Conheci Milo Manara através da Revista “Animal” (Feio, Forte e Formal), sensacional publicação que trazia ao Brasil o melhor dos quadrinhos adultos europeus. Fiquei fã logo de cara, e olha que a primeira HQ que eu vi nem tinha apelo erótico, era uma viagem lisérgica envolvendo John Lennon. Logo estava procurando e comprando tudo o que eu visse dele pela frente, até formar uma razoável coleção de álbuns, lançados por aqui pelas mais diferentes editoras através dos anos e, ao que tudo indica, sempre com relativo sucesso. Não o considero um grande argumentista, a maioria de suas histórias são meio vazias de conteúdo, algumas até mesmo ingênuas, mas como desenhista, é imbatível. Seu traço detalhista, leve e elegante mesmo quando retrata as mais vis perversões, é inconfundível.
Seu incrível talento fez com que acabasse se associando a alguns dos maiores ícones da cultura pop européia, como o Cineasta Federico Fellini, de quem se tornou amigo ao desenhar sua história “Viagem a Tulum”, e os mestres da HQ Hugo Pratt, de corto Maltese, e Alejandro Jodorowsky, com quem produz, atualmente, uma impressionante adaptação para os quadrinhos da saga da infame Família Bórgia, centralizada na figura do papa Rodrigo Borgia e de sua filha, Lucrecia.
Outro grande sucesso de público e crítica de Manara foi a série “O Click”, que conta a história de Claudia Christiani, uma fina e recatada dama da alta sociedade. Sexualmente reprimida, reage com repulsa ao assédio dos homens, mas acaba sucumbindo aos seus instintos mais primitivos sob o poder de uma maquininha diabólica que, com um simples clique, é capaz de provocar na mais puritana das mulheres um furor uterino incontrolável, o que rende inúmeras situações inusitadas e divertidas.
Milo nasceu Maurílio Manara em Bolzano, Itália, em 1945. Estreou no mundo das HQs em 1969, com “Genius”, um conto noir sensual e sombrio. Concebeu sua primeira obra de vulto em 1974, uma adaptação do clássico “Decameron”. Segue-se, em 1976, a fábula política “Lo Scimmioto”, vencedora do Prémio Yellow Kid na Itália. Entre 1976 e 1978, a Larousse encomenda-lhe cinco episódios da monumental História de França em BD, e, em 1979, debuta na revista francesa “A Suivre” com seu célebre personagem Giuseppe Bergman. Três anos depois, aventura-se no western, concebendo Quatro Dedos (O Homem de Papel). Trabalhou para publicações menores (Jolanda, revista de arte soft core, e a revista satírica Telerompo) até ser convidado pelo "Il Corriere dei Ragazzi” para trabalhar com o escritor Mino Milani. A primeira história dos dois chamava-se "HP e Giuseppe Bergman". A sigla "HP" é a abreviação do nome de um grande amigo deles, o artista e caricaturista italiano Hugo Pratt. Já na década de 80, atreve-se à fantasia erótica com a publicação de O Clic ( Le Déclic). Em 1985, com argumento de Hugo Pratt, publica o notável Um Verão Índio (que só saiu no Brasil ano passado!), parceria que retomará em El Gaucho. Já com Fellini, além de “Viagem a Tulum”, fez “Le Voyage de G. Mastorna” – os títulos em francês se explicam porque, curiosamente, Manara é menos popular na Itália que na França, onde é considerado um dos quadrinistas mais importantes do mundo.
por Adelvan
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O erotismo é o protagonista da conferência internacional de histórias em quadrinhos Rio Comicon, que começou nesta terça-feira, 9, no Rio de Janeiro, com uma homenagem especial ao ícone dos desenhos eróticos, o italiano Milo Manara.
Com a assinatura de Manara, o cartaz de apresentação do evento mostra uma mulher morena, vestindo uma roupa curta nas cores da bandeira brasileira, com a paisagem do Rio como fundo.
Após quase 20 anos sem organizar eventos deste estilo, o "Rio Comicon" chega como uma versão própria da onda de mais de 40 edições de conferências internacionais dedicadas aos romances gráficos desde os anos 70, como o Comics (de Londres), o Napoli Comicon e o mundialmente conhecido Comic-Com (San Diego, EUA.).
