quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

De novo ...

Todos os anos eu solto os cachorros em cima da festa de Fabiano. Não é birra, nem implicância, mas ciência do certo e do errado. Embora tenha nascido com o ânimo aleijado, sei que o mundo não gira ao redor do meu umbigo. Encosto a magrela até que o empresário devolva a ciclovia tomada na cara dura, suporto a histeria dos trios elétricos, mas não engulo o assalto aos cofres públicos.

Se os donos do mundo pendurados nos camarotes argumentam que a limpeza e iluminação do Pré Caju, além da fiscalização da marca da bebida comercializada no meio da bagunça, é atribuição institucional da Emsurb, não serei eu a defender o contrário. Se o Ministério Público prefere abotoar a farda dos Policiais Militares, dizendo como eles podem dispor do próprio sangue, estranho e silencio. Não entra em minha cabeça, contudo, como a ASBT, uma associação sem fins lucrativos, consegue financiar uma festa privada com dinheiro do Ministério do Turismo.

A boa vontade dos entes públicos com as empresas que formam o grupo ao qual a ASBT pertence é comovente. O Pré-Caju foi incluído no calendário turístico e cultural da capital por lei municipal em 1993. Três anos depois, outra lei reconheceu a ASBT como entidade gestora e organizadora do evento. Depois, a Associação foi agraciada com o certificado de utilidade pública estadual. Hoje, a micareta é reconhecida pelas autoridades como um evento estratégico, uma das principais cartadas para promover o turismo local.

Nossos gestores não explicam, contudo, porque depois de tamanho investimento, realizado durante décadas a fio (o Pré Caju comemora 22 anos em 2013), nem mesmo o principal financiador da festa reconhece a capital sergipana como destino apropriado para os visitantes. Aracaju não foi incluída entre os 184 destinos sugeridos pelo Ministério do Turismo para os turistas que desembarcarão no Brasil durante a Copa do Mundo de 2014.

Me vem à lembrança que há muitos anos não ocorre uma edição do Festival de Arte de São Cristóvão (Fasc). Lembro que, na última oportunidade, os malucos tomaram conta da cidade histórica. Os tambores ecoavam nos becos, expulsando a cultura popular dos seminários acadêmicos, desafiando alguém a dizer que aquilo não era arte. Eu assistia àquela movimentação toda, os grupos de teatro, os casais a se perder numa esquina para se encontrar em outra, vivendo um sonho infantil de Woodstock. Até de manhã cedo, quando um cachorro me acordou nos degraus da Igreja da Matriz.

Não fosse o gesto lento dos idosos, os enganos no emaranhado de tantas barbas grisalhas, eu teria crescido feito erva daninha, barco à deriva, um folião entusiasmado com os apitos do carnaval. Mas eu tive pai. Eu tive mãe. O enredo cavado na pele enrugada de minha avó lembra que há verdades descalças, sem sapatos, sem abrigo, que teimam no mundo por insistência da memória. Vou esperar o mijo derramado pelos partidários de Fabiano abandonar minha cidade, portanto, para tomar de volta os caminhos interditados da Avenida Beira Mar.

A Educação pela corda.




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