segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fúria.

1. Agitação violenta; ímpeto de violência; furor; 2. Exaltação de ânimo; raiva, ódio, ira; 3.Inspiração, estro, entusiasmo, ímpeto… Essas são algumas das definições encontradas no Aurélio para o substantivo fúria. Verdadeiras, naturalmente, as sentenças não revelam quase nada, contudo, a respeito do intelectual sergipano que o adotou como nome próprio e vem ampliando o seu significado no convívio cotidiano com os livros, as artes plásticas, a poesia e a música do cão.

Fúria possui um nome ridículo registrado na carteira de identidade, mas ele não lhe pertence mais. Desde o início de suas andanças pelos subterrâneos da cidade, uma verdadeira peregrinação à procura de algum vestígio de vida inteligente no interior do buraco, seu nome é Fúria. Ele prefere, e vai morrer conhecido assim.

O rapaz já foi colaborador do rebelde Folha da Praia, mantém contato com jornalistas respeitados no sul do país, e foi lembrado recentemente pelo músico Rafael Jr, que o colocou em pé de igualdade com o talentoso Jamson Madureira, ao conceder entrevista a um escritor paraibano que radiografava a cena brasileira para a confecção de um livro. A despeito de tantos predicados, no entanto, Fúria vive exclusivamente de emprestar conhecimento e prestígio.

Já era assim quando o conheci. Ele havia parado de fazer as experiências com colagens que o jogou no universo das artes plásticas, e arranjou um jeito de ganhar dinheiro aproveitando a intimidade que desfruta com os livros. Ali na saudosa Poyesis, entre um chope e outro, Fúria tergiversava sobre Proust e James Joyce, se gabava da edição limitada do LP Transas, de Caetano, uma das pérolas de sua coleção, e achincalhava o gosto médio ostentado por alguns fregueses. “Porra de Norah Jones! Coisinha mais sem sal!”, arrotou sem piedade em minha cara embriagada, certa vez.

Depois, empregado no Coquetel da Cultura, ali próximo à Praça da Imprensa, sua função era quase a mesma. Tão logo o cliente se acomoda diante de um copo de cerveja, Fúria desenhava um perfil e, orientado pela vista desperdiçada em uma infinidade de páginas cobertas de letras, começava a despejar toneladas de papel no colo do eleito. Foi assim que acabei adquirindo O Segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchel, um dos maiores clássicos do jornalismo literário já redigidos, e um dos livros mais consultados de minha estante.

“É o melhor emprego do mundo, no pior lugar possível para o escolher”, ele resume a labuta, fingindo certo cansaço. Eu, que o conheço de perto, sei que não é extamente esse o seu pensamento. A televisão pode esfregar o que for em nossa cara. De Lady Gaga a Concertos para hélices de helicópteros, o copo de cerveja esquentando, abandonado entre seus dedos, Fúria terá sempre uma observação a fazer.


por Rian Santos

jd
 

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