Para aumentar o erotismo, o site do evento exibe um desenho no qual o italiano retrata uma jovem freira se masturbando, imagem representativa da arte de Manara.
O artista, de 60 anos e grande homenageado do festival, conta com uma exposição própria na qual teve a colaboração do cineasta Federico Fellini, a história em quadrinhos Viagem à Tulum, baseado em um relato original do diretor italiano, inspirado em uma viagem a essa região mexicana.
Funcionando na antiga estação de trens da Leopoldina, construída em 1926, o festival contará com a presença da igualmente polêmica desenhista americana Melinda Gebbie.
A artista é conhecida no mundo do desenho por Lost Girls, série escrita por seu marido, Alan Moore, que reúne as protagonistas de contos como Wendy, de Peter Pan, Dorothy, do Mago de Oz, e a heroína de Alice no País das Maravillas, onde contam suas experiências sexuais.
Nos anos 80, Melinda sofreu um processo do governo britânico, que proibiu a importação do álbum de história em quadrinhos erótico Fresca Zizis, e que terminou com o confisco e a destruição de todos os exemplares.
Outro nome importante do Rio Comicon é o britânico Kevin O'Neill, autor de A Liga Extraordinária, série gráfica que junta personagens fantásticos da literatura vitoriana, transformada em longa-metragem em 2003.
Desta terça-feira até o dia 14 de novembro, Manara, Melinda, O'Neill e outros 20 artistas brasileiros e internacionais se reunirão para realizar seminários, debates, e assinar autógrafos, enquanto os fãs poderão participar de oficinas especializadas sobre assuntos que vão desde a criação de personagens até a elaboração de histórias em quadrinhos para a web.
"Este evento é promissor. Normalmente os festivais de histórias em quadrinhos no Brasil são muito menores, porque aqui não há um grande público para estas coisas", disse à Agência Efe o estudante de Arte Gráfica Conrado Capuci, que foi à estação para a abertura do evento.
Com o objetivo de promover a arte gráfica nacional, os organizadores incluíram 12 artistas brasileiros em sua mostra principal, para "destacar autores e produções nacionais, e abrir espaço para a cultura pop", explicaram em seu comunicado.
Entre os brasileiros convidados estão os ilustradores Angeli e Laerte, além de Fabio Moon e Gabriel Bá .
EFE
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Na era da internet, nudez, erotismo, pornografia e o que mais se possa imaginar em matéria de entretenimento adulto estão ao alcance de um clique – em uma profusão de conteúdo que torna pouco reconhecíveis os limites entre arte, diversão e atividades criminosas. A avalanche digital, no entanto, não teve força nem criou alternativas para substituir o talento. E talvez a maior prova disso sejam as histórias imaginadas pelo quadrinista italiano Milo Manara e executadas com rara perfeição em papel. Manara, 65 anos, conquistou dinheiro, fama e prestígio com seu traço capaz de reproduzir em detalhes as curvas femininas. Ele é o convidado de honra da Rio Comicon 2010, evento que tenta recolocar a cidade no circuito internacional do mercado de histórias em quadrinhos.
Erótica sem ceder à tentação da vulgaridade, a obra de Manara recorre a cenários e tramas envolventes para provocar a libido dos leitores. Para ele, aliás, essa a grande vantagem que os quadrinhos têm em relação a formas de arte mais modernas como o cinema e a fotografia. O quadrinista, entre algumas baforadas de charuto antes de assistir à palestra de abertura do evento, do humorista Ziraldo, defendeu, em entrevista ao site de VEJA, a imaginação como a forma mais ousada de excitação.
“Estou convicto de que fala-se muito melhor de erotismo e sensualidade quando se fala de forma abstrata, em comparação com o cinema ou a fotografia. O órgão mais sexual mais importante que temos no nosso corpo é a cabeça. É a fantasia. Tudo começa na cabeça e num âmbito astral, não concreto”, argumenta o artista.
E no plano das ideias não há limites. Vale tudo. Manara não se furta a explorar temas como bondage – fetiche que consiste em amarrar e imobilizar o parceiro – , dominação, sadismo e sadomasoquismo – práticas que, juntas, enquadram-se no que os adeptos chama de BDSM. Ao contrário das imagens reais, como explica o ‘papa’ dos quadrinhos eróticos, os desenhos atenuam o aspecto violento ou condenável dessas modalidades, e explora os conceitos – seja de dominação ou entrega – que fazem a cabeça de tantas pessoas. Ou, como simplifica Manara, “os desenhos excitam mais porque chocam menos”.
