segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

VIVA TROTSKI!

“Durante quarenta e três anos de minha vida consciente fui revolucionário e durante quarenta e dois lutei sob a bandeira do marxismo. Se tivesse de começar tudo de novo eu tentaria evitar um ou outro erro, mas o curso principal de minha vida continuaria inalterado. Morrerei como revolucionário proletário, como marxista, como materialista dialético e, consequentemente, como um ateu irreconciliável. Minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardorosa, na verdade é hoje mais forte do que nos dias de minha juventude. Natascha acabou de chegar pelo pátio até a janela e abriu-a completamente para que o ar possa entrar mais livremente em meu quarto. Posso ver a larga faixa de verde sob o muro, sobre ele o claro céu azul, e por todos os lados, a luz solar. A vida é bela! Que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência, e possam gozá–lá plenamente.” – Trotski, em seu testamento.

A morte ocorreu em 21 de agosto de 1940, às 7 horas e 25 minutos. A autópsia mostrou um cérebro “de dimensões extraordinárias” pesando 4 quilos e 777 gramas. “Também o coração era muito grande”.

Em 22 de agosto, de acordo com um costume mexicano, um grande cortejo fúnebre marchou lentamente atrás do caixão, carregando o corpo de Trotski pelas principais ruas da cidade, e também pelos subúrbios proletários, onde multidões andrajosas e descalças enchiam as ruas. Os trotskistas norte-americanos quiseram levar o corpo para os Estados Unidos, mas o Departamento de Estado recusou o visto até mesmo ao morto. Durante cinco dias o corpo ficou em exposição e cerca de trezentas mil pessoas desfilaram ante ele, enquanto nas ruas soava o Gran corrido de Leon Trotski, balada folclórica composta por um poeta anônimo.

Em 27 de agosto o corpo foi cremado e as cinzas enterradas nos terrenos da “pequena fortaleza” de Coyoacán. Uma pedra retangular branca foi colocada sobre a sepultura e uma bandeira vermelha desdobrada sobre ela.

Natália (Sedova, viúva de Trotski) continuaria vivendo na mesma casa por outros 20 anos, e todas as manhãs, ao se levantar, seus olhos se voltavam para a pedra branca no pátio.

“Trotski, o profeta banido”, de Isaac Deutscher
Tradução de Waltensir Dutra
Editora Civilização Brasileira
Rio de Janeiro
2006

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