quarta-feira, 15 de junho de 2011

O último suspiro de um cadáver ...

Sempre quis ver um show no Centro Cultural São Paulo – a configuração do palco é bem diferente, com parte do público vendo o espetáculo do alto, como se a apresentação acontecesse em um buraco. A oportunidade apareceu no último sábado, com o primeiro show de lançamento do último disco (último mesmo, finito, segundo ele divulga a anos) de Rogério Skylab, o Volume X.
Cheguei em cima da hora mas minha amiga (e ídola) Deborah já havia comprado meu ingresso e me esperava na fila com uma outra amiga (dela) muito simpática. Legal: show do maluco-mor do cenário independente brasileiro e em boa companhia, a noite prometia. E as promessas se cumpriram ...
Vimos a apresentação lá do alto. A banda entrou primeiro – três jovens (baixo, guitarra e bateria) e um coroa tocando violão. Grande banda, por sinal. Não tarda muito e lá vem ele, com seus trejeitos amalucados, ovacionado pelo público, especialmente por um maluco lá que encheu o saco de tanto pedir “câncer no cu”. Se posta no microfone e começa a emitir espasmos “poéticos” escatológicos acompanhados por uma dança MUITO esquisita. Canta uma estrofe, dança um pouco, sai do palco e dá uma volta pelo recinto. Volta ao palco e repete tudo de novo.
A primeira música é Corpo e membro sem cabeça. “O dedo mindinho do lula, o olho de Luís de Camões...”, ele canta. Em “tem um cigarro aí?”, cuja letra se resume a este apelo repetido das mais variadas formas, sempre imitando um tipo em especial, seja um mendigo de rua ou mesmo INRI Cristo (foi muito engraçado ver o cara perguntando isso imitando o INRI olhando pra mim!), o público joga cigarros no palco. Normal. Menos normal foi a perfomance de O Corvo, onde ele aparece com um objeto fálico enorme e vermelho, senta na borda do palco e coloca-o na boca. Juro que pensei o que vocês provavelmente estão pensando, mas era uma cenoura, que ele mastiga e cospe os pedaços no microfone durante o “refrão” que se limita a dizer o nome de um remédio para enjôo e vômito, “plasil”. Ao final, contemplando a meleca laranja espalhada pelo chão preto, ele comenta: “até que ficou plasticamente bonito, não?”. Risos. “Boa noite, repararam que eu não gosto de falar muito com a platéia, né?” sim, reparamos – era a primeira vez que ele se dirigia diretamente ao público.
As músicas vão se repetindo, todas com letras minimalistas e totalmente desconhecidas para mim e para minhas companheiras de show, mas ainda assim nos divertíamos muito com as sacadas geniais e, principalmente, com as perfomances esquizofrenicas do cara. A força de Rogerio Skylab reside, afinal, na forma absolutamente visceral com que ele recita os versos mais absurdos, que no final das contas, se reparamos bem, nem são tão absurdos assim: ele apenas ressalta, geralmente, um lado mais bizarro da vida que faz parte do cotidiano mas para o qual geralmente não damos tanta atenção.
Fiquei sabendo depois, via internet, que as participações especiais de karine Alexandrino e Astronauta pingüim estavam sendo gravadas para um clipe! Que massa, eu estava presente na gravação de um clipe de Rogerio Skylab! As perfomances, especialmente a de Karine, foram, como direi ... esquizofrênicas: ao final de uma simulação de ataque epiléptico (lembrou a morte de Pris, a personagem de Daryl Hannah, em "Blade Runner") ela saudou o já cinqüentão músico carioca como seu mestre e guru. O publico não esboçou muita reação não, mas eu achei legal. A música escolhida foi “Eu roubei a gravata?” – fraquinha, por sinal.
Já perto do final do show, enfim, alguns “hits”. A que mais agitou a platéia foi “Carrocinha de cachorro-quente”, cuja letra inteira foi cantada por todos e faço questão de reproduzir, veja lá no final da resenha. Absolutamente genial. Outro grande momento foi “Fátima Bernardes experiência” e seu explosivo refrão: “Glóóória mariiiiiaaaaa”. Letra devidamente reproduzida também, vê lá.
