quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ein Film Von Fritz Lang

Metróplois, clássico do expressionismo alemão e da ficção científica lançado em 1927, é um de meus filmes favoritos de todos os tempos. Foi a produção mais cara da Europa em sua época, e dá pra notar perfeitamente na tela o porque: os cenários absolutamente deslumbrantes, especialmente os que mostram visões panorâmicas de uma cidade futurista com seus veículos voadores e passagens suspensas, influenciaram visual e esteticamente toda a produção cinematografica futura do estilo - a Los Angeles de Blade Runner, por exemplo, é nitidamente decalcada da metropole de Lang, assim como o célebre robô C3PO, da saga "Guerra nas Estrelas", é uma cópia da cópia robótica da personagem Maria.

O roteiro, baseado em romance de Thea von Harbou, foi escrito por ela mesma em parceria com o diretor, e se passa numa grande cidade governada autocraticamente por um poderoso empresário. Seus colaboradores constituem a classe privilegiada, vivendo num jardim idílico, como Freder, único herdeiro do dirigente de Metropolis. Os operários, ao contrário, são escravizados pelas máquinas e condenados a viver e trabalhar em galerias no subsolo. Lá, uma jovem chamada Maria os inspira a lutar por seus direitos e profetiza a vinda de um "escolhido" que os representará.

A obra demonstra uma preocupação crítica com a mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos, questionando a importância do sentimento humano, perdido no processo. Como pano de fundo, a valorização da cultura, expressa através da tecnologia e, principalmente, da arquitetura. O ponto alto e grande mote do filme é, sem dúvida, o final - onde a metáfora "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!" se concretiza no simbólico aperto de mão mediado por Freder entre Grot (líder dos trabalhadores) e Jon Fredersen - o empresário. Este final foi entendido à época como uma alusão ao ideal de conciliação entre capital e trabalho proposto pelo partido nacional-socialista alemão (nazista), o que atraiu para o diretor as atenções do então aspirante a chanceler Adolf Hitler. Metropolis impressionou tanto o "fuhrer" que, quando este chegou ao poder, solicitou ao ministro Goebbels que abordasse Lang, convidando-o a fazer filmes para o partido nazista. Enquanto Thea Von Harbou, sua esposa à época, mergulhou no projeto, Lang evadiu-se para Paris, onde chegou a produzir filmes de conteúdo antinazista, viajando posteriormente para os Estados Unidos, onde faleceu.

Pois bem, no último domingo o filme de Lang foi exibido ao ar livre no parque do Ibirapuera, em São Paulo, com acompanhamento ao vivo de uma orquestra sinfônica executando a partitura original. Deve ter sido uma noite memorável, algo que somente uma grande metropole, como o é a São Paulo de hoje, pode proporcionar a seus habitantes. Clique AQUI para ver imagens da exibição e leia, abaixo, os comentários publicados na Folha de São Paulo e no portal UOL sobre o evento.

Por Adelvan Kenobi (with a little help from wikipedia)

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Em Silêncio, mais de 12 mil pessoas assistem "Metropolis" no Ibirapuera

O prólogo à exibição de "Metrópolis" (1927) no Parque do Ibirapuera, na noite de ontem, foi quase tão impressionante quanto a sessão a céu aberto promovida pela 34ª Mostra Internacional de Cinema e pelo Auditório Ibirapuera.

Quem estava sentado na grama, tomado pelas imagens de Fritz Lang (1890-1976) e pela orquestra regida ao vivo, não podia supor que tantos outros milhares de olhos e ouvidos estavam ali também. Não podia supor que, depois de mais de três horas de sessão, com um frio que o descampado tornava maior, pelo menos 12 mil pessoas sairiam caminhando pelas avenidas que torneiam o parqu. Eram 11 e meia da noite quando os espectadores se descobriram milhares e deram seu próprio fecho a "Metrópolis".

São Paulo, cidade que como a cidade de Lang fora enrijecida pela velocidade, pelas máquinas e pelos relógios vivia, de repente, o seu tempo da delicadeza.

VERSÃO INÉDITA - A versão de "Metrópolis" que São Paulo recebeu traz 25 minutos inéditos desse clássico do cinema mudo. Os rolos perdidos foram encontrados em Buenos Aires.
Depois de recuperada, a cópia foi exibida no Portão de Brandemburgo, durante o Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Esta é sua primeira exibição na América Latina.

A projeção foi feita na parede de trás do Auditório Ibirapuera. Sob a tela, os 82 músicos da Orquestra Jazz Sinfônica executaram a música original do filme, composta pelo alemão Gottfried Huppertz, no tempo em que a técnica não permitia que os personagens falassem. E é absolutamente única a experiência de ouvir a trilha sonora moldar, ao vivo, cada uma das cenas de um filme. Trata-se, na definição do maestro João Maurício Galindo, de uma "partitura gestual", que leva as notas a acompanharem o ritmo da ação.

