domingo, 3 de junho de 2012

A distopia kitsch - e outras histórias ...

Costumo falar aqui apenas dos filmes que vi no cinema, mas como a programação das salas de exibição de Aracaju, monopolizadas pela multinacional Cinemark, anda uma merda, vou começar a resenhar os que pego em locadora, também. É, eu sou old school, eu ainda freqüento locadora! Aproveito até pra fazer uma propaganda gratuita (OH! Com a quantidade de gente que deve ler esse blog, vai bombar!), pois o dono é gente fina e sua loja é, provavelmente, a melhor empresa do ramo na cidade atualmente, já que a Super Video de Ivan Valença fechou: RS Video Locadora - Rua Santa Luzia, 853 - Fone (79) 3211.3854 - E-mail: rsvideo@rsvideo.com.br.

Jogos Vorazes (2012), de Gary Ross - Impressionante mistura de ficção científica distópica com aventura supostamente adolescente que, acredite, não tem nada a ver com Harry Poter e muito menos com a horrivelmente desprezível saga “Crepúsculo”. Conta a história de Katniss Everdeen (até os nomes dos personagens são ótimos e inventivos, o que nem sempre é comum em se tratando tramas passadas em mundos fictícios), uma garota que se oferece como voluntária no lugar de sua irmã, que havia sido recrutada para um reality show perverso transmitido anualmente pela televisão para todos os 12 distritos de uma América do norte futurista semidestruída por uma guerra civil. As idéias principais, a exemplo do horripilante “A Ilha”, de Michael Bay, são recicladas de filmes anteriores, como “O show de Trumam”, dirigido por Peter Weir e protagonizado por Jim Carrey, e “O sobrevivente”, uma besteira estrelada por Alrnold Schwarzenegger, ou de clássicos da literatura como “1984” de George Orwell e “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley (nos livros seguintes da trilogia, dizem, há pitadas de “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury). Mas a execução é primorosa, e há momentos de grande inventividade conceitual, como o visual absurdamente “kitsch” dos moradores da Capital, onde ocorrem os tais “jogos vorazes”. Mais importante: é uma ótima história muito bem contada no livro (a julgar pelo primeiro capítulo que li) e dirigida na tela grande. Você realmente torce pela protagonista, brilhantemente interpretada por Jennifer Lawrence, roi as unhas nos momentos de suspense e se empolga com as cenas de ação. Gostei tanto que pretendo ler os livros e já estou esperando ansiosamente pelas continuações – ainda bem que estão garantidas, já que o filme foi um grande sucesso.

Excelente.

Os Vingadores (2012), de Joss Whedon – Já quase prometi a mim mesmo nunca mais perder meu tempo assistindo filmes baseados em quadrinhos de super-heróis, mas é difícil para quem colecionou “Superaventuras Marvel” ou “Heróis da TV” nos anos 80 resistir a ir conferir personagens e histórias tão caras à sua infância na tela grande e com tecnologia atualizada. Fui, portanto, mas ciente do que iria encontrar: uma adaptação absurdamente competente porém absolutamente previsível. Não me surpreendi. Gostei muito de algumas coisas, não muito de outras. Loki está ótimo. Scarlett Johansen está linda (como sempre). Thor está bem retratado, embora os trejeitos de seu intérprete, Chris Hemsworth, sejam um tanto quanto irritantes. Também irritante é a verborragia supostamente espirituosa do Tony Stark de Robert Downey jr. – ando achando suas intepretações, tanto aqui quanto em Sherlock Holmes 2, um tanto “over”. E o Hulk, é o Hulk. Esmaga! Mas continua não convencendo como criatura digital ...

Gostei muito mesmo de duas coisas: a épica batalha final contra monstros vindos de outra dimensão (adivinhe onde acontece? Acertou, Nova Iorque) e o aparelho inventado por Stark para retirar sua armadura sem que ele precise sequer parar de andar para isto. Genial.

Genial o aparelho. O filme é apenas bom.

Ah: tem também a aparição de Thanos no final dos créditos!

Promete.

