terça-feira, 27 de setembro de 2011

Uma tarde com o Chupacabras (e outras criaturas)

Pra mim, domingo é o verdadeiro Dia Internacional da preguiça. Pra me tirar de casa, especialmente à tarde e depois de um churrasco bem servido, então, só sendo mesmo uma ocasião muito especial. A exibição de “A Noite do Chupacabras”, novo filme de Rodrigo Aragão, do cultuado “Mangue Negro”, no HQ Festival, era uma delas, sem sombra de dúvidas.
Cheguei em cima da hora mas, felizmente, não perdi nada – nem a introdução nem os créditos iniciais, muito elegantes, diga-se de passagem. Desaconcheguei-me nas desconfortáveis poltronas, quase todas quebradas, do Auditório da Biblioteca Pública Epiphanio Dorea, e curti a projeção – prejudicada pelo excesso de iluminação e pela irregularidade da tela, mas ok, “Don´t Panic!”! Have Fun!
Me diverti bastante. O filme, uma pequena pérola “trash”, conta a “história” de uma guerra entre duas famílias do interior interrompida pela aparição de uma criatura fantasiosa, o tal chupacabras. Me interessei por ele por dois motivos: Já tinha ouvido falar muito de “Mangue Negro”, especialmente através de Roberto Nunes, do Cine Cult (ele ensaiou exibi-lo numa das Viradas Cinematográficas, mas infelizmente não rolou), e um dos atores principais desta nova produção é ninguém mais, ninguém menos, que Petter Baiestorf, uma verdadeira “lenda viva” do cinema “trash” nacional. Foi no blog dele, aliás, que eu vi as primeiras fotos da legendária criatura no filme, tida por ele (e agora comprovado por mim) como sua melhor representação.
A atuação do Petter foi boa, melhor até do que eu esperava. Claro que adequada ao seu papel (de mau) e ao estilo da produção, afinal, o cara não é nenhum Marlon Brando. Todos os atores são amadores, assim como a maioria das cenas de sangue e escatologia, mas, no geral, o filme está visualmente acima da média, especialmente pelo visual do monstro que é realmente impressionante. Já do roteiro não há muito o que falar, pois é o de sempre: diálogos rasteiros em situações esdrúxulas que servem apenas como pretexto para mais uma rodada de tripas expostas, para o delírio da molecada presente.
Depois do filme aconteceu um debate, na verdade um bate-papo informal e descontraído, com o diretor e sua mulher, a simpática Mayra Alarcón, “heroína” da trama – “claro, afinal, eu sou a mulher do diretor”, ela fez questão de enfatizar. Também explicou, dentre outras coisas, que não morre no filme nem põe os pés na água fria pelo mesmo motivo. Os dois disseram que gostaram muito da acolhida que tiveram e que era muito melhor exibir seu filme para aquele público de fãs de mangás e HQs do que para intelectuais em festivais de cinema. Foram entusiásticamente aplaudidos, evidentemente. Deram também mais detalhes sobre a produção, como o fato de o “ator” principal, Joel Caetano, também ser diretor de filmes B, dos figurinos terem sido arrematados num bazar da igreja local (Guarapari, Espírito Santo) ao fabuloso custo de R$ 1,00 por peça, das tentativas e erros até acertar a mão na confecção da máscara do monstro e dos acidentes de percurso – num deles o grandalhão que faz o papel de um dos membros da família rival que se recusa a morrer teve que ir ao pronto socorro depois de um acidente e já chegou, todo sujo, explicando à estarrecida médica plantonista que o vômito era falso, mas o sangue era real.
O debate fluiu bem, com boas perguntas e ainda melhores respostas. Respondendo a um questionamento meu, Rodrigo explicou que conheceu Baiestof porque recebeu dele um pacote com seus filmes, que ele havia enviado depois de ter assistido “Mangue Negro”. Pensou nele para um dos papéis e resolveu entrar em contato, apesar da fama de “excêntrico” do morador de Palmitos, Santa Catarina. Segundo ele, Peter exitou num primeiro momento, ressaltando que era um ator muito canastrão, mas cedeu depois de ouvir uma descrição do personagem que faria e notar que o mesmo poderia ser interpretado “no estilo de Santiago Segura”, ator espanhol que trabalhou em “El Dia de La Bestia”, de Alex de La Iglesia, dentre outros. Falou também que ele foi super profissional (só tomava umas doses de sua inseparável garrafa de pinga depois de se certificar que já tinha cumprido suas obrigações no set) e deu vários toques preciosos para a produção.
Acabado o debate, ainda fiquei para ver o inicio do concurso de cosplay. As fantasias eram bem feitas – algumas bizarras, como a de um cara que estava com uma máscara enorme que lembrava a cabeça de um pássaro em forma de pirâmide – e as perfomances interessantes, mas como eu não entendo nada de anime nem de mangá, decidi me mandar. Não sem antes dar uma conferida nos stands, bem servidos de quadrinhos, felizmente, ao contrário da edição passada, e nas exposições, com obras interessantes, especialmente uma nova Historia em quadrinhos de Eduardo Cárdenas, uma espécie de “herói” local, responsável pelos desenhos de todo o material publicitário do Festival.
Saldo final pra lá de positivo - apesar de não ter visto "O Ogro", animação de meu camarada Marcio Jr. inspirada nos quadrinhos do mestre Shimamoto, que estava anunciada mas cujo nome não vi na programação. Pra fechar a noite (saí por volta das 19:00H) encontrei, para vender, uma edição em espanhol da Biblia desenhada por Simon Bisley, que já tinha visto na net e é sensacional. Foi no stand da Gibizone, loja de quadrinhos local que agora é apenas virtual. Ainda bem que levei o dinheiro contado, já que não posso gastar. O Slayer me quebrou.
por Adelvan

2 comentários:

  1. infelizmente perdi!


    Murillo Viana

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  2. Oi Adelvan,

    ótimo texto. Eu cito você e o escarro nesse texto aqui sobre o HQ festival > http://www.realthesims.com/2011/10/tio-cabuloso-na-previa-do-fim-do-mundo.html

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