terça-feira, 27 de dezembro de 2011

VIVA O GRANDE LÍDER!

Capítulo 1 – Do outro lado do mundo existe uma república popular

Vista de dentro do pequeno Citroen vermelho, a cidade parecia estranha. Chegar em Pequim é sempre uma coisa preocupante. As multidões, a poeira, as bicicletas como um enxame de abelhas, a indelicadeza de seus habitantes, tudo parece minar a confiança do forasteiro. A confusão urbana ajuda a lembrar que aquele é um território ainda desconhecido e perigoso.

A Estação Rodoviária Oeste, aonde cheguei no trem proveniente de Hong Kong, seria, segundo a propaganda oficial, a mais moderna de toda a China. Estava semi-escura, cheia de gente e tumultuada. Quando saí para a rua e peguei um táxi, já estava começando a anoitecer.

Já tendo estado antes em Pequim, eu conhecia mais ou menos o trajeto que o táxi deveria fazer para chegar ao hotel onde eu tinha reserva, localizado na Dongsanhuan, a terceira perimetral leste. Mas, dentro do carrinho vermelho, rapidamente perdi o senso de orientação e comecei a suspeitar que o motorista estivesse dando uma volta monumental em torno do centro para chegar ao hotel. E o pior: com pouco dinheiro em iuane no bolso, eu temia não ter como pagar a corrida. Não seria possível que, após dez minutos de percurso, o taxímetro ainda estivesse marcando 10 iuanes. Barato demais para ser verdade.

Ao contrário da confusão presenciada na estação de trem, seguíamos agora por grandes avenidas asfaltadas, passando velozmente em frente a arranha-céus iluminados por letreiros em néon. O pequeno táxi era acompanhado nas vias expressas por centenas de carros de todos os lados. Esta não era a Pequim de quatro anos atrás. Onde estava a velha China dos riquixás e da população vestida de azul ? Observada do meio das avenidas do novo capitalismo, a cidade cheirava a tinta e surgia como uma miragem refletindo um inimaginável progresso material. Lembrava mais Los Angeles do que uma metrópole asiática. A sensação de riqueza reforçava minha preocupação com o táxi. Aquilo ia me custar uma fortuna. Somente depois de uma meia hora de dúvidas, chegamos ao Hotel Golden Era. O táxi custou 27 iuanes – pouco mais de três dólares – e eu nem fiz questão do troco. Estava vencida a primeira batalha na capital chinesa.

A segunda batalha começaria no dia seguinte, um sábado. Eu estava em Pequim, desta vez, com um único objetivo: embarcar para a Coréia do Norte, que é considerada como o país mais fechado do planeta. Para se chegar à Coréia do Norte é necessário uma passada obrigatória na China, sobretudo para se conseguir uma forma de transporte até Pyongyang. No sábado de manhã, caí em campo para tentar comprar uma passagem no trem que partiria na segunda-feira à tarde em direção a Dandong, na fronteira da China, seguindo depois ate Pyongyang. Fui ao local mais apropriado para estrangeiros poderem comprar passagens: uma agência do Serviço de Viagens Internacionais da China, a CITS, no Beijing International Hotel. Apesar do padrão luxuoso do hotel, localizado na moderníssima avenida Jianguomennei, o serviço na CITS ainda é soviético. Um atendente que não falava inglês me informou bruscamente, e de má vontade, que não havia passagem à venda. Tudo esgotado. Passagem só com um mês de antecedência. Um burocrata norte-coreano, que panava para conseguir seu bilhete para uma data posterior, me confirmou:

- É muito difícil conseguir passagem de trem. Por que você não tenta o avião ?

por Marcelo Abreu

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