Uma destas bandas é o Anvil. Alguns amigos têm me recomendado com insistência um documentário feito recentemente sobre eles por Sacha Gervasi, um antigo roadie do grupo. Acabei convencido a assistir com o argumento de que, mais do que a História da banda em si, o filme discorre sobre o amor pela arte, um sentimento tão forte que faz com que um grupo de amigos consiga ficar juntos por mais de 30 anos passando por todo tipo de dificuldades pelo simples prazer de tocar, por acreditarem no que fazem. Parece bonito e, como pude constatar ontem ao ver, finalmente, o filme, é.
Não é pra qualquer um suportar isso com mais de 50 anos de idade, pode ter certeza. A todo momento você pensa que eles vão desistir, mas olha lá o teimoso do Lips mandando uma fita demo (!!!! – sim, posso estar enganado, mas o que eu vi ele embrulhando e mandando pelo correio para um renomado produtor inglês me pareceu uma daquelas pra lá de ultrapassadas fitas k-7) e, pasmem, conseguindo um retorno do tal produtor. Vemos então mais uma vez um avião decolando de Toronto, Canadá, sua terra natal (nessa hora me pego pensando como esses caras fudidos conseguem viajar assim tão fácil pelo mundo afora, mas então me lembro que eles são cidadãos do primeiríssimo mundo e se meu amigo Panço, morador da Vila da Penha no Rio de Janeiro e guitarrista de uma banda assumidamente “underground” consegue, porque eles não conseguiriam?), rumo a Londres. O cara, que já trabalhou com Judas Priest e Thin Lizzy, dentre outros, concorda em produzir o novo disco do Anvil, mas o preço é salgado. Lips consegue um empréstimo (ah, a família ...) e assim gravam seu décimo terceiro álbum, não sem uma série de rusgas e muito, muito estresse no processo.
Neste momento é impossível não comparar o filme com “some kind of monster”, do Metallica, e se chocar com realidades tão diferentes – rockstars com crises existenciais mesmo nadando em dinheiro chegam ao cúmulo de fazer terapia de grupo em público, como que para justificar mais um álbum fraco. Ok, “dinheiro não compra felicidade” e os ricos também têm o direito de ter suas paranóias, mas como bem disse o grande Kerry King numa entrevista que reproduzimos alguns posts abaixo, tem coisas que NÃO PRECISAM vir a público. É chato, e por conseqüência o documentário do Metallica é chato, parece uma infinita sucessão de discussões e bater de portas sem sentido. Aos olhos de qualquer um, e principalmente se comparado às dificuldades reais que caras como os do Anvil passam, o Metallica não tem do que reclamar, pelo menos não assim, na frente de todos.
O filme do Anvil não é chato. É emocionante. Você torce pelos caras, mesmo que você também não goste do som que eles fazem. Por que é real, dá pra sentir – "tá na veia". Eles têm aquele sonho de “rockstar” que perseguem obsessivamente mas acabam se divertindo no processo, porque no final das contas o objetivo final é mostrar sua arte, na qual acreditam acima de tudo, ao máximo de gente possível. Se a intenção fosse apenas ganhar dinheiro já teriam desistido há muito tempo.
E é gratificante saber que a jornada termina com um final feliz, apesar dos pesares. Pelo menos por uma noite, no distante Japão, onde não pisavam há mais de 20 anos, as expectativas não são frustradas e eles, finalmente, tocam para uma platéia lotada e empolgada. E seguem em frente, preparando seu décimo quarto álbum de estúdio.
Vale muito a pena assitir. Recomendo.
Por Adelvan Kenobi.
Oi Adelvan,
ResponderExcluirÉ ótimo ler teus textos, de leitura fácil, prosa informativa, simples e personal.Parabéns meu caro.Bom demais voltar a encontrar teus textos.
Antes tarde do que nunca: Valeu Aldemi, obrigado.
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