Homens de preto 3 3D (2012), de Barry Sonnenfeld – Não esperava por uma nova aventura dos Homens de preto depois do fiasco que foi o segundo filme. Apesar de ter adorado o primeiro e gostar bastante da série animada, fui ver descompromissadamente, mais porque fiquei preso fora do apartamento e precisava passar o tempo de alguma forma até minha mulher chegar. Até mais ou menos os 20 minutos iniciais estava totalmente pasmo, com a impressão de ter visto algumas das cenas mais divertidas dos últimos tempos, mas o ritmo muda sensivelmente a partir do momento em que o Agente J, vivido por um ótimo Will Smith, volta ao passado, mais precisamente aos anos 60, para evitar que seu parceiro K seja assassinado e o futuro (ou o presente, no nosso caso) alterado. Não fica ruim, mas deixa o filme apenas bom – até ali estava ótimo! Deveriam, pelo menos, ter mostrado mais detalhes da destruição provocada pelas naves alienígenas que pareciam saídas de “A guerra dos mundos”, de H. G. Wells.

Destaque para o vilão, Boris, o Animal (sua fuga de uma prisão na lua é um dos pontos altos), e para uma luta de K e J contra alienígenas num restaurante chinês fajuto.

Bom.

John Carter – Entre dois mundos - 3D (2012), de Andrew Stanton - Interessante aventura bem ao estilo “pulp”, território de onde se originou – o filme é baseado num livro do mesmo criador de Tarzan, Edgar Rice Burroughs. Vai do velho oeste americano a uma espécie de velho oeste marciano num estalar de dedos. A trama é meio boba e previsível, mas há muitos bons momentos, como as batalhas aéreas e nas arenas – na melhor delas, o protagonista enfrenta enormes e monstruosos símios assassinos. Já o 3D parecia melhor no treiler, mesmo que não chegue a ser uma decepção total. 

Esperava mais do diretor que nos deu as obras-primas em desenhos animados “Wall-E” e “Os incríveis”, mas ok, me diverti, e este era, afinal, o objetivo principal desta Sessão da Tarde de luxo. Melhor que as refilmagens de Conan (que eu não vi e não gostei) e de Furia de Titãs (vi o primeiro e detestei), definitivamente, é. Destaque para o cão com cara de lagarto. Muito feio, mas simpático - e rápido! Gostei dele.

Bom.

Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma 3D (2012), de George Lucas - Eu confesso: estava cego pelo fanatismo quando vi pela primeira vez “A Ameaça fantasma”, primeiro filme da então novíssima trilogia da saga “Star Wars”, no cinema. Quando os acordes da musica tema ribombaram nos autofalantes, precedidos pela tradicionalíssima fanfarra da Fox, e os letreiros começaram a subir naquele velho formato de nave espacial navegando pelo espaço, a batalha pelos corações e mentes daqueles que, como eu, aguardavam ansiosamente uma àquela altura improvável nova aventura de “Guerra nas estrelas” já estava ganha. Só depois, vendo as críticas pra lá de negativas que pipocavam na midia, meu botão de desconfiômetro passou a apitar e eu comecei a pensar que aquele tal Jar Jar Binks talvez não fosse um personagem tão legal, afinal ...

Aproveitei o lançamento do filme em 3D mais de uma década depois da estréia original para revê-lo mais friamente e assim, livre da paixão que invariavelmente cega, analisar os prós e contras. E há, realmente, mais contras do que prós. A direção é realmente fria e Jar Jar Binks é, definitivamente, ridículo. Dar tanto tempo na tela para ele e tão pouco para o excelente vilão Darth Maul foi um erro imperdoável. Os diálogos também são ruins e a trama confusa e “capenga”.

Mas continuo não achando o filme de todo mal. A direção de arte é primorosa, o figurino é inventivo e o design dos droids e das naves é perfeito, com um pé no “retrô”. Já quanto às criaturas, varia: o pai de Jar Jar parece o Dino da Silva Sauro e o “dono” do Anakin mirim, pessimamente interpretado por um garoto irritante, extrapola todos os limites da física e da aerodinâmica ao conseguir voar com aquele corpo gordo em asinhas diminutas – ok, som no espaço a gente ainda agüenta, dá um “upgrade” nas cenas de batalha (não consigo imagina-las de outra forma), mas aquilo ali já foi longe demais.

Já o oponente do pequeno jedi na corrida de pods, uma criatura humanóide bizarra que usa as mãos no lugar dos pés para se locomover, é excelente. A corrida de pods, por sinal, continua sendo o grande momento da fita, tanto em termos visuais quanto de sonorização - um dos pontos fortes da saga.

É meio vazio e infantil? É. É ruim? Ainda acho que não, mas eu sou assumidamente suspeito. Sou fã.