“Se falarmos de sadismo no cinema ou fotografia, teremos imagens fortes, com corpos sujos de sangue. Não teremos um ato mental, mas um ato físico. E o sadismo é um ato que diz respeito a outra dimensão. Creio que o desenho leva vantagem porque conta tudo o que tem que ser contado, enfatizando o aspecto mental em vez do físico”, compara o italiano.
Manara situa seus trabalhos numa categoria anterior à erótica, a de histórias em quadrinhos para adultos. A escolha do sexo como especialidade veio da empolgação dos tempos de juventude. “Comecei a fazer um trabalho para adultos porque percebi que falar para crianças não era o meu caminho. E deu certo. Optei pelo erótico porque me parece que esta é uma parte muito importante da vida. Principalmente quando se tem 20 anos - a idade com a qual comecei a desenhar”, conta.
O quadrinista italiano se diz um admirador dos artistas brasileiros, mas chama a atenção para a necessidade de se apostar na formação de um mercado adulto de quadrinhos no país – tradicionalmente focado nas crianças. “Não domino tanto o mercado brasileiro, mas sei que a Argentina tem uma cena forte. Nos anos 70, muitos artistas argentinos foram para a Europa durante a ditadura e criaram sua própria escola. Acredito que no Brasil é preciso criar um direcionamento para a produção adulta - que não é necessariamente erótica. Os desenhistas brasileiros são fortíssimos, de muita qualidade. Mas é preciso investir mais nas histórias para adultos. Também é preciso ter paciência para divulgar e formar um público para esse segmento. Qualidade, vocês já têm”, avalia.
Erótica sem ceder à tentação da vulgaridade, a obra de Manara recorre a cenários e tramas envolventes para provocar a libido dos leitores. Para ele, aliás, essa a grande vantagem que os quadrinhos têm em relação a formas de arte mais modernas como o cinema e a fotografia. O quadrinista, entre algumas baforadas de charuto antes de assistir à palestra de abertura do evento, do humorista Ziraldo, defendeu, em entrevista ao site de VEJA, a imaginação como a forma mais ousada de excitação.
“Estou convicto de que fala-se muito melhor de erotismo e sensualidade quando se fala de forma abstrata, em comparação com o cinema ou a fotografia. O órgão mais sexual mais importante que temos no nosso corpo é a cabeça. É a fantasia. Tudo começa na cabeça e num âmbito astral, não concreto”, argumenta o artista.
E no plano das ideias não há limites. Vale tudo. Manara não se furta a explorar temas como bondage – fetiche que consiste em amarrar e imobilizar o parceiro – , dominação, sadismo e sadomasoquismo – práticas que, juntas, enquadram-se no que os adeptos chama de BDSM. Ao contrário das imagens reais, como explica o ‘papa’ dos quadrinhos eróticos, os desenhos atenuam o aspecto violento ou condenável dessas modalidades, e explora os conceitos – seja de dominação ou entrega – que fazem a cabeça de tantas pessoas. Ou, como simplifica Manara, “os desenhos excitam mais porque chocam menos”.
“Se falarmos de sadismo no cinema ou fotografia, teremos imagens fortes, com corpos sujos de sangue. Não teremos um ato mental, mas um ato físico. E o sadismo é um ato que diz respeito a outra dimensão. Creio que o desenho leva vantagem porque conta tudo o que tem que ser contado, enfatizando o aspecto mental em vez do físico”, compara o italiano.
Manara situa seus trabalhos numa categoria anterior à erótica, a de histórias em quadrinhos para adultos. A escolha do sexo como especialidade veio da empolgação dos tempos de juventude. “Comecei a fazer um trabalho para adultos porque percebi que falar para crianças não era o meu caminho. E deu certo. Optei pelo erótico porque me parece que esta é uma parte muito importante da vida. Principalmente quando se tem 20 anos - a idade com a qual comecei a desenhar”, conta.
