quarta-feira, 7 de abril de 2010

quadrinhos Adultos no brasil

Vida de leitor de quadrinhos adultos no Brasil é difícil, é difícil como o que. Eu sou fã de quadrinhos desde antes de ser "roqueiro". Na verdade comecei a curtir esse tipo de arte antes mesmo de aprender a ler, quando ficava folheando umas edições velhas e acabadas de “A Tumba de Drácula” e “Morbius, o vampiro vivo”, da Marvel, que me chegavam às mãos – minha fascinação pelo mito dos vampiros é bem antiga também, como podem notar. Não por acaso, a primeira coisa que li pra valer, depois de alfabetizado, foi o número 1 da revista Tex, da extinta editora Vecchi, que meu irmão colecionava. Era uma história bizarra que misturava um mundo perdido num vale de dinossauros com o velho oeste americano. Chamava-se “O Signo da serpente” e foi lançada, originalmente, um mês depois do meu nascimento, em fevereiro de 1971 (o exemplar que meu irmão tinha era uma reedição, e hoje eu tenho outra reedição da mesma historia lançada mais recentemente pela mythos que eu guardo com muito carinho, afinal, ora bolas, foi a primeira revista em quadrinhos que eu li !).

Algum tempo depois troquei Tex pelas revistinhas de Super-Herói em formatinho da Editora Abril. Comprava (e lia !!!) todas, para desespero de minha mãe, que via as pilhas se acumularem e ocuparem mais espaço a cada dia. Ela me proibia de comprar mas eu economizava no lanche e continuava comprando, usando de expedientes bizarros como esconder as revistas embaixo da camiseta para tentar (geralmente sem sucesso) entrar com elas em casa sem ser pego em “flagrante delito”. Minha preferida era a “Superaventuras Marvel”, e foi lá que eu fui refinando meu gosto por roteiros mais elaborados através dos X-Men de Chris Claremont (A “Saga da Fênix negra” é um clássico) e, principalmente, do Demolidor de Frank Miller. Este foi, realmente, revolucionário, especialmente na chocante historia com a morte da personagem Elektra – nunca antes um personagem tão importante tinha morrido numa revista em quadrinhos, e na época a gente acreditou que ela continuaria morta. Só depois as pressões de mercado fariam a credibilidade da irmã do sonho cair por terra no mundo dos “gibis” de super-heróis.

Na mesma época houve uma espécie de ensaio do lançamento de revistas com temáticas mais maduras no Brasil com a publicação da “Epic Marvel”, que infelizmente teve vida curta e me deixou, até hoje, sem saber como foram concluídas séries sensacionais como “Dreadstar” e “Legião Alien”. Uma revista só com material adulto parecia ser demais para o mercado de então, apesar do sucesso de “A Espada Selvagem de Conan”, mas este é um caso à parte, já que o personagem era muito popular. Séries avulsas, no entanto, foram inseridas com sucesso no mix das revistas de linha, caso de “Camelot 3000”, obra-prima publicada pela DC Comics.

Mas revolucionário mesmo foi o lançamento de “O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller. Para mim, teve mais ou menos o mesmo impacto que o punk no mundo do rock. Perdi imediatamente o interesse pelas revistinhas comuns, “de linha”, como se dizia na época, e passei a comprar apenas as chamadas “graphic novels”, com formato maior e geralmente contendo histórias fechadas com roteiros mais adultos. Ainda lembra da expressão de alívio de minha mãe quando coloquei todas as revistinhas num grande saco e levei para um amigo para o qual as tinha vendido a “preço de banana” ...

“O Cavaleiro das Trevas” deslanchou uma onda de lançamentos sensacionais em todo o mundo. As bancas foram inundadas por obras seminais como Watchmen e O Monstro do Pântano, de Alan Moore, Orquidia Negra e Sandman, de Neil Gaiman, e Blood e Moonshadow, de John J. Muth. Bons tempos. Era a época do nascimento da Vertigo, subselo da DC Comics que é, até hoje, sinônimo de quadrinhos de qualidade. No Brasil, além do surpreendente sucesso de revistas de autores nacionais, como a Circo, Chiclete com Banana, Geraldão e Piratas do Tietê, foi lançada a Animal (Feio, forte e formal), que compilava o que de melhor existia nos quadrinhos europeus, além de publicar, também, autores tupiniquins. Foi lá que conheci Lourenço Mutarelli (brasileiro, hoje se dedicando mais ao cinema e à literatura), Milo Manara, Andrea Pazienza, Tanino e Liberatori e Vuillemin, dentre muitos outros, e personagens inesquecíveis como Ranxerox, Peter Punk e Tank Girl. Até mesmo uma edição brasileira da célebre Heavy Metal viu a luz do dia, na época, mas teve vida curta.

Aí veio o governo Collor e, com seus planos econômicos mirabolantes e desastrosos, literalmente fudeu com tudo (no mau sentido, claro). Na área da cultura, devastou o cinema nacional e praticamente acabou com a publicação de quadrinhos adultos no Brasil. Com o tempo, a poeira foi assentando, mas a Vertigo, pra ficar só no caso mais “célebre”, demorou até ser novamente publicada de forma decente por aqui. Por muito tempo esteve nas mãos de editoras menores e sem estrutura(Metal Pesado, Pandora Books, Brainstore, Devir, Pixel Media) que não conseguiam dar conta de tantos títulos, até ser finalmente assumida pela Panini Comics, que vem fazendo um excelente trabalho. Cumpriu, por exemplo, a sublime e solene promessa de publicar até o final séries seminais, como PREACHER, 100 BALAS, Y, O ÚLTIMO HOMEM e EX-MACHINA, bem como trazer até nós novos títulos, como SWEET TOOTH e INESCRITO, e seguir publicando outras, como FÁBULAS e ZDM. Reeditou também, de forma decente, outras tantas, como SANDMAN, TRANSMETROPOLITAN, PLANETARY e FREQUENCIA GLOBAL - algumas delas pertencentes ao selo Wildstorm, igualmente excelente. A se lamentar, apenas, a recente notícia do cancelamento do título mensal da Vertigo, que, se não tinha o melhor dos "mix" - o da Pixel era superior - cumpria a tarefa de colocar nas bancas regularmente séries importantes como "Escalpo" e "Hellblazer". Hellblazer que saiu da Vertigo e foi parar no "reboot" do universo principal da DC - aquele onde "vivem" o Super Homem, o Batman e a Mulher Maravilha. NÃO promete.

É necessário que se registre, também, o excelente trabalho que tem sido feito por editoras menores, responsáveis pela publicação e republicação de obras seminais como a de Moebius, em formato gigante e capa dura; "Juiz Dredd" e "Hellboy", publicados pela Mythos - que também edita as revistas da panini -; "Estranhos no Paraíso", de Terry Moore, e “Os Mortos-Vivos”, de Robert Kirkman - esta uma verdadeira obra-prima, talvez a melhor “historia de zumbis” na qual eu já pus os olhos (pode incluir aí todos os clássicos do cinema). A HQ Maniacs, responsável pelo título, foi literalmente salva da falência pelo sucesso de "The Walking Dead", a série televisiva derivada do quadrinhos que virou mania em todo o mundo, e hoje coloca nas bancas um novo universo de super-heróis, o da editora norte-americana Valiant.

Estamos bem, em termos de edição de quadrinhos no Brasil, o que não deixa de ser surpreendente, já que o mercado sempre foi errático e problemático. E o futuro promete! Para o alto, e avante, rumo ao infinito - e além ...

ATENÇÃO: post atualizado em 23/03/2014.

por Adelvan k.



















































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