Por último: A conversão para o formato 3D foi tão desnecessária que eu quase esqueci de mencioná-la ...

Bom (pendendo para o razoável)

Os Muppets (2011), de James Bobin - O “protagonista”, Gary, vivido por Jason Segel, é meio idiota (meio?); a “mocinha”, Mary (Amy Adams), é sem sal, e as músicas são chatinhas (odeio musical), mas não dá pra resistir ao charme dos Muppets! Caco (ops, perdão, Kermit – que idéia idiota essa de só agora usar o nome original do personagem) e sua turma voltam com força total em um filme tão “badalado” que passou no cinema até aqui, em Aracaju! Nunca tinha visto os Muppets no cinema, e gostei da experiência. Destaque, como sempre, para o charme “blasé” da musa Miss Piggy, para as ótimas piadas e para Walter, o “novo muppet” criado especialmente para este filme - é meio idiota também mas neste caso, como se trata de um boneco, ficou engraçado. Não é tão legal quanto os bonecos originais porque não poderia ser, já que Jim Henson, o gênio por trás dos personagens mais simples e expressivos já criados para a TV (e o cinema), está morto. Mas não deve ter revirado no túmulo. Pelo contrário, deve ter até esboçado um sorriso ...

Muito bom.

2 Coelhos (2011), de Afonso Poyart Mesmo abusando da estética publicitária (as cenas de abertura parecem propaganda de cartão de crédito), trata-se de um inteligente e empolgante filme de ação “made in Brazil” – e com efeitos especiais realmente bacanas, o que é raridade! Com direito, inclusive, a Alessandra Negrini num momento “Sucker Punch”! A trama, cheia de idas e vindas e reviravoltas, é bem bolada, e Alessandra está belíssima (come sempre) e atuando bem (como sempre, também). Já o ator que faz o protagonista, Fernando Alves Pinto, achei fraco. Claro, o filme não inventou nada, é tudo inspirado em blockbusters americanos, mas desta vez a cópia foi bem feita: a direção é segura e o ritmo é perfeito. Me diverti muito assistindo, portanto, gostei. Parece que foi mal na bilheteria. Acho injusto.

Muito bom.

Sherlock Holmes 2 (2011), de Guy Ritchie – Gostei do primeiro, por isso não hesitei em ir ver o segundo, já que foi feito pelo mesmo diretor e com os mesmos protagonistas. Mas achei bem chatinho – o que me fez, inclusive, desconfiar de que quando vi o primeiro poderia estar num daqueles momentos em que a gente está disposto a se divertir a qualquer custo. Qualquer dia revejo para reavaliar isto. Esta segunda parte tem um ritmo frenético que, longe de empolgar, é extremamente irritante: um saco ter que assistir, a todo momento, às antecipações de movimentos da mente de Holmes com as onipresentes e pra lá de manjadas sequências de ação em câmera lenta. Maldita hora em que Zack Snider foi usar (e abusar) deste efeito em “300” ...

Robert Downey Jr. está bem no papel principal, Jude Law continua ok como Otis e há um novo e interessante personagem, irmão de Sherlock Holmes, brilhantemente vivido pelo legendário Stephen Fry (taí sua resposta, Zeca Baleiro), mas a trama é confusa, o vilão é sem graça e Noomi Rapace está péssima na pele da cigana Simza.

Fraco.

Millenium – Os Homens não amavam as mulheres (2011), de David Fincher - Não li o livro, mas minha mulher leu e gosta muito. André Barcisnki, do qual gosto bastante, também elogiou – o primeiro, os outros (é uma trilogia) ele achou demasiadamente inverossímeis. E eu sou (quase) fã de David Fincher, portanto fui ver esta adaptação de um dos maiores “Best Sellers” da atualidade para o cinema. Gostei. Muito. Todos falam que a versão cinematográfica suavizou a trama, o que me faz crer que no livro a barra pesa pra valer, já que a cena do estupro, a vingança da estuprada e o sadismo do vilão me impressionaram bastante. Daniel Craigh está ok como o protagonista, mas quem rouba a cena mesmo é a Lisbeth Salander de Rooney Mara: esquisita porém charmosa – e perigosa. E inteligentíssima. Até demais, mas tudo bem, é cinema, não é vida real. Não quero ser chato ...

Muito bom.