O quadrinista italiano se diz um admirador dos artistas brasileiros, mas chama a atenção para a necessidade de se apostar na formação de um mercado adulto de quadrinhos no país – tradicionalmente focado nas crianças. “Não domino tanto o mercado brasileiro, mas sei que a Argentina tem uma cena forte. Nos anos 70, muitos artistas argentinos foram para a Europa durante a ditadura e criaram sua própria escola. Acredito que no Brasil é preciso criar um direcionamento para a produção adulta - que não é necessariamente erótica. Os desenhistas brasileiros são fortíssimos, de muita qualidade. Mas é preciso investir mais nas histórias para adultos. Também é preciso ter paciência para divulgar e formar um público para esse segmento. Qualidade, vocês já têm”, avalia.
Rafael Lemos
Veja
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O verso tropicalista de Alegria Alegria, de Caetano Veloso, cai como uma luva para definir o universo cheio de curvas do cartunista italiano Milo Manara, um dos mitos do quadrinho erótico europeu. Suas mulheres de bocas carnudas, pernas longilíneas e aspecto selvagem escapuliram diretamente de mais do que uma costela da atriz Brigitte Bardot - e caíram como bombas acariciantes há 40 anos no imaginário masculino de todo o mundo."No meu erotismo, a mulher é sempre um sujeito sexual, mais que um objeto", disse ao Estado o desenhista italiano, tentando explicar o protagonismo de suas Bardots. No dia 13 de novembro, às 20 h, o mestre das HQs preferidas dos onanistas dos quatro cantos do planeta descerá finalmente no Rio de Janeiro.
A Rio Comicon 2010 vai ocupar a Estação da Leopoldina, no Rio, entre os dias 9 e 14 de novembro. Os convidados são artistas de altíssimo nível, como o premiado francês François Boucq; o editor italiano Claudio Curcio; os ingleses Kevin O"Neill (de A Liga Extraordinária), Melinda Gebbie (Lost Girls, mulher da lenda Alan Moore) e o também editor Paul Gravett; Etienne Davodeau e Patrice Killofer; o alternativo Jeff Newelt; e os argentinos Lucas Nine e Patricia Breccia.
Manara contou ao Estado que prepara o derradeiro volume de sua história Bórgia, que narra a saga de Lucrécia Bórgia, filha de papa, uma crítica violentíssima à Igreja e suas instituições sagradas. "Depois disso, eu gostaria de me dedicar um pouco à pintura e à ilustração, e pode ser que eu me dedique, nessa viagem ao Brasil, a realizar um livro de ilustrações sobre as belas brasileiras."
A primeira parte de Bórgia, Sangue para o Papa, foi engendrada com o parceiro chileno Alejandro Jodorowsky. Ali, Manara aborda o tema do poder absolutista corruptor da religião. Na história, Manara examina os porões do Vaticano, no papado de Rodrigo Bórgia, e a tirania que este exerceu sob o nome de Alexandre VI, ao lado da filha Lucrécia. A venda de indulgências, o nepotismo, a promiscuidade e a ganância pelo poder político, além de cenas de vampirismo, canibalismo, estupros e assassinatos, tingem de vermelho as páginas dessa HQ.
"Meu amor pelos quadrinhos nasce nos anos 60, quando vi Barbarella, de Jean-Claude Forest; Valentina de Guido Crepax; Jodel et Pravda de Guy Pellaert e todas as histórias de Magnus", contou o cartunista. "Nos anos 70, eu lia muito revistas como Métal Hurlant e apreciei enormemente o gênio de Moebius, a quem todos os desenhistas devem muito. Evidentemente, toda minha vida profissional, e não somente ela, foi influenciada pelo meu amigo Hugo Pratt."
Com Hugo Pratt, o veneziano criador do imortal personagem Corto Maltese, Manara fez o fascinante álbum Verão Índio (de 1983, HQ que só teve sua primeira edição no Brasil no ano passado, 22 anos depois, pela Conrad), e El Gaucho (1991). O desenho de Manara é primoroso, o humor é cáustico e irônico, o erotismo tingido com tintas do sadomasoquismo (pode tranquilamente ser considerado uma espécie de Sade dos quadrinhos). Como Guido Crepax (Valentina) e Serpieri (Druuna), é um craque em coreografar fantasias sexuais e usar o sonho como espaço para tratar do sexo como uma zona franca.
