Até 1990, ano de "Seasons in the Abyss", a
qualidade dos lançamentos fonográficos do Slayer era praticamente irretocável.
Eu sei, “Show No Mercy” é mal gravado (para os padrões atuais) e cheio de
cacoetes típicos da época, com direito a gritinhos a la King Diamond -
influência confessa -, mas é um puta disco! Porque as músicas são muito boas.
Simples assim. Eu arriscaria dizer que é um dos melhores discos de estréia de
uma banda de Heavy Metal em todos os tempos. Foi seguido pelo EP "Hauting
the Chapel", onde eles conseguiram aumentar a agressividade preservando a
qualidade das composições, e por "Hell Awaits", onde o peso e a
velocidade foram ainda além, só que desta vez em detrimento da música - são
muito longas e ligeiramente enfadonhas, dispersivas. Dessa fase, dos anos 80, é
o mais fraco - mas ainda assim muito bom. De "Reign in Blood" nem há
o que falar, é praticamente uma unanimidade: o melhor disco de música extrema
já feito. Nos dois álbuns seguintes eles, espertamente, tiveram o cuidado de não
sucumbir às expectativas e pegaram os fãs de surpresa: baixaram a velocidade, criando
pérolas de som pesado, cadenciado e climático, como as faixas título dos dois
discos, "South of heaven" e "Seasons in the Abyss", mas
pontuando-as com outras que preservavam a boa e velha velocidade da luz nas
palhetadas, como "silent screan" e "War Ensamble". Não “amoleceram”:
amadureceram! Não se repetiram: evoluíram!
Na década de 1990, já sem Dave Lombardo, o melhor baterista
de Heavy Metal vivo, ainda lançaram um excelente petardo, "Divine
intervention", e um bom disco de covers, "Undisputed Attitude" -
no qual dão uma aula de verdadeiro punk rock e Hard Core àquela geração “leitinho
com Nescau” que surgia no rastro do Green Day e do Offspring. Somente a partir
daí pareceram sucumbir ao cansaço natural do passar do tempo, ora
experimentando e errando, como em "Diabolus in musica", ora fazendo
discos competentes porém “mornos”, com fórmulas requentadas, como no caso dos
três últimos, "God Hate us all" (excelente título), "Christ
Illusion" (o mais extremo do período, musical e conceitualmente, com
direito inclusive a mais uma capa blasfema do mesmo autor da do clássico
"Reign in Blood") e “World painted blood”.
Dave Lombardo |
Esta é a minha visão da carreira “discográfica” do Slayer. A
de Joel McIver, autor do recém relançado "O Reino Sangrento", é
bastante diferente. Pelo que entendi, para ele, os únicos discos realmente bons
que a banda lançou foram “Hell Awaits”, “Reign in Blood” e o EP “Hauting the
Chappel”. Todos os outros são cheios de músicas chatas pontuadas por alguns
poucos momentos inspirados. Além disso, o cara parece querer o tempo inteiro
demonstrar ser “adulto” e “maduro” e não se furta a desancar qualquer atitude
mais sem noção que a banda tenha tido ao longo de sua longa trajetória. Critica
até a clássica foto da contracapa do “Reign in Blood”! Desnecessário dizer que
discordo completamente – e a banda também não deve ter concordado, já que na
introdução ele menciona que sua intenção era lançar uma biografia “oficial”, o
que não aconteceu por uma falta de resposta à sua solicitação. Tudo bem, não
precisava – nem deveria – ser uma biografia “chapa branca”, mesmo que eventualmente
“oficializada”, mas é igualmente desnecessária e irritante a insistência do
autor em expor sua opinião pessoal a todo momento. Que o fizesse pontualmente e
se restringisse, na maior parte do tempo, à descrição dos fatos, pura e
simplesmente.
Feita esta ressalva, devo dizer que o livro é bom. Muito
bom, até. Não é jornalismo “literário”, não há nenhum arroubo de genialidade na
pena do escriba, mas é bastante competente. Conta toda a história, desde o início
– e não senti, aqui, a suposta pressa que o próprio autor assume ter tido
quanto aos primórdios da banda – de forma fluente e prazerosa. Fala o que pode –
e deve – ser dito sobre a vida pessoal dos caras e disseca de forma competente
todos os discos e turnês que fizeram até 2010, data da última atualização. O
que, infelizmente, significa dizer que não são mencionados os momentos dramáticos
que eles vêm passando nos últimos tempos, com a doença e posterior falecimento
do guitarrista Jeff Hanneman e mais uma “demissão” do baterista Dave Lombardo. Para
compensar, há um interessante apêndice exclusivo da edição nacional em que
alguns personagens do underground “tupiniquim” prestam sua homenagem ao “galego”
falando sobre o impacto do Slayer em suas vidas. Dentre eles, eu – o que muito
me orgulha! Sou fã de (quase) primeira hora do Slayer, desde antes do “Reign in
Blood”. Detalhe: isso em Itabaiana, interior de Sergipe, na segunda metade dos
anos 80. A
primeira camiseta com estampa de banda de rock que tive na vida era da capa do “Show
No Mercy”. E vi o nascimento de uma obra prima: lembro como hoje o dia em que
peguei meu vinil do “Reign in Blood” com aquela capa satânico-blasfêmica, estilosa
apesar de meio tosca, em pavoroso papel surrado não-plastificado – era uma época
em que vivíamos uma escassez geral de matérias primas, devido aos boicotes dos
fornecedores em resistência ao congelamento dos preços do plano real - e nossos
ouvidos foram praticamente estuprados pela introdução de “Angel of Death”, que
se seguiu a um massacre sonoro ininterrupto que me deliciou, mas que fez alguns
de meus amigos “arregar” – um deles “pediu pra sair”, com dor de cabeça. Eu
segui “bangueando”, até hoje. Porque Slayer é foda!
Por fim, a edição: é primorosa! Excelente diagramação e impressão
em fontes elegantes e de fácil leitura, papel de boa qualidade, capa dura e
tradução impecável – era o calcanhar de Aquiles da edição anterior, pelo que li
a respeito. Fico feliz em ver que as editoras nacionais descobriram,
finalmente, este filão: o dos livros sobre rock! E a Edições Ideal está de
parabéns: mandou muito bem neste lançamento. Espero que mantenha o padrão.
por Adelvan k.
Autor: Joel Mciver
Editora: EDIÇÕES IDEAL
Ano de Edição: 2013
Nº de Páginas: 368
COMPRE AQUI
por Adelvan k.
Autor: Joel Mciver
Editora: EDIÇÕES IDEAL
Ano de Edição: 2013
Nº de Páginas: 368
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Gorgeous!
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