Faltou “Matador de passarinho”, que para nós seria importante mas que ele deve estar, compreensivelmente, cansado de cantar (é a “Ana Julia” de Rogerio Sylab), mas não faltou “Música para paralítico”, “Herbert Viana” nem “Matadouro das almas”, o que deixou a “coisa” de bom tamanho. O grand finale foi com “Eu e minha ex” (“queremos amizade/Mas acho que eu não superei/Talvez ainda goste dela”), para o constrangimento dos casais presentes. Sensacional. Detalhe: ele se despediu secamente e nem sequer se deu ao trabalho de apresentar a banda.
Para mim, foi uma grande despedida (ia viajar na manhã seguinte) e um excelente “bônus”, já que eu havia ido a São Paulo, originalmente, “apenas” para ver o show do Slayer. Muito obrigado, Deborah Fernandes, por ter me dado o toque sobre este show (“enquanto Freud explica as coisas o diabo fica dando os toques”), por ter me ligado perguntando se eu queria que você comprasse o ingresso antecipadamente, pela companhia, sua e de sua amiga, pela atenção, enfim.
Ah, Jô Soares? Tava lá. Deu inclusive um “mosh” no final da apresentação e morreu empalado no pedestal do microfone. Aquilo que vocês estão vendo todas as noites na tela da Globo não passa de um efeito especial ...
Veja AQUI a última entrevista de Rogerio no programa do jô.
AQUI toda a discografia, com a reprodução das letras.
por Adelvan K.
“Fátima Bernardes Experiência”
Fátima Bernardes fugiu de casa
Fátima Bernardes mandou um beijo
Fátima Bernardes foi baleada
Fátima Bernardes chupando dedo
Glória Maria
Fátima Bernardes pra presidente
Fátima Bernardes em carne e osso
Fátima Bernardes tem corrimento
Fátima Bernardes, William Bonner
Glória Maria
Fátima Bernardes investe tudo
Fátima Bernardes com arroz 'la grega'
Fátima Bernardes é vagabunda
Fátima Bernardes tem caderneta
Glória Maria
Fátima Bernardes cheirando cola
Fátima Bernardes com a pica dura
Fátima Bernardes experiência
Fátima Bernardes também é cultura
Glória Maria
“O corvo”
Entro numa farmácia,
O farmacêutico é fanho,
Pânico na madrugada.
Minha cabeça rodando,
Tomo mais um comprimido,
Se parar eu vomito.
Minha pílula dourada,
Egito que resplandece.
Vício, minha pátria amada.
Plasil, Plasil, Plasil.
Dentro das minhas entranhas
O câncer se desenvolvendo.
Ânsia, vômito, espasmo.
Os nervos à flor da pele,
Sinto um cheiro de ópio
Que bate e me conecta.
Olha só minha glande,
O pensamento é glande,
O meu desejo é glande.
Plasil, Plasil, Plasil.
Mais um pico na veia.
De noite eu quase não durmo,
Lexotan na cabeça.
Todo dia Prosac,
Um barulho no quarto,
Um susto, um rato.
Da minha cama eu avisto,
Livros, teias, traças,
O canto negro de um pássaro.
Plasil, Plasil, Plasil.
“Carrocinha de Cachorro quente”
Uma carrocinha de cachorro quente
Espia só o vendedor
Olha prum lado, olha pro outro,
Disfarça, não vem ninguém
A lá
Ele tá enfiando a mão dentro da calça
Aquela mão que segura o cachorro-quente
A lá
Ele tá coçando o cu com a mão
Moça, ô moça, num compra cachorro-quente não!
Nome: clarice
Altura: 1,80m
Esguia, magérrima, olhos de esfinge, pés pequenininhos
Mas tem uma trolha!
O elefante pergunta pra vaquinha:
Tomou?
No cu?
A colombina pergunta pro pierrot:
Tomou?
No cu?
A enfermeira pergunta pro defunto:
Tomou?
No cu?
E todo mundo começa a perguntar:
Tomou?
No cu?!
Calma
Se deve ter tomado alguma coisa
Relaxa
Respira fundo
Isso
Agora me fala:
-qual seu nome?
-buceta!
-de onde você vem?
-buceta!
-o nome da tua mãe.
-buceta!
-o que que você quer.
-buceta!
Desculpa
Esse meu jeito
Meio desesperado
De dizer as coisas
Mas o problema
É que nesse momento
Nesse exato momento
Um marimbondo
Tá dentro da minha calça
E tá picando
A minha bunda!
Eu bem que fiz tudo
Pra ser o que mamãe queria
Mas o tempo foi passando
O tempo foi passando
E tudo foi ficando
Meio escalafobético
"ele era tão quetinho"
Um idiota comentou
E tudo seria patético
Se não fosse
Pateta!

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