Rango (2010), de Gore Verbinski - Não botava muita fé, tanto que nem fui ver no cinema, mas me surpreendi positivamente com esta divertidíssima animação do mesmo diretor da cinessérie “Piratas do Caribe” - da qual não sou lá muito fã, vi apenas o primeiro e não gostei. O clima é totalmente “velho oeste”, embora a trama se passe, supostamente, nos dias atuais – pelo menos é o que se crê a partir do início, com o camaleão Rango caindo de um confortável automóvel diretamente para o asfalto escaldante e de lá para as areias do deserto, onde tem que fugir de uma ave de rapina e acaba parando numa típica cidade dos tempos dos “filmes de bangue bangue”. Bons gráficos, bom ritmo, bons personagens, boas piadas e uma história divertida – precisa mais do que ?

Muito bom.

A 20 Milhões de Milhas da Terra (1957), de Nathan Juran – O que importa aqui, neste típico representante da ficção científica que se fazia nos anos 50, são a criatura e os efeitos em stop motion criados pelo mestre Ray Harryhausen. Além de ser supercompetente, o cara tinha muito estilo, tanto que é admirado até os dias de hoje, em que a computação gráfica dá a tona dos efeitos especiais para o cinema. Especialmente impressionantes são a cena em que o alien nasce, saindo da casca de um ovo, e sua morte (ops! Contei o final!), em Roma, Itália, porque Harryhausen queria férias por lá! O DVD é duplo e trás o filme na versão original, em preto e branco, e colorizado. Os extras são ótimos, com depoimentos do próprio Ray e de admiradores famosos, como Tim Burton, além de treilers e cenas de outros clássicos que tiveram a mão do mestre em sua concepção. Disponível para locação em Aracaju na RS Vídeo.

Bom.

Não me abandone jamais (2010), de Mark Romanek – Interessante obra de fantasia existencialista que se passa numa realidade alternativa dos tempos atuais onde a medicina evoluiu ao ponto de proporcionar a cura para praticamente todas as doenças em 1957 e uma expectativa de vida de 100 anos já na década de 60! Mas tudo isso ao custo de freqüentes transplantes de órgãos. Para abastecer este evidentemente próspero mercado, pessoas são, praticamente, cultivadas, com o único intuito de se tornarem doadores. A situação, sinistra e bizarra aos olhos de quem vê, é surpreendentemente encarada com uma aparente normalidade pelos personagens, tanto os beneficiários quanto os que vão morrer jovens para cumprir a tarefa para a qual foram criadas. Aparentemente, é bom frisar. Num determinado momento do filme vemos que não é bem assim, pois os protagonistas passam a questionar o sentido, ou pelo menos a brevidade, de suas existências, e saem à procura de alguma possibilidade de prolongamento de suas vidas.

Apesar do ritmo arrastado e às vezes enfadonho, é uma bela película que desperta muitos questionamentos sobre o sentido da vida.

Profundo. 

Enterrado vivo (2010), de Rodrigo Cortés – Claustrofóbico, angustiante e corajoso exercício de direção do diretor espanhol Rodrigo Cortés e de atuação de Ryan Reynolds. Ele é um caminhoneiro americano que foi ao Iraque unicamente para trabalhar na “reconstrução” do país e, com isso, ganhar sua vida honestamente. Acontece que os “terroristas” não interpretam o mundo por este ponto de vista, e ele acaba sendo pego no fogo cruzado da guerra suja “contra o terror” pós 11 de setembro. É seqüestrado e enterrado vivo. Só sairá de lá no mesmo estado (respirando) caso alguém, sua família ou, de preferência, do governo de seu país, pague um resgate milionário. Não há cenas de flashback nem demais artifícios que facilitem a vida dos envolvidos na produção. Por conta disto, toda a história é contada através de telefonemas.

Excelente.

127 Horas (2010), de Danny Boyle – ao contrário de “Enterrado vivo”, os flashbacks são utilzados por Dany Boyle para ilustrar o drama real vivido pelo alpinista Aron Ralston (interpretado por James Franco) ao ficar preso num rochedo por 127 horas (5 dias) em Utah, nos Estados unidos. Apesar do recurso facilitador, o talento do diretor se impõe com suas características habituais: ritmo frenético e tomadas ousadas numa narrativa que flui e envolve o espectador. Envolve e angustia, porque quem sabe da história que, repito, é real, sabe também que o final foi feliz, “pero no mucho”.

Bom.

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