quarta-feira, 18 de maio de 2011

GLÓRIA !

A programação de shows da 9ª edição do Rock Sertão foi aberta pelo Karranca, veterana banda de rock com influencias de mangue beat de Itabaiana. Um show energético, com uma boa movimentação de palco e uma interessante mistura de ritmos sob a batuta da guitarra endiabrada de Ferdinando, também da Urublues. É uma banda de personalidade que tem alguns verdadeiros “hits” underground, como “Homem tambor” e “Sangue na feira”. O som estava um pouco embolado e mal equalizado, agudo demais, mas deu pra rolar numa boa.

Naurêa na sequência. Odiada por uns, amada por outros, o que ninguém consegue negar é que os caras fazem um show muito competente e que costuma levantar a galera. Mas nesta noite, em especial, não empolgou, talvez porque não estivesse tocando para seu público habitual. O mesmo pode-se dizer do samba-rock competente porém um tanto quanto arrastado e “malemolente” de Elvis Boamorte e os Boas vidas, que veio a seguir - um mérito do festival, aliás, trazer musica independente das mais variadas vertentes para o palco e dar às pessoas a oportunidade de ter contato com sons e ritmos os mais diversos. Às vezes pode não funcionar num primeiro momento, mas é saudável para a formação musical de qualquer um.

O erro, a meu ver, nesta primeira noite, estava na ordem das bandas. Os shows ficaram meio que divididos em duas partes, a primeira com pouco ou nenhum rock e muita diversidade, do forró estilizado da naurêa ao jazz instrumental do Ferraro Trio, a quarta a se apresentar. Muito bons, mas o público só esboçou reação mesmo nos covers de Jimi Hendrix e, principalmente, de “Beat it”, de Michael Jackson – aquela que conta, na gravação original, com a presença poderosa de Eddie Van Halen nas guitarras. Não deixa de ser válido, no entanto, já que a versão dos caras é bastante diferenciada e adaptada ao estilo deles. Grande show.

O rock, rock mesmo, duro, pesado e distorcido, foi deixado incompreensivelmente para o final. Jezebels foi a primeira banda do estilo a se apresentar, e mandaram muito bem. Estão se reformulando com uma nova formação, já que a baixista/vocalista original, Paula, precisou deixar a banda para morar na Europa. Dani comanda o trio com sua pegada nervosa na guitarra e seus vocais estilosos, cheios de cacoetes bem característicos. Paloma, a baterista, lá atrás, tocando e batendo cabeça (!). Já o baixo, infelizmente, pouco se ouvia, na frente, mas a movimentação de palco de Fabio era muito boa, o que ajudava a criar um clima de empolgação que sacudiu o publico - a esta altura, provavelmente, sedento por rock ! O fato não escapou à observação de Marcelo Larrosa, que entrevistou a(o)s menina(o)s Ao Vivo para a TV Aperipê depois do show e sapecou uma pergunta que deixou Dani com um novo apelido, “vegetariana selvagem”. Foi divertido.

TV Aperipê que repetiu a dose e transmitiu Ao Vivo os shows do Rock Sertão, das 22:00H às 1 da manhã. Muito bom ver a musica independente sergipana ter tanto espaço numa emissora de televisão. A FM também estava presente, registrando todos os shows na íntegra, ao vivo. A noite se encerrou com Fator RH, os anfitriões, e Dark Visions, de Tobias Barreto, que ficou em segundo lugar na votação do público via internet.

No sábado os trabalhos foram abertos, de forma relutante, pelo Lacertae. Deon, o guitarrista/vocalista, não estava se entendendo muito bem com os operadores de som e resolveu improvisar longos números instrumentais até que os problemas, notadamente uma microfonia insistente, fossem resolvidos. Ou parcialmente resolvidos, vá lá. Parecia que o show iria ser abortado, já que ele largou a guitarra e se retirou do palco numa determinada altura, mas o batera continuou tocando e parece tê-lo convencido a começar, finalmente, o show propriamente dito. Não chegou a ser ruim, mas foi esquisito.