Quando os trabalhadores correm pela tela, são corridos os compassos. Quando o relógio marca a vida regrada dos homens, a percussão potencializa a força da imagem.

Há, também, registros emocionais. Quando, após uma série de turbulências, os dois protagonistas se reencontram, é romântica a melodia. "Nessa cena, a música talvez emocione até mais do que aquilo que se vê", disse Galindo, em entrevista à Folha, antes do concerto.

EXPERIÊNCIA COLETIVA - Passados mais de 80 anos de sua primeira exibição, na Alemanha, "Metrópolis" chegou a São Paulo, pela primeira vez, tal e qual imaginado por Lang -- completo e com a orquestração original.

Chegou sem uma ruga sequer. E a cidade, discretamente, prestou sua homenagem a esse filme de imagens inesquecíveis, definitivas.

Uns espectadores levaram mantas, uns levaram garrafas e taças de vinho, outros levaram seus cães. Mas todos, em silêncio, viveram o cinema como arte, como experiência que, só se for coletiva, é completa de verdade.

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Em uma noite tipicamente paulistana - vento frio e com momentos de garoa -, milhares de pessoas se reuniram no Parque do Ibirapuera para assistir a um filme ao ar livre.

O que motivou a multidão a vencer as adversidades e ficar até o final do evento, depois das 11 da noite, foi a exibição do clássico "Metrópolis" (1927), longa futurista alemão dirigido por Fritz Lang. O evento faz parte da programação da 34ª Mostra Internacional de Cinema.

O filme mudo foi restaurado recentemente e quase meia hora de cenas que eram consideradas perdidas foram recuperadas. Outro atrativo para o evento foi a Orquestra Jazz Sinfônica, que executou ao vivo a trilha enquanto o filme era projetado na parede do Auditório do Ibirapuera.

O longa foi apresentado pelos diretores da Mostra. Leon Cakoff e Renata Almeida subiram ao palco para os agradecimentos. "Somos o primeiro país da América Latina a ver essa cópia nessa noite mágica e fantástica", concluiu Leon.

Cinéfilos de todas espécies - As condições meteorológicas foram um motivo de hesitação para muitos dos presentes. "Espero que não chova", disse Mário Reys, que antigamente se considerava "um rato de Mostra". Para ele, "Metrópolis" foi o primeiro evento da agenda cinematográfica. "Ainda pretendo ver o vencedor de Cannes na quinta-feira, mas não tenho outros planos definidos", relatou.

A plateia era heterogênia, com famílias, casais, grupos de amigos, jovens, idosos. Retrato da pluralidade que acompanha a Mostra. A pequena Victória Shahini, de 9 anos, teve de insistir para que sua mãe a levasse para a sessão. "Eu não queria vir por causa do frio, mas ela brigou", afirmou Denise Shahini. "Achei a ideia disso super legal", comentou Victória.

Entre as pessoas que se acomodavam com toalhas, cangas, cadeiras de praia no meio do gramado; alguns dos presentes consumiam guloseimas e outros apreciavam um bom vinho. A multidão ocupou uma grande área, com uma concentração maior no gramado em frente ao palco, mas com alguns grupo mais próximos das árvores.

Outra figura que curtia a programação musical da noite era Billy, o cachorro de Ana Alves. "Espero que essa noite quebre a rotina para que eu comece a semana energizada", disse Ana. "Acho bom que esse evento é totalmente livre, até para o Billy". O cãozinho está acostumado a ouvir música em casa e se comportou muito bem no meio dos espectadores.

Frequentadores de outras atividades do parque receberam a novidade de braços abertos. "Costumo correr aqui no parque e confiro a programação para ver outros eventos", falou o vendedor Felipe Costa. "Hoje resolvi dar uma esticada aqui."

Reencontro de cinema - Muitas das pessoas no Ibirapuera não conheciam "Metrópolis", mas outros resolveram enfrentar a noite fria para rever o clássico alemão. O filme mostra alguns princípios que estavam estrapolados no Cinema Expressionista Alemão de obras como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920).

Ana Helena Salve, que estava acompanhada de seu sobrinho Marcos, era uma dessas cinéfilas experientes. "Já vi várias versões do filme e sem dúvida estou com grandes expectativas para essa projeção", contou ela.

Também no Ibirapuera para rever a fita estava Sonia Manholer, em um "evento bárbaro e bem especial", segundo ela. "Estou muito emocionada de estar em um evento com essa qualidade", relatou Sonia durante um dos intervalos da sessão.

Pessoas das mais diversas tribos e origens estavam reunidas, mas todas concordaram sobre a qualidade do acontecido. Finalizada a projeção, boa parte da plateia aplaudiu de pé o filme e a competente orquestra.

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