sábado, 2 de outubro de 2010

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'Saio fortalecido como uma figura política de âmbito nacional', diz Plínio.

Irônico, provocador, galhofeiro. Sem ter chegado nem a 1% nas pesquisas, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) conseguiu ser uma das sensações da campanha eleitoral. Movimentou os debates, fez troça de Dilma, Serra e Marina e insistiu sobretudo no mantra de que o Brasil precisa promover a igualdade social e econômica.

Em avaliação de sua participação, se diz feliz por ter dado o recado que queria.

"Acho que consegui mostrar todos os aspectos fundamentais. Foram ditos, e com toda clareza. O problema da desigualdade social, da necessidade de redistribuir terra, de fazer uma reforma agrária. Consegui falar da reforma urbana, da redução da jornada de trabalho sem redução de salário. E consegui falar de dois temas polêmicos que foram a escola pública e a saúde publica".

O candidato socialista aponta duas razões para a baixa intenção de votos: a cobertura da mídia sobre sua campanha e o radicalismo de suas propostas.

"O que eu digo é muito forte pra uma população que foi acostumada à vida como ela é. Ela acha que não é possível além disso. Isso é todo o discurso da direita, fundamentado por um enorme apoio de mídia".

Como avalia a campanha eleitoral?

A campanha foi ruim. É uma campanha limitada pela lei. Tem um prazo de discussão muito curto, cheio de dificuldades, um sistema de fiscalização [das finanças] que só pega os pequenos, e não os grandes, que têm meios de esconder isso. E com o apoio da grande mídia pra omitir tudo aquilo que pudesse causar perturbação. A burguesia brasileira sabe que trata mal o povo. Sabe. De modo que a eleição dificilmente escapará de mãos que ela considera seguras. Os três candidatos com maior pontuação nas pesquisas dizem a mesma coisa, com nuances para cá ou para lá. Mesmo assim ela não quer que soluções diferentes sejam ouvidas pela população. Porque num momento qualquer de perturbação, de turbulência, aquelas ideias subversivas podem significar um problema. Foi uma campanha fechada.

E como o sr. avalia a sua participação?

Eu tô contente. O objetivo era mostrar as soluções verdadeiras para os problemas do povo. Acho que isso foi dito tanto naquele minutinho do horário eleitoral como nos debates. Sobretudo nos debates. Consegui furar a barreira. Quero fazer uma exceção pra Bandeirantes, que foi a única televisão que me convidou. O Mitre [Fernando Mitre, diretor de jornalismo] não quis saber de pontuação [nas pesquisas]. Ele me convidou. A Globo não queria me convidar. Aí eu tive que ir em juízo. Ah! Preciso fazer também uma outra exceção, que foi a RedeTV!, que também me chamou. A Globo foi no fórceps. Tive que demandar no tribunal. Quando viram, me convidaram antes que a ação fosse julgada. Quando consegui furar a Globo, as outras me convidaram.

O sr. acha que conseguiu fazer o debate que queria?

Acho que consegui mostrar todos esses aspectos fundamentais. Foram ditos, e com toda clareza, o problema da desigualdade social, da necessidade de redistribuir terra, de fazer uma reforma agrária. Consegui falar da reforma urbana, consegui falar fortemente do problema da redução da jornada de trabalho sem redução de salário. E consegui falar de dois temas polêmicos que foram a escola pública e a saúde publica. Escola pública que pode perfeitamente coexistir com a escola comunitária pública. Sem fins lucrativos mesmo. Não pode cobrar e não pode discriminar nenhum aluno.

O país está preparado pra fazer o debate que o sr. queria fazer?

Isso a gente vai ver no dia da eleição. Até agora os sinais das pesquisas não são, digamos, otimistas. A impressão é que apenas uma parcela menor [está preparada para o debate]. Agora, também é preciso considerar que até agora a candidatura foi desconhecida.

Houve quem ficasse com a impressão de que o sr. foi aos debates mais pra ser engraçado do que propositivo.

Isso é uma calúnia, uma sacanagem. O que provoca riso é a ironia. Provoca riso por causa do contraste entre a evidencia da situação e a falsidade da posição dos meus adversários. Isso causa riso. Mas eu não faria uma desconsideração dessa ao povo brasileiro.

Por que o sr. não decolou nas pesquisas, mesmo com o sucesso nos debates?

Porque ainda foi pequeno, ainda foi pra um grupo restrito [referindo-se à cobertura da mídia]. Agora, tem um outro fator. O que eu digo é muito forte pra uma população que foi acostumada à vida como ela é. Ela acha que não é possível além disso. Isso é todo o discurso da direita, fundamentado por um enorme apoio de mídia.

O sr. vai apoiar alguma candidatura no segundo turno?

Ainda não decidimos isso. O segundo turno é uma nova eleição. Você tem uma correlação de forças no início da campanha, que se modifica no decorrer da própria campanha. Pode ser até que, se houver segundo turno, a situação seja outra. O que deve fazer um partido político? Ele tem duas possibilidades. Ou apoia um candidato ou vota nulo. Essa decisão é em função da possibilidade de avanço neste novo quadro político que se forme.

Que votação o satisfaria no próximo domingo?

É difícil dizer isso, rapaz. O que mais me satisfaria é se eu fosse pro segundo turno.

No lançamento de sua candidatura, ouvi um correligionário perguntar a outro se achava que o sr. chegaria a 1%.

Não, não. Isso eu acho que chega. Provavelmente chega a mais.

Mas dá pra chegar na Heloísa Helena, que em 2006 teve quase 7%?

Não sei. O que a gente vê na rua é um pouco diferente do que aparece nas pesquisas.

O que será do sr. depois de 3 de outubro?

Se eu não for pro segundo turno, saio fortalecido como uma figura política de âmbito nacional. A minha tarefa vai ser unificar a esquerda. Vamos nuclear, mapear esses votos e vamos atrás desses votos para conscientizá-los e pra espalhar a ideia do socialismo por todo o país.

(Folha Online)

Fernando Gallo

De São Paulo

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