Nucleador no palco. Outro clima, mais descontraído. Cenas de filmes de horror trash clássicos no telão, thrash metal crossover no talo no som. Murillo Viana e sua palhetada rápida e precisa comandou o espetáculo de energia e descontração. Diversão parece ser a solução para estes caras, que tocaram com uma empolgação contagiante – tudo registrado pelas câmeras da TV Aperipê, que àquela altura já tinha começado a transmissão. Muito bom ver um som tão “underground” e geralmente desprestigiado ter um espaço como este.

Já os Baggios, que veio a seguir, estão mais acostumados aos “holofotes”, o que não se reflete, felizmente, em estrelismo ou acomodação, muito pelo contrário: Julico e Perninha não deixaram a peteca cair e sentaram a mão no blues garageiro e “brejeiro” com sotaque sergipano que lhes é característico. É blues “do delta do Rio Sergipe”, e dos bons. Show pequeno, infelizmente (“por mim a gente ficava tocando aqui a noite inteira”, falou Julico ao microfone), mas encerrado em grande estilo, com Perninha espancando sem dó a bateria e Julico tendo espasmos no chão.

Depois dA Lapada, Jesse Monroe, a suposta “atração internacional” da noite. Logo no início já deu pra notar que aquela coca-cola era fanta ... Ela abre o show falando em inglês com o público, para logo em seguida emendar: “vejo que vocês não entendem inglês por aqui. Que bom que eu falo português!”. E pôs-se a tagarelar sem parar. Nunca vi uma inglesa tão baiana, “espevitada”. A maior parte do repertório foi, infelizmente, de covers, mas foi divertido. A loira é muito presepeira e meio sem noção – chegou a dançar “descendo até o chão” no melhor estilo “cachorra” ao som de “Summertime”, de Gershwin ! Hilário. Tocou também Luiz Gonzaga e Zeca Baleiro, para encerrar com sua “musica de trabalho”, “famous”. É um soul meio pasteurizado com cara de hit. Boa musica – para as FMs comerciais, não para um festival de rock, assim como o show da “gringaiana” cairia muito bom numa Boate F1 da vida. “Gloria, amo vocês! Pede pra gente voltar que a gente volta, ogayyy ???!!!”. Ok. Pensei tê-la visto em cima de um trio elétrico na “Festa do homem galinha”*, uma micareta que tava rolando em Ribeirópolis na volta, mas deve ter sido uma alucinação ...

Desta vez a programação foi melhor mesclada e, na sequencia do pop local e internacional dA Lapada e Jesse Monroe, Hatend, thrash metal de Paulo Afonso, Bahia. Esta alternância de estilos tão distintos deve ter dado um tilt na cabeça do cara que toma conta da mesa, porque estava tudo muito esquisito no palco. Som embolado e com uma equalização absolutamente nada a ver para uma banda de metal – só se ouviam teclados e baixo, este com um som muito estranho, parecia o estampido de uma metralhadora. As guitarras estavam inaudíveis. Esperei para ver se as coisas se ajeitavam mas não teve jeito não: “desinstiguei” e resolvi começar o longo caminho de volta pra casa sem ver o Ladrão, a banda do Formigão, ex-Dash e Planet Hemp. Gente finíssima, por sinal – em todos os sentidos.

Ano que vem o Rock Sertão fará 10 anos. Estaremos lá.

* No caminho para o show, em Ribeirópolis, cidade geralmente pacata (até demais), fomos surpreendidos por uma movimentação fora do comum. Tivemos, inclusive, que esperar pacientemente para que um cidadão parasse de ciscar feito uma galinha, bêbado, no meio da pista, e finalmente nos desse passagem. Bizarro. Pena que ninguém tinha uma câmera à mão na hora, se fizéssemos um video para o youtube iria bombar.

por Adelvan

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