Parceria. Por conta de sua liberdade formal e focos de interesse anticomerciais, ele é o também um antiamericano por excelência. Ainda assim, a indústria americana de HQs o convidou para desenhar um episódio da mais bem-sucedida história em quadrinhos da atualidade: os X-Men. Claro, como o convidado era Manara, deixaram-no à vontade para desenhar somente com as personagens femininas: Tempestade, Kitty, Vampira, Garota Marvel, Psylocke e Rachel nunca mais serão vistas da mesma maneira depois dessa edição. O parceiro escolhido foi um grande artista da indústria, o britânico Chris Claremont (que desenhou, entre outros, Conan, Luke Cage e Quarteto Fantástico).
"Primeiro, eu pensava que seria difícil. Mas depois se revelou ainda mais difícil do que eu pensava", conta. Brincalhão, no prefácio da edição ele esclarece que, de todas as X-Men que desenhou, gostaria de ter os poderes de Kitty, para poder "passar através dos muros". Alegria, Alegria: o maestro de fantasias está a caminho!
Jotabê Medeiros
Estadão
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“Tenho medo de que atirem o livro na minha cabeça! Se abrirem um livro que não tenha nenhuma garota nua, vão dizer 'ah, esse cara virou um mané! Basta'"
Milo Manara
“Aquilo que nós italianos fantasiamos sobre as mulheres brasileiras vem, naturalmente, das imagens que se vê muito no Carnaval”, explica o quadrinista, autor de obras primas da HQ erótica como os álbuns “Verão índio”, “Gulliveriana” e a popular série “Clic”, que também ganha reedição de luxo para a Rio Comicon lançada pela editora Conrad.
“As moças em que nós pensamos são como aquelas do Carnaval, com seus corpos realmente atléticos, ligeiramente andróginos, mas de uma beleza absoluta”, completa Manara em entrevista exclusiva ao G1.
Autor do cartaz oficial do Rio Comicon, que mostra uma garota voluptuosa, vestindo shorts curtíssimo e camisa da seleção canarinho, Manara sabe, no entanto, que o que verá por aqui está bem além dos estereótipos da “brasileira típica que nós europeus sonhamos”.
“São todos sinais de uma grande abertura, do fato de que o futuro é aqui, não é na Europa”, elogia o autor, que já havia visitado o Brasil em 2003 a bordo de um navio cargueiro, bem à maneira de seus amigos e mestres favoritos: o também quadrinista Hugo Pratt e o cineasta Federico Fellini, com quem colaborou em HQs como “El gaucho” e “Viagem a Tulum”, respectivamente.
“Fiz várias escalas. No Brasil, foram quatro: Fortaleza, Vitória, Rio e Santos. E cada vez tinha uma possibilidade de descer na terra. Mas chegando com esse navio, especialmente nos portos fluviais, era possível conhecer um Brasil que poucos conhecem, talvez nem mesmo os brasileiros”, lembra.
Sempre generosíssimo com as mulheres italianas que desenha, inspiradas em musas do cinema como Sophia Loren e Brigitte Bardot, Manara se mostra, contudo, decepcionado ao falar da geração atual de conterrâneas, especialmente as que têm buscado fama fácil, de biquíni, em programas de auditório dos canais de TV controlados pelo presidente Silvio Berlusconi.
“Muitas garotas, não digo todas, mas a maior parte das garotas bonitas na Itália sonha em se tornar uma estrela televisiva, mas sem recitar uma fala. Só para se mostrar, para ser admirada e ficar famosa”, lamenta. “E o mais grave é que a presença dessas garotas [na TV] tem como objetivo aumentar a audiência e o preço da publicidade. É uma operação comercial, bastante próxima da mentalidade da prostituição. Não que as garotas sejam [prostitutas], mas a mentalidade de usar o corpo de uma bela mulher para se ganhar mais dinheiro, eu acho isso muito vulgar e grave.”
Contra a vulgarização da mulher italiana – e de todo o planeta, já que suas HQs viajam pelos quatro cantos do mundo real ou imaginário -, Manara emprega a sua arte, que prefere chamar de erotismo à pornografia. “Na realidade, não penso que haja muita diferença entre erotismo e pornografia que não a intenção de quem o faz. Há uma demanda evidente nas pessoas por 'eros', por erotismo. E se a sua reposta a ela for somente um monte de páginas estampadas só para fazer um pouco de dinheiro, eu chamo de pornografia. Se, em vez disso, se busca falar verdadeiramente de erotismo, aí eu chamo de erotismo. Resumindo em uma palavra, a diferença é: se é excitante é erotismo, se não é excitante é pornografia.”
