste constatação: “Eu acho que terminou,
está acabado. Não há boas bandas novas, as cópias são vergonhosas, quatro ou
cinco bandas irão sobreviver, o resto irá desaparecer.” Seu último trabalho
como produtor foi justamente para o Obituary, no álbum “Frozen in time”, de
2005.
Não deu pra prestar atenção no Kataclysm, sorry. Tive que
descansar para o que viria a seguir, que foi catártico, apoteótico, destruidor!
Bateu aquele tradicional arrepio na espinha ao ver John Tardy se posicionar na
frente do palco e emitir o primeiro de seus berros guturais super
característicos. O que se viu a partir dali foi uma reprodução exata do que se
ouve nos discos, acrescida, evidentemente, da energia emanada pela presença
física de uma lenda da música viva e ativa, ao vivo, na frente de todos.
Repertório clássico pontuado aqui e ali por faixas novas de um disco anunciado
para julho próximo, e pronto: cumprida mais uma missão de peregrinação à Meca
do rock no nordeste. Ano que vem estaremos de volta, atravessando as mesmas
obras inacabadas e inacreditavelmente estagnadas no mesmo ponto da BR 101 e
ouvindo as incríveis histórias de Itabaiana, a “Macondo sergipana”, contadas
pelo meu camarada Lenaldo.
Dentre elas a de “Zé de Nedina”, o “capotador”, que costuma
encher a cara e dar carona ao máximo de gente possível para no meio do caminho
avisar aos passageiros de seu expresso da morte que se segurem, porque ele vai
capotar o carro. E o faz, por pura diversão. Ou do “Bar do Descamisado”, que
fica no povoado Pé do Viado e tem esse nome porque seu proprietário se recusa a
vestir camisa. Ele costuma servir os clientes assim, de peito aberto, o que
causou indignação num digníssimo juiz de comarca que foi lá almoçar e pediu a
um dos garçons para falar com o dono e denunciar aquela falta de respeito.
Intenção que foi, evidentemente, frustrada, já que era o próprio dono que
cometia a “indignidade”. Consta também que quando o Descamisado está “azuado”,
nervoso com alguma coisa, solta uns “valei-me Nossa Senhora” e sai distribuindo
carne extra de brinde para os surpresos fregueses. Lenaldo destacou também a
simpatia da filha do cara, que, respondendo a um pedido seu por mais uma
garrafa de cerveja, perguntou se ele não era aleijado pra se levantar e ir
pegar no frigobar. De fazer inveja ao “Heavy Duty”, que é célebre por se
orgulha em ter o pior atendimento do Rio de Janeiro ...
Tem também o “Bar da Morte”, em cujas paredes se encontram
“santinhos” de todos os falecidos do sexo masculino – não me pergunte
exatamente porque, nem Lenaldo soube explicar – nos últimos anos na cidade. Para
a frustração do proprietário, ninguém nunca morreu na mesa do bar. E o puteiro
que pretendia funcionar discretamente na casa do agenciador, mas que você podia
ver de longe, devido à enorme quantidade de motos estacionadas na porta ...
Clique nos links abaixo para ler as resenhas das edições
passadas do Abril pro rock.









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