sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Azul é a cor mais quente ...

Adele Exarchopoulos
“Azul é a cor mais quente”, vencedor da Palma de Ouro no último festival de Cannes, é, provavelmente, uma das mais belas histórias de amor já mostradas na tela do cinema. Tenho consciência de que a sentença pode parecer reducionista, mas para alem de qualquer crítica social ou exibicionismo fetichista que a película possa ter como pano de fundo, é isso que ela é: uma belíssima história de amor. Por que intensa, sofrida e, acima de tudo, realista. É impossível que você, em algum momento, não se identifique com algumas das situações mostradas – “porque duas pessoas que se amam não conseguem simplesmente ficar juntas?” Atire a primeira pedra aquele que nunca se fez uma pergunta do tipo, pelo menos uma vez na vida ...

O fato de que se trata de uma relação entre pessoas do mesmo sexo é apenas um detalhe, que só chama tanto a atenção por conta do tabu que ainda impera na sociedade – na nossa e na francesa, como o filme faz questão de mostrar. Mas apenas “em passant”. O foco é, realmente, na relação em si. Nas dificuldades de se manter a fidelidade e a chama acesa com o passar do tempo e as pressões da convivência a dois e tudo o que está nela embutido, como as diferenças culturais e de expectativas para o futuro.


As tão faladas cenas de sexo, realmente fortes e explícitas, no final das contas têm sua razão de ser na trama: ao sermos incluídos de forma tão intensa na intimidade do casal, somos também levados a entender melhor o drama do que se passa depois, e a nos identificar com as protagonistas. Tudo isso num timing perfeito: sim, o filme tem absurdas três horas de duração, mas a metragem ajuda a dar à história um ritmo adequado, sem a pressa habitual das produções de massa hollywoodyanas. Porque é assim que a vida é, e é assim que as coisas acontecem: às vezes de forma atropelada e arrebatadora, tudo ao mesmo tempo, agora; às vezes de forma lenta, arrastada, sofrida. Um dia de cada vez. E olha que há síntese, heim! Diversas situações que, numa produção convencional, daquelas que costumam passar nas sessões de sábado á noite da TV aberta, seriam insistentemente mostradas e exploradas em toda a sua potencial carga dramática, aqui são praticamente abandonadas no meio do caminho em nome do foco no que realmente interessa: a história de Adéle e seu amor por Emma, que ela encontrou por acaso um dia e, ao deixar que entrasse em sua vida, mudou tudo, de forma irreversível. Para o “bem” e para o “mal”.

Adéle, doce Adéle. Como não amar e sofrer junto com uma criatura tão linda? Ela existe, de verdade, e eu, particularmente, estou completamente apaixonado. Existe graças à absolutamente fantástica interpretação de Adele Exarchopoulos, uma das mais arrebatadores dos últimos tempos. O filme é dela! Dela e de Emma/Léa Seydoux, mas principalmente dela – não por acaso o título original é “La Vie DAdéle.

Foram 180 minutos preciosos ao lado de pessoas adoráveis - que fumam demais, é verdade, mas ninguém é perfeito. Ainda bem que o cinema (ainda) não tem cheiro – retratadas em closes exuberantes, de corpo inteiro e desnudo, inclusive, numa França ainda multicultural e politicamente avançada, apesar do fantasma conservador que insiste em espreitar, ameaçando acabar com a festa ...

Valeu muito a pena, apesar das sessões escassas e em horários inconvenientes.

Vá e veja você mesmo.

No cinema.

A.

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