quarta-feira, 2 de abril de 2014

NINF()MANÍACA

Forte. Excessivo. Desconcertante. São as palavras que eu encontro pra definir "Ninfomaníaca", último e pra lá de polêmico filme de Lars Von Trier - a respeito do qual você já deve ter lido mais do que o suficiente para ter uma idéia do que vai encontrar pela frente caso resova enfrentar a maratona de mais de quatro horas de duração, divididas em duas partes.

Ou não. Porque não é uma obra de fácil assimilação, muito embora seja, paradoxalmente, um de seus filmes mais "pop", em termos de narrativa. Chega a ser, inclusive, didático, o que alguns enxergaram como defeito. Eu não. Adorei os recursos gráficos usados para explicar o que a gente via na tela. Ajudam a não perder o fio da meada da longa e, muitas vezes, surpreendentemente divertida, narrativa. Ora ressaltando algo que já estava evidente, ora chamando a atenção para as metáforas. Algumas, também, evidentes - entre a pesca e a caçada sexual na viagem de trem, por exemplo - outras mais rebuscadas, como a que compara os relacionamentos de Joe à estrutura de uma sinfonia.

Visto apenas pela primeira parte, parece misógino, porque focado na visão negativa de Joe diante das consequencias de seus atos. Perto do final, chega-se a uma nova conlusão: é, na verdade, um libelo libertário feminista. É também, a meu ver, um estudo sobre o poder dos impulsos mais primitivos do ser humano, notadamente o sexual, evidentemente. E é com essa energia, selvagem, descontrolada, instintiva, que o filme é estruturado. Daí o excesso. Daí o choque. Daí o final, em que o impulso e a herança cultural determinista vencem, mais uma vez.

Adorei assitir, do lado de uma senhora de idade, na primeira parte, e de uma bela jovem, na segunda, ambas desconhecidas, a cenas, a princípio, desconcertantes, mas filmadas de forma até poética, em alguns casos, embora sempre sem concessões. Nada de desviar a câmera para poupar os moralmente recatados do constrangimento. "Felatios" e penetrações em closes ginecológicos, membros eretos em profusão, masturbações infantis criativas, lubrificações escorrendo pelas pernas diante da morte, espancamentos consentidos e até um boquete "por caridade".

Pornografia existencialista com pitadas, aqui e ali, de um humor negro que beira a morbidez.

Adorei.

A

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