Ainda que boa parte de suas HQs seja pouco – ou nada – recomendável para menores de 18 anos, Manara andou flertando recentemente com trabalhos fora do universo exclusivamente adulto. Em 2004, colaborou com Neil Gaiman em uma história curta para a antologia “Sandman: Noites sem fim”e, no ano passado, emprestou seu traço sensual às heroínas da série em quadrinhos “X-Men”, em uma HQ escrita pelo americano Chris Claremont.
“É claro que me agrada muito ler e desenhar [outros tipos de quadrinhos]”, diz o autor, que entre seus trabalhos já quadrinizou até uma versão do livro do sexo “Kamasutra”. “Mas tem só dois problemas. O primeiro é que eu penso que na vida, normalmente, há um percentual de erotismo muito alto. Por isso, sinto necessidade de colocar em quase toda história um percentual de erotismo. Mas o segundo problema é que tenho medo de frustrar meus leitores. Tenho medo de que atirem o livro na minha cabeça! Se abrirem um livro que não tenha nenhuma garota nua, vão dizer 'ah, esse cara virou um mané! Basta!' Tenho medo de desiludi-los”, diverte-se.
por Diego Assis
G1
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Rio Comicon 2010
Quando: 9 a 14 de novembro, das 13h às 22h
Onde: Ponto Cultural Barão de Mauá – Estação Central da Leopoldina, Rio de Janeiro
Quanto: R$ 10 (meia-entrada: R$ 5)
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Bibliografia:
Jolanda de Almaviva - La Figlia del Mare (1971) com Francesco Rubino
La parola alla giuria (1975) com Mino Milani
Alessio, Il Borghese Rivoluzionario (1975), com Silverio Pisu
Lo scimmiotto (1976) com Silverio Pisu
Un uomo un'avventura: L'uomo delle nevi (1978) com Alfredo Castelli
HP e Giuseppe Bergman (1978)
Le avventure asiatiche di Giuseppe Bergman (1980)
L'uomo di carta, o Quattro dita (1982)
Tutto ricominciò con un'estate Indiana (1983) com Hugo Pratt
Il gioco (1983)
Il profumo dell'invisibile (1986)
Candid camera (1988)
L'apparenza inganna (1988)
Viaggio a Tulum (1989) com Federico Fellini
L'arte della sculacciata (1989) com Jean-Pierre Enard
Le avventure africane di Giuseppe Bergman (1990)
Breakthrough (1990) com Neil Gaiman
Il gioco 2 (1991)
El Gaucho (1991) com Hugo Pratt
Il sogno di Oengus (1991) com Giordano Berti
Il viaggio di G. Mastorna detto Fernet (1992) com Federico Fellini
La feu aux entrailles (1993) com Pedro Almodovar
Il gioco vol.3 (1994)
Seduzioni (1994)
Storie brevi (1995)
I viaggi di Gulliver, o Gulliveriana (1995) Baseado no texto de Jonathan Swift
Kamasutra (1997) Baseado no texto de Vatsyayana
Ballata in si bemolle (1997)
L'asino d'oro (1999) Baseado no texto de Apuleius
Le avventure metropolitane di Giuseppe Bergman
1999)
Bolero (1999)
Tre ragazze nella rete (2000)
Rivoluzione (2000)
Il gioco vol.4 (2001)
Il profumo dell'invisibile 2 (2001)
Le donne di Manara (2001)
Memory (2001)
Fuga da Piranesi (2002)
Il pittore e la modella (2002)
Pin-up art (2002)
Aphrodite (2003) com Pierre Louÿs
Donne e motori (2003)
Fellini (2003)
L'odissea di Bergman (2004)
I Borgia - La conquista del papato ( 2004) com Alejandro Jodorowsky
The Sandman: Endless Nights (2004) com Neil Gaiman
I Borgia vol.2 - Il potere e l'incesto (2006) com Alejandro Jodorowsky
Quarantasei (2006) com Valentino Rossi
I Borgia vol. 3 (2008) com Alejandro Jodorowsky
X-Men: Ragazze in fuga (2009) com Crhis Claremont
Manara é o cara
ResponderExcluirManara é o cara (2) e eu também tenho simpatia pelo diabo!
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